terça-feira, 23 de maio de 2023

O DIREITO CONSUETUDINÁRIO DO EVANGELHO

Venancio Junior

"Cumprireis os meus juízos, e guardareis os meus estatutos, para neles andardes; eu sou vosso Deus". Levíticos 18:4

“Tudo me é permitido, mas, nem tudo me convém” I Coríntios 6:12.

Qual a relação do texto de Levíticos 18 escrito por Moisés na exposição das leis com o texto acima de Paulo que estava sendo confrontado pelos legalistas sacerdotes?

Moisés escreveu sobre a proibição do incesto, homossexualismo, sexo na menstruação, zooerastia ou zoofilia que é o sexo com animais e tantos outros comportamentos que, muitos deles eram consideradas aberrações. Alguns ainda são consideradas e até foram criadas leis proibindo. Parece que eram práticas que se tornaram comuns no meio do povo hebreu. Moisés era o líder designado pelo próprio Deus para direcionar pelo caminho até a terra prometida. Que caminho era este, o que era certo e errado e o que era mal aos olhos do Senhor? Algumas coisas eram bem estranhas e não adiantava ficar incomodado com aquela situação, sem a orientação de Deus, estaria com as mãos atadas.

Muito tempo depois, Paulo se encontrava num embate jurídico com os sacerdotes legalistas que ainda se mantinham fiel a lei de Moisés e outras que foram criadas ao longo deste tempo milenar que separa o contexto de Moisés e o de Paulo. Apesar do assunto terminar em relacionamento sexual, o foco de Paulo era a justificação em Cristo que os sacerdotes não compreendiam.

Enquanto isto, Moisés teve uma responsabilidade bem complicada na condução do povo hebreu quando foi liberto da escravidão do Egito e ainda não havia o conhecimento da lei que o próprio Deus entregava diretamente a Moisés porque alguma coisa que acontecia no meio do povo hebreu não estava muito legal. A lei surge após o fato ocorrido. Alguém sabe de alguma lei que se antecipa ao delito? Provavelmente estes delitos imorais já estivessem acontecendo no meio do povo, pois, houve necessidade em proibir e falar claramente sobre estes assuntos delicados. Moisés enfrentava uma situação em que uma boa parte das pessoas pareciam crianças e, de fato, desconheciam a formalização do processo em que precisava proibir e dizer que aquilo não poderia fazer e alguns, com certeza, questionavam, mas, por que não? Caso não fosse algo tão reprovável, algumas instruções já eram o suficiente para resolver esta questão. Com certeza as práticas se tornaram culturais e uma destas práticas foi a famosa história da feitura do bezerro de ouro. Alguns artigos, parágrafos, incisos e alíneas que compõem a lei de Deus, na verdade, foram adaptadas pelos homens. Por exemplo, por que, no caso do adultério, somente a mulher teria de ser apedrejada? Deus determinou que ambos os adúlteros deveriam ser mortos (Levítico 20:10), mas, não é claro qual forma seriam mortos. Obstante, conforme a lei em que o adultério era um delito factual e só poderia ser cometido com parceria, juridicamente, quando a acusação envolve duas ou mais pessoas no mesmo delito, não existe crime parcial. A questão do apedrejamento foi impositiva para quem adorasse ao deus Moloque que seria o “desafeto” de Deus na peregrinação rumo a Canaã (Levítico 20:2).

Por volta de 1450 anos depois de Moisés, Paulo ainda era confrontado com estas leis. Paulo, sendo muito inteligente, era um exímio intérprete da lei e seguia a rigor, porém, pela falta de sabedoria, muitos abusos eram praticados porque julgava por si mesmo que era permitido. São as chamadas “gordurinhas jurídicas” em que se consegue extrair uma nova interpretação, pois, há um provável sentido dúbio. Esta era a interpretação dos seus subordinadores que, não somente permitia, mas, também recomendava. Paulo perseguiu a igreja de Jesus Cristo com a lei embaixo do braço e quem pensava diferente, sofria o castigo. No contexto atual, muitos perseguem as pessoas citando frases bíblicas de efeito e querem criar leis para que tenham motivos para punir aqueles que pensam diferente. Paulo tinha esta personalidade e praticou muitas atrocidades, inclusive consentiu na morte de Estevão (Atos 8:1)  quando estava sendo brutalmente apedrejado e da forma que interpretava a lei antes da sua conversão, estava tudo certo e ninguém questionou que ele não poderia fazer do seu jeito. A lei de Deus não constava este "delito" e muito menos o castigo. Paulo conhecia profundamente a lei e, após a sua conversão ao evangelho, foi chamado para ser apóstolo (II Timóteo 1:1) e não mais agia com violência, mas, continuava afirmando e confrontando aquilo que os sacerdotes acreditavam dizendo que tudo era permitido. Para os legalistas, nem tudo a lei permitia, mas, praticavam os delitos, mesmo a lei não permitindo, por isto que são legalistas quando a lei só vale para os outros. Não bastava a lei proibir, havia o consenso da permissividade. Paulo estava atento a esta situação de questionamentos que ele mesmo intencionalmente provocou. Precisava ser feito desta forma. Os legalistas jamais fariam uma autocrítica que descontruísse todos os seus conceitos. Se a lei proíbe, por que Paulo afirmava que tudo era permitido? Noutras palavras, Paulo quis dizer que se pode fazer de tudo, porém, nem tudo é conveniente. Quem pode proibir as pessoas de fazer o que quiser? Na concepção dos líderes religiosos da época, isto é possível através da aplicação da lei. Os sacerdotes eram legalistas e este mesmo grupo, teve plena liberdade em perseguir Jesus até a sua morte. Inclusive, após a ressurreição, os sacerdotes também tiveram plena liberdade em pagar propinas aos guardas para mentirem dizendo que os discípulos roubaram o corpo de Jesus (Mateus 28:12,13). Não constava na lei este tipo de atitude que é reprovável até os dias de hoje.

No texto de I Coríntios 06, Paulo estava (como sempre estiveram os apóstolos e o próprio Jesus) confrontando a lei dos judeus. A lei dominava o coração dos judaizantes religiosos que, em hipótese alguma, aceitavam qualquer questionamento ou confrontação dos valores da tradição, porém, algumas práticas contrariavam a própria lei. Por isto que Jesus é a única finalidade da lei. Observe o que Paulo, citando Moisés, escreve sobre lei e graça em Romanos 10:4,5 "Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê. Moisés escreveu que o homem que pratica a justiça que vem da Lei, viverá por ela". O próprio Jesus que justifica a todos pela graça afirmou que veio cumprir e não mudar a lei (Mateus 5:17). Como assim, Jesus também seria um legalista, por que era criticado por não cumprir a lei de Moisés? Lendo o texto de Marcos 7:8, parece que Jesus foi contraditório “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens”. Quem perseguiu Jesus foi o grupo que prezava pela lei que neste texto Jesus denominou de “tradição dos homens”. Este é o velho problema que ainda persiste na religião dos homens, cada uma cria a sua própria lei e o evangelho torna-se irrelevante e até desconhecido, pois, vai sendo sufocado pela tradição. Mas, Jesus demonstrou que incoerência não era do seu feitio e lemos no verso 20 "Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus...". Percebe-se que Jesus confrontou o legalismo (gordurinhas da religião) dos sacerdotes e fariseus e ratifica a lei, como posso dizer, seguindo o protocolo do processo irretocável de salvação desde o seu início quando fomos condenados ao inferno pela lei e que a salvação agora é justificada pela sua graça.

Tudo que escrevi até agora foi para justificar o que antes a lei não permitia e agora sob a graça, tudo é permitido. Não é bem assim. Esta ótica é equivocada porque, mesmo diante da lei, o ser humano não perde a sua autonomia, porém, graça não significa que tudo é permitido sem responsabilidade e consequências. No tempo da lei, Moisés precisava orientar o povo por qual caminho deveria seguir, porque o coração e mente do ser humano é tendencioso ao mal que o distancia de Deus. Mas, se o propósito é ter um relacionamento com Deus, então, pelo fato de ser permitido é preciso fazer o que seja preciso e evitar em alguns casos, fazer o que se queira.

Afinal, o que era permitido e Paulo observou e colocava como inconveniente? Nesta situação específica do texto de Paulo, envolveu até um debate jurídico, pois, falavam sobre a lei dos judeus. Foi observado o litígio que é um conflito de interesses e o termo lícito encontrado em algumas versões da bíblia, sendo utilizado onde a interpretação é segundo a lei e não conforme os conceitos do evangelho da graça que Jesus expôs. Se utilizarmos este termo, creio eu que perderia o sentido do contexto que Paulo quis se referir porque alguns pontos principais desta discussão não constavam na lei e Paulo, da mesma forma que Jesus fez, precisava relevar à consciência dos judeus o sentido da graça na perspectiva do evangelho que Jesus ressignificou. Então, neste caso, poderia fazer abordagem sobre qualquer assunto e não somente sobre o relacionamento sexual generalizado como abordam os dois textos. As pessoas julgavam conforme suas convicções de que poderiam, pois, seguiam a tendência da mente e do coração (Releia Levíticos 18). A forma como Paulo coloca, parece que a bíblia diz que sim, mas, não recomenda, pois, ninguém pode te impedir de fazer estas práticas porque o pecado está controlando o coração (vontade) e a mente (atitude). A lei proíbe, sim, proíbe, mas, no contexto da graça não existe proibição e o ser humano é responsável pelas suas decisões e ações. A lei não se sobrepõe a graça e lemos na bíblia as consequências destas más atitudes que permitem que o pecado domine não somente a consciência, mas, também o coração o que chamamos de libertinagem que não pode ser confundido com liberdade. Libertinagem é a prática do libertino que não se submete as leis morais, éticas e nem espirituais e se mantem fora da graça.

Existem duas concepções de liberdade atualmente que, dependendo da escolha, nos direciona a destinos diferentes:

- Liberdade de Deus

A liberdade que Deus nos mostrou não é desvinculada da responsabilidade. Vamos analisar a liberdade do Antigo Testamento e a liberdade no Novo Testamento. Logo no início da criação, antes mesmo da queda Deus determinou que o ser humano teria domínio sobre absolutamente tudo o que estava sobre a terra. Isto derruba o conceito de alguns que julgam que Deus é um tirano ditador e que não permitia liberdade. Alguém conhece algum ditador que concede liberdade para as pessoas? Deus não retirou esta liberdade após a queda, mas, fazer o que bem entender com liberdade confrontaria a responsabilidade e geraria consequência. O melhor exemplo de liberdade sem responsabilidade e que gera consequências degradantes é aquela praticada por boa parte dos moradores de rua. Muitos deles estão naquela condição miserável por opção e todos os dias tem oportunidades desenvolvidas por instituições sociais que oferecem, além da higiene pessoal, vagas de trabalho para gerir o seu próprio custo. Muitos decidiram pela liberdade em viver como desejarem dentro da concepção de que ser livre é ser solto e não se submeter ao sistema. De qualquer forma, todos estes mendigos sofrem as consequências da queda espiritual onde tudo perdeu a sua configuração original. Seria difícil pensar no bom uso da liberdade quando tudo foi desconfigurado e o mal passou a ocupar o coração e a mente do ser humano. O episódio de Caim matando Abel demonstra o que viria depois. Hoje em dia, os profissionais da área estariam buscando nos livros de psicologia qual foi a fonte de motivação de Caim. Não existia ainda atitudes em consequência de instabilidade social ou emocional. Este crime praticado por Caim teve como o principal fator, a liberdade em fazer o que era mal. Deus permitiu que isto acontecesse. Totalmente consonante com o texto de Paulo em I Coríntios 6:12.

- Liberdade do ser humano

Há um conceito de liberdade que as pessoas insistem em demonstrar que seja desvinculada dos princípios do relacionamento social e espiritual. No livro de Gálatas, logo no primeiro texto lemos: "Para a liberdade Cristo nos livrou; portanto ficai firmes e não vos sujeiteis de novo a um jugo de escravidão". (Gálatas 5:1). Paulo é afirmativo de que a liberdade que Caim se apropriou para cometer o assassinato de seu irmão Abel, na verdade, era escravidão da carne. Leia o texto do verso 13 “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade: porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne..." (Gálatas 5:13). Novamente este texto é consonante com o texto do próprio Paulo, “tudo é permitido”, mas, nem tudo convém. Caim poderia matar Abel, mas, principalmente no aspecto espiritual, não foi uma atitude que convinha para resolver o problema criado pelo próprio Caim. Abel foi duplamente inocente, por não ter dado qualquer motivo e por ter sido morto. Quem poderia proibir Caim e se proibisse, do que iria adiantar? Podemos afirmar que Caim era escravo da sua própria liberdade.

Usar a liberdade e Jesus oferecendo a liberdade seriam dois tipos de liberdades? A absoluta liberdade nos foi oferecida através de Jesus: "Se, pois, Jesus te libertar, sereis realmente livres" (João 8:36).

Afinal, que tipo de liberdade é esta oferecida por Jesus? Afinal, quem é este Jesus que, segundo os próprios sacerdotes, afrontou a sua própria religião, o judaísmo e se apresentou como o filho de Deus prometendo a verdadeira e genuína liberdade? Do que exatamente, ele quer nos libertar? Jesus é aquele que foi citado ainda no Jardim do Éden quando o próprio Deus afirmou que Jesus pisaria na cabeça  da serpente, com isto, anularia toda ação do mal e a serpente apenas lhe feriria o calcanhar que é a morte de cruz que foi minimizado pela ressurreição"...e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3:15). Sem a ressurreição, a morte de Jesus seria uma tragédia. Este foi o medo dos discípulos e de muitos dos seus seguidores porque a visão em relação à missão de Jesus era periférica, pois, não enxergavam uma decisão com foco na eternidade. Ferir a cabeça é uma metáfora em como inutilizar a consciência da pessoa que, neste caso, é o diabo que nos escraviza com o pecado e Jesus foi prometido para nos dar a liberdade desta escravidão da condenação do pecado. Jesus é também aquele que estava presente na criação "Disse também Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gênesis 1:26) e foi mencionado pelo rei Nabucodonozor quando condenou os três jovens hebreus Mesaque, Sadraque e Abdenego à fornalha ardente e Jesus estava com eles "Disse ele: Eis que eu vejo quatro homens soltos, que andam no meio do fogo, e não recebem dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses" (Daniel 3:25). Este episódio demonstra também que Jesus pode prover a liberdade literal (sendo a sua vontade) e se envolve pessoalmente em qualquer situação difícil na nossa dimensão física.

Quando se fala em Deus, Jesus e tudo o mais que coexiste na nossa mente com a religião, lembramos que, de certa forma, não limita as nossas ações? A grande dúvida e que nos faz escravos da conveniência humana, qual é a verdadeira religião? Esta pergunta fizeram a Jesus que numa resposta com precisão cirúrgica afirma que a verdadeira religião não é a instituição, mas, a atitude em atender os órfãos e as viúvas que representavam, naquele contexto social, as pessoas mais necessitadas. Outro questionamento, porque vivemos a instituição que tolhe as nossas vontades, os nossos desejos e os nossos pensamentos? Exatamente, este é o contraponto ao texto de Paulo sobre o mal uso da liberdade. A carne citada por Paulo quer viver a religião, enquanto o espírito livre quer viver a liberdade em servir ao próximo. Considerando que servir é uma prerrogativa das pessoas de bom coração, então, quem vive esta liberdade são somente as boas pessoas? Muitas pessoas se consideram como boas pessoas e não teriam problemas em fazer uso da sua liberdade que consideram como um direito adquirido. Nem o próprio Jesus assumia que era bom. Jesus sempre estava rodeado de uma multidão, e, logo após o contato com as crianças, um homem ajoelhou-se diante de Jesus e o chamou de bom e Jesus lhe respondeu: “Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus” (Marcos 10:18). Se o próprio Jesus não se julga bom, quem seria bom? 

Bondade, liberdade, salvação e outros atributos estão contidos na lei de Deus e não na lei dos homens que só constam a escravidão da religião e Jesus é a finalidade desta lei que nos concedeu o direito em usufruir e propagar esta liberdade adquirida no sacrifício da cruz. Jesus livremente se tornou escravo da cruz se submetendo sem muito questionamento, exceto, quando chegavam os dias mais próximos do momento da morte de cruz em que questionava ao Pai se precisava mesmo daquilo, pois, não queria morrer e muito menos como um malfeitor de alta periculosidade em que a morte de cruz era destinada. Jesus poderia muito bem decidir não morrer por pessoas que não merecem o sacrifício que os tornariam verdadeiramente livres. Sofreu todas as dores possíveis física, emocional e psicológica que foi a morte de cruz para que a liberdade fosse real no processo de salvação.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

A VIDA SEXUAL DA IGREJA

Venancio Junior

Como assim!? Se o sexo é pecado, a igreja não se limitaria ao contexto da espiritualidade?

Sexo não é pecado. Quem disse que sexo não é algo espiritual? Se perdemos a espiritualidade por causa do sexo, por que não podemos usufruir da espiritualidade do sexo? Espiritualidade não é uma parte de nós, mas, compõe o todo do ser. Ser espiritual é diferente de estar espiritual que, na verdade, não existe. Da mesma forma que não estamos pecadores, mas, somos pecadores.

Deus criou a relação sexual após concluir a criação de todas as espécies vivas quando disse em Gênesis 1:28 “Deus os abençoou, e lhes disse: Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra”. O sexo no sentido de coito, não é exclusividade do ser humano. Quando Deus abençoou/determinou “frutificai e multiplicai” foi de forma generalizada a toda a criação onde se inclui, além do ser humano, os animais e os vegetais. O termo sexo é utilizado também para distinguir os gêneros macho e fêmea dos animais, dos vegetais e foi criado antes mesmo da criação do ser humano que veio a ser criado posteriormente. A reprodução já estava “rolando” mesmo antes do ser humano conhecer a excitação prévia do coito. Frutificar para os vegetais é gerar frutos e para o ser humano é gerar filhos que são frutos do relacionamento sexual. Não é somente isto, Deus também colocou prazer no sexo, caso contrário, ninguém se interessaria em fazer sexo. Ninguém em sã consciência afirmaria: “Vamos transar porque gosto de ter filhos”!

Os anos iniciais do casamento, diria que o sexo é um agente de apoio da sociedade enchendo a terra, depois, como diz o texto (versão minha) de Paulo: "Não deixe de fazer sexo um ao outro, senão talvez de consenso por algum tempo, para dedicar à oração, depois, façam sexo à vontade para não ser tentado por Satanás por causa da excitação sexual" (I Coríntios 7:5). Paulo observou que a excitação não é algo que se possa controlar e tinha uma personalidade difícil, sendo muitas vezes mal interpretado. Talvez lhe tenha faltado exatamente o carinho de uma mulher para diluir toda aquela rispidez da personalidade. Será que, se Paulo tivesse casado ele mudaria alguma coisa nos seus conceitos? Por exemplo, nas recomendações sobre o casamento em I Coríntios 7:1 “...é bom que o homem não toque em mulher”. Logo em seguida no verso 8 ele afirma “...é bom que permaneçam como eu”. Paulo era solteiro. Provavelmente, quando ainda era militar do exército romano, caso sua personalidade não fosse coerente, tenha participado de algumas orgias como era costume numa sociedade onde imperava o paganismo. Por causa disto, deve ter associado o coito sexual como algo impuro. O sexo nunca é impuro, mas, com quem se faz é que aloja a impureza. Apesar da falta de experiência conjugal, Paulo tinha consciência da importância do coito sexual e sabedoria para orientar os jovens casais da época de que, caso não seja controlado, satanás que é astuto, pode assumir o controle desta excitação. Quando se está em pleno vigor físico da juventude, a “moçada vive no cio”. Cio é um termo popular, geralmente aplicado aos animais quando estão no ápice da excitação sexual. A primeira sensação que antecede o coito sexual é a excitação. A excitação antecede o consenso. Sexo não consensual, de certa forma, é estupro. Mesmo que sejam casados, não existe um “grau leve” de estupro. Considerando que o sexo é uma das vertentes da espiritualidade, fazer algo que não se queira é uma violação da intimidade espiritual do homem ou da mulher. Mas, quem de bem com a vida conjugal não quer fazer sexo com a pessoa amada?

Deus também determinou que o sexo não era e nunca foi para as crianças, mas, para pessoas maduras e responsáveis conforme o texto de Gênesis 2:24 “Portanto deixa o homem a seu pai e a sua mãe, e se une à sua mulher; e são uma só carne”. Este termo “une” significa morar juntos e fazer sexo juntos e tem um sentido espiritual rumo a maturidade. Muitos aprenderam que este texto fala sobre o homem deixar a casa do pai e da mãe conforme algumas versões bíblicas. Não é isto que significa, pois, existem muitos homens que deixaram a casa dos pais, mas, não amadureceram, enquanto alguns outros, mesmo ainda morando com os pais, são plenamente maduros. Este termo deixar o pai e a mãe tem uma conotação espiritual de maturidade. A relação do filho com o pai e a mãe é espiritual porque é uma relação que teve origem na impetração da benção pelo próprio Deus. Releia Gênesis 1:28 “Deus os abençoou...” Maturidade e espiritualidade tem uma relação intrínseca. Reafirmo que o relacionamento conjugal do coito sexual é espiritual. Paulo enfatizou na carta aos I Coríntios 6:16 "Vocês não sabem que aquele que se unir a uma prostituta é um corpo com ela? Pois como está escrito: "Os dois serão uma só carne". Novamente foi utilizado o termo unir. Por isto que a relação sexual extraconjugal é pecado, pois, o sexo é união espiritual em uma só carne. Prostituta no contexto da época significa uma pessoa que não seja a esposa. Naquela época, no caso, o homem, fazia sexo com a esposa ou com a prostituta que ganhava para isto. Interessante é que no Antigo Testamento, parece que a prostituição em alguns casos não era "levado muito a sério". Perceba no texto de Juízes 16:1 no famoso episódio em que Sansão arranca o portão da cidade de Gaza, antes disto, ele havia passado um tempo com uma prostituta e na bíblia é relatado como um fato comum. Outro episódio considerado como comum, pode ser considerado um fato ordinário na ação extraordinária de Deus que aconteceu com Josué antes da conquista de Jericó quando os mensageiros enviados passaram a noite na casa da prostituta Raabe (Josué 2:1). Será que estes mensageiros "fizeram amor" com ela? Nesta época ainda não havia o “sexo casual” quando acontece com qualquer pessoa que não necessariamente precisa ter algum compromisso. As prostitutas ainda existem. Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Eu afirmo o que está escrito na bíblia, prostituição não é profissão, mas, depravação do coito conjugal que é um relacionamento sadio na perspectiva bíblica. Segundo a bíblia, a profissão mais antiga do mundo é de agricultor conforme Gênesis 3:23: "Deus enviou o homem para fora do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra de que havia sido tomado". Isto aconteceu logo após a queda pelo pecado. Eu acho que antes da queda, talvez, não houvesse necessidade de algum tipo de esforço dedicado, pois, havia a “subvenção divina”.

Sobre os termos utilizados atualmente para o relacionamento sexual, alguns são populares que, numa aplicação acadêmica, poderíamos chamar de semiótica literária que significa, neste caso específico, interpretação de palavras. Por exemplo, transar é um termo genérico que significa troca e pode ser aplicado em transação imobiliária quando se troca uma quantia equivalente por um imóvel que corresponda ao valor disponibilizado ou transação financeira quando se troca por ações ou aplicações em algum fundo de investimento. Não é usual a utilização em algumas situações, por exemplo, no relacionamento pessoal e falar que deseja transar algumas palavras. O que normalmente ouvimos é trocar algumas palavras e o sentido será o mesmo. O termo está tão incrustado no sentido popular que não precisaria da aplicação da semiótica, pois, se chegar na presença de alguém e falar que deseja transar, o sentido será relativo à transa sexual. Este termo relativo a relação sexual foi cunhada pelos hippies nos anos 70. Outro termo hippie é curtir que as redes sociais utilizam nos aplicativos. Na verdade, curtir é relativo a um processo de curar o couro para perder o cheiro natural do gado e torná-lo macio. Transar e curtir um sexo se tornou algo normal e sem tabu da moralidade das “pessoas de bem”. Mas, isto não será um problema se a pessoa usar de sabedoria para aplicar as palavras corretamente.

A bíblia, contrariamente ao que alguns desconhecem e evitam tomar ciência sobre a sexualidade, foi a primeira que mencionou esta questão e os seus textos são “recheados” de termos concernentes a sensualidade que provocam escândalos para quem julga que a bíblia fala da espiritualidade sem integralidade. Aliás, o conceito de espiritualidade bíblica é algo que precisa ser revisto com discernimento mais aprofundado quando se atinge a maturidade espiritual. Boa parte, se não a maioria dos pastores ensina que Deus não está presente no ato conjugal do sexo. Nas igrejas, com raríssimas exceções, não existem estudos bíblicos sobre a vida sexual daqueles que compõem a igreja. Igreja a que me refiro, não é a instituição que é totalmente irrelevante neste conceito, mas, as pessoas individualmente que compõem o corpo que é a igreja. Esta composição é formada por pessoas cheias de preconceitos e que se constrangem quando o assunto é o coito sexual. Como falar de sexo na presença dos filhos? Como assim, para fazer o coito sexual os dois precisam estar completamente nus? Muitos tabus ainda rondam a consciência dos pastores. Muitos tem dificuldade até para falar qual o termo correto para o ato íntimo conjugal que não cause um choque. O que precisa é ter cuidado para não banalizar algo tão importante no relacionamento conjugal que interfere diretamente na estrutura familiar. Infelizmente, diz o ditado, se não aprende em casa ou na igreja, vai aprender nas ruas da pior forma possível. Este assunto nunca deveria ter a sua discussão e análise nas igrejas e sociedades organizadas como um tabu. Creio que a falta de esclarecimento é a principal causa das práticas irresponsáveis que envolve a relação sexual entre duas pessoas. Atualmente não podemos afirmar que este tipo de relacionamento seja feito somente por um homem e uma mulher e estaríamos infringindo algumas leis recentes com risco de ser preso. Mas, isto não impede a sua discussão e a bíblia orienta que cada pessoa não deve escolher com quem deseja transar à revelia, sem critério e sem responsabilidade enquanto faz as suas confissões mais íntimas porque a moçada quer, tem e sempre teve grande incentivo daquela família que está fora do contexto bíblico para transar. Tem pais que, logo que o filho tenha a consciência sexual e isto tem acontecido cada vez mais cedo, levam até a um prostíbulo para que conheça a mulher intimamente com medo de que o filho se torne um homossexual.

A igreja precisa sair da condição marginal e voltar ao caminho do protagonismo espiritual que sempre lhe pertenceu e assumir a responsabilidade de orientação sem que haja uma interferência indevida na vida das famílias. Uma vez que as famílias frequentam a igreja, subentende-se que todos desejam orientação, principalmente nestas questões polêmicas. As famílias estão sendo bombardeadas, não por conceitos errados, quem erra é porque deseja acertar, mas, por maus conceitos de destruição de algo sublime e que faz fundamental diferença na vida conjugal que é o relacionamento sexual. Toda a emoção, todo o prazer e todo o êxtase da vida a dois se encontram literalmente no relacionamento sexual e Deus também tem interesse, tanto é que definiu a essência da intimidade como uma só carne.

Se parar por aqui, esta reflexão será apenas uma verborragia. Então, qual o principal fator de atração numa pessoa? Geralmente se procura um grande caráter, pessoa honrada, bem quista, elegante, charmosa e de respeito. Caso alguém encontre uma pessoa com todas estas qualidades reunidas, parabéns, encontrou a pessoa perfeita. Por mais metódica que seja, nenhuma pessoa nasce com manual de funcionalidade e quais os recursos principais disponíveis. Se fosse desta forma, os relacionamentos em qualquer nível seriam simples de se manter. Pense comigo. É muito bom a surpresa e no início da relação não se conhece muito a pessoa com quem se deseja compartilhar confidências e mais alguma coisa e seria muito interessante ser surpreendido por ela. Isto acontece porque a vontade em agradar leva a pessoa a ser criativa e surpreendente. Quem é surpreendido indaga que “não esperava isto de você”. Se estiver no início do relacionamento, esta reação será no sentido positivo, mas, se a relação já tiver um tempo razoável, provavelmente terá uma conotação negativa. O desgaste do relacionamento é normal e precisa estar constantemente atento a esta questão.

Antes do envolvimento com alguém, surge a indagação, com quem e com qual tipo de pessoa vai se envolver? Após um tempo juntos, talvez seja necessário reavaliar com quem está envolvido(a) e se a pessoa mudou ou condiz com o que sempre sonhou. Pode não ser a pessoa que sonhou, porém, é possível torná-la a pessoa dos seus sonhos porque as pessoas mudam para melhor ou para pior. Algo que precisa ser bem administrado é quando um dos cônjuges se sente desvalorizado no relacionamento e transfere este mal sentimento para as demais áreas que não seja somente a vida conjugal. Por exemplo, quando há um claro menosprezo de uma das partes, a tendência é a parte menosprezada sentir-se diminuída. A referência de valorização do cônjuge nunca deve ser somente pela avaliação do parceiro(a). Isto gera desgaste e mágoa que irá interferir diretamente na pré-disposição em se manter dentro do relacionamento. Será necessário se redescobrir dentro do relacionamento e, caso tenha algo que atinge negativamente o relacionamento, não hesite em mudar a postura e se empenhe em atrair novamente a pessoa que atraiu você.

O que te atrai em alguém? A amizade, geralmente é o começo de tudo e a relação evolui e toma outros rumos que não estavam nos planos iniciais. Quando o primeiro contato visa caminhar para uma vida a dois, algo que não se deve menosprezar é a amizade. Tem casais que deixaram de ser ou nunca foram amigos. A amizade é algo muito sério. O próprio Jesus tinha o seu amigo íntimo e existe um Provérbio que diz que há amigos mais chegados que irmãos (18:24). Creio que a amizade é que mantem a leveza do relacionamento. Ninguém escolhe amigos, tipo, nem sempre é possível evitar que as pessoas se aproximem, mas, é possível escolher quem vai permanecer no círculo de relacionamento e naturalmente, tornar-se amigo. Quando o relacionamento com alguém atinge outros níveis de compromisso, a amizade com a pessoa amada jamais deve ser preterida.

Para os casais casados, a amizade ainda perdura? No cotidiano, é possível perceber alguma fagulha de amizade? Como se manter a amizade mesmo após inúmeros contatos íntimos? Como ser surpreendido por alguém que já não é tão estranho? Neste estágio do relacionamento, muitos afirmam que não tem muitas surpresas que poderiam dar um toque especial na relação. Não existe receita eficaz com esta finalidade porque a vida a dois não depende somente de um e a razão e coração tem de caminhar em paralelo. Algo que deve ser percebido é detectar se as emoções do relacionamento estão sendo redirecionadas para outros fins. Esta situação acontece muito quando o relacionamento está muito maduro e se perde a criatividade para dar leveza, inclusive no relacionamento sexual. O relacionamento sexual, diria, é o ápice do relacionamento. Não é o principal, mas, a questão é que o envolvimento emocional no sexo é muito profundo. Quando a emoção está sendo redirecionada, o sexo será apenas “uma rapidinha” quando se faz por obrigação ou necessidade e, muitas vezes, nem acontece e o relacionamento se perde na rotina e o casal acaba se distanciando.

Qual o papel do homem e da mulher no relacionamento sexual? O ambiente é o mesmo e a cama é a mesma, porém, as “funções” exercidas naquele momento precisam ser diferentes. Repito, o sexo é também envolvimento emocional. Qual a característica de um relacionamento sexual emocionante? A princípio, o homem tem uma função ativa, enquanto a mulher, de certa forma, é passiva. Explico. O estímulo sexual que leva a pessoa a excitação é diferente no homem e na mulher. O homem tem maior probabilidade de se excitar apenas com um olhar. A mulher precisa de um tempo mais dedicado para estimular a excitação e precisa do toque. Não é regra, mas, geralmente acontece desta forma. Uma brincadeira sobre esta situação é, o homem já chega engatado e com o motor ligado, enquanto a mulher só pega no tranco, muitas vezes, precisa de muitos “empurrões”. Quando se tem pouco tempo juntos, o sexo dura muito e quando tem muito tempo juntos, o sexo dura pouco.

Este é um desafio constante em dedicar mais tempo no ato conjugal sem que isto seja um fardo e continue sendo um prazer. Este prazer a que me refiro, não é somente o orgasmo, mas, o prazer de estar juntos e compartilhar as emoções que depende de cada um o investimento para que o tempo juntos não seja uma perda de tempo.

O que fazer na relação sexual? O sexo anal e o sexo oral são pecados? Na bíblia não há qualquer mandamento ou a forma correta dentro dos parâmetros naturais de se fazer sexo. Como já mencionei o texto de Paulo que fala “...não vos priveis um ao outro”. Isto não significa que pode tudo. O sexo matrimonial deve ser sempre consensual quando os dois são estimulados e um deseja o outro. Conheço pastores que não se opõem ao sexo oral e nem ao sexo anal desde que haja consentimento. Uma ressalva que faço é que alguns órgãos não foram feitos para o sexo. Não basta ser um orifício para ter penetração. É preciso saber que alguns órgãos têm uma determinada função específica e o sexo pode não ser uma delas. De qualquer forma, a conversa sobre o que se deve fazer ou não tem de ser, repito, consensual e consciente se o cônjuge esteja sentindo prazer também.

Para concluir, farei algumas recomendações as igrejas. A liderança tem de estar próxima das pessoas que frequentam a comunidade para que se sintam seguras em relação ao que acreditam. A espiritualidade não pode ser restrita a busca dos dons. Espiritualidade na bíblia que conheço tem uma abrangência integral na vida humana. As pessoas precisam de segurança nos questionamentos que ainda são tabus que precisam ser discutidos com discernimento bíblico. O casamento foi estabelecido por Deus e ninguém melhor que o próprio criador do relacionamento conjugal para dar segurança nestas questões. Muitos pastores precisam descer do pedestal e demonstrar que são pessoas comuns e que precisam também de orientação. O conhecimento bíblico também é adquirido através do relacionamento e a comunhão do corpo de Cristo é o lugar mais apropriado e saudável para saber sobre a sexualidade também.

terça-feira, 16 de maio de 2023

OS DEZ ENCANTOS DO CASAMENTO

Venancio Junior

“Após algum tempo de relacionamento, o que resta é um suportar o outro”

Qual a sua situação atual para aplicar adequadamente a frase acima no seu relacionamento? Este é um assunto que não se esgota com meia dúzia de palavras e nem com um milhão de conselhos por mais oportunos que sejam, pois, trata-se de desvendar os impenetráveis corações e mentes humanos. Por incrível que pareça, muitos casamentos não deram certo e não é porque um dos dois é uma pessoa má, simplesmente, não conseguiram reagir corretamente ou não reagiram e somente esperaram acontecer e acontece o pior.

Muitos casais frustrados afirmam e até existem pesquisas que, de certa forma, comprovam que o casamento é uma entidade falida. Do ponto de vista de que basta casar-se para ser feliz, então, tanto a pesquisa como também, as afirmações, estão corretas. Mesmo tendo a certeza de que o casamento faliu, as pessoas ainda continuam se casando e nunca deixam de se casar até mais de uma vez, sempre na esperança de que agora vai dar certo. Não deu certo!? Casam-se novamente e após diversas “tentativas”, um novo relacionamento reacende a esperança e o destino geralmente é o altar até que se acerte ou não e desistir de um novo casamento é apenas um desafio.

Felicidade no casamento e, numa eventual crise, resolver o conflito não depende unicamente de bons conselhos em que há muitos e até ajudam, como ajuda também a psicologia dedicada exclusivamente a este "problema" com a terapia de casal e existem até pastores e padres que, mesmo não tendo a experiência de uma vida a dois, tem a teoria dos estudos e se tornam especialistas em conflitos conjugais. Incluo os líderes eclesiásticos porque o casamento conforme os relatos históricos mais antigos, tem princípio na doutrina da religião de Deus ainda no Gênesis. Para quem crê na teoria criacionista, o relacionamento entre homem e mulher foi estabelecido desde a criação da humanidade, “...macho e fêmea os criou” (Gênesis 1:27). Perceba que ainda não havia Adão que, juntamente com Eva, foram criados absolutamente iguais nos direitos e nas responsabilidades e diferentes no aspecto, porém, eles não se casaram como se tornou um costume posterior a esta época. Mesmo para aqueles que não acreditam nesta teoria da criação e são adeptos da teoria da evolução, se casam e a cerimônia segue o mesmo padrão cristão com o compromisso legal e não poderia faltar a festa das bodas de casamento. Nos tempos bíblicos, especificamente no Antigo Testamento, haviam os acordos matrimoniais e em alguns aconteciam as festas, mas, ainda não existia a denominação como casamento o que veio a ser mencionado somente no Novo Testamento também como bodas. Tudo era meio que arranjado e as mulheres não tinham autonomia para escolher com quem gostariam de conviver e, aparentemente, parece que dava certo, pois, não há nenhuma reclamação matrimonial do cônjuge. Isto não significa que não havia problemas conjugais e, provavelmente, havia no subconsciente de algumas mulheres o questionamento sobre o método de escolha do marido que envolvia, muitas vezes, interesses patrimoniais. A submissão da mulher era culturalmente tão profunda que a autonomia era um termo impensável. Lembro que a submissão da mulher é somente em relação ao marido e Deus nunca determinou que a mulher propriamente dita fosse submissa ao homem. A submissão não é um tipo de imposição, mas, de respeito que nunca deve ser por mérito. De fato, o homem se apropriou indevidamente e distorceu o mandamento de Deus e decidiu que o gênero mulher não teria autonomia nas suas escolhas, ela sempre era escolhida e jamais decidia pelo homem dos seus sonhos. O patriarca escolhia, muitas vezes, visando o seu próprio interesse em aumentar o patrimônio ignorando completamente os desejos e sonhos das suas filhas. Inclusive, até a pouco tempo, a mulher solteira era muito mal vista, tipo, ninguém quer se casar com ela como se tivesse algum defeito. Será que este modelo quase que paternalista é uma receita infalível? Nunca lemos na bíblia sobre crises, mas, há um provérbio de Salomão que reflete uma crise conjugal. Leia o texto de Provérbios 21:9 “Melhor é morar no canto do telhado, do que com a mulher de contendas numa casa espaçosa”. Salomão era muito rico e morava num palácio, com certeza se inspirou numa situação que deve ter acontecido com ele e considerou renunciar ao seu conforto em troca de um pouco de paz.

A crise conjugal existia, tanto é que Deus estabeleceu o divórcio consciencioso que era algo que Deus odiava (Mateus 2:16 e Malaquias 2:16). Que eu saiba, o divórcio é uma medida drástica diante de uma crise insolúvel no relacionamento que, aparentemente, nem Deus conseguia encontrar uma solução de consenso do casal para prosseguir no convívio conjugal. Conforme o texto bíblico, ainda nos tempos de Moisés, o divórcio foi estabelecido por causa da dureza do coração (Mateus 9:18) do ser humano em relação ao adultério. Aparentemente, parece que o único problema e o real motivo identificado no relacionamento conjugal que justificasse o divórcio era somente o adultério. O divórcio era apenas uma decisão emergencial para resolver um problema. Quem disse que Deus não faz concessão? No Novo Testamento, esta concessão foi atestada quando tem uma recomendação de Paulo sobre o divórcio e não era um mandamento de Deus: “Porém, se o marido não cristão ou a esposa não cristã quiser o divórcio, então que se divorcie. Nesses casos o marido cristão ou a esposa cristã está livre para fazer como quiser, pois Deus chamou vocês para viverem em paz” (I Coríntios 7:15). Esta é uma concessão de Deus ainda alusiva a dureza do coração do ser humano porque o conflito conjugal acabava destruindo também a vida espiritual. Inclusive, uma das recomendações de Paulo muito controversa foi em questão a permanecer solteiro para cuidar das coisas de Deus "O que é solteiro, cuida das coisas do Senhor, de como agrade ao Senhor; mas aquele que está casado, cuida das coisas do mundo, de como agrade a sua mulher” (I Coríntios 7:32,33). Observe que no episódio da concessão de Deus sobre o divórcio, o motivo não foi relatado se era pelo adultério do marido ou da mulher. Mesmo no Novo Testamento, se a submissão da mulher era absoluta, podemos imaginar que o adultério era praticado somente pelo homem e nunca pela mulher. É um equívoco julgar desta forma, pois, como a mulher no relacionamento era quase uma coadjuvante, porque não se relacionava nem socialmente com alguém fora do núcleo familiar, considerando também que era vergonhoso uma mulher conversar, principalmente, com um homem fora do seu domicílio, o comportamento dos homens é que ficava em evidência e o comportamento das mulheres, na sua maioria, foi ocultado nos relatos bíblicos. Pode ser que a maioria dos casos de adultério fosse praticada pelos seus maridos porque, é óbvio, o marido cuidava de assuntos externos da casa e tinha atividades fora do contexto da família e, de alguma forma, se relacionava com outras pessoas e no seu caminho, com certeza, havia mulheres. Devemos considerar também (isto é apenas uma especulação para explorar o contexto) de que a mulher ficava só em casa e, muitas vezes, por vários dias sem o carinho e o afeto de um homem. Interessante é que existe um texto que demonstrava a cultura machista daquele contexto social e que se encontra em Deuteronômio e fala exatamente sobre o divórcio e diz que se o homem “enjoar” da sua mulher que deixe ela livre concedendo-lhe a carta de divórcio. Leia o texto: “Moisés disse ao povo: - Pode acontecer que um homem case, mas depois de algum tempo não goste mais da esposa porque há nela alguma coisa que não agrada a ele. Nesse caso ele deve preparar um documento de divórcio, entregá-lo à esposa e mandá-la embora” (Deuteronômio 24:1). Imagine naquela época uma mulher descasada que não trabalhava para o seu próprio sustento e que tenha sido mandada embora pelo marido naquele contexto cultural e social como seria vista pelos outros? Diria que é uma decisão insana. Isto não significa que Deus determinou que acontecesse desta forma. Após a queda pelo pecado, houve uma desconfiguração da ética, da moral e da concepção social e algumas outras coisas o próprio ser humano é quem determinava sem se caracterizar como mandamento de Deus.

Quando se chega ao Novo Testamento, percebe-se que a entidade do casamento já está um pouco mais bem estabelecida e, de certa forma, também resolvida na questão da poligamia que era permitida no Antigo Testamento. Há de convir de que isto já aliviou consideravelmente a carga de responsabilidade do marido no relacionamento conjugal. Vamos apenas observar onde aconteceu o primeiro milagre de Jesus que foi exatamente numa festa de casamento quando transformou água em vinho da melhor qualidade "...e foi também Jesus convidado ao casamento com seus discípulos" (verso 2). Um detalhe importante é que as talhas de água disponíveis na festa eram para os judeus se lavarem e não era para saciar a sede ou algo do tipo, "Ora estavam ali colocadas seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as purificações..." (verso 6). Leia o texto completo deste evento sobre o milagre em João 2:1 a 11.

Desde esta época milenar, ainda se busca uma receita infalível e, talvez, o maior erro seja acreditar que exista e muitos que estão envolvidos profissionalmente com este problema conjugal e que buscam através de pesquisas e estudos didáticos métodos solúveis e tenham visibilidade nas redes sociais, dizem que possuem esta receita infalível e ganham muito dinheiro com isto. Há também pastores fazendo propaganda do seu próprio casamento como quem diz que do jeito que fez deu tudo certo. Particularmente julgo excessivamente presunçoso este tipo de exposição da própria relação conjugal e cada um deve usufruir do seu relacionamento com discrição. Nunca vi algum líder religioso vir à público e assumir que o seu casamento foi um fracasso. Olha que conheço muitos que, não diria que fracassaram, pois, seria um julgamento prévio de quem está de fora, mas, não foram felizes no seu casamento. O casamento enquanto está no nível do romantismo, é tudo lindo e maravilhoso. Para não ser injusto, ainda existem casais com mais de três décadas de compromisso conjugal, o que é um tempo razoável de maturidade e ainda se amam e até sentem prazer no sexo consensual quando não se faz por obrigação do matrimônio. Se tudo girasse somente em torno do romantismo do primeiro amor e do prazer do sexo, muitos traumas e choros seriam evitados e os conflitos fáceis de se resolver. O problema é que o romantismo acaba e o interesse pelo sexo se desgasta. É possível o romantismo não acabar, o problema é que não depende somente de um.

Para simplificar um pouco este assunto, existem apenas dois tipos de grupos de casais no contexto daqueles que permanecem no relacionamento conjugal. Os dois grupos são, daqueles que vivem o casamento e o outro é daqueles que sobrevivem no casamento. Não existe uma terceira via opcional. O primeiro grupo de casais desejam permanecer casados e se esforçam para que os desencantos do casamento passem à margem da vida conjugal. Os pensamentos, os objetivos, os desejos, os planos e todas as ações visam incluir o cônjuge, tipo, parceria mesmo. Já no caso daquele grupo dos casais que sobrevivem no casamento, geralmente um dos lados se torna individualista, consequentemente o outro lado também procura suas razões para não investir no relacionamento. Logicamente que o interesse vai mudando o formato e até os personagens. Alguns permanecem casados, mas, são apenas sobreviventes de um caos previsível. Pense comigo, no primeiro grupo, geralmente cria-se vínculos quando há um tempo razoável de convivência e a saudade da pessoa com quem se conviveu vai ocupando espaço na mente e no coração e vivem o casamento. No segundo grupo, muitas vezes acontece ao contrário, o tempo de convivência desgasta o vínculo. As duas indagações a seguir têm o mesmo peso, por que o encanto do casamento acaba e porque noutros casamentos não acaba?

Vamos expor alguns pontos óbvios de comportamento. O casamento é aquela relação em que a sinceridade e a sabedoria têm de andar de mãos dadas. Nem sempre a sinceridade é necessária. Já, a sabedoria é sempre necessária. Dependendo da situação, ser tardio em falar e reagir é um ponto positivo e demonstra sabedoria. Porque o convívio gera atritos provocados pela proximidade de contato que é inevitável e pode não ser o momento em ser proativo. Algo que precisa estar atento é com o acúmulo de emoções que não é um “privilégio” de uma vida a dois, mesmo vivendo sozinho é algo natural e que precisa ser diluída de alguma forma. Neste caso, não reagir e permanecer em silêncio irá gerar energias emocionais nocivas que poderão controlar e afogar o prazer da vida a dois. Em muitas situações, a sinceridade pode ser um caminho importante, porém, é preciso sabedoria para colocar na mesa os questionamentos no momento certo. Qual é o momento certo? Neste caso, os dois devem estar abertos para ouvir e assimilar, caso seja pertinente, afinal, o objetivo é construir uma estrutura capaz de suportar as adversidades conjugais. Quanto mais próximos, mais haverá contatos, atritos e confrontos emocionais e a discussão sadia diluirá todo o mal-estar ou mal-entendido. Mesmo havendo uma atitude impensada, o que deve ser considerado é o que já foi construído e o potencial de conquistas futuras. Sempre se deve ter em mente de que o passado gerou a confiança e o futuro, a esperança.

Isto que falei são apenas palavras e teorias que, por mais que sejam apresentadas e discutidas as suas análises à exaustão, ainda assim, não se conseguirá chegar a um delimitador (e não denominador) comum onde quem ultrapassar este limite, não será bem-sucedido no casamento. Este delimitador é regrado pelo compromisso matrimonial assumido. Quando se ultrapassa os limites estabelecidos, as paredes da ética e do respeito que protegem a relação começam a ruir. Na menor fissura, ventos de maus conselhos penetram na intimidade do casal que é um lugar exclusivo da vida a dois. De antemão digo que jamais se deve permitir que uma terceira pessoa ocupe este espaço indevidamente, pois, roubará literalmente a elegância, o charme e o respeito do casal. No decorrer da crise, a tendência é reagir sem pensar expondo o que esteja acontecendo no relacionamento quando se sente que está perdendo o controle, porque o objetivo é fugir da parcela de culpa e sobrecarregar o outro com toda a culpa pelo insucesso. Independentemente de quem seja a culpa e nem os motivos por mais justificáveis que sejam, não interessa a ninguém o que esteja acontecendo na vida conjugal, exceto em casos de violação da integridade física ou psicológica quando precisará de ajuda externa. Mesmo assim, é preciso ponderar a decisão de incluir alguém de extrema confiança. Infelizmente, a crise acontece também nos bons casamentos e muitas sementes de amargura são plantadas que geram frutos podres que relacionei abaixo:


OS DESENCANTOS

Frustração é o sonho não ser realizado

Decepção é o parceiro (a) não ter correspondido

Tristeza é a consequência de um ambiente que se tornou desconfortável e que não tem mais alegria

Mágoa são provocadas por palavras e atitudes inadequadas

Medo é um sentimento de violação da preservação física e emocional

Trauma são os sentimentos acumulados que ocupam a mente e roubam a paz

Fobia é o medo de tentar e a certeza em não conseguir

Insegurança é a falta de confiança para recomeçar

Ansiedade é o ímpeto fora do eixo que fragiliza as emoções

Depressão é martirizar a si mesmo

A vida a dois não é somente flores, mas, também, não é somente espinhos. Não gostaria de concluir esta simples reflexão sobre um assunto inconclusivo com uma perspectiva pessimista. Abaixo segue os encantos da vida a dois que nunca se deve desistir de ser feliz mesmo que os obstáculos aparentemente sejam intransponíveis.

 

OS DEZ ENCANTOS

Alegria são centelhas de intenso prazer que constroem a felicidade

Prazer é o conforto em tudo o que envolve o contexto do lar

Realização é aquele sentimento de missão cumprida e ter acertado na decisão

Segurança é sentir que nada pode abalar a estrutura quando o parceiro(a) transmite confiança

Coragem é enfrentar as dificuldades que sempre aparecem

Otimismo é acreditar que, mesmo com um passado difícil, existe futuro no relacionamento

Êxtase é uma reação ao otimismo que deve ser preservado

Orgasmo é aquele prazer que é geralmente pelo estímulo físico e que, no ápice do sexo, se percebe no abraço que é alguém que faz sentido na vida a dois

Desejo é uma vontade contínua de sempre ser próximo(a) da pessoa amada e tudo o que ela representa

Esperança é sempre ter a certeza e a incessante busca de que vai acontecer da forma que desejou

terça-feira, 2 de maio de 2023

ORAÇÃO, CONEXÃO E REDE SOCIAL

Venancio Junior

“Quem não se comunica se estrumbica” já dizia o ditado popular demonstrando que a comunicação é explicitamente fundamental para que haja sobrevida no processo. Os profissionais de marketing também diziam que “a propaganda é a alma do negócio” numa referência de que a transmissão da mensagem é essencial na exposição do produto de uma empresa.

O mundo sempre se comunicou. Antigamente levava-se muito mais tempo para transmissor e receptor se comunicarem. Os meios eram os mais improváveis, por exemplo, uma pequena mensagem numa garrafa em alto-mar. Tudo o que se joga ao mar, volta à praia e, no caso da mensagem na garrafa, não tinha exatamente um destinatário específico, mas, precisava que alguém lesse e compreendesse a mensagem. Geralmente era um pedido de socorro ou alguma curiosidade sem qualquer importância e o tempo de recepção era uma incógnita, muitas vezes, levava centenas de anos para receber a mensagem. Certa vez nos anos 1800, um navio alemão utilizou deste tipo de recurso e lançou ao mar uma mensagem com detalhes técnicos e quem recebesse, deveria entregar preferencialmente num consulado alemão. O mar era a conexão que permitiu esta comunicação.

O mundo evoluiu e na comunicação houve um avanço muito rápido porque agora o planeta está conectado. Isto não significa que haja comunicação. Comunicação e conexão são partes de um mesmo processo, porém, não são sinônimos entre si e possuem funções diferentes. Sem a conexão, a comunicação não existe e sem a comunicação, a conexão perde o seu significado.

A primeira conexão remota foi o telégrafo em 1899. O rádio (que na verdade é uma onda) veio somente em 1923 e a comunicação via satélite aconteceu em 1962 numa transmissão televisiva entre Europa e EUA através do satélite Telstar 1 e a evolução mais recente foi a internet através de servidores e fibras óticas que revolucionou totalmente a forma de se comunicar.

Diante de tantos recursos de comunicação, alguns ainda permanecem e, talvez, o rádio jamais deixe de existir, pois, é o único meio de comunicação de alcance continental remoto no distante interior e que precisa somente de um simples aparelho receptor. Atualmente a forma mais usual de comunicação é através do celular ou do computador. O aparelho de televisão, por ser antigo e para continuar "vivo", teve de se reinventar e incluir recursos de acesso à internet e atualmente rouba a atenção e o tempo que no começo desta revolução digital, os computadores dominavam soberanamente.

A cada ano as pessoas passam muito tempo conectadas absorvendo todo tipo de mensagem. Mas, a comunicação não é feita somente pela visão, audição e tato que são os principais sentidos utilizados nestes aparelhos. O olfato e o paladar também são recursos de comunicação que mantem a conexão com os demais sentidos. Porém, ainda não inventaram o cheiro e o gosto dos conteúdos digitais.

Hoje vivemos num mundo conectado que viabiliza a comunicação através de programas específicos desenvolvidos para cada finalidade. Mesmo com toda esta ampla conexão digital, isto não significa que a comunicação seja uma “terra sem lei”. Existe uma regulação legal para que a privacidade das pessoas não seja violada. Apesar de que as grandes empresas têm aplicativos que forjam uma comunicação, mas, neste caso, é algo automático. Ninguém é obrigado a receber as informações de um robô. Tem opções de qual tipo de conteúdo se queira receber e consumir. Quando se consome algo que foi propagandeado, é porque a comunicação se consumou através do processo de transmissão e recepção. Sem a recepção da mensagem, não há comunicação porque é possível optar por um prévio cancelamento. Nas redes sociais é possível cancelar mensagens indevidas. Mesmo conectados, não haverá comunicação se não houver a recepção. Quantas mensagens são enviadas pelas redes sociais e computadores e se decide não as receber? A mensagem foi enviada porque há a conexão, porém, a comunicação não aconteceu porque não houve a recepção da mensagem. É possível interromper definitivamente esta comunicação deletando a mensagem sem saber do seu conteúdo. As pessoas nunca se comunicaram tanto e a maioria das informações é inútil. Ficar trinta dias sem comunicação nas redes sociais, acredite, não haverá mudança significativa na vida. Com exceção daqueles, cujo trabalho depende da comunicação na web e nas redes socais e o objetivo é levar a informação dos produtos e serviços até o usuário final. Para a área de marketing, o sistema de comunicação atual facilitou muito o acesso às pessoas. Mas, a criatividade ainda é necessária para chamar a atenção e gerar a comunicação. Tanto no caso das propagandas, como na web e redes sociais, a comunicação tem o propósito de fazer sentido às conexões. A conexão é apenas o meio de interligação e haverá comunicação se a transmissão chegar até a recepção.

O termo conexão está muito associado ao mundo digital. Nos relacionamentos humanos, é preciso também que haja conexão para que a comunicação aconteça. Infelizmente, conheço pessoas que ficaram anos sem se comunicarem com seus familiares mesmo tendo a conexão consanguínea. A conexão familiar, social ou profissional, não implica que se tenha obrigatoriamente a comunicação que pode não existir mais, exatamente pela falta de recepção. Por algum motivo, as pessoas não querem ser mais receptivas com alguém que não tenha mais interesse em manter a comunicação. Os motivos são diversos, quanto mais próximo a pessoa do núcleo familiar ou social, maior é a fissura emocional causada por uma mágoa, uma palavra mal colocada ou uma atitude inapropriada. Uma casa e uma família só usufruem do contexto do lar se houver comunicação. Os laços familiares e a própria casa são a conexão que viabiliza a comunicação, mas, se não houver a predisposição para se comunicar, o relacionamento ficará à mingua. No relacionamento pessoal, se preocupar e saber das condições e dificuldades um do outro é fundamental na comunicação e, para isto, é preciso que haja transmissão e recepção. Os casais têm dificuldade em manter o relacionamento, talvez, porque não haja mais comunicação no ambiente da casa e nem na cama no relacionamento sexual que, muitas vezes não seja a comunicação necessária para a solidificação do relacionamento. Noutros casos, alguns dizem que o sexo “não rola” porque não há mais conexão. Eu acredito que a conexão exista. O que não existe mais é a comunicação que é o campo onde acontece a relação. O casamento e até mesmo os filhos é a conexão, porém, não mais se comunicam e perderam o interesse em se comunicar. Num contexto mais drástico, um casal se separa porque somente no campo da comunicação é possível compreender (ou não) e decidir sobre o futuro do relacionamento. Se tem filhos, então, mesmo separados, a conexão irá continuar por causa dos filhos, porém, isto não significa que continuará tendo comunicação. Um detalhe importante, caso decidam manter o relacionamento, a comunicação exige desprendimento como única postura de se estar disponível sempre. Cada pessoa deve buscar, a princípio, suprir a necessidade um do outro e desenvolver o peculiar procedimento ideal que o relacionamento esteja precisando.

No âmbito profissional de uma empresa, a comunicação é fundamental. Mesmo tendo a conexão corporativa através do contrato de trabalho, os funcionários podem perder a comunicação com os colegas, pois, não se entendendo e não mais reconhecendo o valor do trabalho do outro, perdem a oportunidade da valorização mútua. Isto infringe diretamente no relacionamento com os clientes, pois, perde-se a comunicação e não tendo o que e como oferecer o produto e os serviços, caminhará a passos largos rumo a desestruturação corporativa. Esta instabilidade pode diluir a capacidade em se manter ou resgatar a comunicação com os avanços tecnológicos. Para se recompor, os profissionais de psicologia e de marketing serão os mais exigidos para redefinir o ambiente de trabalho e de criatividade, pois, precisarão conquistar a atenção, consequentemente, a confiança dos funcionários e dos clientes. Nesta situação, a violação da comunicação foi o principal entrave nas relações humanas e na produtividade. Mesmo estando conectado, quem não se comunica, simplesmente, morre e é esquecido cada um dentro do seu próprio contexto, o funcionário dentro da empresa e a empresa dentro do mercado. O fato de estar conectado não significa que esteja se comunicando. Para se comunicar é preciso se dispor a isto e utilizar os meios adequados. A relação da alta administração com os funcionários e da empresa com os clientes deve ser a mais estreita possível para que a conexão não caia no fosso do isolamento, pois, diretoria, funcionários e clientes devem estar no mesmo nível de comunicação.

E na vida espiritual? Muitos dizem que é preciso ter conexão com Deus para que se tenha uma vida espiritual abundante. Afirmo que ter somente a conexão com Deus, nada significa. Conexão é a via onde acontece a comunicação. Como é possível se manter conectado a Deus e não se comunicar? É plenamente possível. Um grande exemplo é a religião que mantém a conexão com Deus, pois, na religião se fala de Deus, aprende as coisas de Deus, mas, sem se comunicar com Deus através da oração, esta conexão será inútil. Uma pessoa devota é alguém conectada através das suas práticas religiosas, porém, se não tiver a prática da oração, não haverá comunicação com Deus. Pode estar envolvida em inúmeras atividades, porém, sem a oração, não haverá comunicação e suas atividades será apenas um ativismo infrutífero. A oração é a comunicação que ratifica a conexão e se mantém vivo diante de Deus. Sem esta comunicação através da oração, a pessoa será apenas religiosa fazendo a vontade da religião e jamais a vontade de Deus.

Existe, sim, a má utilização da comunicação. Além da política pública, o mundo evangélico é o que também sofre por causa daqueles que se comunicam de acordo com as propostas duvidosas de uma parte da liderança que, se utilizando da força da comunicação, engana e transmite um evangelho falso e distorcido. Muitas igrejas não vivem a comunhão, pois, se tornaram um aglomerado de pessoas que não conseguem se comunicar com Deus porque, neste caso, não perderam a conexão, mas, perderam a prática da oração que é a única forma de se comunicar com Deus, devido a isto, não são ouvidas. O que interessa para este tipo de liderança não são as pessoas se comunicarem com Deus, mas, é as pessoas receberem a mensagem distorcida que atenda aos seus interesses pessoais. Neste caso também, a comunicação pode ser utilizada para fins escusos que não construa conexões que contemplem a todos e muito menos que promova os valores do Reino de Deus. Tanto os maus políticos como os falsos pastores, se utilizam da comunicação da utopia para manter a conexão com as pessoas porque precisa delas nesta condição para se manterem no poder.

Nesta questão da espiritualidade, onde foi mesmo que começou e se perdeu a conexão e a consequente comunicação com Deus? Foi exatamente isto o que aconteceu no jardim do Éden. Além de ter perdido a conexão com o criador (Romanos 3:23), a comunicação cessou e a morte espiritual e física tornaram-se reais. Antes da queda, o ambiente era de absoluta conexão e Deus se comunicava diariamente com a sua criatura andando pelo jardim. Quando se fala em criatura, devemos considerar absolutamente toda a existência vegetal, animal e mineral. Tudo passou a apodrecer e morrer. O pecado é algo avassalador. Perdendo a comunicação com Deus através da oração, a vida também sofrerá as consequências do pecado. Não adianta se manter conectado através da religião e de suas práticas religiosas, é preciso intimidade com Deus e quanto mais próximo de Deus, mais se estará espiritualmente fortalecido e a oração é a única forma de se manter esta comunicação onde cada um individualmente transmite a sua condição à Deus que prontamente recebe, mas, saiba que a resposta da oração segue em conformidade com a sua soberana vontade. Sem a conexão com Deus, perde-se completamente a chance de um resgate e o inferno é o destino certo e sem a comunicação através da oração, não há fortalecimento.

Jesus foi aquele que restaurou a conexão com Deus e possibilitou que a humanidade fosse reconduzida à sua presença novamente. Mesmo não sendo salvo, aqueles que ainda não se renderam, também possuem a conexão com Deus propiciada por Jesus. Um exemplo de conexão e comunicação está contido no texto de Romanos 10:17 “...a fé vem pelo ouvir” e 15 “...e como ouvirão se não há quem pregue?”. E o exemplo de reconexão quando Jesus disse: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16:15) como quem diz, “vão e falem que a conexão foi reestabelecida e agora é possível falar com Deus novamente”. Jesus é a própria conexão com Deus conforme o texto de I Timóteo 2:5 "Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem". A pessoa só consegue ouvir o evangelho e se render porque ainda existe esta conexão com Deus. Jesus foi alguém que se utilizou muito da comunicação e se comunicava constantemente com Deus. Inclusive, quando estava na cruz, se comunicou com Deus e até afirmou que se não houvesse outro jeito, que não se fizesse a vontade dele, mas, a do Pai (Lucas 22:42) e tudo foi “reconectado” (João 19:30). Jesus se comunicou com Deus e, contrariamente ao que se supõe, o silêncio de Deus pode ser também uma resposta.

A desconexão mundial da internet pode até gerar um caos momentâneo, mas, na questão da salvação, após a morte ou o arrebatamento, a conexão com Deus será interrompida e não haverá mais qualquer possibilidade de restauração da vida eterna.