Venancio Jr
As recentes manifestações por todo o
Brasil exigindo mudanças e o cumprimento das leis em vigor nos traz um
questionamento. Precisava que o povo saísse às ruas para exigir que os
responsáveis (executivo/legislativo) cumprissem com a obrigação para o qual
foram eleitos? Se já existe a lei, então, por que não se cumpriu? Nós temos a
triste mania de acomodar até naquilo que precisamos fazer e não o fazemos. É o
velho costume de agir somente quando somos exigidos e a sermos honestos
somente “sob os holofotes”. No caso dos nossos governantes, estes,
são obrigados, por força dos cargos que lhes foram confiados, mas acomodaram e
se esforçam apenas em praticar a justiça (deles) em benefício próprio. Muitas
coisas não funcionam, simplesmente porque não se cumprem as leis que, na
maioria, são boas, outras, a minoria, precisa de atualização. Será que
precisamos de mais leis? Talvez, no máximo, mudar algumas delas para adequá-las
aos anseios da maioria das pessoas. Isto é praticar justiça mesmo que não
contemple a totalidade da população.
O que seria a lei propriamente dita?
Qualquer ação, quando envolve duas ou mais pessoas, é amparada pelos
dispositivos que definem os direitos e responsabilidades de todo cidadão sem
distinção.
Para o quê serve uma lei? A lei tem um
princípio lógico. Quando alguém a infringe aplica-se as penalidades para uma
sentença justa. Isto é lógico e não existe controvérsia quanto a esta questão.
Quanta indignação nós sentimos quando
alguém comete algo que contraria a lei e este alguém usa a mesma lei para se
livrar da pena imposta. São as famosas “brechas”. Como a lei,
provavelmente, “pertença” à ética, então, pode ser que ela não
seja absolutamente justa, porque agir com ética, de certa forma, não é ter
razão absoluta.
Existem duas perspectivas da visão de
um conjunto de leis. Uma afirma que as leis são para nos aprisionar e a outra
defende que é para nos libertar. Quem está certo? Discorremos esta reflexão
dentro do conceito de que a liberdade total não existe porque fomos compostos
para integrar e não para agir individualmente o que seria de certa forma,
desintegrar. Quando agimos julgando que temos total liberdade, na verdade,
estamos nos decompondo como sociedade. Se não seguimos a lei perdemos a
compostura moral e ética. Estes atributos são fundamentados nas leis de Deus
que é o princípio de todas as leis e quando pecamos nos desintegramos
espiritualmente e o processo do plano de Deus é para nos recompor
individualmente e nos reintegrar no corpo.
Será que a lei de Deus precisa também
mudar adequando-a aos interesses da maioria? Os cinco primeiros livros da
Bíblia denominado o Pentateuco são conhecidos como os livros da lei. O trecho
mais conhecido é os Dez Mandamentos em que Moisés foi designado para redigi-la
e expô-la ao povo. Com isto, Deus se tornou “visível” ao
homem. Antes mesmo de conhecer estas leis, o homem já a infringiu devido o
pecado original em que perdeu o rumo e o prumo. Antes da queda, a natureza
humana estava intimamente ligada a Deus e não existiam leis porque o próprio
Deus é o início e o fim de todas as coisas. Após este período quem ficou
designado para continuar a observação das leis e repassá-la ao povo? O escriba
era o que redigia os fatos e tinha o observador das leis que zelava pela sua
aplicabilidade e a defendia com rigor para que nada fugisse dos ritos
tradicionais. Jesus denominou estes observadores como fariseus porque a
preocupação destes com a lei estava acima do próprio temor a Deus. Percebemos
que os que mais contestavam a Jesus eram os observadores da lei. A lei estava
acima de qualquer coisa e os fariseus eram radicais nas suas aptidões. Eram os
verdadeiros legalistas ou podemos simplesmente dizer que eram estritamente
ritualistas. A parábola do homem rico talvez seja a que mais retrate o
legalista. "Sabes os mandamentos: Não matarás; não adulterarás; não
furtarás; não dirás falso testemunho; a ninguém defraudarás; honra a teu pai e
a tua mãe. Ele, porém, lhe replicou: Mestre, tudo isso tenho guardado desde a
minha juventude. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Uma coisa te
falta; vai vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu;
e vem, segue-me. Mas ele triste se retirou porque possuía muitos bens". Marcos
10;19:22. O homem rico afirmou que fazia tudo o que estava dentro da lei, porém
o coração dele, que é onde estava o seu tesouro, ainda não tinha se disposto a
Deus. "Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração" Mateus
06:21. Num destes encontros com os fariseus, o próprio Jesus foi incisivo
dizendo que "Este povo me honra com os lábios; o seu coração,
porém, está longe de mim;" Marcos 07:06. Ele se referia às
pessoas que cumpriam fielmente os seus compromissos, porém, o espírito estava
cheio dos valores da terra. Quanto mais perto de Deus mais longe do mundo. Esta
é a premissa da lei. É deste desvinculo do espírito da riqueza do mundo que o
jovem rico foi desafiado. E a Bíblia fala sobre os pobres de espírito que
herdarão a terra. Esta pobreza é o espírito desvinculado das coisas materiais
possua ou não bens. Lembremo-nos de Jó. Um homem literalmente rico, mas,
ninguém foi fiel como ele. Contraditório? Não! Ele tinha um espírito livre,
despojado de bens materiais, tanto é que tudo lhe foi tirado, inclusive
família, todos os bens e sua saúde, mesmo neste estado de miséria o seu espírito
manteve-se inalterado, não perdendo a sua liberdade em manter-se fiel à Deus.
Existem pessoas que pelo fato de
envolver-se na igreja em qualquer atividade ou praticar boas ações seja o
suficiente para agradar a Deus, desta forma, garante a vida eterna. Isto é
legalismo. Não basta ser bom, religioso e fiel cumpridor das leis, é preciso
reconhecer que Jesus não morreu por causa dos nossos "pecados de
estimação" que, de fato, nos distanciam de Deus, mas pelo pecado
original em que todos foram destituídos da sua presença. Deus precisou cumprir
sua lei.
Sendo Deus o Alfa e o Ômega, ou seja, o
princípio e o fim de todas as coisas, enviou seu filho Jesus para cumprir a lei
e não para eliminá-la. "Não penseis que vim destruir a lei ou os
profetas; não vim destruir, mas cumprir". Mateus 05:17. Por que
Jesus disse isto? Simplesmente porque muitos daqueles zelosos da lei
desconheciam a própria lei e estavam desvirtuando e interpretando
equivocadamente. Mas como Deus, na pessoa de Jesus, ao mesmo tempo critica os
legalistas e afirma que veio cumprir as leis e não a mudar? Muitos deles não
reconheciam a Jesus como o Messias prometido. Isto estava na lei e deveria ser
cumprido. Este cumprimento da lei nos resgata do pecado original. Jesus não era
legalista, mas veio cumprir a lei na íntegra e não apenas o que interessa ao
homem. Jesus era bem radical nestas questões e com veemência exortava aqueles
que cumpriam apenas uma parte da lei. "Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e
tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a
misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir
aquelas." Mateus 23:23. Observe no final deste texto que as
coisas estavam acontecendo dentro da conveniência humana. Impuseram o legalismo
e aos poucos foram dirimindo o que julgavam desnecessários à convicção humana.
Porém, a salvação que todos buscavam não era mais pelas leis, porque não existe
lei sem justiça e justo seria sermos condenados, aliás, fomos todos condenados,
conforme a lei, mas, agora vivemos o tempo da graça e somos salvos por
esta graça. Efésios 2:8. E qual a diferença entre a lei e a graça? A lei
era para o velho testamento onde Deus agia apenas com justiça e nos foi exposta
a linha tênue que define a lei e os seus princípios que foram mantidos no tempo
presente, que é o da graça. Muitos diriam: “Olha só que beleza, Deus se tornou
flexível!”. É uma interpretação extremamente equivocada achar que, como estamos
no tempo da graça, então, Deus perdoa tudo sem alguma regra. Basta se
confessar, pagar algumas penitências e tantos outros rituais que estará tudo “quites”.
Deus perdoa tudo, mas na conformidade da sua graça. Pois Cristo é o fim da lei
para justificar a todo aquele que crê. Ninguém pode se apropriar da justiça
porque Deus já se apropriou dela e tornou possível a nossa salvação pela graça.
Em Jesus somos justificados. Ele é o início e o fim de todas as coisas. A lei é
o início de como Deus é para a nossa compreensão e a graça é como Ele faz para
a nossa salvação. A graça de Deus não se explica. Tudo o que Deus faz é para a
salvação do homem demonstrando todo o seu amor porque já tínhamos sido
condenados. Na lei dizia que Deus viria encarnado como filho para morrer pelos
nossos pecados. A morte de Jesus seu filho é exclusivamente para nos reconduzir
de volta à presença de Deus Pai. A morte de Jesus foi em cumprimento de uma lei
e o início da justificação pela graça. A graça de Deus é para manter aqueles
que creem, fiéis até a morte. Note o que diz o texto em Romanos 5:20: "...onde
abundou o pecado, superabundou a graça". Mesmo sendo convertidos,
porém, resgatados, ainda somos pecadores e padecemos o sofrimento do pecado, porém,
a superabundante graça de Deus nos mantém firmes que é manifestada para os
convertidos em Cristo que reconhecem as suas fraquezas. E esta graça está
“amarrada” com a lei conforme está escrito no versículo 21: "...assim
viesse reinar a graça pela justiça". Esta graça é diferente da que é
derramada sobre bons e maus, justos e injustos como a chuva e o brilho do sol.
Esta graça não é para a salvação, mas demonstra a multiforme graça de Deus e
isto é fruto da sua infinita bondade e todos são contemplados. Enquanto a graça
da salvação é fruto da justiça de Deus pela qual fomos justificados em Cristo
Jesus. Romanos 8:23 diz: “Quem intentará acusação contra os escolhidos?
É Deus quem os justifica.”
A lei de Deus é perfeita (Salmos 19:7).
campinas sp 07/08/2007
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