quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A IGREJA INFILTRADA

Venancio Junior

Quem nunca ouviu falar em "agentes infiltrados”. Geralmente envolvidos numa missão conspiratória para desestabilizar um grupo organizado concorrente ou um sistema autoritário, tirano e injusto. No mundo corporativo da tecnologia e de estratégias é onde acontece a maioria das ações de espionagem. As investidas visam a busca de informações secretas ou estratégias de projetos das estruturas da organização, pois, não existe estabilidade quando não há a preocupação em seguir uma metodologia organizada. Lembramos também que a milícia e o tráfico de drogas são fortes porque são organizados. Corre um grande risco de vida quem se envolve com este tipo de missão, pois. quem é descoberto ou “fura o esquema” sofre graves agressões e, “por sorte”, até se descobrir quem enviou os agentes, a vida é poupada.

Nas empresas e instituições públicas também existem aqueles que se submetem aos riscos de uma ação, neste caso, criminosa aceitando propinas para viabilizar negociatas em contratos fraudulentos e superfaturados para favorecer corruptores e se tornam agentes infiltrados. Pode ser funcionários de carreira, mas, que, por algum motivo, geralmente por vantagem financeira, se desviaram dos princípios da ética aproveitando a facilidade do cargo. Porém, a grande vantagem aos interessados corruptores é que estes "agentes infiltrados" pertencem à corporação e possuem informações privilegiadas. Corromper financeiramente estes virtuais agentes é o único meio de convencimento.

Nos regimes autoritários, seja, o comunismo, nas religiões extremistas do oriente médio e da Ásia e até no capitalismo que é muito defendido pelos religiosos chegando a afirmar que Jesus é de direita, também existem os agentes infiltrados. Todos estes sistemas, como o próprio nome diz “regime fechado”, tem a única missão em defender os interesses dos seus líderes e seus asseclas e todos os que se opõem se tornam inimigos declarados e muitos deles, convictos de suas posições se tornam agentes infiltrados. Estes regimes não têm qualquer interesse em melhorar a qualidade vida das pessoas e seus planos e projetos, na sua maioria são secretos e quem está de fora da cúpula só teria acesso as informações se for um agente infiltrado. Quando descobertos, muitos deles são sumariamente executados sem qualquer chance de perdão. Quanto mais rígido o sistema, seja religioso ou político, maior é a susceptibilidade em se ter agentes infiltrados formais ou informais.

Ser um agente infiltrado não é restrito aos mal-intencionados criminosos. A igreja também já teve os seus agentes infiltrados no regime nazista quando eram perseguidos, presos e mortos. Foram produzidos filmes e lançados centenas de milhares de livros relatando histórias sofridas daqueles que tinham apenas o simples propósito em falar do evangelho. Provavelmente, muitos nem eram da etnia judia, mas, defendiam os judeus e criticavam a brutalidade aplicada para quem se opusesse ao regime nazista. Por incrível que pareça, o nazismo era apoiado pela maioria dos cristãos na Alemanha.

Logo no início do lançamento dos fundamentos do evangelho quando foram escolhidos os doze apóstolos, Judas se tornou o agente infiltrado que foi corrompido pelo judaísmo e a maioria dos seus líderes se tornou um desafeto para Jesus. Os romanos pouco se importavam com Jesus, pois, não o consideravam uma ameaça e era um problema exclusivo dos judeus. Contrariamente a esta posição dos romanos que dominavam todo o império naquela região, os sacerdotes judeus e os seguidores mais tradicionais se sentiam ameaçados porque Jesus veio para combater a tradição desconectada dos valores do Reino de Deus apregoado por João Batista e colocavam agentes infiltrados entre os seguidores de Jesus. Naquela época existiam diversos grupos, dentre os mais conhecidos, haviam os fariseus que se preocupavam mais com a tradição religiosa e os saduceus que tinham a preocupação com a influência política. Eram grupos infiltrados que acompanhavam Jesus e eram enviados pelos sacerdotes com o claro objetivo em saber o que falava para tentar desacreditá-lo. Em diversos relatos nos textos bíblicos, os membros destes grupos e muitas vezes os próprios sacerdotes estavam infiltrados e questionavam Jesus por assumir sua condição de Messias e uma de suas determinações finais logo após a ressurreição é o famoso "Ide" que, de certa forma, foi um envio de agentes infiltrados para desestabilizar as investidas das hostes malignas. Afinal, Jesus era considerado subversivo e dissidente da religião oficial. Jesus e seus discípulos se tornaram marginais e conviviam com os marginalizados tanto pelo império, como também pela religião judaica. O grupo inicial de infiltrados enviados por Jesus foram os apóstolos e, com exceção dos gentios, posteriormente os demais seguidores que também se rendiam ao evangelho de salvação pela graça se tornaram dissidentes do judaísmo tradicional e defendiam a fé no contexto social em que viviam. A defesa da fé precisava ser desta forma, pois, quem se opunha ao sistema religioso vigente da época se tornava também um marginal e era perseguido e sacrificado. Quem nunca ouviu falar do Coliseu em Roma que era a arena onde os cristãos eram jogados para serem devorados pelos leões? Este fato trágico era considerado um grande evento de entretenimento. Ser cristão não era um privilégio do ponto de vista da sociedade. Com exceção de João que morreu de velho, os demais apóstolos foram presos e mortos por se posicionarem a favor do evangelho de Jesus e contra a tradição da religião.

Um caso muito interessante foi quando Jesus seguia em plena via dolorosa carregando a sua cruz e Pedro estava seguindo o seu mestre. Naquele contexto, Pedro estava infiltrado e ninguém até hoje não soube dizer qual era o objetivo de Pedro. Devido a sua impetuosa personalidade, talvez Pedro quisesse encontrar uma oportunidade para livrar Jesus daquela situação para que continuasse a sua missão. Para Pedro, a morte de cruz não poderia ser o fim e agiu como um agente infiltrado negando Jesus por três vezes. Se não queria ser reconhecido, por que, então, ele acompanhou de perto o sofrimento de Jesus? Na primeira vez que negou, já poderia ter ido embora, pois, nada poderia fazer e corria um sério risco em ser preso também. Chega a ser estranho que Pedro teria alguma estratégia previamente planejada. Não fazia parte do seu perfil pensar antes de agir. Mesmo assim, ele continuou e, sinceramente, não acredito que sentia prazer no sofrimento de Jesus. A explicação mais razoável é que Pedro estava na espreita esperando a primeira oportunidade para livrar Jesus, mas, do seu jeito atrapalhado. De tão atrapalhado que precisou sofrer uma advertência antes deste episódio quando tentou impedir a prisão de Jesus. Não é bem assim que age um agente infiltrado porque Pedro não é definitivamente um exemplo para este fim. Teoricamente estava fazendo tudo certo, negou que estivesse servindo a alguém de fora, sempre estava próximo de pessoas estratégicas e na primeira oportunidade, aproveitaria para interromper o processo. Pedro desconhecia o processo e se recusou a admitir que a via crucis fazia parte da missão.

E na igreja, será que existe algum agente infiltrado? É bem estranho, afinal, no regime religioso teocrático é difícil conceber a ideia de que alguém vá contra o direcionamento de todas as atividades considerando que o propósito é servir a um único Deus. É um pensamento muito simplista acreditar desta forma. A forma não simplista é acreditar que na igreja também existem pessoas com pensamentos e objetivos diferentes. Paulo abordava este problema quando afirmou “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. Gálatas 3:28. Paulo expôs que a comunidade, mesmo sendo um corpo só em Jesus, era formada por pessoas de contexto social, características e visões diferentes. O problema que Paulo relevava é o mesmo que o seu mestre Jesus alertava aos sacerdotes que eram os líderes religiosos e que as pessoas estavam sendo enganadas e arraigadas à tradição em detrimento do evangelho. É preciso estar atento ao que se tem apresentado nas igrejas. Esta é a causa principal do surgimento de muitas denominações onde cada uma defende a sua religiosidade a seu próprio modo de ser. Aqueles que percebem algo estranho na mensagem exposta e que defendem o retorno ao princípio do evangelho dentro da própria igreja são perseguidos e marginalizados porque informalmente agiram como agentes infiltrados. A Igreja infiltrada na igreja nada mais é que o cuidado que estes agentes informais tem na exposição da palavra de acordo com os princípios do evangelho em que Deus é o criador da existência e Jesus como filho de Deus encarnado é o Salvador da humanidade. Este princípio jamais deve ser negado. Pedro na via sacra praticou um grande mal, negando a Jesus. Pior que negar a Deus é dizer que o ama e não viver este evangelho. Pedro posteriormente sentiu o peso desta sua atitude. Com certeza, este seu retorno ao caminho através do seu arrependimento mudou a sua perspectiva daquilo que lhe foi confiado em levar o evangelho adiante.

Deus não procura pessoas perfeitas, mas, busca pessoas destemidas e que desejam ser luz nas trevas e sal da terra, tal como um agente infiltrado. Ser luz na claridade e ser sal dentro do saleiro é totalmente inútil e não será nem um agente e muito menos infiltrado, pois, será semelhante aos demais e não fará a diferença necessária. Ser informalmente um agente infiltrado no cotidiano dos vizinhos, na família, no trabalho e onde for necessário, é fundamental para que, de fato, faça diferença na vida de cada pessoa.

sábado, 5 de agosto de 2023

VIDA, SOFRIMENTO E A ROUPA USUAL

Venancio Junior

 No Reino de Deus não existe sofrimento, orgulho e nem roupa usual. O processo de salvação em que Jesus é o único agente catalisador sendo responsável por neutralizar os gases poluentes do pecado e transformá-los em compostos limpos tem o claro objetivo em restaurar o paraíso ou o jardim do Éden como o conhecemos. E os primeiros habitantes criados por Deus não sabiam o que era sofrimento, pois, tinham tudo o que precisavam sem um mínimo de esforço, também não se sentiam orgulhosos por serem os primeiros privilegiados e também não usavam roupas. "Ora, um e outro, o homem e a sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam" (Gênesis 2:25).

Então, vamos começar pelo fim do início do tempo da graça. Após alguns milênios do ocorrido no jardim do Éden, considerando também que não há uma comprovação científica do tempo percorrido. A bíblia como única fonte de informações, relata somente a preocupação com os fatos e o tempo percorrido é secundário e muitas vezes ignorado e desconhecido. Prosseguindo, Jesus afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25). Jesus estava consolando as irmãs de Lázaro que estava morto afirmando que ele "apenas dormia". Jesus estava sendo irônico ou simplista? Quando se apresentou e fez esta declaração, estava se referindo não somente a salvação do ser humano, mas, tinha o propósito em restaurar a vida a toda criação e trazer libertação de todo sofrimento, inclusive da morte. O que é o sofrimento e o que é vida no contexto que vivemos e também na vida futura pós morte física conforme as promessas de Jesus? Humanos, animais, vegetais e todos os seres vivos sofrem a consequência do pecado e igualmente serão beneficiados com esta nova vida que restaura a configuração original de uma vida perfeita. Na linguagem da informática, foi, tipo, formatar limpando a sujeira e manter os arquivos de boot para resgatar a configuração original no mesmo sistema da criação sem o vírus do pecado. Todos sabem o que acontece quando um vírus penetra o sistema, o estrago é avassalador, tal como o pecado na vida da criação. O sistema original teve o seu início na criação conforme o livro de Gênesis, porém, por causa do vírus do pecado que se alojou na dimensão possível da existência e perdeu a vida ao sair da presença de Deus (Romanos 3:23) que é onde se encontra o fôlego da vida, tudo morreu perdendo a “configuração de fábrica”. Fora da presença de Deus, a morte espiritual se tornou a única condição (Romanos 6:23) e a morte física literalmente tornou-se real porque é o contexto do pecado e que consiste numa configuração diferente onde tudo apodrece, o metal enferruja, a traça consome, o ladrão rouba e a morte do corpo se torna pó de onde veio (Gênesis 3:19). Seria como sair da atmosfera onde não há oxigênio. Sair da presença de Deus é a morte espiritual onde o sofrimento pode atingir o seu mais alto grau, porém, quem morre em Cristo ressuscitará primeiro e o espírito volta para Deus. Este trecho, na verdade está dizendo que a vida volta à sua origem.

Afinal o que é esta vida propriamente dita que ainda não conhecemos? Do que Jesus estava falando? A vida que conhecemos é uma só considerando que é um fôlego e distribuído nas mais diversas espécies humana, animal e vegetal na sua função natural conforme a característica específica de cada espécie. O fôlego de vida é igual para todos. Não somente o ser humano e os animais, mas, as plantas e toda a vegetação também possuem o mesmo fôlego de vida. Quando se está interagindo com o animal de estimação, o fôlego de vida é o mesmo que constitui aquele animal. Aquela espécie de um minúsculo animal, a borboleta, uma minhoca e até os animais peçonhentos possuem o mesmo fôlego de vida do ser humano. Inclusive os vermes e bactérias igualmente possuem o mesmo fôlego de vida. Semelhantemente ao fôlego de vida, o sofrimento é o mesmo para todas as espécies. O sofrimento que os animais recebem seja de maus tratos, abandono ou alguma doença é o mesmo sentido pelo ser humano e a intensidade é a mesma e não existe sofrimento exclusivo, pois, o aspecto é o mesmo. Da mesma forma que a aspiração pela vida, quando qualquer espécie luta para sobreviver ou se proteger, o sentimento é o mesmo para todas as espécies. Quanto ao sofrimento dos animais e da vegetação, Deus nos deu a ordem expressa para que cuidasse de absolutamente tudo. Cuidar do meio ambiente é também, de certa forma, cuidar também dos animais selvagens que são mais independentes, enquanto os animais domésticos que, inclusive, todos foram criados mesmo antes do ser humano (Gênesis 1:24), é nossa responsabilidade o cuidado necessário para que tenham qualidade de vida, afinal, o convívio é muito estreito, pois, dividirão o mesmo espaço da família. Somos partes de uma mesma fonte, porém, de características diferentes e cada um no seu habitat natural e a configuração original será restaurada após o arrebatamento em todas as espécies.

Sobre as promessas de bem-estar livre do sofrimento, muitos recorrem a religião numa tentativa em antecipar o porvir do arrebatamento. As principais “vítimas” são os recém-convertidos e aqueles que não meditam na palavra e que ainda não conseguem digerir uma “comida doutrinária” mais sólida, mesmo com um longo caminho percorrido, não amadureceram e ainda estão tomando leitinho. Há uma confusão que tem enganado este grupo específico em relação à pessoa que se rende ao evangelho. Qualquer explanação da palavra tem o objetivo de convencer as pessoas de seus pecados. A exposição da palavra convence, pois, a fé vem pelo ouvir (Romanos 10:17) através da ação do Espírito Santo (João 16:8) que o converte da condição de pecador para uma nova vida.  Ninguém se convence e assume que é pecador sem a ação direta do Espírito Santo, pois, não tem como ressuscitar a si mesmo. De acordo com a interpretação dos usurpadores de plantão das promessas, parece que a partir da conversão não haveria mais sofrimento e o cristão terá uma vida abundante sempre. Será que os convertidos não sofrem e os não convertidos recebem o castigo aqui na terra mesmo? Não é isto que temos presenciado na prática porque muitas daquelas pessoas que ainda estão fora da presença de Deus vivem bem, são bem-sucedidos, tem muita saúde e, aparentemente são felizes e o sofrimento foi destinado somente aos pobres. Jesus deu atenção especial a este grupo de marginalizados e, reitero mais uma vez, até exemplificou que a verdadeira religião é o atendimento às pessoas mais pobres para aliviar o sofrimento. Tim Maia já cantava “Muitos nascem para chorar, enquanto o outro ri”. É uma triste realidade e absolutamente inexplicável. A única certeza é que todos estão sujeitos as consequências do pecado. As pessoas bem-sucedidas também sofrem. A resposta é simples, Deus concede sua graça a todos independentemente da condição espiritual e a chuva beneficia os bons e os maus. Ser feliz ou ser triste não é e nunca foi uma pré-condição de abundância espiritual. Toda a criação está sujeita aos mesmos sofrimentos e alegrias na vida presente. Ao ser humano está reservada a vida ou a morte eterna que será após o arrebatamento. Os demais elementos da criação não possuem alma, por isto, para estas espécies, a morte é literalmente o fim e não há comprovação de que terá a restauração do fôlego de vida numa nova dimensão. Isto não significa que não terá animais. Serão novos animais e também uma nova vegetação.

Já expus noutras reflexões que, provavelmente, ainda não tenha alguém nem no céu e nem no inferno, pois, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (I Tessalonicenses 4:16). Quem morre fisicamente na condição de restaurado, já lhe foi garantida a salvação. Para quem morre fora da presença de Deus para o qual toda a criação foi submetida, somente Deus é o juiz supremo para decidir o fim de cada um conforme o seu próprio julgamento.

Como será que é o céu onde fica o Reino de Deus? Céu e inferno é uma metáfora de referência geográfica para definir opostos entre si. Se o céu acreditamos que é acima, consequentemente, o inferno é abaixo. O céu espiritual não é como o vemos azul e cheio de nuvens brancas e os salvos em Cristo não vestirão roupas brancas. Céu e Reino de Deus não são a mesma coisa. Céu é um sentido figurado para sabermos onde Deus está e não perder tempo em ficar imaginando onde exatamente. Devido a esta limitação humana tornou-se carne para o vermos e enviou o teu Espírito para o sentirmos. Mesmo assim, não sabemos ainda onde esteja que satisfaça a nossa compreensão. As vestes brancas também é um sentido figurado de sem mácula ou mancha do pecado porque, sendo a restauração do paraíso, então, não precisaremos de usar roupas. Tenho minhas dúvidas se precisaremos mesmo de algum tipo de vestimenta. A roupa foi percebida por Adão e Eva após o pecado cometido, antes não se envergonhavam de estarem nus, sequer sabiam o que é estar nu. O céu é a restauração da criação do Gênesis onde havia o jardim do Éden e ninguém precisava de roupa. Todos que possuem a vida que Jesus ofereceu conhecerão como era o paraíso e conviverão eternamente com todas as espécies sem pecado e sem o sofrimento do mundo atual onde estão sujeitos às consequências causadas pelo pecado. A lógica deste contexto não explica o porquê alguns sofrem mais que outros. Parece que o sofrimento foi reservado somente aos pobres. Nesta questão é que a igreja tem o seu fundamental papel em atender a todos os que sofrem e mesmo aqueles que não sofrem quando precisam conhecer a porta da salvação. De nada adianta ser rico e saudável aqui na terra e não ter salvação. De que adianta ganhar o mundo, seja dinheiro, sucesso profissional, felicidade no amor e muita saúde se tudo não for dedicado a Deus e perder a vida eterna (Marcos 8:36)? Todas estas benesses sem a graça de Deus geram orgulho no coração da pessoa. O orgulho é um mal que precipitou o diabo fora do paraíso (Ezequiel 28:17/Apocalipse 12:9). Por que devemos glorificar a Deus? Por que a glorificação da criatura é incompatível para o propósito a que foi criada? A criatura glorifica a Deus não para enchê-lo de orgulho, mas, para ser esvaziada do orgulho que causa males profundos. Não temos a menor ideia do que fazer quando os fatores externos alimentam a nossa vaidade, pois, quando nos orgulhamos, na verdade, estamos nos enchendo de nós mesmos e isto causa uma implosão no nosso ser. Fomos criados para ser cheio do Espírito de Deus que é o fôlego de vida. A essência desta afirmação se encontra no livro de Salmos 150:6 “Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor!” O salmista não estava se referindo somente ao ser humano, mas, a todas as espécies que respiram, incluindo os animais e toda a vegetação. Para se louvar a Deus é preciso ser vazio de si. Jesus afirmou que o Reino de Deus pertencia às crianças exatamente porque, devido a inocência, são vazias de si e conseguem extrair o prazer de Deus. Muitos podem até discordar e afirmam que conhecem crianças orgulhosas. Eu digo que, enquanto criança, ela não tem responsabilidade, pois, reflete o ambiente que vive e repete o mesmo comportamento das pessoas próximas e que compõem este ambiente.

O mais importante é crer na ressurreição de Jesus e reconhecer a fundamental importância da sua missão de restauração da vida que foi contaminada pelo orgulho do pecado e isto tornou a criatura uma nova vida nEle! A única antecipação do Reino porvir é que já estamos restaurados e prontos pela sua graça a idealizar com júbilo esta nova vida.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

VIDA SEM CONTROLE

Venancio Junior

E se, de repente, tivesse uma forma de controlar a vida de todo mundo? Tem situações que o desejo é acelerar a vida para fugir do tédio ou de uma situação desagradável. Enquanto em outras, o desejo é parar o tempo quando se está em férias com a família e em todos os momentos agradáveis.

Acredite, mas, é possível pausar o tempo de todo mundo. Antigamente quando o sinal de tv era analógico, isto era impensável que haveria alguma possibilidade de controlar o seu conteúdo. No início do sinal digital ainda não havia esta possibilidade. Quando chegaram os canais de streamings com transmissão pela internet, a possibilidade em controlar o conteúdo através de um simples controle remoto gerou uma falsa ideia de que seria um controle absoluto. O controle é parcial daquilo que se vai consumir e pausar quando desejar, porém, o conteúdo disponível jamais poderá controlar.

Imagine quando pausa uma exibição na televisão? Literalmente, o mundo inteiro foi pausado. Atrás daquilo que se está vendo há o restante do cenário. Se avançarmos nesta imaginação, atrás daquele local há paredes, muros, ruas, pessoas andando, carros transitando de um lado para outro e uma vida inteira do cotidiano que foi pausada pelo controle remoto. Absolutamente o mundo inteiro indiretamente está pausado. Não conseguimos enxergar porque o objetivo da transmissão é restrito aquela cena do programa ou do filme. Numa visão de raio-X poderia facilmente enxergar o mundo pausado. Mas, quem estava correndo algum tipo de perigo, o tempo parou e o perigo foi adiado. Quem estava tentando o suicídio, “ganhou” uma sobrevida na pausa do controle remoto. Aquele acidente que estava quase acontecendo, não aconteceu e todos os envolvidos ainda estão ilesos e fisicamente preservados. Quem estava festejando, ganhou um tempo a mais de comemoração. Aquele tempo gostoso das férias em família foi momentaneamente prolongado. Era tudo o que se deseja. Quem nunca pensou “gostaria que o tempo parasse agora” ...ou não.

Imagine na vida se tivesse um controle remoto? No filme Click de 2006, Adam Sandler fez o papel de alguém que tentou fazer isto com a sua vida e não deu muito certo. Ele queria controlar algumas situações de tédio avançando para que passasse bem rápido e acabou que algumas situações boas com a família avançaram também, pois, a vida funciona num sistema de tautocronia quando tudo acontece ao mesmo tempo. Foi uma decisão unilateral e infeliz.

 Apesar de que o desejo é, de fato, controlar a vida, isto, muitas vezes não é possível. Quantas vezes houve ações neste sentido e, a princípio, deu tudo certo e as coisas caminharam bem, porém, no final, o resultado não foi exatamente o que se esperava. Um dos maiores fascínios da vida é o inesperado e a boa surpresa. Lembro-me de algo muito simples, mas, que reflete muito bem esta situação. Quem não conhece o famoso vale-presente? Na dúvida se vai agradar ou não, a pessoa adquire um vale-presente e o presenteado faz a troca por algo que lhe agrade. Legal, né!? Que nada! Terrível este tal de vale-presente. Onde está a criatividade na escolha do presente? Conhecendo a pessoa, que tal buscar algo que condiz com o gosto pessoal? Se a pessoa não gostar, tudo bem, a vida não é perfeita, mesmo nas coisas mais simples. Este é o problema em tentar controlar tudo na vida porque não conseguimos ter o controle de tudo. Quem tem filhos e se os pais são possessivos, a intromissão no destino dos filhos será muito além do necessário e tenta a qualquer custo livrar os filhos dos infortúnios e das decepções. Não tem como controlar e isto também faz parte da vida e ajuda na administração das emoções levando à maturidade. Se tudo na vida fosse perfeito, não teríamos um parâmetro para diluir e organizar as expectativas. Da mesma forma que nas casas quando surgiram os aparelhos de tv com esta função em que havia “briga” pelo controle remoto porque as opções de programa eram restritas aos canais disponíveis. Muitas vezes assistia aos programas por tabela, pois, a televisão era a forma de entretenimento mais emocionante diante de um contexto com pouquíssimas opções disponíveis.

 Todos querem ter o controle para definir suas vidas da forma que desejarem. Nem mesmo a própria vida é possível ter o controle total. Em tempos de busca de autonomia, ignorar que o mundo digital é que está com o controle é um erro graxo. Consumimos conteúdo e nos relacionamentos, muitas vezes, convivemos com pessoas que não queremos. Muitas situações fogem do controle porque se criou muitas raízes que são impossíveis de se arrancar ou não se queira arrancar. Por exemplo, no trabalho, o salário é bom e o tipo de trabalho é o que sempre desejou, mas, o ambiente de trabalho e as pessoas que se convive são difíceis de diluir para que o emocional não sofra uma sobrecarga. Mudar de empresa resolveria esta questão, mas, perderia o bom salário que pode não conseguir outro equivalente e aliada ao tipo de trabalho de preferência tornaria esta decisão muito arriscada. Não somente o empregado, mas, também, o patrão pode estar sofrendo este mesmo tipo de pressão, dentre as dezenas deles, por exemplo, quando precisa melhorar as condições de trabalho dos seus funcionários em que há o comprometimento financeiro e precisaria fazer alguns ajustes sem comprometer a produtividade, a qualidade do produto e até mesmo a estabilidade dos funcionários que sempre gera insegurança. Ainda no contexto empresarial, quando as decisões dependem também de sócios que geralmente divergem nos ideais, como manter o controle e canalizar suas propostas? Neste caso que não se tenha o controle total, é preciso equalizar cada momento e cada palavra no sentido de serem aliados no suporte diário. Provavelmente já tenha ouvido nos tribunais “tudo o que disser será usado contra você”. Ser tardio em falar é uma forma de manter o controle da situação e utilizar somente aquelas palavras em que poderão acrescentar valores numa futura discussão. Lembrando que desenvolver ações que visam unicamente obter o controle total pode ser algo muito perigoso, inclusive, até mesmo ter o absoluto controle pode não ser algo construtivo. Qualquer que seja a decisão deve se ter a consciência de que afetará a vida de cada um dos envolvidos, seja o empregado ou o patrão e os seus sócios. A melhor postura é ter o controle dos seus ímpetos e nos momentos favoráveis não se exceder na euforia e nas contrariedades não deixar que a frustração e a mágoa assumam o controle. Nesta condição, qualquer decisão será desastrosa, pois, tem raiz na dor.

 Trazendo para outro contexto, o da família, onde a intimidade gerou raízes e quanto mais íntimo, mais profundas se tornam e o controle está totalmente fora do alcance? A proximidade no contato é algo natural da mesma forma que os atritos que são inevitáveis. Por diversas vezes se procura o controle da situação, seja, um filho que tomou uma decisão errada ou o cônjuge que decidiu se livrar de algumas frustrações fazendo algo que iria agravar mais ainda o relacionamento já instável e este leque pode ser ampliado para o contexto dos demais familiares, seja o pai, a mãe, irmãos e irmãs, depende muito do grau de proximidade que se esteja vivendo. A frustração, mágoa e outros sentimentos desta natureza são profundamente nocivos à saúde emocional e precisa ter uma atenção dedicada no sentido de diluir o seu acúmulo. Repito porque é muito importante que, qualquer decisão nesta condição não terá uma construção sólida porque é fundamentada na dor e muitas vezes, o sentimento que gera vingança assumirá o controle e o desastre será “incontrolável” trazendo perdas que não poderão ser reconquistadas.

E na igreja, será que existem pessoas que querem controlar a vida das pessoas? Será que existem pastores que trabalham para controlar o seu dinheiro e sua vida para que se dedique mais a igreja em detrimento da família? Sem esquecer que existe aquele grupo influente que controla quase todas as decisões da liderança. Infelizmente, o poder de coação utilizando a influência religiosa é uma realidade crescente em nossas igrejas. Quanto mais poder, menos unção. Isto é fato, pois, as ações estão bem distantes dos fundamentos do evangelho. Pregam um evangelho que amedronta as pessoas com o inferno e o virtual "castigo", ao invés de focar no amor de Deus. Fazem isto quando percebem que assumiram o controle total do sentimento das pessoas. Justificam o sacrifício como se fosse dedicado à Deus. A única pessoa que deve ter o total controle da nossa vida é o Espírito Santo quando Jesus, logo que ressuscitou afirmou que nos deixaria um outro consolador que, na verdade, era ele próprio. Por que Jesus falou isto? Jesus é onisciente e sabe de tudo o que acontece e se perdesse o controle da sua missão sem concluir, tudo o que foi conquistado estaria fadado a ser controlado pelo diabo que anda ao redor de cada pessoa pronto para destruí-la. O principal objetivo da missão de Jesus é assumir o controle total do destino de cada um que se rende ao evangelho promovendo a verdadeira liberdade. Muitos líderes usurpam do chamado e falam em nome de Deus numa tentativa de assumir o controle da vida das pessoas. Devido a isto, acontecem tragédias prenunciadas como aconteceu com o Reverendo Jim Jones e seus seguidores em que muitos cometeram suicídio numa justificativa de que o governo norte-americano estaria conspirando contra eles. A maioria das 918 pessoas que estavam sob o seu controle cometeu suicídio e outras foram assassinadas e ele próprio também cometeu suicídio. Uma das maiores tragédias envolvendo a religião porque alguém assumiu o controle daquelas vidas.

Jamais tenha atitude que agrida a normalidade sensata e se perca o controle da situação. É preciso estar atento e ter iniciativas que combatam vícios e maus costumes que escravizam e tornam a vida sem controle no sentido pejorativo. Por outro lado, ter uma vida sem o controle remoto dos aparelhos digitais despertaria o interesse por outras atividades sadias que se perderam pelo caminho e diluem as más energias do cotidiano. Ter uma vida religiosa de dedicação às pessoas e uma liderança que esteja sintonizada nas propostas do evangelho e ser alguém que faça diferença na vida das pessoas no contexto familiar, social e profissional são fatores preponderantes para que se tenha um controle com sabedoria.