segunda-feira, 30 de outubro de 2023

DAR TEMPO AO TEMPO

Venancio Junior

Esta expressão é muito conhecida. Significa que somente o tempo cura os traumas, as dores, as decepções e também significa não ficar ansioso que tudo tem o seu tempo devido. Não é apenas um conforto para quem sofre ou aguarda ansiosamente por algo e na falta de palavras ou de respostas imediatas utilize este termo. Que o tempo cura, isto é fato. O tempo é muito mais que um espaço a ser preenchido na vida. Não sabemos o exato momento das ocorrências, somente o tempo sabe e devemos deixar que cuide de tudo. Para quem está familiarizado, vêm nos à mente o livro de Eclesiastes que trata muito bem este tema. Na tradição é conhecido que Salomão tenha sido o autor, mas, algumas pesquisas da época em que foi escrito, provavelmente 250 a.C., não confirmam esta autoria. Talvez, pelo fato de Salomão ter possuído muita sabedoria, associaram o livro de Eclesiastes com o seu nome. Como o objetivo não é saber quem escreveu, mas, o seu conteúdo, então, vamos direto ao capítulo 3:1 "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu". Pode ser que aqueles que acreditam na predestinação das coisas utilize o termo “tempo determinado” para reforçar suas convicções, mas, no contexto percebe-se que o objetivo está em sintonia com o texto de Paulo aos Romanos 8:28 "Sabemos que todas as coisas ocorrem para o bem daqueles que amam a Deus...". este texto, além de desmistificar a questão da predestinação, reforça que devemos manter a nossa confiança em Deus para os devidos desígnios quando não sabemos o que vai acontecer e muito menos quando irá acontecer.

O que é o tempo considerando que vivemos e fazemos parte de uma geração sem tempo? Antigamente havia muito menos recursos que facilitassem a vida e “sobrasse” mais tempo para se dedicar à vida pessoal. Os recursos chegaram, principalmente tecnológicos e ninguém pode negar que agora sobra muito tempo. O problema é que entramos num processo que não nos permite lembrar que há tempo sobrando e sempre se procura algo para preencher. A tecnologia é insana, ao mesmo tempo que facilita e reduz o tempo em diversas atividades, muitas vezes ou quase sempre rouba o nosso precioso tempo e não permite que o nosso tempo tenha o seu próprio tempo. Imagine se todos tiverem um tempo para fazer absolutamente nada? Muitas das nossas instabilidades emocionais são causadas porque não há um espaço para “desaguar”. Qual a principal causa das enchentes? O espaço que os rios e córregos possuem naturalmente para desaguar foram ocupados e ficam sem lugar para o tempo das cheias. Da mesma forma, a emoção fica acumulada e quando falta espaço, sobrecarrega o tempo que deveria ser para diluir as cargas emocionais. O tempo dedicado a fazer nada serve para descarregar o acúmulo de energia do cotidiano. Isto é natural. Qualquer atividade gera energia emocional. O nosso tempo disponível precisa ser bem administrado para não sobrecarregar. A primeira coisa a ser feita é lembrar que o tempo também precisa de tempo.

Atualmente consumimos muita coisa que não fará qualquer diferença na vida. As redes sociais investem em publicidade para que todo o tempo possível seja dedicado totalmente com os conteúdos disponibilizados. Pense comigo, o acesso às informações é muito fácil e rápido. Por exemplo, quantas propagandas de livros, de músicas e de filmes são veiculadas diariamente? Quantos livros você leu neste ano? Quantas músicas você dedicou tempo para ouvir? Quantos filmes você assistiu e teve tempo para refletir sobre o tema abordado? Quantas publicidades de espaços de lazer? Quantas academias se conhece pelas redes sociais? Estes são apenas alguns exemplos. Não conseguimos ler mais que poucas linhas sem que estejamos pensando na próxima coisa a fazer que nem sabe o que é exatamente. Se o texto é longo, jamais se dedicará tempo para ler. Os livros não podem ter mais que 50 páginas e com letras garrafais. Em relação às músicas, você já pensou no tempo que os músicos e produtores dedicaram para fazer apenas uma única música? As músicas atuais não podem ter mais que 1:30s que já pula para a próxima. Os filmes precisam ter muita ação e menos conversa para segurar a atenção. Não se está dando tempo ao tempo e isto sufoca a vida. Não se tem mais tempo para si mesmo. Ninguém tem tempo para uma caminhada no parque, pedalar sem destino, soltar pipa com os filhos ou fazer nada em casa. Muitas vezes vejo pessoas “passeando” com o cachorro ou com o filho no carrinho e mexendo no celular. Este comportamento ainda é pior, pois, está roubando o tempo que deveria ser dedicado exclusivamente ao filho. São pessoas que, com certeza, estão sem tempo para viver.

Outro dia uma pessoa comentou numa das minhas reflexões: “O texto é muito bom, mas, é muito longo”. Eu comecei a rir e ficar com pena da pessoa que sequer se identificou. Os meus textos não levam mais que cinco minutos para ler.

Há um tempo que está sendo roubado sem que se perceba. O tempo com Deus. O devocional de leitura e oração é algo fundamental na vida pessoal e familiar. O tempo de leitura e oração não leva mais que dez minutos, porém, é muito negligenciado pela falta de tempo das pessoas em dedicar este tempo exíguo para algo tão importante. Da mesma forma, as reuniões públicas na igreja não podem ter mais que 1h que já causam inquietação nas pessoas. Se há transmissão online, então, já pula direto para a pregação. Se contabilizar o tempo perdido no celular com os streamings e na televisão com as plataformas de filmes e entretenimentos percebe-se quanto tempo perdido com algo que nada acrescentará na vida e se ficar sem, não fará qualquer diferença.

Gosto muito de ler, geralmente, leio no mínimo 10 livros por ano. Quando se dedica tempo, a leitura consegue gerar dentro da mente um mundo paralelo saudável. Gosto também de ouvir música no quarto escuro. Ouço música prestando atenção nos arranjos, na harmonia, no ritmo e na produção. Gosto também de pedalar sem rumo, sem caminho traçado e sem tempo para voltar. Estas práticas saudáveis diluem as energias desnecessárias que nos aprisionam e roubam o nosso tempo. Quantas vezes contrariei a mim mesmo e fiz o que não queria, mas, era preciso ser feito. A energia acumulada nunca deixa você fazer o que precisa porque é contraproducente e quer controlar a sua vida e roubar o seu tempo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

A CRUZ VERMELHA E O ANTICRISTO

Venancio Junior

Sempre que surge uma catástrofe humanitária (sempre tem) a cruz vermelha está presente e desenvolve um trabalho incansável. É uma entidade interdenominacional e apolítica de ajuda humanitária na saúde e alimento basicamente. A Cruz Vermelha Internacional foi fundada em Genebra na Suíça e tem como símbolo uma cruz simétrica semelhante a bandeira do país de origem. Este símbolo, inclusive, se tornou a identificação de serviço médico em qualquer parte do mundo. A entidade é denominada de Cruz Vermelha somente nos países cristãos e ateus que são indiferentes à esta questão. Quando a entidade teve de atuar nos países muçulmanos, alguém questionou o porquê não poderia utilizar a Lua Crescente símbolo do Islamismo? Não houve resistência neste sentido para não gerar polêmicas que dificultassem a principal atividade que é a assistência aos povos vítimas de tragédias. Da mesma forma, os judeus reivindicaram também a mudança em adotar o seu símbolo principal, a Estrela de Davi, porém, esta entidade não recebeu o nome de Estrela Vermelha. Na verdade, e o que se supõe é que esta cruz atualmente não tem qualquer identificação com a cruz do cristianismo.

Qual a principal motivação desta ingerência religiosa num símbolo que atualmente nada tem a ver com a religião? Sendo verdadeira esta consideração, por que esta rejeição à cruz? A cruz tem uma intrínseca relação com Jesus Cristo que foi o objeto de tortura e morte utilizado na crucificação. Tanto o Judaísmo como também o Islamismo, não aceitam Jesus como o Messias. Os judeus ainda estão aguardando a sua vinda e os islâmicos aceitam somente o que esteja escrito no alcorão que, apesar de fazer ressalva sobre a morte de Jesus, há um grau de respeito, porém, consideram apenas como um profeta iluminado e que recebeu de Deus algumas atribuições de milagres. A mudança dos nomes desta entidade de ajuda humanitária que nada tem a ver com religião, foi o suficiente para revelar a negação de Jesus. Estas religiões não cristãs têm pavor do nome de Jesus e evitam a qualquer custo se envolver em debates e se correlacionar com atividades afins do cristianismo.

De qualquer forma, o ponto principal que vou abordar é a rejeição a Jesus demonstrado na recusa de um símbolo utilizado por uma entidade laica. Então, poderia considerar que para os judeus e os islâmicos a cruz é um objeto de devoção.  A bíblia considera objeto feito por mãos humanas como ídolo e se curvar diante de qualquer um deles é uma prática de idolatria. Leia o texto: "Não façam ídolos, nem imagens, nem colunas sagradas para vocês, e não coloquem nenhuma pedra esculpida em sua terra para curvar-se diante dela. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Levítico 26:1). Ainda temos o explícito texto de Êxodo: "Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terraNão te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso..." (Êxodo 20:3-5). Fazer ídolos na maioria das vezes é referente a imagem de pessoas ou animais e raramente a coisas diversas. Lendo o texto de Romanos 1:23 e 25 a abordagem é geral ou a qualquer objeto independentemente do formato. Vamos aos textos:

23 "...trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis".

25 "Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre".

Pois bem, já temos uma referência de que a cruz é um objeto qualquer sem relevância no aspecto da devoção. Alguns poderiam afirmar que no antigo testamento ainda não existia o cristianismo, isto é fato, porém, o Deus de Moisés, Abraão, Isaque e Jacó é o mesmo do tempo da graça e, pelo que aprendemos, não mudou de opinião. Inclusive, no antigo testamento, tanto o madeiro como a cruz era um objeto destinado aos malditos. Tanto no antigo como no novo testamento, se oramos, é diante de Deus que nos ajoelhamos e clamamos. Orar a Deus olhando para a cruz não faz qualquer sentido. Considerando também que Jesus não ressuscitou na cruz, mas, morreu na cruz. A relação de Jesus com a cruz é traumática, pois, se tratava de um símbolo de tortura e não de redenção e também nunca quis morrer e menos ainda numa cruz que era destinada aos piores malfeitores que cometessem crimes hediondos. O principal efeito em todo o processo de salvação culmina na ressurreição porque, morrer, qualquer um morre. Dois malfeitores morreram por causa dos seus crimes também numa cruz ao lado de Jesus, porém, ressuscitar, só mesmo o Espírito Santo para tal feito sobrenatural. Se Jesus morresse somente o processo de salvação estaria incompleto. Então, a morte de Jesus é apenas parte do plano de Deus e não a principal finalidade em si, pois, como estamos mortos pelo pecado, ressuscitamos com Cristo para uma nova vida e se oramos a Deus, é porque cremos que Jesus está vivo sendo o intercessor entre Deus e os homens. Então, esqueça a cruz nas práticas devocionais. Ela apenas fez parte da história quase que por acaso, porque foi a forma escolhida pelos homens para castigar e humilhar os piores malfeitores, mas, nunca foi predefinido por Deus dentro do processo de salvação. O símbolo da nova aliança para lembrar a sua morte e que foi demonstrado por Jesus é o pão e o vinho que respectivamente representam o corpo e o sangue (Mateus 26:26,27,28). Não há texto bíblico que seja categórico que Jesus deveria morrer numa cruz. Numa eventual morte expiatória contemporânea Jesus morreria numa cadeira elétrica, numa forca ou de uma injeção letal. Imagine o símbolo do cristianismo sendo um destes objetos? Rejeitar a cruz não é rejeitar a Deus. Rejeitar a Deus é não aceitar que Jesus morreu e ressuscitou e não reconhecer que seja pecador. As religiões não cristãs, na verdade, desconhecem o evangelho e “embarcaram” no espírito da idolatria cristã que, contrariamente aos cristãos, rejeitaram o principal símbolo cristão como forma de demonstrar que suas crenças nada têm a ver com o cristianismo da cruz. Para Deus é indiferente, porque a referência de rejeição está no coração e mente e nunca em objetos de qualquer natureza. Nos dois primeiros séculos, a igreja cristã tinha pavor em ter como símbolo a cruz porque era destinada para humilhação e morte, como já mencionei, aos piores elementos. Nos evangelhos, o próprio Jesus revelou diversas identificações que poderiam ser adotadas como símbolos, por exemplo, o pão e o vinho, o batismo, o cordeiro de Deus, a videira e o agricultor, o pastor de ovelhas, a luz do mundo, o sal da terra, a água da vida, a palavra como verbo vivo e o peixe numa referência ao chamado de Jesus aos discípulos que passariam a ser pescadores de homens. Perceba que não há qualquer referência à cruz. Olhar para uma cruz e lembrar do sacrifício que foi empreendido para salvação é uma coisa, mas, adotar como objeto de devoção foge completamente do significado do pão e o vinho que é, de fato, a lembrança que Jesus nos orientou para que lembrássemos do seu sacrifício. Mesmo assim, se criasse um símbolo palpável do pão e do vinho para se ajoelhar diante dele, isto também seria idolatria. A idolatria não é somente reverenciar um objeto, mas, qualquer objeto feito por mãos humanas.

A bíblia classifica a quem rejeita ou nega Cristo como anticristo. Contrariamente ao que se acredita ou ao que muito se ouve o anticristo não é apenas uma pessoa com poderes sobrenaturais que vai lutar contra o bem na batalha final. Óbvio que o diabo é o maioral dos anticristos. Mas, a bíblia é muito clara e objetiva ao afirmar que todo aquele que nega a Cristo é o anticristo. “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo: aquele que nega o Pai e o Filho”. (I João 2:22). Este texto responde diretamente tanto a judeus como a islâmicos. Os judeus não reconhecem Jesus como sendo o Messias profetizado, inclusive na Torá. Os islâmicos acreditam em Jesus como mais um profeta dentre outros, mas, não o reconhecem como sendo o filho de Deus. Ambas rejeitam e negam a divindade de Cristo. João generalizou afirmando que todo aquele que nega o Cristo é o anticristo e têm surgido muitos anticristos: “Filhinhos, esta é a última hora. E, como vocês ouviram que o anticristo vem, também agora muitos anticristos têm surgido; por isso sabemos que é a última hora” (1 João 2:18).

Negar a Cristo mesmo sendo parcialmente é o suficiente para ser um anticristo. Para não ser anticristo não basta acreditar que Jesus existiu ou que seja um profeta enviado por Deus, é preciso aceitar a integralidade da missão de Jesus. Não basta também adotar a cruz como objeto de devoção e colocar no pescoço, pendurado no carro ou tatuado no corpo. Qualquer pessoa faz isto sem ter compromisso no coração e na mente. Será apenas um amuleto da sorte. Primeiramente é preciso reconhecer que Jesus é Deus encarnado que veio pessoalmente cumprir a missão de restauração da humanidade. Também não basta acreditar que um dia o Messias virá pela segunda vez conforme as profecias bíblicas. Tem de crer que o Messias já veio conforme a palavra revelada de Deus que diz que Jesus nasceu, morreu e ressuscitou ao terceiro dia.

Há muita confusão sobre a questão de ajuda humanitária. Lendo a definição de religião que o próprio Jesus demonstrou no livro de Tiago 1:27 temos a clara evidência de que a religião é exatamente o que estas entidades de assistência fazem ao redor do mundo. “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo”. Então poderíamos afirmar que todos os que se envolvem com esta atividade seja cristão? Claro que não porque há o “problema” da integralidade. Não basta acreditar na proposta, é preciso assumir uma condição de discípulo. O próprio Jesus afirmou em Mateus 16:24 que para ser seu discípulo é preciso negar-se a si mesmo que é renunciar a vida pregressa de pecado com todas as tradições religiosas e carregar a sua cruz que é sentir a dor e o peso do sacrifício que ela representa e depois o siga