terça-feira, 4 de julho de 2017

OS TEMPLOS ESTÃO CHEIOS...DE VAZIOS

Venancio Jr.

É muito gratificante, principalmente em nosso país, encontrar muitas igrejas e quase uma em cada esquina e rapidamente se tornam grandes igrejas e todas elas bem frequentadas, muitas superlotadas e logo imaginamos que as pessoas estão à procura de Deus ou, na pior das hipóteses, buscando equilíbrio espiritual que, teoricamente, traria satisfação, conforto, consolo, segurança e tudo o que uma boa e sadia espiritualidade proporcionaria para as suas vidas. Se não conseguimos ver pessoalmente, assistimos pela televisão programas religiosos ao vivo, sejam evangélicos e até mesmo os católicos com os templos cheios. O que será que atrai tanto as multidões?

         Sou um “assíduo leitor” das manchetes publicadas nas revistas, jornais e na internet. Na sua maioria, os assuntos são frívolos, com conteúdo extremamente fúteis e tendenciosos. Numa destas assiduidades um assunto me chamou a atenção. Não comprei a revista porque não me interessei em ler o conteúdo que, geralmente é repetitivo e sendo óbvio a “guerrinha” dos católicos e evangélicos em quem arrebanha mais fiéis, inclusive usando a mídia para inflamar mais ainda esta disputa. Neste número, a revista Época publicou uma matéria falando sobre os megatemplos. É um assunto que já foi explorado por alguns periódicos e focavam principalmente os megatemplos evangélicos. Na matéria os evangélicos foram citados, mas a foto da capa era a do Padre Marcelo e o assunto principal era o “seu” mega templo para 100 mil pessoas. Fico me imaginando num local fechado com mais 99.999 pessoas chega a ser assustador e, para quem sofre de pânico é um local nada recomendável. Imagine se o Pastor ou o Padre quiser falar com alguém sentado na última fileira? Ainda bem que a maioria dos líderes se interessam mais pela multidão do que com os que a compõe. Voltando ao tema da matéria, os megatemplos já não são novidades. Desde a década de 70 os evangélicos já vem construindo os seus megatemplos, por exemplo, a igrejaDeus é Amor em São Paulo comporta 60 mil pessoas sentadas e a igreja Assembleia de Deus em Cuiabá no Mato Grosso, um pouco mais “modesta” com capacidade para 25 mil pessoas sentadas e agora os católicos (carismáticos e simpatizantes) que se sentem atrás dos evangélicos também em muitas outras coisas resolveram impressionar e acomodar os seus fiéis em confortáveis templos. Nada contra e totalmente a favor ao conforto que se deve ter nas grandes e também nas pequenas igrejas fisicamente falando. Mas o tema discorre sobre fidelidade que é a matéria de capa da revista, “Os megatemplos para reforçar a fé”. Esta frase é típica de quem não lê a Bíblia e desconhece totalmente a doutrina de Jesus. Se a fé se materializasse da mesma forma que se constroem os grandes templos, estaria fácil adquiri-la e medir o nível espiritual dos fiéis, porém, é um erro gravíssimo a colocação a partir deste ponto de vista. Mas na Bíblia diz que temos de crer para ver e não ver para crer. Lembramos da exortação de Jesus à Tomé a respeito da fé quando enfatiza de que “...bem-aventurados os que não viram e creram”. Ainda sobre a fé, em Hebreus 11:1 diz que fé é o firme fundamento daquilo que se espera e a convicção daquilo que não se vê. Fé e lógica é uma mistura heterogênea enquanto fé e obras é uma mistura homogênea uma não sobrevive sem a outra.  Leia Tiago 2:26 onde está escrito que a fé sem obras é morta.  Estas obras poderão ser também físicas no tocante a conformidade terrena, mas a finalidade tem caráter espiritual que é a regeneração do ser humano e não a opulência de grandes construções que incham a vaidade. Será que algum católico viu através da fé este templo e foi fiel nos dízimos para que esta obra fosse realizada ou outro tipo de fé viabilizou esta mega construção? Acho que está havendo um equívoco muito grande no título da matéria. Isto é totalmente incoerente com o texto contido em Atos 17:24 onde está escrito que o Deus Altíssimo não habita em templos feito por mãos humanas. Ele enviou o Espírito Santo que faz parte da nova aliança nossa com Deus e o nosso corpo se tornou o santuário de Deus. Se temos fé, é em Deus que a temos. No antigo testamento por determinação divina eram construídos e ornamentados “grandes” templos que não eram tão grandes assim, por exemplo, o grande templo do Rei Salomão media ± 30m x 15m, qualquer casa média hoje em dia tem estas medidas, mas a grandiosidade encontrava-se no que o templo representava e não pelo tamanho físico. E nestes grandes templos praticavam-se os rituais que reforçavam ou renovavam a fé, inclusive com sacrifícios de animais. Porém, no Novo Testamento veio o tempo da nova aliança com Deus que nos concedeu a sua graça e o nosso corpo se tornou o seu templo e somos medidos pela importância que Deus nos dá e não pelo que somos, seja pobre, rico ou qualquer raça Deus nos nivelou por baixo na queda do homem e com o tempo da graça nivela por cima aqueles que aceitam a sua verdade que é Jesus Cristo o seu filho. Dentro desta contextualização de templo é que soa estranho afirmar que uma simples construção, apesar da grandiosidade física, é motivo para que a fé seja reforçada. É pura usurpação da Palavra de Deus porque a finalidade é ilícita. E a fé não é algo que se apalpa. Até tentaram comprar a fé. O grande templo do vaticano foi construído com a venda de indulgência que é o perdão dos pecados. Não estou provocando os católicos, mas relatando fatos. Apesar de a matéria ter como foco principal o grande templo católico, a minha explanação é para todos os religiosos que precisam da fé para alcançar a graça de Deus e esta não depende do que se vê. Não se pode pregar o evangelho a uma multidão e continuar tratando o indivíduo apenas como uma pequena parte desta multidão. O evangelho por atacado. As questões são individuais. Por isto que digo, sem medo, que em muitos destes grandes templos de hoje e até mesmo nos pequenos templos estão cheios de pessoas vazias que, por um motivo ou outro, se encontram apenas na dimensão religiosa das tradições e se alimentam do “evangelho algodão-doce”, grande no volume, branco como a neve, doce no sabor, mas é somente aparência e o sabor dissolve na saliva. Não sustenta. Em outras palavras, é uma fé morta. Milhares estão crendo nestas mensagens efêmeras. Diria que muitas das grandes igrejas de hoje são semelhantes ao mundo tecnológico. Investem bilhões em tecnologia produzindo deslumbrantes aparelhos reprodutores de vídeo e áudio e de comunicação, porém, o conteúdo que reproduzem são vazios, fracos e sem profundidade. É como a casca que a cigarra abandona, tem somente a casca, porque dentro está vazio, nada tem. Muitos destes megatemplos são assim, bonitos, práticos, confortáveis e muitos até admiráveis na sua arquitetura, mas vazios de almas, vazios de doutrina, vazios de amor, vazios de fé, vazios de esperança, vazios de humildade, vazios de santidade, vazios de sacrifício, vazios de evangelismo, vazios de humildade, vazios de sabedoria, vazios de quebrantamento e, de tão cheias de vazios que servir à Deus não tem qualquer significado.   

Há três tipos de igrejas vazias. Uma é vazia porque deixou de ser um local até socialmente interessante. Outra é vazia porque o foco é enchê-la, mas, de pessoas, porém, vazias do propósito principal do evangelho de Deus. Uma terceira igreja vazia é aquela cujas pessoas tem a consciência de discípulos e estão vazias das tradições da instituição. Buscam encher-se e renovar-se do evangelho que os desafiam a tornarem-se vazias de si mesmos e não se confundem mais com a multidão.

Por que as pessoas estão vazias do evangelho mesmo ouvindo todos os dias? Encerraríamos a conversa apenas dizendo que isto é uma tendência do fim do mundo que não será com terremotos e violência urbana, inclusive isto já foi dito por Jesus “...ainda não será o fim!”. Creio que o fim do mundo estará muito próximo quando as pessoas ou pelo menos a maioria, ouvirá e conhecerá o evangelho, porém, não assimilará em sua vida, consequentemente, estará vazia de Deus. Esta é uma condição em que não temos controle sobre as nossas ações. Nos submetemos a ação de Deus em nossa vida através do Espírito Santo ou ficamos à mercê do inimigo de nossas almas cuja intenção é somente roubar, matar e destruir. Imagine um mundo dominado pelo mal? Não existirá mais vida, apenas morte. Porém, ninguém morrerá, desejarão ardentemente a morte e ela não virá, restará apenas o sofrimento. Este destino é consequência do vazio de Deus nas pessoas. As pessoas estão se esvaziando de Deus e se enchendo de superficialidades que lhe são oferecidas. Os religiosos estão se enchendo de tradições e os não religiosos são vazios pela razão óbvia. Não adianta culpar os pastores ou a liderança pela falta de apoio. Quem decide pela vida somos nós mesmos. Quem decide o que devemos absorver para a nossa alma e intelecto somos nós mesmos. Estamos cheios de nós mesmos e devemos nos esvaziar e nos encher do Espírito Santo de Deus. Na prática é ter atitudes que o torne discípulo de Jesus e faça a diferença no meio da multidão e não seja confundido com ela.

Campinas SP 08/05/2012

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