Venancio Junior
Dias atrás, recebi num sinaleiro uma mídia de
divulgação de uma igreja. E não era destas igrejas novas que surgem em cada
esquina, mas tratava-se de uma igreja histórica e, esta, inauguraria no final
de semana seguinte mais uma de suas filiais. Tal como muitas outras
denominações que preferiram esquecer suas histórias de luta e identificação com
a sã doutrina, esta também seguiu pelos atalhos da linha pseudoteológica e isto
é perceptível no material que foi distribuído. Assistindo-o, percebi que o
único enfoque era apenas fazer a propaganda, que, aliás, como um material de
divulgação, foi muito mal produzido e que qualquer profissional em início de
carreira na área de marketing ficaria chocado com esta, diria, “má propaganda”.
E isto não era o pior, porque o conteúdo conseguiu superar negativamente a má
produção e numa das cenas tem uma garota rindo à toa e, de repente, o pastor
aparece e diz: “Sabe por que ela está feliz? e ele mesmo responde: Porque ela
frequenta a nossa igreja! Fiquei pensando naquela imagem e, de fato, o pastor
não estaria mentindo se o foco não fosse apenas fazer a propaganda da igreja.
Participar, se envolver ou simplesmente frequentar uma igreja não nos dá a
certeza de que seremos felizes e satisfeitos naquilo que queremos. Creio que
somos plenamente felizes quanto ao que há de vir que é a nossa esperança da
vida eterna. Devemos depender exclusivamente de Deus. Digo que este é o primeiro
passo, porém, existem milhares de frequentadores de igreja que ainda não deram
o primeiro passo. Muitos são cuidadores dos bons costumes que é adotado como
doutrina e foram convencidos, acreditaram apenas na propaganda da igreja e
ainda não creram no evangelho e percebemos que ainda falta o primeiro passo.
Quando se faz apenas propaganda, a igreja se torna um produto de consumo e que
existe somente para nos servir. Nos tempos bíblicos os desejos pessoais,
principalmente dos líderes da época, “andavam de mãos dadas” com os governos e
nos dias de hoje, muitos querem que esta influência ou tipo de “parceria
maléfica” volte, visando apenas suas pretensões e influências políticas. Isto é
o que a propaganda faz, atingindo apenas a nossa superficialidade. É muito
diferente quando ouvimos, cremos e absorvemos o evangelho, assim, a nossa visão
transpõe as quatro paredes da igreja e os seus dogmas e não ficamos preocupados
com o tamanho da igreja e nem com a quantidade de pessoas ou mesmo com o nível
social destes que a frequentam e a vemos como uma “clínica da alma”.
A frequência nas igrejas acontece por motivos
díspares seja por tradição familiar, nível social, o ambiente agradável da
igreja e outros motivos que são até salutares à vida espiritual que pode ser a
boa pregação do pastor, a boa música, as festividades e as boas amizades. Não
existe outro motivo pelo qual frequentamos uma igreja. Mas o que devemos saber
sobre a igreja ou sobre o evangelho? Uma igreja não acaba quando fecha as suas
portas, mas quando deixa de abri-las para os pobres e necessitados. Existem
milhares de igrejas que espiritualmente já não existem, não evangelizam e não
tem, sequer, estudos bíblicos e preocupam-se mais com a propaganda do que com o
evangelismo. Estão cheias de gente atraídas pela propaganda, mas as portas
espirituais estão fechadas e não atendem as reais necessidades destas pessoas.
Existem apenas para satisfazer os interesses dos líderes ou dos membros mais
influentes. Nestas igrejas as portas estão fechadas para os pobres e para os
aflitos. E a igreja a que me refiro, conforme, disse o próprio Jesus, é a casa
de oração para todos os povos onde todos são bem-vindos para que sejam
alcançados pelo evangelho. Em muitas igrejas atualmente não encontramos este
evangelho. Tenho certeza de que todos se empenham em divulgar a igreja e fazer
o evangelho conhecido, porém, não é o verdadeiro evangelho que tem sido
proclamado. Neste ímpeto de pregar o evangelho, muitas aberrações tem exposto
um “evangelho” chulo, por exemplo, quanta bobagem assistimos na televisão, no
rádio e também lemos nos adesivos dos carros que é mais um amuleto, positivismo
ou mandinga do que evangelismo e muitos não tem nem fundamento teológico. E o
que falar das letras das músicas (de novo, a música) que muitas delas distorcem
o evangelho para que se torne mais atraente. Numa destas músicas, atualmente em
evidência, diz uma das frases: “Deus, saia da sua casa e venha morar em mim!”.
Misericórdia! A construção da frase é tão grosseira que parece que está
chamando Deus para uma briga. Segundo o evangelho de Jesus Cristo, Deus é
onipresente. No Salmo 139 fala amplamente desta onipresença e o amparo que ela
nos proporciona. Ele habita em nós por isso somos o templo do Espírito Santo (I
Coríntios 6:19). A partir do momento que ouvimos o evangelho, cremos em Deus
Pai e aceitamos a Jesus, seu filho, como Salvador e ele faz morada em nós
através do seu Santo Espírito. Não precisamos “exigir” isto porque é uma de
suas inúmeras promessas. Neste caso, a música atrai e a letra trai. E quantos
são atraídos pelos arranjos e performances e são traídos pela ausência do
evangelho nas letras. A emissora de maior audiência também se rendeu ao “mundo
evangélico” promovendo o show Promessas com os maiores nomes da música gospel.
Será que o evangelho se tonou tão interessante a ponto da mais influente
emissora deste país promover este evento ou será que o interesse é apenas a
audiência? O fato de promover este show é algo maravilhoso! Praticamente o país
inteiro conhecerá o evangelho e saberá que Deus é Senhor. Será? As pessoas já
conhecem o evangelho e sabem que precisam de transformação, mas ainda não
assimilaram o evangelho nas suas vidas. Isto é difícil e para ajudar, a
confusão que se instalou no meio evangélico com várias doutrinas e a emissora
em questão não se rendeu ao evangelho porque o interesse é apenas comercial.
Lembrei-me daquela frase: “Se não pode com eles, junte-se à eles!”. Não creio
que o interesse seja propagar o evangelho que é para converter o coração
tornando-o discípulo o que a nossa emissora está longe de promover o Reino de
Deus. Ela foi convencida pela propaganda que é para convencer a mente. A
massificação, enfim, atingiu os neoevangélicos que se tornaram consumistas da
mesma forma que outros grupos cristãos consomem adereços, estátuas, correntes,
e tudo para reforçar a fé e render dividendos para as suas igrejas. Isto basta?
Infelizmente para a maioria de hoje, sim, porque chegou até eles o evangelho
raso e sem raízes. Esta superficialidade tomou conta do meio evangélico também
e o interessante é que antigamente somente os cristãos eram taxados de
ignorantes por isso que se tornavam crentes. A mensagem melhorou de qualidade
ou nos tornamos todos ignorantes. O filósofo Luiz Pondé definiu com muita
propriedade uma situação semelhante e afirmou que o Brasil atual se tornou um
grande “churrascão na laje” e no meio evangélico não é diferente. Todos os
cristãos espiritualmente e culturalmente inconformados com o mundo deve ser um
guerreiro contra esta banalização propagandista do evangelho. E quem está
promovendo este evento, será que o interesse é exclusivamente evangelizar? Há
muitas igrejas dando o seu apoio, lógico, quanto mais cheia a igreja, mais
dinheiro em caixa, mais influência política, mais prestígio na sociedade e tudo
isto traz satisfação para o ego. Da mesma forma que o meio não cristão, esta
determinada classe de evangélicos e mais recentemente os cristãos católicos
adotaram a parceria com as produtoras e gravadoras e monopolizaram o mundo da
comunicação em massa. Promover mega-shows como este, espalhar outdoors pela
cidade, divulgar nos horários nobres do rádio e da televisão e ter milhares de
seguidores no Twitter, no Facebook é apenas propaganda e, com certeza, haverá o
retorno desejado, seja para o bem ou para o mal. Devemos fazer uso
destes maravilhosos recursos também para evangelizar conforme diz o apóstolo
Paulo que usou de todos os meios para que o evangelho chegasse às pessoas (I
Corintios 9:22). Mas se aprendemos a somente divulgar, então poderíamos afirmar
que estamos apenas fazendo propaganda do Cristianismo. Como diz o ditado: “A
propaganda é a alma do negócio!”. Se o comerciante não divulga o seu produto
certamente vai à falência. Como o nosso “ramo” não é comercial, o problema é
afirmar o que Pedro e João ofereceram ao coxo quando este lhes pediu dinheiro e
eles logo afirmaram que não tinham dinheiro, mas o que tinham lhe deram que foi
o evangelho (Atos 3:6). Se a igreja não vivencia o evangelho, então, não poderá oferecer
aquilo que não tem. Dinheiro para evangelizar é investimento e, neste caso, com
a propaganda seria apenas gasto porque não há retorno plausível e apresentarão
a Deus as mãos vazias de almas. Muitas igrejas chegam a investir milhares de
reais justificando que tudo é pela “causa do Mestre”. A igreja deve estar
atenta as reais necessidades da sociedade, tanto espirituais como também
sociais para que faça diferença no meio em que ela (igreja) está inserida. Para
evangelizar não precisamos essencialmente de dinheiro. Jesus não falou que deveríamos
juntar dinheiro, fazer curso de propaganda e marketing ou algo do tipo para que
fôssemos evangelizadores, Ele simplesmente disse: “Ide, fazei
discípulos.” Se este mandamento de Jesus ficasse apenas no “Ide” creio
que tudo o que acontece hoje se justificaria e legitimaria a afirmação de que
devemos atingir os objetivos de apenas ir e encher as igrejas custe o que
custar, porém, a sequência do versículo nos desafia a fazer discípulos que é
ensinar o que aprendemos. Um termo muito usado hoje, inclusive, foi inspiração
para uma propaganda daquilo que fazemos de bom que é o “passar a bola adiante”.
“Passe a bola” do evangelho adiante, se aprendemos o que significa, então
ensinamos as boas novas de Jesus para outros e Ele mesmo enfatizou o ensino de
todos os seus mandamentos conforme lemos na continuação do texto de Mateus
28:19, “... ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho
mandado”. O que precisamos de fato é atender ao chamado de Cristo para
proclamar a todos os povos o evangelho, “...Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatura”. Marcos 16:15. E qual o tempo certo
para evangelizar? O apóstolo Paulo deu um claro exemplo pregando a tempo e fora
de tempo (II Timóteo 4:2). O tempo urge e o melhor momento para evangelizar é
agora. E no livro de Atos no capítulo 4 o apóstolo Pedro afirmou que Jesus
Cristo fosse conhecido pelo que Ele faz que, além de salvar o ser humano, cura
também os enfermos (lembre-se do coxo) e traz libertação aos oprimidos. “Vinde a mim todos
vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” Mateus 11:28. Este
é o evangelho que deve ser pregado. A diferença em fazer a propaganda é que
quando evangelizamos devemos acompanhar aqueles que são evangelizados e não
jogar a rede e depois, como dizem, “cair fora”. Fazer propaganda é divulgar e
depois cada um por si. Devemos fazer o que Jesus fez que nos adotou na cruz e,
assim, devemos também “adotar” aqueles a quem evangelizamos até que possam
caminhar sozinhos e trazer outros para o Reino de Deus. Não precisamos escrever
outro evangelho porque ele já foi escrito e chegou até nós através da
evangelização e, provavelmente, alguém nos acompanhou até que conseguíssemos
caminhar sozinhos. O acompanhamento deve ser com longanimidade, com alegria,
prazer e disposição. Acompanhar é ensinar, exortar, admoestar que é repreender
com leveza, tipo, “pegar leve”. Certa vez um colega nosso foi tirar umas
“dúvidas teológicas” e o pastor rispidamente respondeu à ele: “Vá se converter
primeiro depois venha falar comigo”. Adivinhem o que aconteceu? Nunca mais
pisou numa igreja e ainda falou que ser crente foi um atraso de vida. O pastor
conseguiu “desevangelizar”.
Ter uma tatuagem ou um adesivo no carro para
demonstrar o que pensamos é muito simples, mas o que de fato precisamos é de
ter a marca de Cristo em nossas vidas e isto se consegue a partir de um coração
reconhecidamente pecador, porém, arrependido dos seus pecados. Alguns pecam
pelo exagero quando começam a fazer certas coisas que parece que ele quer
dizer: “Olha que legal, eu sou crente, faço e uso o que quero!”. Querendo dizer
que a igreja que frequenta é uma igreja moderna e liberal. Creu piamente na
propaganda e não demonstra que o evangelho transformou a sua vida. A Bíblia diz
que não devemos ter a aparência do mal. A aparência do mal não são coisas que
contradiz os nossos costumes, mas aparência do mal é tudo aquilo que contradiz
o evangelho. Não basta frequentar os cultos, mas deve sentir prazer conforme
lemos em Salmos 122:01. Não basta participar dos ministérios da igreja, mas
precisa ter a consciência de ministro a serviço do Reino. Não basta ter uma
tradição familiar de décadas, o que precisamos é de um novo começo tornando-nos
uma nova criatura em Cristo porque a cada dia o pecado nos envelhece e a
transformação que precisamos é a renovação da nossa mente e coração. Se, de
fato, somos felizes e satisfeitos, glorificamos a Deus em tudo na nossa vida,
então, somos por excelência, mensageiros do Senhor. Uma mente convencida busca
mais os interesses da denominação, enquanto um coração convertido busca
primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e confia no Deus que supre as
necessidades e acrescenta as demais coisas. Uma mente convencida rende frutos
da carne e o coração convertido produz frutos do espírito. Eis a diferença
entre a mente convencida pela propaganda e o coração convertido pelo evangelho.
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