Venancio Jr.
É muito gratificante, principalmente em
nosso país, encontrar muitas igrejas e quase uma em cada esquina e rapidamente
se tornam grandes igrejas e todas elas bem frequentadas, muitas superlotadas e
logo imaginamos que as pessoas estão à procura de Deus ou, na pior das
hipóteses, buscando equilíbrio espiritual que, teoricamente, traria satisfação,
conforto, consolo, segurança e tudo o que uma boa e sadia espiritualidade
proporcionaria para as suas vidas. Se não conseguimos ver pessoalmente,
assistimos pela televisão programas religiosos ao vivo, sejam evangélicos e até
mesmo os católicos com os templos cheios. O que será que atrai tanto as
multidões?
Sou um “assíduo leitor”
das manchetes publicadas nas revistas, jornais e na internet. Na sua maioria,
os assuntos são frívolos, com conteúdo extremamente fúteis e tendenciosos. Numa
destas assiduidades um assunto me chamou a atenção. Não comprei a revista
porque não me interessei em ler o conteúdo que, geralmente é repetitivo e sendo
óbvio a “guerrinha” dos católicos e evangélicos em quem arrebanha mais fiéis,
inclusive usando a mídia para inflamar mais ainda esta disputa. Neste número, a
revista Época publicou uma matéria falando sobre os megatemplos. É um assunto
que já foi explorado por alguns periódicos e focavam principalmente os
megatemplos evangélicos. Na matéria os evangélicos foram citados, mas a foto da
capa era a do Padre Marcelo e o assunto principal era o “seu” mega templo para
100 mil pessoas. Fico me imaginando num local fechado com mais 99.999 pessoas
chega a ser assustador e, para quem sofre de pânico é um local nada
recomendável. Imagine se o Pastor ou o Padre quiser falar com alguém sentado na
última fileira? Ainda bem que a maioria dos líderes se interessam mais pela
multidão do que com os que a compõe. Voltando ao tema da matéria, os
megatemplos já não são novidades. Desde a década de 70 os evangélicos já vem
construindo os seus megatemplos, por exemplo, a igrejaDeus é Amor em
São Paulo comporta 60 mil pessoas sentadas e a igreja Assembleia de Deus em
Cuiabá no Mato Grosso, um pouco mais “modesta” com capacidade para 25 mil
pessoas sentadas e agora os católicos (carismáticos e simpatizantes) que se
sentem atrás dos evangélicos também em muitas outras coisas resolveram
impressionar e acomodar os seus fiéis em confortáveis templos. Nada contra e
totalmente a favor ao conforto que se deve ter nas grandes e também nas
pequenas igrejas fisicamente falando. Mas o tema discorre sobre fidelidade que
é a matéria de capa da revista, “Os megatemplos para reforçar a fé”.
Esta frase é típica de quem não lê a Bíblia e desconhece totalmente a doutrina
de Jesus. Se a fé se materializasse da mesma forma que se constroem os grandes
templos, estaria fácil adquiri-la e medir o nível espiritual dos fiéis, porém, é
um erro gravíssimo a colocação a partir deste ponto de vista. Mas na Bíblia diz
que temos de crer para ver e não ver para crer. Lembramos da exortação de Jesus
à Tomé a respeito da fé quando enfatiza de que “...bem-aventurados os que
não viram e creram”. Ainda sobre a fé, em Hebreus 11:1 diz que fé é
o firme fundamento daquilo que se espera e a convicção daquilo que não se vê.
Fé e lógica é uma mistura heterogênea enquanto fé e obras é uma mistura
homogênea uma não sobrevive sem a outra. Leia Tiago 2:26 onde está
escrito que a fé sem obras é morta. Estas obras poderão ser
também físicas no tocante a conformidade terrena, mas a finalidade tem caráter
espiritual que é a regeneração do ser humano e não a opulência de grandes
construções que incham a vaidade. Será que algum católico viu através da fé
este templo e foi fiel nos dízimos para que esta obra fosse realizada ou outro
tipo de fé viabilizou esta mega construção? Acho que está havendo um equívoco
muito grande no título da matéria. Isto é totalmente incoerente com o texto
contido em Atos 17:24 onde está escrito que o Deus Altíssimo não habita
em templos feito por mãos humanas. Ele enviou o Espírito Santo que faz
parte da nova aliança nossa com Deus e o nosso corpo se tornou o santuário de
Deus. Se temos fé, é em Deus que a temos. No antigo testamento por determinação
divina eram construídos e ornamentados “grandes” templos que não eram tão
grandes assim, por exemplo, o grande templo do Rei Salomão media ± 30m x 15m,
qualquer casa média hoje em dia tem estas medidas, mas a grandiosidade
encontrava-se no que o templo representava e não pelo tamanho físico. E nestes
grandes templos praticavam-se os rituais que reforçavam ou renovavam a fé,
inclusive com sacrifícios de animais. Porém, no Novo Testamento veio o tempo da
nova aliança com Deus que nos concedeu a sua graça e o nosso corpo se tornou o
seu templo e somos medidos pela importância que Deus nos dá e não pelo que
somos, seja pobre, rico ou qualquer raça Deus nos nivelou por baixo na queda do
homem e com o tempo da graça nivela por cima aqueles que aceitam a sua verdade
que é Jesus Cristo o seu filho. Dentro desta contextualização de templo é que
soa estranho afirmar que uma simples construção, apesar da grandiosidade
física, é motivo para que a fé seja reforçada. É pura usurpação da Palavra de
Deus porque a finalidade é ilícita. E a fé não é algo que se apalpa. Até
tentaram comprar a fé. O grande templo do vaticano foi construído com a venda
de indulgência que é o perdão dos pecados. Não estou provocando os católicos,
mas relatando fatos. Apesar de a matéria ter como foco principal o grande
templo católico, a minha explanação é para todos os religiosos que precisam da
fé para alcançar a graça de Deus e esta não depende do que se vê. Não se pode pregar
o evangelho a uma multidão e continuar tratando o indivíduo apenas como uma
pequena parte desta multidão. O evangelho por atacado. As questões são
individuais. Por isto que digo, sem medo, que em muitos destes grandes templos
de hoje e até mesmo nos pequenos templos estão cheios de pessoas vazias que,
por um motivo ou outro, se encontram apenas na dimensão religiosa das tradições
e se alimentam do “evangelho algodão-doce”, grande no volume, branco como a
neve, doce no sabor, mas é somente aparência e o sabor dissolve na saliva. Não
sustenta. Em outras palavras, é uma fé morta. Milhares estão crendo nestas
mensagens efêmeras. Diria que muitas das grandes igrejas de hoje são
semelhantes ao mundo tecnológico. Investem bilhões em tecnologia produzindo deslumbrantes
aparelhos reprodutores de vídeo e áudio e de comunicação, porém, o conteúdo que
reproduzem são vazios, fracos e sem profundidade. É como a casca que a cigarra
abandona, tem somente a casca, porque dentro está vazio, nada tem. Muitos
destes megatemplos são assim, bonitos, práticos, confortáveis e muitos até
admiráveis na sua arquitetura, mas vazios de almas, vazios de doutrina, vazios
de amor, vazios de fé, vazios de esperança, vazios de humildade, vazios de
santidade, vazios de sacrifício, vazios de evangelismo, vazios de humildade,
vazios de sabedoria, vazios de quebrantamento e, de tão cheias de vazios que
servir à Deus não tem qualquer significado.
Há três tipos de igrejas vazias. Uma é
vazia porque deixou de ser um local até socialmente interessante. Outra é vazia
porque o foco é enchê-la, mas, de pessoas, porém, vazias do propósito principal
do evangelho de Deus. Uma terceira igreja vazia é aquela cujas pessoas tem a
consciência de discípulos e estão vazias das tradições da instituição. Buscam
encher-se e renovar-se do evangelho que os desafiam a tornarem-se vazias de si
mesmos e não se confundem mais com a multidão.
Por que as pessoas estão vazias do evangelho mesmo ouvindo todos os dias? Encerraríamos a conversa apenas dizendo que isto é uma tendência do fim do mundo que não será com terremotos e violência urbana, inclusive isto já foi dito por Jesus “...ainda não será o fim!”. Creio que o fim do mundo estará muito próximo quando as pessoas ou pelo menos a maioria, ouvirá e conhecerá o evangelho, porém, não assimilará em sua vida, consequentemente, estará vazia de Deus. Esta é uma condição em que não temos controle sobre as nossas ações. Nos submetemos a ação de Deus em nossa vida através do Espírito Santo ou ficamos à mercê do inimigo de nossas almas cuja intenção é somente roubar, matar e destruir. Imagine um mundo dominado pelo mal? Não existirá mais vida, apenas morte. Porém, ninguém morrerá, desejarão ardentemente a morte e ela não virá, restará apenas o sofrimento. Este destino é consequência do vazio de Deus nas pessoas. As pessoas estão se esvaziando de Deus e se enchendo de superficialidades que lhe são oferecidas. Os religiosos estão se enchendo de tradições e os não religiosos são vazios pela razão óbvia. Não adianta culpar os pastores ou a liderança pela falta de apoio. Quem decide pela vida somos nós mesmos. Quem decide o que devemos absorver para a nossa alma e intelecto somos nós mesmos. Estamos cheios de nós mesmos e devemos nos esvaziar e nos encher do Espírito Santo de Deus. Na prática é ter atitudes que o torne discípulo de Jesus e faça a diferença no meio da multidão e não seja confundido com ela.
Campinas SP 08/05/2012
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