quinta-feira, 27 de julho de 2023

A AGENDA DE DEUS

Venancio Junior

Será que alguém já pensou na agenda de Deus? O que será que Deus está pensando ou planejando neste exato momento? O que será que tem reservado para hoje? Será que a única “preocupação” de Deus é com a humanidade?

Deus é aquele que criou a existência. Antes da criação nada existia, com exceção do reino de Deus que fica em algum lugar do contexto espiritual. Por que Deus criou a existência? Algo que é fato seria a sua infinita criatividade. Uma diversificação dos sentidos e formas presentes na criação é algo admirável. O som, as cores, o formato, o cheiro, a textura, o gosto presentes na criação são fantásticos. Além dos cinco sentidos incluo nesta lista os sentimentos de desejo e sensação. Mesmo após a queda pelo pecado que gerou uma profunda desfiguração na sua essência em que a matéria se tornou mortal, porém, alguns sentidos permaneceram irretocáveis, por exemplo, o sentimento do bem presente até nos animais que gostam do carinho do ser humano. Este sentimento pertence a configuração original. O apreço pelas pessoas aos seus semelhantes também pertence a configuração original. Toda esta existência foi criada perfeita para louvor do seu criador. Deus não precisava se incomodar em criar a existência para comprovar que é soberano. Considerando que Deus não existe porque a existência veio depois, então, não poderia criar a si mesmo e Deus simplesmente é, pois, não se submete ao tempo e ao espaço que conhecemos.

Explicar Deus é impossível. Mas, ele se tornou acessível através da existência, obra de suas mãos. Através das escrituras vimos a saber e conhecer a Deus como disse o salmista "O céu anuncia a glória de Deus e nos mostra aquilo que as suas mãos fizeram" (Salmos 19:01).

Deus não se manifestou porque precisava alimentar a sua vaidade de criador. Deus também não precisa que seja reconhecido como soberano. Deus ser reconhecido é uma iniciativa da criatura, enquanto ser conhecido foi uma iniciativa do próprio Deus e toda a sua glória e poder disponibilizou à sua existência e concedeu a responsabilidade ao ser humano o cuidado e proteção da sua criação, "O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar" (Gênesis 2:15). Contrariamente ao que se conhece, Deus não é ditador e concedeu também o livre arbítrio ao ser humano nas suas recomendações iniciais logo no início "E o Senhor Deus ordenou ao homem: De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá" (Gênesis 2:16,17). Algumas interpretações teológicas afirmam que o livre arbítrio não existe porque Deus já sabe tudo o que vai acontecer. Crendo, desta forma que tudo já esteja definido e quem será salvo e quem não será salvo. A agenda de Deus não funciona na conformidade literal de algumas interpretações. Se considerarmos esta linha de interpretação, então, devemos considerar Deus um tirano ditador cruel. Se já sabe tudo o que vai acontecer, então, ele está assistindo a todo sofrimento e degradação da sua existência do seu trono sem se preocupar. Exatamente neste ponto é que está o fundamento que desconstrói o conceito de que tudo já está definido. Deus se preocupou e se ocupa em resgatar e reconstruir a sua existência que é obra de suas mãos como já mencionado anteriormente. A existência é obra-prima que fazia parte da sua agenda. No livro de Gênesis 2:2 lemos "E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que tinha feito". A agenda de Deus neste texto é pública e notória. Deus descansou não porque estava cansado, mas, deixou de se preocupar e se ocupar com a criação que já havia concluído. No final do capítulo anterior "Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom" (Gênesis 1:31). Quem tem agenda sabe que no final do dia precisa conferir e fazer as considerações finais do trabalho daquilo que foi feito. Deus fez exatamente isto. Na agenda de Deus consta que Ele passeava pelo jardim e verificava como andava as coisas. Aparentemente nos parece que o contexto da criação é o mesmo de Deus, pois, o ser humano conversava diretamente com o seu criador, mas, se lermos o texto de Gênesis 3:8 parece que Adão não via a Deus, somente ouvia a sua voz e Deus se apresentava como o vento suave da tarde "Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde...". Provavelmente o ambiente da criação fosse distinto da morada de Deus que não tinha uma configuração humana, pois, é espírito (João 4:24) e a criação era matéria.

Considerando que tudo sofreu uma desfiguração, será que Deus descansou e não se preocupou mais com a sua criação? Isto, de fato, aconteceu quando Deus retirou a sua criação da sua agenda. Não constava na agenda a expulsão da criação daquele contexto, mas, como o ser humano se tornou conhecedor do bem e do mal, precisava ser retirado (Gênesis 3:23) para que (em pecado) não comesse da árvore da vida e vivesse eternamente (Gênesis 3:22). Percebe-se a gravidade da irresponsabilidade de Adão e Eva. A partir daí, o perdão ainda não constava na agenda como única forma de redenção ou recondução da existência à presença de Deus.

Não se sabe ao certo o tempo exato entre a expulsão do jardim e a decisão no resgate da sua criação. A agenda de Deus precisava ser revista e Deus se empenhou pessoalmente nesta empreitada. No texto de Gênesis 3:15 Deus deu a dica sobre a sua intenção em rever a agenda demonstrando que sempre esteve focado na sua criação. Ele afirmou que a descendência da mulher feriria a cabeça da serpente que é o diabo e apenas o calcanhar seria ferido numa alusão à crucificação de Cristo. Deus não pensou muito para assumir pessoalmente este processo quando fez esta afirmação.

A partir daí, o Reino celeste foi colocado à disposição para esta batalha espiritual que não se iniciou com a expulsão do ser humano do jardim, mas, com a precipitação do diabo e seus anjos fora da glória de Deus. No livro de Apocalipse 12:7,8,9 consta o início da batalha entre o bem e o mal "Então estourou a guerra no céu. Miguel e os seus anjos lutaram contra o dragão. Também o dragão e os seus anjos lutaram, mas não conseguiram sair vitoriosos e não havia mais lugar para eles no céu. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo. Ele foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos". Uma verdadeira batalha épica de grandes proporções e que mudou completamente a agenda de Deus porque a sua criação estaria à mercê desta legião maligna e não teria qualquer chance de vitória. Deus se compadeceu porque não fazia qualquer sentido a sua obra-prima se desintegrar pelo pecado e o diabo cantar vitória controlando a sua criação que foi feita com muito amor e carinho. A criação é essência de Deus e os seus escolhidos foi posteriormente considerado a “menina dos seus olhos”.

Após vencer a primeira batalha, pois, a guerra ainda não estava ganha porque a raça humana ainda precisava ser resgatada, Deus decidiu se envolver pessoalmente como única forma de vencer a guerra em definitivo. Na perspectiva humana, é um longo processo que precisava superar algumas etapas e todas foram incluídas na agenda como forma de respeitar estas etapas e definir um recomeço, meio e fim. Coloquei recomeço como sendo uma nova chance da vida eterna outrora perdida porque o começo de tudo foi no momento da criação da existência. Como já afirmei, este recomeço teve o envolvimento pessoal de Deus através de Jesus Cristo que é Deus encarnado. Algumas linhas teológicas não reconhecem a Jesus como Deus, mas, somente como o filho de Deus. Considerando que há somente um só Deus, então, esta interpretação começa a ser desconstruída conforme lemos no texto em que o próprio Jesus assume que "Eu e o Pai somos um" (João 10:30). Por causa desta afirmação, os religiosos sacerdotes queriam apedrejar Jesus por assumir esta condição. E ainda no texto de João 1:1 "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Verbo em grego é “Logos” e em latim é “Verbum” que significa palavra. Através da palavra a existência foi criada e Jesus estava lá no momento da criação. Reitero que não veremos no Reino de Deus três pessoas distintas na pessoa do Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. O que veremos é somente uma pessoa, pois, não há outro Deus. Esta definição trinominal é para revelar as ações distintas da pessoa de Deus, caso contrário, não conseguiríamos compreender o processo da sua onipresença, onisciência e onipotência.

Este envolvimento pessoal de Deus foi motivado pelo seu próprio amor. Isto lemos, talvez no texto mais famoso da bíblia em que o próprio Jesus revela que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). Deus não se sentiu obrigado a fazer este sacrifício, mas, sendo essencialmente amor, não poderia abandonar a sua criação para a perdição eterna. Jesus veio para cumprir a agenda do Pai "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38). Afinal o que continha nesta agenda? Na carta de I Timóteo lemos que "...Deus, nosso Salvador, deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Timóteo 2:3,4). Qual é esta verdade? O próprio Jesus responde "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6).

A agenda de Deus para o pleno resgate do ser humano começa e termina em Jesus "Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê" (Romanos 10:4). Utilizando minhas palavras de acordo com o contexto desta reflexão seria “Porque a finalidade da agenda de Deus é revelar Jesus Cristo para justificar todos aqueles que crerem”. Crer o que contêm nesta agenda é fundamental para ser reconduzido à sua presença conforme o texto "Quem nele crê não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no Nome do Filho unigênito de Deus" (João 3:18). Jesus assumiu a sua condição de ser também o Espírito Santo quando designou a grande comissão que é a sua igreja e assim finalizou a sua missão na terra que foi a conclusão de uma das etapas do processo contido na agenda logo após a ressurreição "...eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus 28:20). Este texto está consoante com o de João 14:16 quando Jesus disse que pediria ao Pai que enviasse o Espírito Santo e que estaria para sempre com aqueles que creem "E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre".

terça-feira, 25 de julho de 2023

A ETERNIDADE PARA MORTOS E VIVOS

Venancio Junior

Alguém ainda defende que Deus não envia ninguém ao inferno. Na verdade, o texto de Romanos afirma que todos foram condenados ao inferno quando Deus expulsou a raça humana da sua presença (Romanos 3:23). Não existe uma terceira opção além de estar na presença de Deus ou fora dela. A raça humana foi condenada à morte eterna e Jesus é a principal via de recondução à presença de Deus. Se a geração posterior nada tem a ver com o pecado de Adão e Eva, por que também foi expulsa da presença de Deus? Primeiro, “todos pecaram” é absoluto e se refere ao contexto do pecado, pois, todos que nasceram depois no contexto do pecado herdaram a condição de pecador. Não importa se, aos olhos de outro semelhante, alguém seja uma boa pessoa, todos são pecadores e precisam da misericórdia de Deus. Maria, que é considerada "acima de qualquer suspeita" por ser a mãe biológica de Jesus, também foi pecadora e precisou do perdão de Deus. Ela mesma reconheceu esta condição crendo em Deus como salvador na famosa canção de Maria contida no livro de Lucas 1:47;48 “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva”. Todos os demais líderes religiosos, incluindo o papa e todos os santos canonizados, os sacerdotes judeus, os monges budistas, os pastores, os pais de santo dentre outros são também pecadores e, caso confessem, os pecados serão perdoados pela misericórdia de Deus para serem libertos da condenação e reconduzidos à sua presença. Toda teologia e as escrituras do evangelho convergem para este processo.

Porque “a eternidade para mortos e vivos”? Quem morre não acaba tudo? Sempre ouvi dizer que a morte é o fim de tudo. A bíblia afirma o contrário para aqueles que crerem e diz que a morte não é o fim e o próprio Jesus fez esta afirmação: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente" (João 11:25,26). Esta afirmação de Jesus sintetiza que não é o fim nas duas situações do pós-morte, inclusive para aqueles que morrem sem a salvação. Observe “ainda que morra viverá” para os que tiveram seus pecados perdoados e “morrerá eternamente” para os que morreram sem o perdão dos pecados que é a pré-condição para a salvação. Após a morte física existe a vida eterna ou a condenação eterna. Portanto, a morte física não é o fim. Também lemos que estamos mortos e precisamos morrer para receber a vida. Óbvio, só receberá vida quem está morto pelo pecado e crer que receberá a vida. Há uma aparente confusão nas duas afirmações, como assim, para receber a vida precisa estar morto? Por causa do pecado, estamos mortos e para receber a vida, é preciso continuar morto, porém, revivido em Cristo que é a ressurreição e a vida. "Se, porém, Cristo está em vocês, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado...Cristo dentre os mortos vivificará também o corpo mortal, por meio do seu Espírito, que habita em vocês" (Romanos 8:10,11). Não vou dizer que é uma opção, mas, a única forma de se obter, ou melhor, receber a salvação. Não depende de esforços, rituais, sacrifícios, amuletos ou qualquer outra coisa que te ensinaram para obter ou conseguir a salvação, pois, não depende de qualquer esforço, inclusive, nem mesmo as religiões são capazes de resgatar o ser humano, mas, através da graça de Deus em Jesus. O "único esforço" é crer que o único caminho é Jesus Cristo, o Messias prometido exclusivamente para este fim. Jesus não veio para fundar alguma religião ou apresentar uma nova filosofia de vida. O processo é simples, “Quem crer será salvo, quem não crer já está condenado” (João 3:18) numa alusão ao texto de Romanos que todos foram expulsos da presença de Deus e condenados ao inferno. Ninguém nasce neutro, mas, numa condição de pecado. As crianças também estão em pecado? Então, porque Jesus afirmou que o Reino pertence a elas? Quando criança, mesmo nascendo numa condição de pecado, existe a consciência (alma) pueril em que Jesus afirma que o Reino de Deus pertence a elas e quem não tiver a inocência da criança não será herdeiro deste Reino.