terça-feira, 4 de julho de 2017

O LEGALISMO

Venancio Jr

As recentes manifestações por todo o Brasil exigindo mudanças e o cumprimento das leis em vigor nos traz um questionamento. Precisava que o povo saísse às ruas para exigir que os responsáveis (executivo/legislativo) cumprissem com a obrigação para o qual foram eleitos? Se já existe a lei, então, por que não se cumpriu? Nós temos a triste mania de acomodar até naquilo que precisamos fazer e não o fazemos. É o velho costume de agir somente quando somos exigidos e a sermos honestos somente “sob os holofotes”. No caso dos nossos governantes, estes, são obrigados, por força dos cargos que lhes foram confiados, mas acomodaram e se esforçam apenas em praticar a justiça (deles) em benefício próprio. Muitas coisas não funcionam, simplesmente porque não se cumprem as leis que, na maioria, são boas, outras, a minoria, precisa de atualização. Será que precisamos de mais leis? Talvez, no máximo, mudar algumas delas para adequá-las aos anseios da maioria das pessoas. Isto é praticar justiça mesmo que não contemple a totalidade da população.

O que seria a lei propriamente dita? Qualquer ação, quando envolve duas ou mais pessoas, é amparada pelos dispositivos que definem os direitos e responsabilidades de todo cidadão sem distinção.

Para o quê serve uma lei? A lei tem um princípio lógico. Quando alguém a infringe aplica-se as penalidades para uma sentença justa. Isto é lógico e não existe controvérsia quanto a esta questão.

Quanta indignação nós sentimos quando alguém comete algo que contraria a lei e este alguém usa a mesma lei para se livrar da pena imposta. São as famosas “brechas”. Como a lei, provavelmente, “pertença” à ética, então, pode ser que ela não seja absolutamente justa, porque agir com ética, de certa forma, não é ter razão absoluta.

Existem duas perspectivas da visão de um conjunto de leis. Uma afirma que as leis são para nos aprisionar e a outra defende que é para nos libertar. Quem está certo? Discorremos esta reflexão dentro do conceito de que a liberdade total não existe porque fomos compostos para integrar e não para agir individualmente o que seria de certa forma, desintegrar. Quando agimos julgando que temos total liberdade, na verdade, estamos nos decompondo como sociedade. Se não seguimos a lei perdemos a compostura moral e ética. Estes atributos são fundamentados nas leis de Deus que é o princípio de todas as leis e quando pecamos nos desintegramos espiritualmente e o processo do plano de Deus é para nos recompor individualmente e nos reintegrar no corpo.

Será que a lei de Deus precisa também mudar adequando-a aos interesses da maioria? Os cinco primeiros livros da Bíblia denominado o Pentateuco são conhecidos como os livros da lei. O trecho mais conhecido é os Dez Mandamentos em que Moisés foi designado para redigi-la e expô-la ao povo. Com isto, Deus se tornou “visível” ao homem. Antes mesmo de conhecer estas leis, o homem já a infringiu devido o pecado original em que perdeu o rumo e o prumo. Antes da queda, a natureza humana estava intimamente ligada a Deus e não existiam leis porque o próprio Deus é o início e o fim de todas as coisas. Após este período quem ficou designado para continuar a observação das leis e repassá-la ao povo? O escriba era o que redigia os fatos e tinha o observador das leis que zelava pela sua aplicabilidade e a defendia com rigor para que nada fugisse dos ritos tradicionais. Jesus denominou estes observadores como fariseus porque a preocupação destes com a lei estava acima do próprio temor a Deus. Percebemos que os que mais contestavam a Jesus eram os observadores da lei. A lei estava acima de qualquer coisa e os fariseus eram radicais nas suas aptidões. Eram os verdadeiros legalistas ou podemos simplesmente dizer que eram estritamente ritualistas. A parábola do homem rico talvez seja a que mais retrate o legalista. "Sabes os mandamentos: Não matarás; não adulterarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; a ninguém defraudarás; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, lhe replicou: Mestre, tudo isso tenho guardado desde a minha juventude. E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Uma coisa te falta; vai vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me. Mas ele triste se retirou porque possuía muitos bens". Marcos 10;19:22. O homem rico afirmou que fazia tudo o que estava dentro da lei, porém o coração dele, que é onde estava o seu tesouro, ainda não tinha se disposto a Deus. "Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração" Mateus 06:21. Num destes encontros com os fariseus, o próprio Jesus foi incisivo dizendo que "Este povo me honra com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim;" Marcos 07:06. Ele se referia às pessoas que cumpriam fielmente os seus compromissos, porém, o espírito estava cheio dos valores da terra. Quanto mais perto de Deus mais longe do mundo. Esta é a premissa da lei. É deste desvinculo do espírito da riqueza do mundo que o jovem rico foi desafiado. E a Bíblia fala sobre os pobres de espírito que herdarão a terra. Esta pobreza é o espírito desvinculado das coisas materiais possua ou não bens. Lembremo-nos de Jó. Um homem literalmente rico, mas, ninguém foi fiel como ele. Contraditório? Não! Ele tinha um espírito livre, despojado de bens materiais, tanto é que tudo lhe foi tirado, inclusive família, todos os bens e sua saúde, mesmo neste estado de miséria o seu espírito manteve-se inalterado, não perdendo a sua liberdade em manter-se fiel à Deus.

Existem pessoas que pelo fato de envolver-se na igreja em qualquer atividade ou praticar boas ações seja o suficiente para agradar a Deus, desta forma, garante a vida eterna. Isto é legalismo. Não basta ser bom, religioso e fiel cumpridor das leis, é preciso reconhecer que Jesus não morreu por causa dos nossos "pecados de estimação" que, de fato, nos distanciam de Deus, mas pelo pecado original em que todos foram destituídos da sua presença. Deus precisou cumprir sua lei.

Sendo Deus o Alfa e o Ômega, ou seja, o princípio e o fim de todas as coisas, enviou seu filho Jesus para cumprir a lei e não para eliminá-la. "Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir". Mateus 05:17. Por que Jesus disse isto? Simplesmente porque muitos daqueles zelosos da lei desconheciam a própria lei e estavam desvirtuando e interpretando equivocadamente. Mas como Deus, na pessoa de Jesus, ao mesmo tempo critica os legalistas e afirma que veio cumprir as leis e não a mudar? Muitos deles não reconheciam a Jesus como o Messias prometido. Isto estava na lei e deveria ser cumprido. Este cumprimento da lei nos resgata do pecado original. Jesus não era legalista, mas veio cumprir a lei na íntegra e não apenas o que interessa ao homem. Jesus era bem radical nestas questões e com veemência exortava aqueles que cumpriam apenas uma parte da lei. "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas." Mateus 23:23. Observe no final deste texto que as coisas estavam acontecendo dentro da conveniência humana. Impuseram o legalismo e aos poucos foram dirimindo o que julgavam desnecessários à convicção humana. Porém, a salvação que todos buscavam não era mais pelas leis, porque não existe lei sem justiça e justo seria sermos condenados, aliás, fomos todos condenados, conforme a lei, mas, agora vivemos o tempo da graça e somos salvos por esta graça. Efésios 2:8. E qual a diferença entre a lei e a graça? A lei era para o velho testamento onde Deus agia apenas com justiça e nos foi exposta a linha tênue que define a lei e os seus princípios que foram mantidos no tempo presente, que é o da graça. Muitos diriam: “Olha só que beleza, Deus se tornou flexível!”. É uma interpretação extremamente equivocada achar que, como estamos no tempo da graça, então, Deus perdoa tudo sem alguma regra. Basta se confessar, pagar algumas penitências e tantos outros rituais que estará tudo “quites”. Deus perdoa tudo, mas na conformidade da sua graça. Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê. Ninguém pode se apropriar da justiça porque Deus já se apropriou dela e tornou possível a nossa salvação pela graça. Em Jesus somos justificados. Ele é o início e o fim de todas as coisas. A lei é o início de como Deus é para a nossa compreensão e a graça é como Ele faz para a nossa salvação. A graça de Deus não se explica. Tudo o que Deus faz é para a salvação do homem demonstrando todo o seu amor porque já tínhamos sido condenados. Na lei dizia que Deus viria encarnado como filho para morrer pelos nossos pecados. A morte de Jesus seu filho é exclusivamente para nos reconduzir de volta à presença de Deus Pai. A morte de Jesus foi em cumprimento de uma lei e o início da justificação pela graça. A graça de Deus é para manter aqueles que creem, fiéis até a morte. Note o que diz o texto em Romanos 5:20: "...onde abundou o pecado, superabundou a graça". Mesmo sendo convertidos, porém, resgatados, ainda somos pecadores e padecemos o sofrimento do pecado, porém, a superabundante graça de Deus nos mantém firmes que é manifestada para os convertidos em Cristo que reconhecem as suas fraquezas. E esta graça está “amarrada” com a lei conforme está escrito no versículo 21: "...assim viesse reinar a graça pela justiça". Esta graça é diferente da que é derramada sobre bons e maus, justos e injustos como a chuva e o brilho do sol. Esta graça não é para a salvação, mas demonstra a multiforme graça de Deus e isto é fruto da sua infinita bondade e todos são contemplados. Enquanto a graça da salvação é fruto da justiça de Deus pela qual fomos justificados em Cristo Jesus. Romanos 8:23 diz: “Quem intentará acusação contra os escolhidos? É Deus quem os justifica.”

A lei de Deus é perfeita (Salmos 19:7).

campinas sp 07/08/2007

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