Venancio Junior
“Após algum tempo de relacionamento, o que resta é um suportar o outro”
Qual a sua situação atual para aplicar adequadamente a frase acima no seu relacionamento? Este
é um assunto que não se esgota com meia dúzia de palavras e nem com um milhão
de conselhos por mais oportunos que sejam, pois, trata-se de desvendar os
impenetráveis corações e mentes humanos. Por incrível que pareça, muitos
casamentos não deram certo e não é porque um dos dois é uma pessoa má,
simplesmente, não conseguiram reagir corretamente ou não reagiram e somente
esperaram acontecer e acontece o pior.
Muitos
casais frustrados afirmam e até existem pesquisas que, de certa forma,
comprovam que o casamento é uma entidade falida. Do ponto de vista de que basta
casar-se para ser feliz, então, tanto a pesquisa como também, as afirmações,
estão corretas. Mesmo tendo a certeza de que o casamento faliu, as pessoas
ainda continuam se casando e nunca deixam de se casar até mais de uma vez,
sempre na esperança de que agora vai dar certo. Não deu certo!? Casam-se
novamente e após diversas “tentativas”, um novo relacionamento reacende
a esperança e o destino geralmente é o altar até que se acerte ou não e desistir
de um novo casamento é apenas um desafio.
Felicidade
no casamento e, numa eventual crise, resolver o conflito não depende unicamente
de bons conselhos em que há muitos e até ajudam, como ajuda também a psicologia
dedicada exclusivamente a este "problema" com a terapia de
casal e existem até pastores e padres que, mesmo não tendo a experiência de uma
vida a dois, tem a teoria dos estudos e se tornam especialistas em conflitos
conjugais. Incluo os líderes eclesiásticos porque o casamento conforme os
relatos históricos mais antigos, tem princípio na doutrina da religião de Deus
ainda no Gênesis. Para quem crê na teoria criacionista, o relacionamento entre
homem e mulher foi estabelecido desde a criação da humanidade, “...macho e
fêmea os criou” (Gênesis 1:27). Perceba que ainda não havia Adão que,
juntamente com Eva, foram criados absolutamente iguais nos direitos e nas
responsabilidades e diferentes no aspecto, porém, eles não se casaram como se
tornou um costume posterior a esta época. Mesmo para aqueles que não acreditam
nesta teoria da criação e são adeptos da teoria da evolução, se casam e a
cerimônia segue o mesmo padrão cristão com o compromisso legal e não poderia
faltar a festa das bodas de casamento. Nos tempos bíblicos, especificamente no
Antigo Testamento, haviam os acordos matrimoniais e em alguns aconteciam as festas, mas, ainda não
existia a denominação como casamento o que veio a ser mencionado somente no
Novo Testamento também como bodas. Tudo era meio que arranjado e as mulheres
não tinham autonomia para escolher com quem gostariam de conviver e,
aparentemente, parece que dava certo, pois, não há nenhuma reclamação
matrimonial do cônjuge. Isto não significa que não havia problemas conjugais e,
provavelmente, havia no subconsciente de algumas mulheres o questionamento
sobre o método de escolha do marido que envolvia, muitas vezes, interesses
patrimoniais. A submissão da mulher era culturalmente tão profunda que a
autonomia era um termo impensável. Lembro que a submissão da mulher é somente em relação ao marido e Deus nunca determinou que a mulher propriamente dita fosse submissa ao homem. A submissão não é um tipo de imposição, mas, de respeito que nunca deve ser por mérito. De fato, o homem se apropriou indevidamente e distorceu o mandamento de Deus e decidiu que o gênero mulher não teria
autonomia nas suas escolhas, ela sempre era escolhida e jamais decidia pelo homem dos seus sonhos. O patriarca escolhia, muitas vezes, visando o seu próprio
interesse em aumentar o patrimônio ignorando completamente os desejos e sonhos
das suas filhas. Inclusive, até a pouco tempo, a mulher solteira era muito mal
vista, tipo, ninguém quer se casar com ela como se tivesse algum defeito. Será
que este modelo quase que paternalista é uma receita infalível? Nunca lemos na
bíblia sobre crises, mas, há um provérbio de Salomão que reflete uma crise conjugal.
Leia o texto de Provérbios 21:9 “Melhor é morar no canto do telhado, do que
com a mulher de contendas numa casa espaçosa”. Salomão era muito rico e
morava num palácio, com certeza se inspirou numa situação que deve ter
acontecido com ele e considerou renunciar ao seu conforto em troca de um pouco
de paz.
A
crise conjugal existia, tanto é que Deus estabeleceu o divórcio consciencioso
que era algo que Deus odiava (Mateus 2:16 e Malaquias 2:16). Que eu saiba, o
divórcio é uma medida drástica diante de uma crise insolúvel no relacionamento
que, aparentemente, nem Deus conseguia encontrar uma solução de consenso do
casal para prosseguir no convívio conjugal. Conforme o texto bíblico, ainda nos
tempos de Moisés, o divórcio foi estabelecido por causa da dureza do coração (Mateus
9:18) do ser humano em relação ao adultério. Aparentemente, parece que o único
problema e o real motivo identificado no relacionamento conjugal que
justificasse o divórcio era somente o adultério. O divórcio era apenas uma decisão
emergencial para resolver um problema. Quem disse que Deus não faz concessão? No
Novo Testamento, esta concessão foi atestada quando tem uma recomendação de
Paulo sobre o divórcio e não era um mandamento de Deus: “Porém, se o marido
não cristão ou a esposa não cristã quiser o divórcio, então que se divorcie.
Nesses casos o marido cristão ou a esposa cristã está livre para fazer como
quiser, pois Deus chamou vocês para viverem em paz” (I Coríntios 7:15). Esta
é uma concessão de Deus ainda alusiva a dureza do coração do ser humano porque
o conflito conjugal acabava destruindo também a vida espiritual. Inclusive, uma
das recomendações de Paulo muito controversa foi em questão a permanecer
solteiro para cuidar das coisas de Deus "O que é solteiro, cuida das
coisas do Senhor, de como agrade ao Senhor; mas aquele que está casado, cuida
das coisas do mundo, de como agrade a sua mulher” (I Coríntios 7:32,33). Observe
que no episódio da concessão de Deus sobre o divórcio, o motivo não foi
relatado se era pelo adultério do marido ou da mulher. Mesmo no Novo
Testamento, se a submissão da mulher era absoluta, podemos imaginar que o
adultério era praticado somente pelo homem e nunca pela mulher. É um equívoco
julgar desta forma, pois, como a mulher no relacionamento era quase uma
coadjuvante, porque não se relacionava nem socialmente com alguém fora do
núcleo familiar, considerando também que era vergonhoso uma mulher conversar,
principalmente, com um homem fora do seu domicílio, o comportamento dos homens
é que ficava em evidência e o comportamento das mulheres, na sua maioria,
foi ocultado nos relatos bíblicos. Pode ser que a maioria dos casos de
adultério fosse praticada pelos seus maridos porque, é óbvio, o marido cuidava
de assuntos externos da casa e tinha atividades fora do contexto da família e,
de alguma forma, se relacionava com outras pessoas e no seu caminho, com
certeza, havia mulheres. Devemos considerar também (isto é apenas uma
especulação para explorar o contexto) de que a mulher ficava só em casa e,
muitas vezes, por vários dias sem o carinho e o afeto de um homem. Interessante
é que existe um texto que demonstrava a cultura machista daquele contexto
social e que se encontra em Deuteronômio e fala exatamente sobre o divórcio e
diz que se o homem “enjoar” da sua mulher que deixe ela livre concedendo-lhe
a carta de divórcio. Leia o texto: “Moisés disse ao povo: - Pode acontecer
que um homem case, mas depois de algum tempo não goste mais da esposa porque há
nela alguma coisa que não agrada a ele. Nesse caso ele deve preparar um
documento de divórcio, entregá-lo à esposa e mandá-la embora” (Deuteronômio
24:1). Imagine naquela época uma mulher descasada que não trabalhava para o seu próprio sustento e que tenha sido mandada embora pelo marido naquele contexto cultural e social como seria vista pelos outros? Diria que é uma decisão insana. Isto não significa que Deus determinou que acontecesse desta forma.
Após a queda pelo pecado, houve uma desconfiguração da ética, da moral e da concepção social e algumas outras coisas o próprio ser humano é quem determinava sem se caracterizar como
mandamento de Deus.
Quando
se chega ao Novo Testamento, percebe-se que a entidade do casamento já está um
pouco mais bem estabelecida e, de certa forma, também resolvida na questão da
poligamia que era permitida no Antigo Testamento. Há de convir de que isto já aliviou consideravelmente a carga de responsabilidade do marido no relacionamento conjugal. Vamos apenas observar onde aconteceu o
primeiro milagre de Jesus que foi exatamente numa festa de casamento quando
transformou água em vinho da melhor qualidade "...e foi também Jesus
convidado ao casamento com seus discípulos" (verso 2). Um detalhe
importante é que as talhas de água disponíveis na festa eram para os judeus se
lavarem e não era para saciar a sede ou algo do tipo, "Ora estavam ali
colocadas seis talhas de pedra, que os judeus usavam para as
purificações..." (verso 6). Leia o texto completo deste evento sobre o
milagre em João 2:1 a 11.
Desde
esta época milenar, ainda se busca uma receita infalível e, talvez, o maior
erro seja acreditar que exista e muitos que estão envolvidos profissionalmente
com este problema conjugal e que buscam através de pesquisas e estudos
didáticos métodos solúveis e tenham visibilidade nas redes sociais, dizem que
possuem esta receita infalível e ganham muito dinheiro com isto. Há também pastores
fazendo propaganda do seu próprio casamento como quem diz que do jeito que fez
deu tudo certo. Particularmente julgo excessivamente presunçoso este tipo de
exposição da própria relação conjugal e cada um deve usufruir do seu
relacionamento com discrição. Nunca vi algum líder religioso vir à público e
assumir que o seu casamento foi um fracasso. Olha que conheço muitos que, não
diria que fracassaram, pois, seria um julgamento prévio de quem está de fora,
mas, não foram felizes no seu casamento. O casamento enquanto está no nível do
romantismo, é tudo lindo e maravilhoso. Para não ser injusto, ainda existem
casais com mais de três décadas de compromisso conjugal, o que é um tempo
razoável de maturidade e ainda se amam e até sentem prazer no sexo consensual
quando não se faz por obrigação do matrimônio. Se tudo girasse somente em torno
do romantismo do primeiro amor e do prazer do sexo, muitos traumas e choros
seriam evitados e os conflitos fáceis de se resolver. O problema é que o
romantismo acaba e o interesse pelo sexo se desgasta. É possível o romantismo
não acabar, o problema é que não depende somente de um.
Para
simplificar um pouco este assunto, existem apenas dois tipos de grupos de
casais no contexto daqueles que permanecem no relacionamento conjugal. Os dois
grupos são, daqueles que vivem o casamento e o outro é daqueles que sobrevivem
no casamento. Não existe uma terceira via opcional. O primeiro grupo de casais
desejam permanecer casados e se esforçam para que os desencantos do casamento
passem à margem da vida conjugal. Os pensamentos, os objetivos, os desejos, os
planos e todas as ações visam incluir o cônjuge, tipo, parceria mesmo. Já no
caso daquele grupo dos casais que sobrevivem no casamento, geralmente um dos
lados se torna individualista, consequentemente o outro lado também procura
suas razões para não investir no relacionamento. Logicamente que o interesse
vai mudando o formato e até os personagens. Alguns permanecem casados, mas, são
apenas sobreviventes de um caos previsível. Pense comigo, no primeiro grupo, geralmente
cria-se vínculos quando há um tempo razoável de convivência e a saudade da
pessoa com quem se conviveu vai ocupando espaço na mente e no coração e vivem o
casamento. No segundo grupo, muitas vezes acontece ao contrário, o tempo de
convivência desgasta o vínculo. As duas indagações a seguir têm o mesmo peso, por que o
encanto do casamento acaba e porque noutros casamentos não acaba?
Vamos
expor alguns pontos óbvios de comportamento. O casamento é aquela relação em
que a sinceridade e a sabedoria têm de andar de mãos dadas. Nem sempre a
sinceridade é necessária. Já, a sabedoria é sempre necessária. Dependendo da
situação, ser tardio em falar e reagir é um ponto positivo e demonstra
sabedoria. Porque o convívio gera
atritos provocados pela proximidade de contato que é inevitável e pode não ser o
momento em ser proativo. Algo que precisa estar atento é com o acúmulo de
emoções que não é um “privilégio” de uma vida a dois, mesmo vivendo
sozinho é algo natural e que precisa ser diluída de alguma forma. Neste caso,
não reagir e permanecer em silêncio irá gerar energias emocionais nocivas que
poderão controlar e afogar o prazer da vida a dois. Em muitas situações, a
sinceridade pode ser um caminho importante, porém, é preciso sabedoria para
colocar na mesa os questionamentos no momento certo. Qual é o momento certo?
Neste caso, os dois devem estar abertos para ouvir e assimilar, caso seja
pertinente, afinal, o objetivo é construir uma estrutura capaz de suportar as
adversidades conjugais. Quanto mais próximos, mais haverá contatos, atritos e
confrontos emocionais e a discussão sadia diluirá todo o mal-estar ou mal-entendido.
Mesmo havendo uma atitude impensada, o que deve ser considerado é o que já foi construído
e o potencial de conquistas futuras. Sempre se deve ter em mente de que o
passado gerou a confiança e o futuro, a esperança.
Isto
que falei são apenas palavras e teorias que, por mais que sejam apresentadas e
discutidas as suas análises à exaustão, ainda assim, não se conseguirá chegar a
um delimitador (e não denominador) comum onde quem ultrapassar este limite, não
será bem-sucedido no casamento. Este delimitador é regrado pelo compromisso
matrimonial assumido. Quando se ultrapassa os limites estabelecidos, as paredes
da ética e do respeito que protegem a relação começam a ruir. Na menor fissura,
ventos de maus conselhos penetram na intimidade do casal que é um lugar
exclusivo da vida a dois. De antemão digo que jamais se deve permitir que uma
terceira pessoa ocupe este espaço indevidamente, pois, roubará literalmente a elegância, o charme e o respeito do casal. No decorrer da crise, a tendência é reagir sem pensar expondo o que esteja acontecendo no relacionamento quando se sente que está
perdendo o controle, porque o objetivo é fugir da parcela de culpa e sobrecarregar
o outro com toda a culpa pelo insucesso. Independentemente de quem seja a culpa
e nem os motivos por mais justificáveis que sejam, não interessa a ninguém o
que esteja acontecendo na vida conjugal, exceto em casos de violação da integridade
física ou psicológica quando precisará de ajuda externa. Mesmo assim, é preciso
ponderar a decisão de incluir alguém de extrema confiança. Infelizmente, a
crise acontece também nos bons casamentos e muitas sementes de amargura são
plantadas que geram frutos podres que relacionei abaixo:
OS
DESENCANTOS
Frustração
é o sonho não ser realizado
Decepção
é o parceiro (a) não ter correspondido
Tristeza
é a consequência de um ambiente que se tornou desconfortável e que não tem mais
alegria
Mágoa
são provocadas por palavras e atitudes inadequadas
Medo
é um sentimento de violação da preservação física e emocional
Trauma
são os sentimentos acumulados que ocupam a mente e roubam a paz
Fobia
é o medo de tentar e a certeza em não conseguir
Insegurança
é a falta de confiança para recomeçar
Ansiedade
é o ímpeto fora do eixo que fragiliza as emoções
Depressão
é martirizar a si mesmo
A
vida a dois não é somente flores, mas, também, não é somente espinhos. Não
gostaria de concluir esta simples reflexão sobre um assunto inconclusivo com uma
perspectiva pessimista. Abaixo segue os encantos da vida a dois que nunca se
deve desistir de ser feliz mesmo que os obstáculos aparentemente sejam
intransponíveis.
OS
DEZ ENCANTOS
Alegria são
centelhas de intenso prazer que constroem a felicidade
Prazer
é o conforto em tudo o que envolve o contexto do lar
Realização
é aquele sentimento de missão cumprida e ter acertado na decisão
Segurança
é sentir que nada pode abalar a estrutura quando o parceiro(a) transmite
confiança
Coragem
é enfrentar as dificuldades que sempre aparecem
Otimismo
é acreditar que, mesmo com um passado difícil, existe futuro no relacionamento
Êxtase
é uma reação ao otimismo que deve ser preservado
Orgasmo
é aquele prazer que é geralmente pelo estímulo físico e que, no ápice do sexo, se percebe no abraço que é alguém que faz sentido na vida a dois
Desejo
é uma vontade contínua de sempre ser próximo(a) da pessoa amada e tudo o que
ela representa
Esperança é sempre ter a certeza e a incessante busca de que vai acontecer da forma que desejou
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