Venancio Junior
Esta
é uma época em que pastores e pastoras, bispos e episcopisas, profetas e profetisas,
apóstolos e apóstolas estão em evidência. A tecnologia da multimídia favoreceu
o surgimento e a exposição de milhares deles. O que ninguém questiona é quem
consagrou estas pessoas para utilizar estes títulos? Qual a organização que os
apoiam ou lideram? Sinceramente, muitos destes se autoproclamam ou se intitulam
com tais atributos e sequer sabem o que significa. Primeiramente que na igreja
não existe hierarquia que define um grau de importância. Todos são iguais
perante Deus e exercem trabalhos com o mesmo peso de valor. É pura soberba
julgar e forçar Deus para que tenha esta percepção da vaidade humana e também tentam
transmitir uma imagem de que quanto mais alto o cargo, mais unção e mais
intimidade teria com Deus. Será que a igreja deles (por sinal, muitas delas nem
existem de fato, é só marketing) é subordinada a alguma organização superior?
Ou será que julgam que nada seria superior a eles? Para quem frequenta alguma
organização religiosa, provavelmente saiba que a maioria das igrejas é
subordinada a uma entidade superior que regula e dita as normas de conduta das
igrejas e dos seus frequentadores. Supremo Concílio, Convenção Geral e o
Conselho Mundial de Igrejas são os principais órgãos que desde a muito tempo
vem debatendo doutrinas e costumes e também intervindo em brigas de igrejas na
disputa de territórios de atuação.
Acredite,
houve um tempo em que as igrejas disputavam espaço territorial tal como as
milícias e as facções fazem atualmente nas favelas. Não utilizavam armas de
fogo, mas, saiam aos tapas e socos e os instrumentos musicais eram utilizados
como armas de combate. Na década de 50 meu pai foi secretário da mesa diretora
da convenção geral numa convocação extraordinária para resolver uma destas
brigas em que dois ministérios rivais (sem aspas) da mesma denominação
religiosa onde eram literalmente inimigos e um tentava destruir o outro porque houve
invasão do território adversário como se pertencesse a igreja. Não é somente
apartar estas brigas, mas, outra função destas organizações superiores é também
ditar regras e costumes baseados na tradição de cada denominação. Quem não se
alinhar, é sumariamente excluído do rol de membros. Alguns pastores que não
coadunam com a mesma filosofia sofrem processos administrativos dentro destas
organizações. A intervenção é tão grande que avança até nos limites do núcleo
familiar. Não sou contra a intervenção desde que a situação na família tenha
fugido do controle, porém, deve se limitar a dar um apoio naquilo que precisar
deixando as decisões as pessoas responsáveis. Outra questão polêmica e que
impera na liderança destes órgãos é o machismo. A maioria destes órgãos
superiores não aceitam a liderança feminina. Pastora é considerado antibíblico.
Os homens se aproveitam dos costumes antigos dos judeus e impõe algo que é
meramente cultural. No Gênesis Deus impôs a submissão da mulher ao marido e
nunca ao homem. Deus nunca determinou que a mulher fosse submissa ao homem. Os
gêneros são absolutamente iguais em condições e direitos. Alguns destes órgãos
já estão aceitando a ordenação feminina e a liderança pastoral. Mas, as maiores
organizações ainda relutam em não aceitar e são ofensivos em suas críticas e fazem
tudo em nome de Deus. Subjugam as mulheres a funções de atividades sociais o
que não é menos importante, mas, sob a liderança dos homens.
Estas
organizações têm a função também em dar suporte (pelo menos deveria) aos seus
membros quando há algum problema nas igrejas. Alguém pode se iludir julgando
que na igreja não existem problemas ou disputas internas. Acredite, nas igrejas
também existem difamação, roubo, traição e disputas de poder. Se um determinado
grupo de pessoas não gostar do seu líder, simplesmente formam um motim e
utilizam até mesmo o poder maligno da mentira para desqualificar a pessoa.
Chamam-no de ladrão para baixo. Tem pastores que são destituídos da liderança e
saem com uma mão na frente e outra atrás e o espírito cristão está totalmente
ausente naqueles que o perseguiram. O inverso também é verdadeiro quando o
pastor não gosta de alguém e quer ele fora da igreja e faz de tudo para que se
retire difamando e ofendendo e, caso não saia espontaneamente, é sumariamente
excluído da membresia. Quando a situação chega no extremo da gravidade, seria o
momento certo dos órgãos superiores intervir para trazer uma solução rápida
para que os veios de mágoa não se aprofundem. Porém, onde estão estas
organizações que deveriam intervir antes que se agravasse mais ainda? Estão nos
luxuosos e confortáveis gabinetes preocupados em como manter o cabresto no
povo. Esta liderança só se manifesta quando alguma coisa contraria a tradição e
os bons costumes. São soberbos e amantes do poder e utilizam da simplicidade
das pessoas para perpetuar este poder. Tudo o que falo é por conhecimento de
causa. Pessoas muito próximas sofreram todas estas situações e algumas
extremamente vexatórias em que a dignidade da família foi desconsiderada. O
órgão superior que deveria dar o suporte para que a situação não fugisse do
(seu) controle estava completamente fora do controle.
O
mundo mudou e a igreja também mudou. A mudança foi extrema, algumas delas mudaram
para muito pior perdendo completamente a função primordial em pregar o
evangelho e fazer diferença positiva na vida das pessoas. Outras mudaram para
melhor e continuam mudando se contextualizando sem renunciar aos princípios do
evangelho.
Quanto
aos órgãos superiores, mudaram em pouquíssima coisa. Não ouvimos falar mais em
brigas territoriais, porém, ainda permanece a triste realidade em se manter a
“sã doutrina e os bons costumes” que, na ótica bíblica, nada tem de sã e de
longe não são bons costumes. O objetivo como sempre é o de se manter o poder de
persuasão, aliciamento e de controle sobre as pessoas para que se mantenham
fiéis, principalmente nas contribuições. Existe uma mentalidade que se utiliza
como doutrina que é o da porção dobrada em que quantidade significa aprovação
de Deus e acreditam que igreja cheia é sinal de que o divino mestre está presente
na causa. Deus não se vale de números para agir nas instituições através das
pessoas. Absolutamente ninguém receberá aprovação de Deus porque fez muita
coisa ou de reprovação se fez pouca coisa. Na minha avaliação que é baseada em
fatos, os órgãos superiores de qualquer ramificação religiosa se tornaram
verdadeiras facções buscando atrair as pessoas e impor um certo controle.
Quanto mais pessoas sob o seu controle, melhor. Existem três grupos principais
destes “supremos líderes”. O primeiro grupo pertence aos presidentes vitalícios.
Com medo de que sofram o mesmo que eles fizeram com o antecessor, já definiram a
perpetualização do poder. O segundo grupo são aqueles que recebem a liderança
como se fosse herança patrimonial familiar. Tratam a igreja como patrimônio
empresarial e a relação com os seus membros é como se todos dependessem deles
financeiramente. E o terceiro grupo é mais “democrático”, tem o seu grupo de
apoio que controla tudo, até mesmo as sucessivas reeleições infindas onde
apenas há revezamento no cargo. O objetivo é sempre manter o poder se
aproximando das pessoas mais influentes da igreja. O discurso é sempre o que o
seu grupo quer ouvir.
Enquanto
estes podres poderes se perpetuam, há milhões de pessoas na área social
passando fome, sem moradia ou com moradia precária, pessoas desempregadas e na
área emocional existem muitos que sofrem perturbações diversas, desajustes
psicológicos em consequência de sobrecarga do trabalho ou crises familiares,
noutros casos, há milhões sofrendo em hospitais e até em casa mesmo sem um
horizonte que lhes traga solução para as suas dores físicas. Ainda nem falei da
triste realidade dos nossos desastrosos gestores públicos cujo único interesse é
o dividendo político e se valem da ignorância das pessoas que colocam a
confiança neles para resolver os seus problemas na área da saúde, da segurança
pública e da mobilidade urbana. Os núcleos habitacionais irregulares se
tornaram “currais eleitorais” e ninguém pode intervir para as devidas melhorias
porque tem um grupo que controla. O pior é que estes gestores têm o pleno apoio
destes órgãos superiores das igrejas. Ignoram completamente o descaso nas ações
que deveriam atender a população. Diariamente vemos nos noticiários os
problemas que são consequências da má administração e que são ignoradas pelos
políticos em todos os níveis. Enquanto estes problemas surgem nos noticiários,
os líderes religiosos estão discutindo assuntos diversos e nenhum deles bate de
frente com as necessidades das pessoas. Jamais terão a hombridade em fazer uma
autocrítica e, caso precise, virar a própria mesa. Ultimamente, um dos assuntos
que tem ocupado a mesa de discussão é qual candidato vão apoiar em nome de
Deus. Não importa se a pessoa é incompetente, mentirosa e que tenha um
comportamento que contradiz exatamente as tradições e os bons costumes
defendido por estas entidades. Basta que no discurso político se fale de Deus e
da família, está tudo certo. Os líderes evangélicos vivem no luxo, mas,
precisam fundamentalmente do apoio dos pobres.
Voltando
ao campo de atuação destas entidades que é o da eclesiologia, porque a política
é uma ação intervencionista fora do normal e nem mesmo é recomendável que se
envolva, porque na questão política, a igreja tem de limitar a sua função em
orientar os seus liderados de que os princípios do evangelho é o único
referencial que se pode basear as preferências políticas. Cada um decida como quiser e que não agrida a
sua consciência análoga entre o discurso e as ações.
Observo
que alguns destes órgãos desenvolvem trabalhos sociais e tem um certo apoio aos
pastores. Mas, nem todos são assim. Porque a carência social, emocional e
psicológica nos grandes centros urbanos é gritante e alguns pastores sofrem
privações de comida e apoio psicológico. O número de pastores que desistem do
ministério cresce a cada ano e dezenas deles chegam a cometer suicídio de tão
forte pressão psicológica que sofrem. Sem falar nos escândalos sexuais e na
usurpação do dinheiro dos fiéis gastos com a vida luxuosa de alguns dos
privilegiados pastores. Construção de templo luxuoso não é e nunca foi da
vontade de Deus. Não consta em nenhum dos seus mandamentos. Pelo contrário, o
mandamento é o de não colocar o coração nas riquezas. Segue tantos outros
mandamentos em que não se pode ter dinheiro e abundância e não ajudar a quem
esteja passando necessidade. Os mandamentos não são restritos apenas aos dez.
Toda orientação ou exortação serve como mandamento.
Jesus
disse Ide e muitos foram para bem longe pregar o evangelho confiados no
apoio das suas organizações supremas, porém, diante de tanta dificuldade e
sofrimento, este apoio não chegou. Muitos missionários e pastores sofrem
perseguições nos regimes autoritários. O mundo defende a paz desde que alguém
não contradiga suas convicções religiosas. Concordo que se deve haver o respeito,
porém, privar alguém de falar de um ponto de vista diferente em local público é
também falta de respeito. Meu pai foi proibido de falar do evangelho em algumas
cidades no interior do Brasil porque a igreja predominante não permitia e
alertava pelo alto-falante na praça principal de que não era para dar atenção
ao que ele falava. O sistema religioso era tão autoritário que meu irmão ficou
doente e não atenderam ele no hospital porque a minha família pertencia a uma religião
diferente. Não se engane de que isto não exista mais. Nos países extremistas este
preconceito é muito comum. Todos devem ser respeitados independentemente de
suas convicções religiosas. Os órgãos superiores nunca intervieram ou
defenderam aqueles que são perseguidos porque a única preocupação é apenas introduzir
os costumes e tradições de suas denominações afiliadas e deveriam se limitar em
regular os princípios do evangelho nas suas atribuições e ter ações efetivas
para apoiar aqueles que são perseguidos.
Deus
não se vale de tradição. Jesus foi perseguido pelos líderes religiosos judeus
por combater a tradição deles que valorizavam mais que o evangelho. Este deve
ser o ponto a ser considerado. Tradição e bons costumes não são pecados desde
que não substituam o evangelho que é o nosso principal direcionador da vida,
seja individual ou envolvido nas entidades reguladoras. As igrejas
constantemente devem se voltar a bíblia e fincar estaca nos seus princípios. Sinto
falta de um evangelho contextualizado sem a máscara de nenhuma religião. A religião
da bíblia é atitude, nada mais que isto.
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