sábado, 5 de agosto de 2023

VIDA, SOFRIMENTO E A ROUPA USUAL

Venancio Junior

 No Reino de Deus não existe sofrimento, orgulho e nem roupa usual. O processo de salvação em que Jesus é o único agente catalisador sendo responsável por neutralizar os gases poluentes do pecado e transformá-los em compostos limpos tem o claro objetivo em restaurar o paraíso ou o jardim do Éden como o conhecemos. E os primeiros habitantes criados por Deus não sabiam o que era sofrimento, pois, tinham tudo o que precisavam sem um mínimo de esforço, também não se sentiam orgulhosos por serem os primeiros privilegiados e também não usavam roupas. "Ora, um e outro, o homem e a sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam" (Gênesis 2:25).

Então, vamos começar pelo fim do início do tempo da graça. Após alguns milênios do ocorrido no jardim do Éden, considerando também que não há uma comprovação científica do tempo percorrido. A bíblia como única fonte de informações, relata somente a preocupação com os fatos e o tempo percorrido é secundário e muitas vezes ignorado e desconhecido. Prosseguindo, Jesus afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25). Jesus estava consolando as irmãs de Lázaro que estava morto afirmando que ele "apenas dormia". Jesus estava sendo irônico ou simplista? Quando se apresentou e fez esta declaração, estava se referindo não somente a salvação do ser humano, mas, tinha o propósito em restaurar a vida a toda criação e trazer libertação de todo sofrimento, inclusive da morte. O que é o sofrimento e o que é vida no contexto que vivemos e também na vida futura pós morte física conforme as promessas de Jesus? Humanos, animais, vegetais e todos os seres vivos sofrem a consequência do pecado e igualmente serão beneficiados com esta nova vida que restaura a configuração original de uma vida perfeita. Na linguagem da informática, foi, tipo, formatar limpando a sujeira e manter os arquivos de boot para resgatar a configuração original no mesmo sistema da criação sem o vírus do pecado. Todos sabem o que acontece quando um vírus penetra o sistema, o estrago é avassalador, tal como o pecado na vida da criação. O sistema original teve o seu início na criação conforme o livro de Gênesis, porém, por causa do vírus do pecado que se alojou na dimensão possível da existência e perdeu a vida ao sair da presença de Deus (Romanos 3:23) que é onde se encontra o fôlego da vida, tudo morreu perdendo a “configuração de fábrica”. Fora da presença de Deus, a morte espiritual se tornou a única condição (Romanos 6:23) e a morte física literalmente tornou-se real porque é o contexto do pecado e que consiste numa configuração diferente onde tudo apodrece, o metal enferruja, a traça consome, o ladrão rouba e a morte do corpo se torna pó de onde veio (Gênesis 3:19). Seria como sair da atmosfera onde não há oxigênio. Sair da presença de Deus é a morte espiritual onde o sofrimento pode atingir o seu mais alto grau, porém, quem morre em Cristo ressuscitará primeiro e o espírito volta para Deus. Este trecho, na verdade está dizendo que a vida volta à sua origem.

Afinal o que é esta vida propriamente dita que ainda não conhecemos? Do que Jesus estava falando? A vida que conhecemos é uma só considerando que é um fôlego e distribuído nas mais diversas espécies humana, animal e vegetal na sua função natural conforme a característica específica de cada espécie. O fôlego de vida é igual para todos. Não somente o ser humano e os animais, mas, as plantas e toda a vegetação também possuem o mesmo fôlego de vida. Quando se está interagindo com o animal de estimação, o fôlego de vida é o mesmo que constitui aquele animal. Aquela espécie de um minúsculo animal, a borboleta, uma minhoca e até os animais peçonhentos possuem o mesmo fôlego de vida do ser humano. Inclusive os vermes e bactérias igualmente possuem o mesmo fôlego de vida. Semelhantemente ao fôlego de vida, o sofrimento é o mesmo para todas as espécies. O sofrimento que os animais recebem seja de maus tratos, abandono ou alguma doença é o mesmo sentido pelo ser humano e a intensidade é a mesma e não existe sofrimento exclusivo, pois, o aspecto é o mesmo. Da mesma forma que a aspiração pela vida, quando qualquer espécie luta para sobreviver ou se proteger, o sentimento é o mesmo para todas as espécies. Quanto ao sofrimento dos animais e da vegetação, Deus nos deu a ordem expressa para que cuidasse de absolutamente tudo. Cuidar do meio ambiente é também, de certa forma, cuidar também dos animais selvagens que são mais independentes, enquanto os animais domésticos que, inclusive, todos foram criados mesmo antes do ser humano (Gênesis 1:24), é nossa responsabilidade o cuidado necessário para que tenham qualidade de vida, afinal, o convívio é muito estreito, pois, dividirão o mesmo espaço da família. Somos partes de uma mesma fonte, porém, de características diferentes e cada um no seu habitat natural e a configuração original será restaurada após o arrebatamento em todas as espécies.

Sobre as promessas de bem-estar livre do sofrimento, muitos recorrem a religião numa tentativa em antecipar o porvir do arrebatamento. As principais “vítimas” são os recém-convertidos e aqueles que não meditam na palavra e que ainda não conseguem digerir uma “comida doutrinária” mais sólida, mesmo com um longo caminho percorrido, não amadureceram e ainda estão tomando leitinho. Há uma confusão que tem enganado este grupo específico em relação à pessoa que se rende ao evangelho. Qualquer explanação da palavra tem o objetivo de convencer as pessoas de seus pecados. A exposição da palavra convence, pois, a fé vem pelo ouvir (Romanos 10:17) através da ação do Espírito Santo (João 16:8) que o converte da condição de pecador para uma nova vida.  Ninguém se convence e assume que é pecador sem a ação direta do Espírito Santo, pois, não tem como ressuscitar a si mesmo. De acordo com a interpretação dos usurpadores de plantão das promessas, parece que a partir da conversão não haveria mais sofrimento e o cristão terá uma vida abundante sempre. Será que os convertidos não sofrem e os não convertidos recebem o castigo aqui na terra mesmo? Não é isto que temos presenciado na prática porque muitas daquelas pessoas que ainda estão fora da presença de Deus vivem bem, são bem-sucedidos, tem muita saúde e, aparentemente são felizes e o sofrimento foi destinado somente aos pobres. Jesus deu atenção especial a este grupo de marginalizados e, reitero mais uma vez, até exemplificou que a verdadeira religião é o atendimento às pessoas mais pobres para aliviar o sofrimento. Tim Maia já cantava “Muitos nascem para chorar, enquanto o outro ri”. É uma triste realidade e absolutamente inexplicável. A única certeza é que todos estão sujeitos as consequências do pecado. As pessoas bem-sucedidas também sofrem. A resposta é simples, Deus concede sua graça a todos independentemente da condição espiritual e a chuva beneficia os bons e os maus. Ser feliz ou ser triste não é e nunca foi uma pré-condição de abundância espiritual. Toda a criação está sujeita aos mesmos sofrimentos e alegrias na vida presente. Ao ser humano está reservada a vida ou a morte eterna que será após o arrebatamento. Os demais elementos da criação não possuem alma, por isto, para estas espécies, a morte é literalmente o fim e não há comprovação de que terá a restauração do fôlego de vida numa nova dimensão. Isto não significa que não terá animais. Serão novos animais e também uma nova vegetação.

Já expus noutras reflexões que, provavelmente, ainda não tenha alguém nem no céu e nem no inferno, pois, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (I Tessalonicenses 4:16). Quem morre fisicamente na condição de restaurado, já lhe foi garantida a salvação. Para quem morre fora da presença de Deus para o qual toda a criação foi submetida, somente Deus é o juiz supremo para decidir o fim de cada um conforme o seu próprio julgamento.

Como será que é o céu onde fica o Reino de Deus? Céu e inferno é uma metáfora de referência geográfica para definir opostos entre si. Se o céu acreditamos que é acima, consequentemente, o inferno é abaixo. O céu espiritual não é como o vemos azul e cheio de nuvens brancas e os salvos em Cristo não vestirão roupas brancas. Céu e Reino de Deus não são a mesma coisa. Céu é um sentido figurado para sabermos onde Deus está e não perder tempo em ficar imaginando onde exatamente. Devido a esta limitação humana tornou-se carne para o vermos e enviou o teu Espírito para o sentirmos. Mesmo assim, não sabemos ainda onde esteja que satisfaça a nossa compreensão. As vestes brancas também é um sentido figurado de sem mácula ou mancha do pecado porque, sendo a restauração do paraíso, então, não precisaremos de usar roupas. Tenho minhas dúvidas se precisaremos mesmo de algum tipo de vestimenta. A roupa foi percebida por Adão e Eva após o pecado cometido, antes não se envergonhavam de estarem nus, sequer sabiam o que é estar nu. O céu é a restauração da criação do Gênesis onde havia o jardim do Éden e ninguém precisava de roupa. Todos que possuem a vida que Jesus ofereceu conhecerão como era o paraíso e conviverão eternamente com todas as espécies sem pecado e sem o sofrimento do mundo atual onde estão sujeitos às consequências causadas pelo pecado. A lógica deste contexto não explica o porquê alguns sofrem mais que outros. Parece que o sofrimento foi reservado somente aos pobres. Nesta questão é que a igreja tem o seu fundamental papel em atender a todos os que sofrem e mesmo aqueles que não sofrem quando precisam conhecer a porta da salvação. De nada adianta ser rico e saudável aqui na terra e não ter salvação. De que adianta ganhar o mundo, seja dinheiro, sucesso profissional, felicidade no amor e muita saúde se tudo não for dedicado a Deus e perder a vida eterna (Marcos 8:36)? Todas estas benesses sem a graça de Deus geram orgulho no coração da pessoa. O orgulho é um mal que precipitou o diabo fora do paraíso (Ezequiel 28:17/Apocalipse 12:9). Por que devemos glorificar a Deus? Por que a glorificação da criatura é incompatível para o propósito a que foi criada? A criatura glorifica a Deus não para enchê-lo de orgulho, mas, para ser esvaziada do orgulho que causa males profundos. Não temos a menor ideia do que fazer quando os fatores externos alimentam a nossa vaidade, pois, quando nos orgulhamos, na verdade, estamos nos enchendo de nós mesmos e isto causa uma implosão no nosso ser. Fomos criados para ser cheio do Espírito de Deus que é o fôlego de vida. A essência desta afirmação se encontra no livro de Salmos 150:6 “Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor!” O salmista não estava se referindo somente ao ser humano, mas, a todas as espécies que respiram, incluindo os animais e toda a vegetação. Para se louvar a Deus é preciso ser vazio de si. Jesus afirmou que o Reino de Deus pertencia às crianças exatamente porque, devido a inocência, são vazias de si e conseguem extrair o prazer de Deus. Muitos podem até discordar e afirmam que conhecem crianças orgulhosas. Eu digo que, enquanto criança, ela não tem responsabilidade, pois, reflete o ambiente que vive e repete o mesmo comportamento das pessoas próximas e que compõem este ambiente.

O mais importante é crer na ressurreição de Jesus e reconhecer a fundamental importância da sua missão de restauração da vida que foi contaminada pelo orgulho do pecado e isto tornou a criatura uma nova vida nEle! A única antecipação do Reino porvir é que já estamos restaurados e prontos pela sua graça a idealizar com júbilo esta nova vida.

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