segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

EMPINANDO PIPA EM MEIO AO CAOS

Venancio Junior

Quando éramos crianças a única preocupação era o que iríamos fazer pela manhã ou à tarde no tempo livre. Lembro dos meus 5 ou 6 anos quando meu pai me deu de presente de natal um velocípede (triciclo) e quando sai na calçada pensei comigo: "agora vou rodar o mundo inteiro". E isto aconteceu de fato. Fui até a praça próxima de casa e rodei o meu mundo inteirinho. O meu mundo era ali, sem perigo e muitas crianças brincando na praça. E na hora do recreio na escola? Brincava, pulava e o mundo era maravilhoso, apesar de todos os problemas que nos cercavam, mas ainda não assimilados pela nossa inocente mente. À noite era literalmente como criança, não nos assustava porque os nossos pais-heróis estavam à espreita para nos proteger de qualquer “assombração”. Na adolescência, o restinho da infância ainda me motivava a brincar, agora empinando pipa. Lembro que esquecia do mundo quando a pipa estava no alto. Meu nariz ainda tem as marcas do sol. Não me importava com almoço, jantar e nem mesmo com as garotinhas que me ligavam para conversar. Esgotei as brincadeiras de infância e aos poucos a vida real foi mudando as minhas motivações e os interesses.

         Tornamo-nos adultos e o que mudou? Tudo mudou, inclusive a nossa inocência tão rica e que nos dispunha sempre a viver e compartilhar a própria vida com os amigos. O mundo real se tornou presente em nossos sentimentos e emoções. Descobrimos que nem todos são filhos de Papai-Noel e que as motivações que insuflavam os nossos ideais infantis não existiam mais. Interessante que, quando eu era criança não queria ser adulto porque não poderia mais brincar e me divertir.

Jesus foi aquele que conhecia a perspectiva de uma criança quando disse em Mateus 18:3 para sermos iguais a elas. Já o apóstolo Paulo demonstra uma aparente contradição com o mestre e diz em I Coríntios 13:11 para que deixemos de ser crianças. Afinal, o que é certo ser ou não ser uma criança? Por que Jesus usou a formação pueril de uma criança como exemplo de condição para se herdar o Reino de Deus? Em Mateus 18:03 está escrito “Quem não for como criança não poderá herdar o Reino de Deus”. Independentemente da situação ou época, criança é sempre criança. Observe os refugiados de guerra, as crianças estão brincando. Outro dia vi numa reportagem no improvisado acampamento palestino que fugiam de Gaza, uma pipa voando em meio ao caos. Quem teria tanto desapego daquele contexto para tranquilamente soltar uma pipa? Obviamente, uma criança. Desta forma que devemos nos chegar a Deus, como uma criança. Deus nos orienta para que tenhamos o olhar de uma criança que consegue soltar pipa em meio ao caos do mundo, inclusive, louvar a Deus como criança que é de onde sai o perfeito louvor (Mateus 21:16). Neste texto Jesus deu como exemplo um lactante, ou seja, uma criança de peito que ainda desconhecia os percalços da vida. Jesus conhece o sentimento infantil e chamou a atenção para o desprendimento dos valores nada inocentes do mundo.

Mas, e o apóstolo Paulo falava sobre o quê exatamente? As cartas de Paulo são na sua maioria voltadas para a maturidade espiritual. Nascemos criança, crescemos e nos tornamos maduros e assumimos os rumos da nossa vida. Paulo enfatizou de que no novo nascimento é a mesma situação. Nasce como uma nova criatura, cresce no conhecimento da palavra e amadurece para que se possa caminhar sozinho sem a dependência de outra pessoa. O contexto do mundo exige que devemos ter maturidade. As oportunidades em ser seduzido por aquilo que nos afasta do Pai é uma realidade que se convive, tal como uma sombra. Onde estivermos, esta sombra estará nos acompanhando. É preciso ter maturidade para dizer não a estas armadilhas. Há na bíblia um provérbio que diz "Há caminho que parece reto ao homem, mas no final conduz à morte" Provérbio 14:12. Somente com maturidade é possível ter a percepção do mal. Um dos princípios da maturidade é se desapegar da falsa segurança em confiar em si mesmo e firmar a consciência no Pai.

Apesar de adultos não podemos nos privar do sentimento infantil cujas ações se equivalem ao propósito do Reino de Deus. O que consiste este Reino? Viver em paz com todos, amar ao próximo como a ti mesmo e sobretudo amar a Deus acima de todas as coisas e se alegrar no Senhor sempre (Filipenses 4:4). Perder estes sentimentos é se distanciar do Reino, o que chega a ser uma estultice porque deixamos de ser co-herdeiros com Cristo e perderemos todos os privilégios do Reino.  Criança no sentimento e adulto na ação. Não pode ser uma situação dispare. O apóstolo Paulo já advertiu que quando éramos crianças agíamos como crianças e agora adultos devemos agir como adultos. Ele se referiu a motivação (sentimento), porém com consciência (ação) e maturidade. Atualmente muitos ensinam errado porque não viveram aquilo que não sabem e inventam fórmulas de se chegar à Deus e alcançar as suas bênçãos, por conseqüência disso não conseguem se desenvolver e ter o espírito desarmado de uma criança. A maturidade cristã não deve ser usada como arma de soberba. Devemos sempre ter a consciência de que somos eternamente crianças dependentes de Deus que é o nosso Pai. A criança, enquanto criança, sempre será dependente do pai. Somos dependentes de Deus Pai. Esta é uma condição da conversão verdadeira. Não podemos ficar dependentes do mundo porque jamais estaremos seguros, é como ficar órfão. Uma criança órfã é profundamente carente, pois, não tem o carinho e o afeto do pai. Uma vez que fomos adotados por Deus, agora temos o Pai que cuida de nós e seremos eternas crianças pela nossa dependência dele e crescendo a cada dia em sabedoria e graça.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

CONSELHOS, CONCILIOS, CONVENÇÕES E SEUS PODRES PODERES

Venancio Junior

Esta é uma época em que pastores e pastoras, bispos e episcopisas, profetas e profetisas, apóstolos e apóstolas estão em evidência. A tecnologia da multimídia favoreceu o surgimento e a exposição de milhares deles. O que ninguém questiona é quem consagrou estas pessoas para utilizar estes títulos? Qual a organização que os apoiam ou lideram? Sinceramente, muitos destes se autoproclamam ou se intitulam com tais atributos e sequer sabem o que significa. Primeiramente que na igreja não existe hierarquia que define um grau de importância. Todos são iguais perante Deus e exercem trabalhos com o mesmo peso de valor. É pura soberba julgar e forçar Deus para que tenha esta percepção da vaidade humana e também tentam transmitir uma imagem de que quanto mais alto o cargo, mais unção e mais intimidade teria com Deus. Será que a igreja deles (por sinal, muitas delas nem existem de fato, é só marketing) é subordinada a alguma organização superior? Ou será que julgam que nada seria superior a eles? Para quem frequenta alguma organização religiosa, provavelmente saiba que a maioria das igrejas é subordinada a uma entidade superior que regula e dita as normas de conduta das igrejas e dos seus frequentadores. Supremo Concílio, Convenção Geral e o Conselho Mundial de Igrejas são os principais órgãos que desde a muito tempo vem debatendo doutrinas e costumes e também intervindo em brigas de igrejas na disputa de territórios de atuação.

Acredite, houve um tempo em que as igrejas disputavam espaço territorial tal como as milícias e as facções fazem atualmente nas favelas. Não utilizavam armas de fogo, mas, saiam aos tapas e socos e os instrumentos musicais eram utilizados como armas de combate. Na década de 50 meu pai foi secretário da mesa diretora da convenção geral numa convocação extraordinária para resolver uma destas brigas em que dois ministérios rivais (sem aspas) da mesma denominação religiosa onde eram literalmente inimigos e um tentava destruir o outro porque houve invasão do território adversário como se pertencesse a igreja. Não é somente apartar estas brigas, mas, outra função destas organizações superiores é também ditar regras e costumes baseados na tradição de cada denominação. Quem não se alinhar, é sumariamente excluído do rol de membros. Alguns pastores que não coadunam com a mesma filosofia sofrem processos administrativos dentro destas organizações. A intervenção é tão grande que avança até nos limites do núcleo familiar. Não sou contra a intervenção desde que a situação na família tenha fugido do controle, porém, deve se limitar a dar um apoio naquilo que precisar deixando as decisões as pessoas responsáveis. Outra questão polêmica e que impera na liderança destes órgãos é o machismo. A maioria destes órgãos superiores não aceitam a liderança feminina. Pastora é considerado antibíblico. Os homens se aproveitam dos costumes antigos dos judeus e impõe algo que é meramente cultural. No Gênesis Deus impôs a submissão da mulher ao marido e nunca ao homem. Deus nunca determinou que a mulher fosse submissa ao homem. Os gêneros são absolutamente iguais em condições e direitos. Alguns destes órgãos já estão aceitando a ordenação feminina e a liderança pastoral. Mas, as maiores organizações ainda relutam em não aceitar e são ofensivos em suas críticas e fazem tudo em nome de Deus. Subjugam as mulheres a funções de atividades sociais o que não é menos importante, mas, sob a liderança dos homens.

Estas organizações têm a função também em dar suporte (pelo menos deveria) aos seus membros quando há algum problema nas igrejas. Alguém pode se iludir julgando que na igreja não existem problemas ou disputas internas. Acredite, nas igrejas também existem difamação, roubo, traição e disputas de poder. Se um determinado grupo de pessoas não gostar do seu líder, simplesmente formam um motim e utilizam até mesmo o poder maligno da mentira para desqualificar a pessoa. Chamam-no de ladrão para baixo. Tem pastores que são destituídos da liderança e saem com uma mão na frente e outra atrás e o espírito cristão está totalmente ausente naqueles que o perseguiram. O inverso também é verdadeiro quando o pastor não gosta de alguém e quer ele fora da igreja e faz de tudo para que se retire difamando e ofendendo e, caso não saia espontaneamente, é sumariamente excluído da membresia. Quando a situação chega no extremo da gravidade, seria o momento certo dos órgãos superiores intervir para trazer uma solução rápida para que os veios de mágoa não se aprofundem. Porém, onde estão estas organizações que deveriam intervir antes que se agravasse mais ainda? Estão nos luxuosos e confortáveis gabinetes preocupados em como manter o cabresto no povo. Esta liderança só se manifesta quando alguma coisa contraria a tradição e os bons costumes. São soberbos e amantes do poder e utilizam da simplicidade das pessoas para perpetuar este poder. Tudo o que falo é por conhecimento de causa. Pessoas muito próximas sofreram todas estas situações e algumas extremamente vexatórias em que a dignidade da família foi desconsiderada. O órgão superior que deveria dar o suporte para que a situação não fugisse do (seu) controle estava completamente fora do controle.

O mundo mudou e a igreja também mudou. A mudança foi extrema, algumas delas mudaram para muito pior perdendo completamente a função primordial em pregar o evangelho e fazer diferença positiva na vida das pessoas. Outras mudaram para melhor e continuam mudando se contextualizando sem renunciar aos princípios do evangelho.

Quanto aos órgãos superiores, mudaram em pouquíssima coisa. Não ouvimos falar mais em brigas territoriais, porém, ainda permanece a triste realidade em se manter a “sã doutrina e os bons costumes” que, na ótica bíblica, nada tem de sã e de longe não são bons costumes. O objetivo como sempre é o de se manter o poder de persuasão, aliciamento e de controle sobre as pessoas para que se mantenham fiéis, principalmente nas contribuições. Existe uma mentalidade que se utiliza como doutrina que é o da porção dobrada em que quantidade significa aprovação de Deus e acreditam que igreja cheia é sinal de que o divino mestre está presente na causa. Deus não se vale de números para agir nas instituições através das pessoas. Absolutamente ninguém receberá aprovação de Deus porque fez muita coisa ou de reprovação se fez pouca coisa. Na minha avaliação que é baseada em fatos, os órgãos superiores de qualquer ramificação religiosa se tornaram verdadeiras facções buscando atrair as pessoas e impor um certo controle. Quanto mais pessoas sob o seu controle, melhor. Existem três grupos principais destes “supremos líderes”. O primeiro grupo pertence aos presidentes vitalícios. Com medo de que sofram o mesmo que eles fizeram com o antecessor, já definiram a perpetualização do poder. O segundo grupo são aqueles que recebem a liderança como se fosse herança patrimonial familiar. Tratam a igreja como patrimônio empresarial e a relação com os seus membros é como se todos dependessem deles financeiramente. E o terceiro grupo é mais “democrático”, tem o seu grupo de apoio que controla tudo, até mesmo as sucessivas reeleições infindas onde apenas há revezamento no cargo. O objetivo é sempre manter o poder se aproximando das pessoas mais influentes da igreja. O discurso é sempre o que o seu grupo quer ouvir.

Enquanto estes podres poderes se perpetuam, há milhões de pessoas na área social passando fome, sem moradia ou com moradia precária, pessoas desempregadas e na área emocional existem muitos que sofrem perturbações diversas, desajustes psicológicos em consequência de sobrecarga do trabalho ou crises familiares, noutros casos, há milhões sofrendo em hospitais e até em casa mesmo sem um horizonte que lhes traga solução para as suas dores físicas. Ainda nem falei da triste realidade dos nossos desastrosos gestores públicos cujo único interesse é o dividendo político e se valem da ignorância das pessoas que colocam a confiança neles para resolver os seus problemas na área da saúde, da segurança pública e da mobilidade urbana. Os núcleos habitacionais irregulares se tornaram “currais eleitorais” e ninguém pode intervir para as devidas melhorias porque tem um grupo que controla. O pior é que estes gestores têm o pleno apoio destes órgãos superiores das igrejas. Ignoram completamente o descaso nas ações que deveriam atender a população. Diariamente vemos nos noticiários os problemas que são consequências da má administração e que são ignoradas pelos políticos em todos os níveis. Enquanto estes problemas surgem nos noticiários, os líderes religiosos estão discutindo assuntos diversos e nenhum deles bate de frente com as necessidades das pessoas. Jamais terão a hombridade em fazer uma autocrítica e, caso precise, virar a própria mesa. Ultimamente, um dos assuntos que tem ocupado a mesa de discussão é qual candidato vão apoiar em nome de Deus. Não importa se a pessoa é incompetente, mentirosa e que tenha um comportamento que contradiz exatamente as tradições e os bons costumes defendido por estas entidades. Basta que no discurso político se fale de Deus e da família, está tudo certo. Os líderes evangélicos vivem no luxo, mas, precisam fundamentalmente do apoio dos pobres.

Voltando ao campo de atuação destas entidades que é o da eclesiologia, porque a política é uma ação intervencionista fora do normal e nem mesmo é recomendável que se envolva, porque na questão política, a igreja tem de limitar a sua função em orientar os seus liderados de que os princípios do evangelho é o único referencial que se pode basear as preferências políticas.  Cada um decida como quiser e que não agrida a sua consciência análoga entre o discurso e as ações.

Observo que alguns destes órgãos desenvolvem trabalhos sociais e tem um certo apoio aos pastores. Mas, nem todos são assim. Porque a carência social, emocional e psicológica nos grandes centros urbanos é gritante e alguns pastores sofrem privações de comida e apoio psicológico. O número de pastores que desistem do ministério cresce a cada ano e dezenas deles chegam a cometer suicídio de tão forte pressão psicológica que sofrem. Sem falar nos escândalos sexuais e na usurpação do dinheiro dos fiéis gastos com a vida luxuosa de alguns dos privilegiados pastores. Construção de templo luxuoso não é e nunca foi da vontade de Deus. Não consta em nenhum dos seus mandamentos. Pelo contrário, o mandamento é o de não colocar o coração nas riquezas. Segue tantos outros mandamentos em que não se pode ter dinheiro e abundância e não ajudar a quem esteja passando necessidade. Os mandamentos não são restritos apenas aos dez. Toda orientação ou exortação serve como mandamento.

Jesus disse Ide e muitos foram para bem longe pregar o evangelho confiados no apoio das suas organizações supremas, porém, diante de tanta dificuldade e sofrimento, este apoio não chegou. Muitos missionários e pastores sofrem perseguições nos regimes autoritários. O mundo defende a paz desde que alguém não contradiga suas convicções religiosas. Concordo que se deve haver o respeito, porém, privar alguém de falar de um ponto de vista diferente em local público é também falta de respeito. Meu pai foi proibido de falar do evangelho em algumas cidades no interior do Brasil porque a igreja predominante não permitia e alertava pelo alto-falante na praça principal de que não era para dar atenção ao que ele falava. O sistema religioso era tão autoritário que meu irmão ficou doente e não atenderam ele no hospital porque a minha família pertencia a uma religião diferente. Não se engane de que isto não exista mais. Nos países extremistas este preconceito é muito comum. Todos devem ser respeitados independentemente de suas convicções religiosas. Os órgãos superiores nunca intervieram ou defenderam aqueles que são perseguidos porque a única preocupação é apenas introduzir os costumes e tradições de suas denominações afiliadas e deveriam se limitar em regular os princípios do evangelho nas suas atribuições e ter ações efetivas para apoiar aqueles que são perseguidos.

Deus não se vale de tradição. Jesus foi perseguido pelos líderes religiosos judeus por combater a tradição deles que valorizavam mais que o evangelho. Este deve ser o ponto a ser considerado. Tradição e bons costumes não são pecados desde que não substituam o evangelho que é o nosso principal direcionador da vida, seja individual ou envolvido nas entidades reguladoras. As igrejas constantemente devem se voltar a bíblia e fincar estaca nos seus princípios. Sinto falta de um evangelho contextualizado sem a máscara de nenhuma religião. A religião da bíblia é atitude, nada mais que isto.


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A ALMA QUE PECA

Venancio Junior

O corpo não peca e o espírito também não peca. O composto do ser humano que peca é a alma. A alma é a nossa consciência. A principal perda do ser humano é a da alma. Contrariamente ao que se configura nos filmes e nos desenhos, a alma e o espírito não têm formas, pois, possuem características diferentes. O corpo é composto por matéria física. Não tem como viver ou fazer parte da matéria sem o corpo. O espírito é composto por sentimentos e emoções. O espírito se alegra, o espírito se entristece. Deus é espírito, portanto, se alegra e também se entristece. Deus é infinito porque é espírito (João 4:24). Caráter e consciência são pertencentes a alma. A alma que pecar, esta morrerá (Ezequiel 18:20). Provavelmente a condenação ao inferno é exclusiva a alma/consciência e o espírito da pessoa mesmo condenada ao inferno, volte para Deus (Eclesiastes 12:7) porque o júbilo é alegria e expressão do espírito e no inferno ninguém ficará jubiloso por causa do extremo sofrimento. O espírito é o fôlego de vida dado por Deus e no inferno não haverá qualquer indício de vida, somente morte. Porque é utilizado o termo “morte espiritual”, considerando que o espírito não morre? Este termo é aplicado desta forma para demonstrar que o espírito, mesmo com o fôlego de vida, deixou de expressar júbilo ao criador. Toda expressão do espírito direcionada a Deus é de vida e nunca de morte. O fôlego de vida nos seres viventes é de encantamento para glorificação do criador. A vida não nos pertence. Quando assumimos de que a vida nos pertence, é porque, provavelmente, a alma esteja querendo assumir o controle. Quando isto acontece, toda expressão se torna superficial. Após a queda e a consequente desconfiguração, tudo mudou, a característica, as emoções, as vontades e também o destino. Por isto que a alma que peca, morre. Estamos imersos no contexto do pecado onde se respira a morte espiritual. Por isto que Jesus afirmou que Ele próprio é a ressurreição e a vida. Leia o texto de João 11:25,26 “Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente”. “...ainda que morra” é referente ao corpo. “...viverá e quem vive” é referente ao espírito “...e crê em mim, não morrerá eternamente” é referente a alma. O corpo volta ao pó, o espírito volta a Deus que é o fôlego de vida e a alma tem o seu destino no juízo de Deus.

Uma pergunta que sempre se faz no consciente da alma é: “Se todos pecam, como é possível ser salvo?”. Por exemplo, se na hora da morte ou do arrebatamento que são as duas únicas condições de se transpor para a outra dimensão, a pessoa estiver em pecado, como explicar a sua redenção? Todos pecam incessantemente, porém, uns, mesmo pecadores, aceitaram e confiaram suas vidas à justificação em Cristo. Enquanto aqueles que não reconhecem a condição de pecadores e nem confiaram suas vidas à Cristo, o destino certo é a perdição eterna. Este último grupo são daqueles que Jesus já havia afirmado “Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá” e completa dizendo “...que adianta ganhar o mundo e perder a alma?” (Marcos 8:35,36).

Muitas pessoas se iludem com grandes conquistas, sejam bens materiais, fama, bem-estar econômico e social e esbanjam saúde. Digo de antemão que todas as conquistas no contexto do mundo atual são ilusões e perdura enquanto houver vida na terra, depois disto, vem o juízo de Deus (Hebreus 9:27). O que é a vida momentânea frente a eternidade? Absolutamente nada. O pecado sem perdão é o único aditivo que nos condena ao sofrimento eterno. O pecado age no íntimo e os seus valores são superficiais e tem o único objetivo em nos manter fora da presença de Deus. O pecado é como um sedativo que elimina a consciência de pecador e nos submete aos mais baixos níveis de degradação. A miséria social e moral e a maldade humanas são consequências deste estado de letargia espiritual. Além dos bens materiais, o que mais seria superficial em que as pessoas se apegam e até depositam sua fé? A religião, seja ela qual for, é superficialidade. As tradições, os rituais, os costumes e os métodos de qualquer religião são falsas narrativas e servem apenas para escravizar as pessoas. Observe a sequência do texto já mencionado de João 4:24 “...os seus adoradores devem adorar no Espírito e em verdade”. O Espírito aqui está com letra maiúscula porque se trata do Espírito Santo. Alegria no Espírito Santo é um dos componentes do Reino de Deus. Então, se deve adorar com alegria no Espírito Santo e em verdade significa adoração consciente. Deus não aceita adoração baseada em emoções superficiais sem a devida consciência do que esteja fazendo. Deve-se reconhecer a Deus e a sua soberania e a única forma de fazê-lo é com a alma vivente que foi regenerada ou justificada em Cristo.

A justificação em Cristo é um processo da graça de Deus. Somos imerecedores da salvação e perdemos o direito de viver a vida eterna com Deus. O único mediador para que sejamos reconduzidos à sua presença é Jesus Cristo. Tudo o que se fala sobre interceder aos santos ou a qualquer outra entidade é dolo para enganar aqueles que desconhecem o plano de salvação. Só é possível ter a vida salva para quem devemos a vida que é o próprio Deus que nos deu o fôlego de vida. Não basta falar de Deus, ouvir falar de Deus e odiar o diabo. Amar a Deus integralmente com plena consciência é o primeiro mandamento: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças" (Marcos 12:30). Isto só é possível no Espírito Santo e com a alma consoante as atitudes práticas. Em Espírito e em verdade. O Espírito Santo só habita naqueles que vivem a integralidade do evangelho. Não me refiro ao evangelho da religião evangélica ou protestante. O evangelho não pertence a qualquer religião. Tudo o que se ouviu ou aprendeu sobre salvação deve ser filtrado no evangelho que fala sobre a criação de Deus, sobre o pecado e sobre a redenção em Jesus Cristo.

Trocando em miúdos, a salvação é coisa muito séria. A mais alta periculosidade que coloca em risco a salvação são as falsas narrativas. Estas falsas narrativas nos deixam mornos diante de Deus que se indignou com esta condição e que afirma de que seria melhor ser frio ou quente do que ser morno que, neste caso, vomitaria (Apocalipse 3:15,16). Esta foi uma carta a igreja de Laodiceia. Estava falando a pessoas que comungavam e frequentavam a igreja. Eram pessoas que se empenhavam em cumprir a tradição, porém, o coração estava longe. O que significa ter o coração longe de Deus? A princípio, é ter uma vida cômoda sem envolvimento com a missão em pregar o evangelho a toda a criatura. Ter o talento dado por Deus enterrado é também um indício de que algo não vai bem no relacionamento com Deus na prática. Ser discípulo e servo não deve se restringir a teoria. Adorar no Espírito é revelar comunhão e em verdade é vida prática e consciente. Conheço muitos que vivem sem conexão com Deus. A tradição, costumes e medo de ir para o inferno não garantem vida eterna. Vivem no conforto de suas casas, usufruindo de tudo o que a vida oferece de bom, porém, sem se aperceber de que esta condição é um verdadeiro cativeiro espiritual. Nada contra as coisas boas da vida, porém, deve ser condizente com o texto de I Coríntios 10:31? "Assim, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus". As coisas boas da vida são proporcionadas por Deus e tudo, conforme o texto, deve ser feito para a sua glória. Há um complemento que conclui o reconhecimento de servo que se encontra no texto de Eclesiastes 3:17 "E tudo quanto fizerdes, seja por meio de palavras ou ações, fazei em o Nome do Senhor Jesus, oferecendo por intermédio dele graças a Deus Pai". Claramente o texto exorta de que não bastam somente palavras, é preciso atitude que revelem a verdadeira conexão com Deus. Este texto também revela que se deve ter plena consciência no uso das palavras e na aplicabilidade dos talentos para a glória de Deus. Isto revela que a alma mesmo em pecado por causa do contexto, é justificada em Cristo.