Venancio Junior
Quem nunca ouviu
falar em "agentes infiltrados”. Geralmente envolvidos numa missão
conspiratória para desestabilizar um grupo organizado concorrente ou um sistema
autoritário, tirano e injusto. No mundo corporativo da tecnologia e de estratégias é onde acontece a maioria das ações de espionagem. As investidas visam a busca de informações
secretas ou estratégias de projetos das estruturas da organização, pois, não
existe estabilidade quando não há a preocupação em seguir uma metodologia
organizada. Lembramos também que a milícia e o tráfico de drogas são fortes
porque são organizados. Corre um grande risco de vida quem se envolve com este tipo de missão, pois. quem é descoberto ou
“fura o esquema” sofre graves agressões e, “por sorte”, até se descobrir quem
enviou os agentes, a vida é poupada.
Nas empresas e
instituições públicas também existem aqueles que se submetem aos riscos de uma
ação, neste caso, criminosa aceitando propinas para viabilizar negociatas em contratos
fraudulentos e superfaturados para favorecer corruptores e se tornam agentes
infiltrados. Pode ser funcionários de carreira, mas, que, por algum motivo,
geralmente por vantagem financeira, se desviaram dos princípios da ética
aproveitando a facilidade do cargo. Porém, a grande vantagem aos interessados
corruptores é que estes "agentes infiltrados" pertencem à corporação
e possuem informações privilegiadas. Corromper financeiramente estes virtuais agentes é o único
meio de convencimento.
Nos regimes
autoritários, seja, o comunismo, nas religiões extremistas do oriente médio e
da Ásia e até no capitalismo que é muito defendido pelos religiosos chegando a
afirmar que Jesus é de direita, também existem os agentes infiltrados. Todos estes sistemas, como o próprio nome diz
“regime fechado”, tem a única missão em defender os interesses dos seus líderes e seus asseclas e todos os que se opõem se tornam inimigos declarados e muitos deles, convictos de suas posições se tornam agentes infiltrados. Estes regimes não têm qualquer interesse em melhorar a qualidade
vida das pessoas e seus planos e projetos, na sua maioria são secretos e quem
está de fora da cúpula só teria acesso as informações se for um agente
infiltrado. Quando descobertos, muitos deles são sumariamente executados sem
qualquer chance de perdão. Quanto mais rígido o sistema, seja religioso ou
político, maior é a susceptibilidade em se ter agentes infiltrados formais ou
informais.
Ser um agente
infiltrado não é restrito aos mal-intencionados criminosos. A igreja também já
teve os seus agentes infiltrados no regime nazista quando eram perseguidos,
presos e mortos. Foram produzidos filmes e lançados centenas de milhares de livros
relatando histórias sofridas daqueles que tinham apenas o simples propósito em
falar do evangelho. Provavelmente, muitos nem eram da etnia judia, mas,
defendiam os judeus e criticavam a brutalidade aplicada para quem se opusesse
ao regime nazista. Por incrível que pareça, o nazismo era apoiado pela maioria
dos cristãos na Alemanha.
Logo no início do
lançamento dos fundamentos do evangelho quando foram escolhidos os doze
apóstolos, Judas se tornou o agente infiltrado que foi corrompido pelo judaísmo e a maioria dos seus líderes se tornou um desafeto para Jesus. Os romanos pouco se importavam com Jesus,
pois, não o consideravam uma ameaça e era um problema exclusivo dos judeus. Contrariamente a esta posição dos romanos
que dominavam todo o império naquela região, os sacerdotes judeus e os
seguidores mais tradicionais se sentiam ameaçados porque Jesus veio para
combater a tradição desconectada dos valores do Reino de Deus apregoado por
João Batista e colocavam agentes infiltrados entre os seguidores de Jesus.
Naquela época existiam diversos grupos, dentre os mais conhecidos, haviam os
fariseus que se preocupavam mais com a tradição religiosa e os saduceus que
tinham a preocupação com a influência política. Eram grupos infiltrados que
acompanhavam Jesus e eram enviados pelos sacerdotes com o claro objetivo em saber o que falava para tentar desacreditá-lo. Em diversos relatos nos textos bíblicos, os membros destes grupos
e muitas vezes os próprios sacerdotes estavam infiltrados e questionavam Jesus
por assumir sua condição de Messias e uma de suas determinações finais logo após a ressurreição é o famoso "Ide" que, de certa
forma, foi um envio de agentes infiltrados para desestabilizar as investidas das hostes malignas. Afinal, Jesus era considerado
subversivo e dissidente da religião oficial. Jesus e seus discípulos se
tornaram marginais e conviviam com os marginalizados tanto pelo império, como também pela religião judaica. O grupo inicial de
infiltrados enviados por Jesus foram os apóstolos e, com exceção dos gentios, posteriormente os demais seguidores que
também se rendiam ao evangelho de salvação pela graça se tornaram dissidentes
do judaísmo tradicional e defendiam a fé no contexto social em que viviam. A
defesa da fé precisava ser desta forma, pois, quem se opunha ao sistema
religioso vigente da época se tornava também um marginal e era perseguido e sacrificado. Quem nunca ouviu falar do Coliseu em Roma que era a arena onde os cristãos eram jogados para serem devorados pelos leões? Este fato trágico era considerado um grande evento de entretenimento. Ser cristão não era um privilégio do ponto de vista da sociedade. Com exceção de João que morreu de velho, os
demais apóstolos foram presos e mortos por se posicionarem a favor do evangelho
de Jesus e contra a tradição da religião.
Um caso muito interessante
foi quando Jesus seguia em plena via dolorosa carregando a sua cruz e Pedro
estava seguindo o seu mestre. Naquele contexto, Pedro estava infiltrado e
ninguém até hoje não soube dizer qual era o objetivo de Pedro. Devido a sua
impetuosa personalidade, talvez Pedro quisesse encontrar uma oportunidade para
livrar Jesus daquela situação para que continuasse a sua missão. Para Pedro, a
morte de cruz não poderia ser o fim e agiu como um agente infiltrado negando
Jesus por três vezes. Se não queria ser reconhecido, por que, então, ele
acompanhou de perto o sofrimento de Jesus? Na primeira vez que negou, já
poderia ter ido embora, pois, nada poderia fazer e corria um sério risco em ser
preso também. Chega a ser estranho que Pedro teria alguma estratégia previamente
planejada. Não fazia parte do seu perfil pensar antes de agir. Mesmo assim, ele
continuou e, sinceramente, não acredito que sentia prazer no sofrimento de
Jesus. A explicação mais razoável é que Pedro estava na espreita esperando a
primeira oportunidade para livrar Jesus, mas, do seu jeito atrapalhado. De tão
atrapalhado que precisou sofrer uma advertência antes deste
episódio quando tentou impedir a prisão de Jesus. Não é bem assim que age um agente infiltrado porque Pedro não é
definitivamente um exemplo para este fim. Teoricamente estava fazendo tudo
certo, negou que estivesse servindo a alguém de fora, sempre estava próximo de
pessoas estratégicas e na primeira oportunidade, aproveitaria para interromper
o processo. Pedro desconhecia o processo e se recusou a admitir que a via
crucis fazia parte da missão.
E na igreja, será que
existe algum agente infiltrado? É bem estranho, afinal, no regime religioso
teocrático é difícil conceber a ideia de que alguém vá contra o direcionamento
de todas as atividades considerando que o propósito é servir a um único Deus. É
um pensamento muito simplista acreditar desta forma. A forma não simplista é
acreditar que na igreja também existem pessoas com pensamentos e objetivos
diferentes. Paulo abordava este problema quando afirmou “Não há judeu
nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo
Jesus”. Gálatas 3:28. Paulo expôs que a comunidade, mesmo sendo um corpo só em Jesus, era formada por pessoas
de contexto social, características e visões diferentes. O problema que Paulo
relevava é o mesmo que o seu mestre Jesus alertava aos sacerdotes que eram os
líderes religiosos e que as pessoas estavam sendo enganadas e arraigadas à tradição em detrimento
do evangelho. É preciso estar atento ao que se tem apresentado nas igrejas.
Esta é a causa principal do surgimento de muitas denominações onde cada uma
defende a sua religiosidade a seu próprio modo de ser. Aqueles que percebem
algo estranho na mensagem exposta e que defendem o retorno ao princípio do
evangelho dentro da própria igreja são perseguidos e marginalizados porque
informalmente agiram como agentes infiltrados. A Igreja infiltrada na igreja
nada mais é que o cuidado que estes agentes informais tem na exposição da palavra de acordo com os
princípios do evangelho em que Deus é o criador da existência e Jesus como
filho de Deus encarnado é o Salvador da humanidade. Este princípio jamais deve
ser negado. Pedro na via sacra praticou um grande mal, negando a Jesus. Pior
que negar a Deus é dizer que o ama e não viver este evangelho. Pedro
posteriormente sentiu o peso desta sua atitude. Com certeza, este seu retorno
ao caminho através do seu arrependimento mudou a sua perspectiva daquilo que
lhe foi confiado em levar o evangelho adiante.
Deus não procura
pessoas perfeitas, mas, busca pessoas destemidas e que desejam ser luz nas
trevas e sal da terra, tal como um agente infiltrado. Ser luz na claridade e
ser sal dentro do saleiro é totalmente inútil e não será nem um agente e muito menos infiltrado, pois, será semelhante aos demais e não fará a diferença necessária. Ser informalmente um agente infiltrado no cotidiano dos vizinhos, na família, no trabalho e onde
for necessário, é fundamental para que, de fato, faça diferença na vida de cada pessoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário