segunda-feira, 13 de novembro de 2023

JESUS E AS MULHERES MARGINALIZADAS

Venancio Junior

Jesus sempre teve boa relação com as mulheres. Não no tipo de relacionamento que muitos deduzem e constroem uma narrativa própria para gerar impacto nas pessoas. Jesus sempre foi cordial, respeitoso até mesmo com mulheres que perderam a credibilidade na sociedade machista da época. Sempre estava atento às suas necessidades. Curou a hemorragia de uma que estava na multidão. Sendo judeu, conversou publicamente com uma samaritana sobre religião e expulsou demônios de Maria Madalena que, inclusive foi a primeira a saber pelo próprio Jesus que havia ressuscitado e foi logo avisar os apóstolos.

O contexto social das mulheres no tempo de Jesus era muito difícil, sendo quase sub-humano e serviçal dos homens. O patriarca trocava as filhas por bens numa relação conjugal de interesse. As mulheres eram destinadas exclusivamente para as tarefas domésticas.

Esta submissão da mulher é consequência de um tremendo mal-entendido bíblico. Muitos espertinhos se aproveitam disto e maltratam, não somente suas esposas, mas, as mulheres em geral desrespeitando e não dando o devido valor merecido. Os maiores e principais grupos de maus tratos às mulheres são os religiosos. As religiões mais antigas são as que mais submetem as mulheres a um sistema que radicalmente não permitem qualquer ação que as deixem em evidência.

Na bíblia não existe qualquer texto que afirme que a mulher é submissa ao homem. A submissão é no contexto conjugal, porém, um pertence ao outro em igualdade de condições. Vamos ao texto. Exatamente iguais: Gênesis 2:24 “...e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Submissão ao marido por causa do pecado. Gênesis 3:16 “...o teu desejo será para o teu marido, e ele a governará”. Em contrapartida, observe que o “castigo” do homem foi que deveria trabalhar para poder comer: Gênesis 3:17 “...em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”.

É fato que na lei judaica do pentateuco a mulher é subjugada e não tem qualquer papel definido no contexto da família, exceto o de cuidar dos filhos e da casa. Inclusive até na questão da crise conjugal em que se decide pelo divórcio, é o homem quem concede a carta de divórcio. A mulher fica livre para se unir a outro homem. Sem esta carta, ninguém aceitaria uma mulher que neste contexto é repudiada. Engraçado é que desde aquele tempo o homem que se unia a uma prostituta para se satisfazer não era mal-visto. Por outro lado, a mulher solteira que se unisse a muitos homens era considerada prostituta. Atualmente esta triste consideração ainda se mantem.

Estas definições em relação a vida conjugal que trouxeram para o relacionamento social entre homem e mulher foram ratificadas no antigo testamento e Jesus veio para reinterpretar a lei conforme a sua graça quando também redefiniu as atribuições conjugais do casal além da função da mulher na sociedade. No contexto conjugal um pertence ao outro em igualdade de condições e no contexto social homem e mulher tem os mesmos direitos e responsabilidades.

A grande questão após esta breve contextualização é o que será que motiva este comportamento extremamente reprovável de o homem em qualquer circunstância ainda se julgar superior e até mesmo proprietário da mulher? Mesmo sabendo que haverá consequências graves, porque hoje (deve-se considerar que a violência contra a mulher é crime) alguns homens ainda insistem em ter estas atitudes covardes? Será que a mulher assumindo um papel de protagonismo na relação fere o brio masculino? Será que o homem se torna menos homem se for, de certa forma, rejeitado? Será que se a mulher for a maior responsável pelas finanças da família o homem perde sua masculinidade? São questionamentos que não podem ser generalizados. O contexto de cada casal é diferente, principalmente porque as pessoas são diferentes. Independentemente dos motivos em que nenhum deles justifica a violência, não tenho outro adjetivo para classificar a violência contra a mulher senão a de covardia. Ultimamente estas atitudes covardes têm se intensificado e parece que as autoridades não reagem com a mesma intensidade para fazer frente a estas arbitrariedades cometidas por pessoas fracas e estúpidas.

Antigamente, antes da revolução feminina na década de 60, não se ouvia muito falar neste tipo de violência. Isto não significa que a humilhação e a violência contra as mulheres não aconteciam. Na verdade, as mulheres sofriam caladas porque todo o mundo masculino era contra elas. Por incrível que pareça, a frase “até calada está errada” era muito considerada e para os covardes, ainda está valendo. Conheço casos de algumas mulheres que preferiram se separar (quando possível) a se submeterem mais ainda a uma exposição vexatória de agressão.

Por incrível que pareça, no meio religioso onde os princípios da crença deveriam reger o comportamento de paz e harmonia mesmo em meio ao conflito, também tem acontecido estas atrocidades. Por que alguém decide dar vazão ao seu ímpeto violento? Conheço até pastores que descem do púlpito e descem o porrete na esposa e nos filhos. Falam de amor da boca para fora. Falta integridade que revele caráter elevado propagandeado nos púlpitos.

Contrariando o movimento feminista, ainda considero a mulher como o “sexo frágil”. A força da mulher não está no vigor físico ou nos músculos. Mesmo aquelas que praticam halterofilismo e lutas são frágeis em relação aos homens. A estrutura física feminina é diferente e não inferior ao masculino. O valor do homem e da mulher são iguais no caráter. A mulher deve ser admirada no respeito que ela impõe, na elegância que ela transmite e no charme que ela inspira. Perdendo estas qualidades por qualquer motivo, creio que jamais se reconquiste novamente. São valores da pessoa que pertencem tanto a mulher como também ao homem e devem ser preservados com muito rigor. Estes atributos não pertencem a terceiros e nem devem ser considerados como moeda de troca.

Quanto ao homem, alguns tem tido um comportamento reprovável e que merece todo o desprezo possível. Pensam que se impor como homem é através da violência como exercício de masculinidade. Admiro os homens de verdade que ainda praticam a gentileza em considerar a mulher como uma peça frágil de cristal em que o manuseio tem de ser com delicadeza. Não quis me referir a mulher como sendo um objeto, é apenas uma metáfora no sentido de materializar a fragilidade. Amar a mulher é se submeter a toda esta delicadeza com cuidado, proteção e respeito. O homem deve ter um caráter elevado mesmo que se sinta inferiorizado em algumas situações. Da mesma forma que a mulher, o respeito, a elegância e o charme, assim como também o corpo não devem ser moedas de troca e numa relação conjugal não pertence a si mesmo, mas, ao cônjuge para cuidar e amar. Estas características pertencem à pessoa e não ao gênero.

Violência física, agressão verbal e intimidação são práticas dos fracos e covardes que não conseguem se impor porque estão sempre num nível abaixo. Isto é um recado aos homens, mas, vale também para as mulheres.

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

NÃO ERA PARA SER ASSIM...

Venancio Junior

A música conhecida como louvor na maioria das igrejas cristãs tomou proporções gigantescas e ocupa o espaço da música quase na sua totalidade na liturgia dos cultos. Como tudo começou e o que aconteceu com a música sacra e os hinos tradicionais?

Vou falar do meu ponto de vista, considerando que praticamente a minha vida tem envolvimento com a música desde a forte influência da minha família até na participação em alguns grupos.

A música em si, creio que seja divinamente inspirada. Não tem como imaginar outra fonte de inspiração de algo que move a emoção e o sentimento além de trilhões de dólares pelo mundo. Independentemente do estilo, música é música e pessoalmente julgo que só existem dois estilos, a música boa e a música ruim.

Até os anos 60 a música cristã era diferente da “música do mundo” não somente nas letras, mas, também na melodia e nos arranjos. Esta era uma preocupação da liderança pastoral extremamente radical que não permitia que nos cultos tivessem músicas iguais as que se ouvia nas emissoras de rádio que, até a década anterior, os anos 50, os aparelhos de rádio eram proibidos nos lares evangélicos. Lembro de um triste episódio em que um pastor percebendo que seu filho estava ouvindo uma "música mundana num radinho à pilha", tomou-lhe o radinho e espatifou no chão. Se o objetivo era inibir o filho de ouvir estas músicas, esta atitude estúpida o afastou mais ainda dos seus objetivos em "convertê-lo". A música evangélica era distinta e objetiva e em hipótese alguma utilizava um linguajar que refletisse o mundo real que se vivia e o contexto abordado era somente a vida do porvir no céu, os valores do Reino de Deus e a vida na igreja.

No começo dos anos 70 a “música do mundo” começou a entrar na igreja. Não exatamente a mensagem, mas, o ritmo e os arranjos. Os compositores perceberam e começaram a questionar o porquê a música mundana era mais interessante que a tradicional música evangélica que basicamente tinha piano, órgão e violão como acompanhamento. A bateria e a guitarra eram considerados instrumentos do diabo e ainda era difícil desenvolver o mesmo acompanhamento dos hinos com estes instrumentos sem mudar a dinâmica da música. Vou citar apenas o nome de um destes grupos pioneiros, mas, graças a todos eles que hoje temos liberdade em ouvir produções com belos arranjos e letras compreensíveis que abordam o contexto da vida atual. Ainda nesta década, o Vencedores por Cristo ou simplesmente VPC se destacou quando teve duas fases que são considerados divisores de água na música evangélica brasileira. O grupo teve início no final dos anos 60 e gravou diversos LPs e na primeira metade da década seguinte nos anos 70, especificamente em 75, lançou o seu lendário álbum Louvor que foi uma febre nas igrejas. Porém, ainda não havia a cultura do louvor como forma de adoração através da música que atualmente domina a liturgia dominical, pois, os hinos e músicas sacras ainda eram os preferidos da igreja para entoar durante o culto em qualquer ocasião. Tudo era uma questão de tempo e na minha adolescência, como todos na época, estava encantado com esta nova roupagem musical e que falava de Deus. Logo em seguida, em 77, o VPC lançou o melhor álbum da música cristã brasileira de todos os tempos, o inigualável "De vento em popa". Até os dias atuais é insuperável, inclusive por eles mesmos. A princípio, por causa deste álbum, tive de repensar a minha maneira de ouvir a música cristã. Para mim estava perfeito, agora poderia curtir a "música mundana com letras evangélicas". Um álbum recheado de bossa nova tanto nos arranjos como também nas letras. O caminho sem volta estava aberto. Fui um daqueles que ousaram seguir por este caminho. Como naturalmente me envolvi com a mocidade da igreja, fui um dos incentivadores para introduzir o louvor na liturgia dos cultos. Na maioria das igrejas a resistência à este novo modismo (assim que muitos dos mais tradicionais chamavam o louvor) era muito grande e com muito esforço para derrubar as barreiras apoiado pela percepção de alguns pastores de que era uma forma de manter os jovens na igreja, o louvor aos poucos ocupava a cada ano o seu espaço até que avançou demais e caiu no gosto daquela geração que agora era madura e ditava os rumos da igreja. A partir daí, não precisava de muito esforço e longos discursos justificando esta nova era da música na igreja.

Interessante é que no início deste “modismo” os músicos eram bem limitados, porém, bastante criativos. Atualmente, parece que inverteram os papéis, os músicos são muito bons e em grande quantidade e pobres em criatividade seguindo a mesmice da cantoria popular nas igrejas. Isto é muito evidente nos cultos online e quase todo final de semana estou navegando pelos cultos e os louvores são exatamente iguais com raríssimas exceções de alguns que querem fazer algo diferente e com músicas diferentes. Já questionei alguns líderes de louvor e a resposta é a mesma, parece uma cartilha, “a igreja não gosta de cantar música diferente porque está acostumada com este tipo de música”. Existem dois grupos de louvores nas igrejas, um que canta as músicas que pertencem aos hits da moda e de autoria de alguns compositores contemporâneos e o outro que se mantém saudosista e cantam à exaustão e, sem exagero, as mesmas músicas de décadas atrás. Algumas destas melodias e harmonias são excessivamente pobres e junto com as letras sem poesia, pessoalmente nem consigo dedicar a Deus esta falta de criatividade. Infelizmente, muitas destas letras até contradizem o evangelho. Falta teologia nas letras e as pessoas cantam porque existe uma profunda ausência de senso crítico que não é "privilégio" do mundo evangélico, a música secular sofre também deste mal. No caso da música evangélica atual, há um evidente descrédito nas letras que deveriam enaltecer à Deus e utilizam "frases chavões" para provocar emoção nas pessoas. São movidos por uma emoção vazia de consciência. O Deus criador é infinitamente criativo e concedeu graciosamente o dom para desenvolver a criatividade em toda expressão artística. A arte é algo sublime porque mexe com a consciência e a emoção. No Salmo 33:3 diz que se deve tocar com arte. Não é para tocar sem a alma e o talento, mas, ambos envolvidos numa execução sublime. A arte está na melodia, na harmonia, no acompanhamento e na poesia da letra.

Não era para ser assim quando decidi lutar pelo nosso espaço de louvor nos cultos. Não era para ser assim, o louvor substituindo os cânticos tradicionais da música sacra e dos hinos. O louvor tem o seu espaço por direito, pois, pertence a igreja e são executados e entoados pela igreja, porém, deve ser mais uma forma de adoração e não ser colocado como a única e exclusiva forma de adoração na liturgia. O louvor enquanto propósito é um mandamento de Deus para todos os seres que tem fôlego de vida "Todo ser que respira louve ao Senhor" Salmo 150:6. Obviamente que louvar não é somente com música, pois, trata-se de expressão da vida e os seres humanos, os animais e toda a natureza que possuem vida louvam a Deus. Mas, quando se ensoberbece e se orgulha adotando-se nos cultos como a única forma não permitindo que outros também participem com a sua arte específica, torna-se, além de egoísta, meramente um ativismo mecânico. A liderança da igreja deve ter a responsabilidade em incentivar a música como um todo e jamais privilegiar um determinado grupo em detrimento dos demais grupos da igreja. Se há possibilidade de se formar orquestra, coral, madrigal (coral resumido e mais dinâmico) e até mesmo músicas com apresentações avulsas, isto deve ser incentivado porque enriquece a musicalidade da igreja. Uma das formas mais eficazes é ter aulas de música e instrumentos e promover seminários de música para despertar a atenção daqueles que são dotados de talento e tenham espaço para democraticamente também louvar a Deus com a sua arte. Nas centenas de milhares de igrejas, com certeza, existem dentre os seus membros e frequentadores pessoas capacitadas e que não recebem o incentivo necessário para expor a sua habilidade. Por que não promover festivais de músicas como aconteciam antigamente? Eu mesmo participei de 04 festivais. Por que os cultos devem seguir o mesmo padrão sempre? Muitos cultos são bem chatos e não atraem as pessoas que Deus deve ficar bocejando de tédio. O culto será diferente se você fizer a diferença. Muitas igrejas estão envelhecendo, não na faixa etária, mas, na falta de criatividade. Estão envelhecendo porque falta criatividade ou falta criatividade porque estão envelhecendo? São jovens com mentes velhas que se alinharam a um sistema engessado e que não permite que se exponha a graça de Deus na sua melhor forma. Deus não está parado no tempo e a sua infinita criatividade é a melhor prova disto e não nos deixa envelhecer. "Sejam transformados, renovando a sua mente" Romanos 12:2. Este texto vale para a criatividade também.

Todas as músicas são inspiradas por Deus, não importa se é cristã ou não cristã. A inspiração é despertada quando se “consome” aquilo que abre os ouvidos e a consciência. Consuma boa literatura e boa música para despertar a poesia e a canção da alma. Louve a Deus com o Jazz, com a Bossa Nova, com a MPB, com a música Clássica/Erudita, com o Rock, com a poesia e com todas as expressões artísticas. Mesmo não tendo o talento para executar algum instrumento ou para algum tipo de expressão artística, saberá apoiar e, principalmente apreciar a boa arte de Deus!

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

DAR TEMPO AO TEMPO

Venancio Junior

Esta expressão é muito conhecida. Significa que somente o tempo cura os traumas, as dores, as decepções e também significa não ficar ansioso que tudo tem o seu tempo devido. Não é apenas um conforto para quem sofre ou aguarda ansiosamente por algo e na falta de palavras ou de respostas imediatas utilize este termo. Que o tempo cura, isto é fato. O tempo é muito mais que um espaço a ser preenchido na vida. Não sabemos o exato momento das ocorrências, somente o tempo sabe e devemos deixar que cuide de tudo. Para quem está familiarizado, vêm nos à mente o livro de Eclesiastes que trata muito bem este tema. Na tradição é conhecido que Salomão tenha sido o autor, mas, algumas pesquisas da época em que foi escrito, provavelmente 250 a.C., não confirmam esta autoria. Talvez, pelo fato de Salomão ter possuído muita sabedoria, associaram o livro de Eclesiastes com o seu nome. Como o objetivo não é saber quem escreveu, mas, o seu conteúdo, então, vamos direto ao capítulo 3:1 "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu". Pode ser que aqueles que acreditam na predestinação das coisas utilize o termo “tempo determinado” para reforçar suas convicções, mas, no contexto percebe-se que o objetivo está em sintonia com o texto de Paulo aos Romanos 8:28 "Sabemos que todas as coisas ocorrem para o bem daqueles que amam a Deus...". este texto, além de desmistificar a questão da predestinação, reforça que devemos manter a nossa confiança em Deus para os devidos desígnios quando não sabemos o que vai acontecer e muito menos quando irá acontecer.

O que é o tempo considerando que vivemos e fazemos parte de uma geração sem tempo? Antigamente havia muito menos recursos que facilitassem a vida e “sobrasse” mais tempo para se dedicar à vida pessoal. Os recursos chegaram, principalmente tecnológicos e ninguém pode negar que agora sobra muito tempo. O problema é que entramos num processo que não nos permite lembrar que há tempo sobrando e sempre se procura algo para preencher. A tecnologia é insana, ao mesmo tempo que facilita e reduz o tempo em diversas atividades, muitas vezes ou quase sempre rouba o nosso precioso tempo e não permite que o nosso tempo tenha o seu próprio tempo. Imagine se todos tiverem um tempo para fazer absolutamente nada? Muitas das nossas instabilidades emocionais são causadas porque não há um espaço para “desaguar”. Qual a principal causa das enchentes? O espaço que os rios e córregos possuem naturalmente para desaguar foram ocupados e ficam sem lugar para o tempo das cheias. Da mesma forma, a emoção fica acumulada e quando falta espaço, sobrecarrega o tempo que deveria ser para diluir as cargas emocionais. O tempo dedicado a fazer nada serve para descarregar o acúmulo de energia do cotidiano. Isto é natural. Qualquer atividade gera energia emocional. O nosso tempo disponível precisa ser bem administrado para não sobrecarregar. A primeira coisa a ser feita é lembrar que o tempo também precisa de tempo.

Atualmente consumimos muita coisa que não fará qualquer diferença na vida. As redes sociais investem em publicidade para que todo o tempo possível seja dedicado totalmente com os conteúdos disponibilizados. Pense comigo, o acesso às informações é muito fácil e rápido. Por exemplo, quantas propagandas de livros, de músicas e de filmes são veiculadas diariamente? Quantos livros você leu neste ano? Quantas músicas você dedicou tempo para ouvir? Quantos filmes você assistiu e teve tempo para refletir sobre o tema abordado? Quantas publicidades de espaços de lazer? Quantas academias se conhece pelas redes sociais? Estes são apenas alguns exemplos. Não conseguimos ler mais que poucas linhas sem que estejamos pensando na próxima coisa a fazer que nem sabe o que é exatamente. Se o texto é longo, jamais se dedicará tempo para ler. Os livros não podem ter mais que 50 páginas e com letras garrafais. Em relação às músicas, você já pensou no tempo que os músicos e produtores dedicaram para fazer apenas uma única música? As músicas atuais não podem ter mais que 1:30s que já pula para a próxima. Os filmes precisam ter muita ação e menos conversa para segurar a atenção. Não se está dando tempo ao tempo e isto sufoca a vida. Não se tem mais tempo para si mesmo. Ninguém tem tempo para uma caminhada no parque, pedalar sem destino, soltar pipa com os filhos ou fazer nada em casa. Muitas vezes vejo pessoas “passeando” com o cachorro ou com o filho no carrinho e mexendo no celular. Este comportamento ainda é pior, pois, está roubando o tempo que deveria ser dedicado exclusivamente ao filho. São pessoas que, com certeza, estão sem tempo para viver.

Outro dia uma pessoa comentou numa das minhas reflexões: “O texto é muito bom, mas, é muito longo”. Eu comecei a rir e ficar com pena da pessoa que sequer se identificou. Os meus textos não levam mais que cinco minutos para ler.

Há um tempo que está sendo roubado sem que se perceba. O tempo com Deus. O devocional de leitura e oração é algo fundamental na vida pessoal e familiar. O tempo de leitura e oração não leva mais que dez minutos, porém, é muito negligenciado pela falta de tempo das pessoas em dedicar este tempo exíguo para algo tão importante. Da mesma forma, as reuniões públicas na igreja não podem ter mais que 1h que já causam inquietação nas pessoas. Se há transmissão online, então, já pula direto para a pregação. Se contabilizar o tempo perdido no celular com os streamings e na televisão com as plataformas de filmes e entretenimentos percebe-se quanto tempo perdido com algo que nada acrescentará na vida e se ficar sem, não fará qualquer diferença.

Gosto muito de ler, geralmente, leio no mínimo 10 livros por ano. Quando se dedica tempo, a leitura consegue gerar dentro da mente um mundo paralelo saudável. Gosto também de ouvir música no quarto escuro. Ouço música prestando atenção nos arranjos, na harmonia, no ritmo e na produção. Gosto também de pedalar sem rumo, sem caminho traçado e sem tempo para voltar. Estas práticas saudáveis diluem as energias desnecessárias que nos aprisionam e roubam o nosso tempo. Quantas vezes contrariei a mim mesmo e fiz o que não queria, mas, era preciso ser feito. A energia acumulada nunca deixa você fazer o que precisa porque é contraproducente e quer controlar a sua vida e roubar o seu tempo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

A CRUZ VERMELHA E O ANTICRISTO

Venancio Junior

Sempre que surge uma catástrofe humanitária (sempre tem) a cruz vermelha está presente e desenvolve um trabalho incansável. É uma entidade interdenominacional e apolítica de ajuda humanitária na saúde e alimento basicamente. A Cruz Vermelha Internacional foi fundada em Genebra na Suíça e tem como símbolo uma cruz simétrica semelhante a bandeira do país de origem. Este símbolo, inclusive, se tornou a identificação de serviço médico em qualquer parte do mundo. A entidade é denominada de Cruz Vermelha somente nos países cristãos e ateus que são indiferentes à esta questão. Quando a entidade teve de atuar nos países muçulmanos, alguém questionou o porquê não poderia utilizar a Lua Crescente símbolo do Islamismo? Não houve resistência neste sentido para não gerar polêmicas que dificultassem a principal atividade que é a assistência aos povos vítimas de tragédias. Da mesma forma, os judeus reivindicaram também a mudança em adotar o seu símbolo principal, a Estrela de Davi, porém, esta entidade não recebeu o nome de Estrela Vermelha. Na verdade, e o que se supõe é que esta cruz atualmente não tem qualquer identificação com a cruz do cristianismo.

Qual a principal motivação desta ingerência religiosa num símbolo que atualmente nada tem a ver com a religião? Sendo verdadeira esta consideração, por que esta rejeição à cruz? A cruz tem uma intrínseca relação com Jesus Cristo que foi o objeto de tortura e morte utilizado na crucificação. Tanto o Judaísmo como também o Islamismo, não aceitam Jesus como o Messias. Os judeus ainda estão aguardando a sua vinda e os islâmicos aceitam somente o que esteja escrito no alcorão que, apesar de fazer ressalva sobre a morte de Jesus, há um grau de respeito, porém, consideram apenas como um profeta iluminado e que recebeu de Deus algumas atribuições de milagres. A mudança dos nomes desta entidade de ajuda humanitária que nada tem a ver com religião, foi o suficiente para revelar a negação de Jesus. Estas religiões não cristãs têm pavor do nome de Jesus e evitam a qualquer custo se envolver em debates e se correlacionar com atividades afins do cristianismo.

De qualquer forma, o ponto principal que vou abordar é a rejeição a Jesus demonstrado na recusa de um símbolo utilizado por uma entidade laica. Então, poderia considerar que para os judeus e os islâmicos a cruz é um objeto de devoção.  A bíblia considera objeto feito por mãos humanas como ídolo e se curvar diante de qualquer um deles é uma prática de idolatria. Leia o texto: "Não façam ídolos, nem imagens, nem colunas sagradas para vocês, e não coloquem nenhuma pedra esculpida em sua terra para curvar-se diante dela. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Levítico 26:1). Ainda temos o explícito texto de Êxodo: "Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terraNão te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto, porque eu, o Senhor, o teu Deus, sou Deus zeloso..." (Êxodo 20:3-5). Fazer ídolos na maioria das vezes é referente a imagem de pessoas ou animais e raramente a coisas diversas. Lendo o texto de Romanos 1:23 e 25 a abordagem é geral ou a qualquer objeto independentemente do formato. Vamos aos textos:

23 "...trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis".

25 "Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre".

Pois bem, já temos uma referência de que a cruz é um objeto qualquer sem relevância no aspecto da devoção. Alguns poderiam afirmar que no antigo testamento ainda não existia o cristianismo, isto é fato, porém, o Deus de Moisés, Abraão, Isaque e Jacó é o mesmo do tempo da graça e, pelo que aprendemos, não mudou de opinião. Inclusive, no antigo testamento, tanto o madeiro como a cruz era um objeto destinado aos malditos. Tanto no antigo como no novo testamento, se oramos, é diante de Deus que nos ajoelhamos e clamamos. Orar a Deus olhando para a cruz não faz qualquer sentido. Considerando também que Jesus não ressuscitou na cruz, mas, morreu na cruz. A relação de Jesus com a cruz é traumática, pois, se tratava de um símbolo de tortura e não de redenção e também nunca quis morrer e menos ainda numa cruz que era destinada aos piores malfeitores que cometessem crimes hediondos. O principal efeito em todo o processo de salvação culmina na ressurreição porque, morrer, qualquer um morre. Dois malfeitores morreram por causa dos seus crimes também numa cruz ao lado de Jesus, porém, ressuscitar, só mesmo o Espírito Santo para tal feito sobrenatural. Se Jesus morresse somente o processo de salvação estaria incompleto. Então, a morte de Jesus é apenas parte do plano de Deus e não a principal finalidade em si, pois, como estamos mortos pelo pecado, ressuscitamos com Cristo para uma nova vida e se oramos a Deus, é porque cremos que Jesus está vivo sendo o intercessor entre Deus e os homens. Então, esqueça a cruz nas práticas devocionais. Ela apenas fez parte da história quase que por acaso, porque foi a forma escolhida pelos homens para castigar e humilhar os piores malfeitores, mas, nunca foi predefinido por Deus dentro do processo de salvação. O símbolo da nova aliança para lembrar a sua morte e que foi demonstrado por Jesus é o pão e o vinho que respectivamente representam o corpo e o sangue (Mateus 26:26,27,28). Não há texto bíblico que seja categórico que Jesus deveria morrer numa cruz. Numa eventual morte expiatória contemporânea Jesus morreria numa cadeira elétrica, numa forca ou de uma injeção letal. Imagine o símbolo do cristianismo sendo um destes objetos? Rejeitar a cruz não é rejeitar a Deus. Rejeitar a Deus é não aceitar que Jesus morreu e ressuscitou e não reconhecer que seja pecador. As religiões não cristãs, na verdade, desconhecem o evangelho e “embarcaram” no espírito da idolatria cristã que, contrariamente aos cristãos, rejeitaram o principal símbolo cristão como forma de demonstrar que suas crenças nada têm a ver com o cristianismo da cruz. Para Deus é indiferente, porque a referência de rejeição está no coração e mente e nunca em objetos de qualquer natureza. Nos dois primeiros séculos, a igreja cristã tinha pavor em ter como símbolo a cruz porque era destinada para humilhação e morte, como já mencionei, aos piores elementos. Nos evangelhos, o próprio Jesus revelou diversas identificações que poderiam ser adotadas como símbolos, por exemplo, o pão e o vinho, o batismo, o cordeiro de Deus, a videira e o agricultor, o pastor de ovelhas, a luz do mundo, o sal da terra, a água da vida, a palavra como verbo vivo e o peixe numa referência ao chamado de Jesus aos discípulos que passariam a ser pescadores de homens. Perceba que não há qualquer referência à cruz. Olhar para uma cruz e lembrar do sacrifício que foi empreendido para salvação é uma coisa, mas, adotar como objeto de devoção foge completamente do significado do pão e o vinho que é, de fato, a lembrança que Jesus nos orientou para que lembrássemos do seu sacrifício. Mesmo assim, se criasse um símbolo palpável do pão e do vinho para se ajoelhar diante dele, isto também seria idolatria. A idolatria não é somente reverenciar um objeto, mas, qualquer objeto feito por mãos humanas.

A bíblia classifica a quem rejeita ou nega Cristo como anticristo. Contrariamente ao que se acredita ou ao que muito se ouve o anticristo não é apenas uma pessoa com poderes sobrenaturais que vai lutar contra o bem na batalha final. Óbvio que o diabo é o maioral dos anticristos. Mas, a bíblia é muito clara e objetiva ao afirmar que todo aquele que nega a Cristo é o anticristo. “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo: aquele que nega o Pai e o Filho”. (I João 2:22). Este texto responde diretamente tanto a judeus como a islâmicos. Os judeus não reconhecem Jesus como sendo o Messias profetizado, inclusive na Torá. Os islâmicos acreditam em Jesus como mais um profeta dentre outros, mas, não o reconhecem como sendo o filho de Deus. Ambas rejeitam e negam a divindade de Cristo. João generalizou afirmando que todo aquele que nega o Cristo é o anticristo e têm surgido muitos anticristos: “Filhinhos, esta é a última hora. E, como vocês ouviram que o anticristo vem, também agora muitos anticristos têm surgido; por isso sabemos que é a última hora” (1 João 2:18).

Negar a Cristo mesmo sendo parcialmente é o suficiente para ser um anticristo. Para não ser anticristo não basta acreditar que Jesus existiu ou que seja um profeta enviado por Deus, é preciso aceitar a integralidade da missão de Jesus. Não basta também adotar a cruz como objeto de devoção e colocar no pescoço, pendurado no carro ou tatuado no corpo. Qualquer pessoa faz isto sem ter compromisso no coração e na mente. Será apenas um amuleto da sorte. Primeiramente é preciso reconhecer que Jesus é Deus encarnado que veio pessoalmente cumprir a missão de restauração da humanidade. Também não basta acreditar que um dia o Messias virá pela segunda vez conforme as profecias bíblicas. Tem de crer que o Messias já veio conforme a palavra revelada de Deus que diz que Jesus nasceu, morreu e ressuscitou ao terceiro dia.

Há muita confusão sobre a questão de ajuda humanitária. Lendo a definição de religião que o próprio Jesus demonstrou no livro de Tiago 1:27 temos a clara evidência de que a religião é exatamente o que estas entidades de assistência fazem ao redor do mundo. “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo”. Então poderíamos afirmar que todos os que se envolvem com esta atividade seja cristão? Claro que não porque há o “problema” da integralidade. Não basta acreditar na proposta, é preciso assumir uma condição de discípulo. O próprio Jesus afirmou em Mateus 16:24 que para ser seu discípulo é preciso negar-se a si mesmo que é renunciar a vida pregressa de pecado com todas as tradições religiosas e carregar a sua cruz que é sentir a dor e o peso do sacrifício que ela representa e depois o siga


quinta-feira, 31 de agosto de 2023

A IGREJA INFILTRADA

Venancio Junior

Quem nunca ouviu falar em "agentes infiltrados”. Geralmente envolvidos numa missão conspiratória para desestabilizar um grupo organizado concorrente ou um sistema autoritário, tirano e injusto. No mundo corporativo da tecnologia e de estratégias é onde acontece a maioria das ações de espionagem. As investidas visam a busca de informações secretas ou estratégias de projetos das estruturas da organização, pois, não existe estabilidade quando não há a preocupação em seguir uma metodologia organizada. Lembramos também que a milícia e o tráfico de drogas são fortes porque são organizados. Corre um grande risco de vida quem se envolve com este tipo de missão, pois. quem é descoberto ou “fura o esquema” sofre graves agressões e, “por sorte”, até se descobrir quem enviou os agentes, a vida é poupada.

Nas empresas e instituições públicas também existem aqueles que se submetem aos riscos de uma ação, neste caso, criminosa aceitando propinas para viabilizar negociatas em contratos fraudulentos e superfaturados para favorecer corruptores e se tornam agentes infiltrados. Pode ser funcionários de carreira, mas, que, por algum motivo, geralmente por vantagem financeira, se desviaram dos princípios da ética aproveitando a facilidade do cargo. Porém, a grande vantagem aos interessados corruptores é que estes "agentes infiltrados" pertencem à corporação e possuem informações privilegiadas. Corromper financeiramente estes virtuais agentes é o único meio de convencimento.

Nos regimes autoritários, seja, o comunismo, nas religiões extremistas do oriente médio e da Ásia e até no capitalismo que é muito defendido pelos religiosos chegando a afirmar que Jesus é de direita, também existem os agentes infiltrados. Todos estes sistemas, como o próprio nome diz “regime fechado”, tem a única missão em defender os interesses dos seus líderes e seus asseclas e todos os que se opõem se tornam inimigos declarados e muitos deles, convictos de suas posições se tornam agentes infiltrados. Estes regimes não têm qualquer interesse em melhorar a qualidade vida das pessoas e seus planos e projetos, na sua maioria são secretos e quem está de fora da cúpula só teria acesso as informações se for um agente infiltrado. Quando descobertos, muitos deles são sumariamente executados sem qualquer chance de perdão. Quanto mais rígido o sistema, seja religioso ou político, maior é a susceptibilidade em se ter agentes infiltrados formais ou informais.

Ser um agente infiltrado não é restrito aos mal-intencionados criminosos. A igreja também já teve os seus agentes infiltrados no regime nazista quando eram perseguidos, presos e mortos. Foram produzidos filmes e lançados centenas de milhares de livros relatando histórias sofridas daqueles que tinham apenas o simples propósito em falar do evangelho. Provavelmente, muitos nem eram da etnia judia, mas, defendiam os judeus e criticavam a brutalidade aplicada para quem se opusesse ao regime nazista. Por incrível que pareça, o nazismo era apoiado pela maioria dos cristãos na Alemanha.

Logo no início do lançamento dos fundamentos do evangelho quando foram escolhidos os doze apóstolos, Judas se tornou o agente infiltrado que foi corrompido pelo judaísmo e a maioria dos seus líderes se tornou um desafeto para Jesus. Os romanos pouco se importavam com Jesus, pois, não o consideravam uma ameaça e era um problema exclusivo dos judeus. Contrariamente a esta posição dos romanos que dominavam todo o império naquela região, os sacerdotes judeus e os seguidores mais tradicionais se sentiam ameaçados porque Jesus veio para combater a tradição desconectada dos valores do Reino de Deus apregoado por João Batista e colocavam agentes infiltrados entre os seguidores de Jesus. Naquela época existiam diversos grupos, dentre os mais conhecidos, haviam os fariseus que se preocupavam mais com a tradição religiosa e os saduceus que tinham a preocupação com a influência política. Eram grupos infiltrados que acompanhavam Jesus e eram enviados pelos sacerdotes com o claro objetivo em saber o que falava para tentar desacreditá-lo. Em diversos relatos nos textos bíblicos, os membros destes grupos e muitas vezes os próprios sacerdotes estavam infiltrados e questionavam Jesus por assumir sua condição de Messias e uma de suas determinações finais logo após a ressurreição é o famoso "Ide" que, de certa forma, foi um envio de agentes infiltrados para desestabilizar as investidas das hostes malignas. Afinal, Jesus era considerado subversivo e dissidente da religião oficial. Jesus e seus discípulos se tornaram marginais e conviviam com os marginalizados tanto pelo império, como também pela religião judaica. O grupo inicial de infiltrados enviados por Jesus foram os apóstolos e, com exceção dos gentios, posteriormente os demais seguidores que também se rendiam ao evangelho de salvação pela graça se tornaram dissidentes do judaísmo tradicional e defendiam a fé no contexto social em que viviam. A defesa da fé precisava ser desta forma, pois, quem se opunha ao sistema religioso vigente da época se tornava também um marginal e era perseguido e sacrificado. Quem nunca ouviu falar do Coliseu em Roma que era a arena onde os cristãos eram jogados para serem devorados pelos leões? Este fato trágico era considerado um grande evento de entretenimento. Ser cristão não era um privilégio do ponto de vista da sociedade. Com exceção de João que morreu de velho, os demais apóstolos foram presos e mortos por se posicionarem a favor do evangelho de Jesus e contra a tradição da religião.

Um caso muito interessante foi quando Jesus seguia em plena via dolorosa carregando a sua cruz e Pedro estava seguindo o seu mestre. Naquele contexto, Pedro estava infiltrado e ninguém até hoje não soube dizer qual era o objetivo de Pedro. Devido a sua impetuosa personalidade, talvez Pedro quisesse encontrar uma oportunidade para livrar Jesus daquela situação para que continuasse a sua missão. Para Pedro, a morte de cruz não poderia ser o fim e agiu como um agente infiltrado negando Jesus por três vezes. Se não queria ser reconhecido, por que, então, ele acompanhou de perto o sofrimento de Jesus? Na primeira vez que negou, já poderia ter ido embora, pois, nada poderia fazer e corria um sério risco em ser preso também. Chega a ser estranho que Pedro teria alguma estratégia previamente planejada. Não fazia parte do seu perfil pensar antes de agir. Mesmo assim, ele continuou e, sinceramente, não acredito que sentia prazer no sofrimento de Jesus. A explicação mais razoável é que Pedro estava na espreita esperando a primeira oportunidade para livrar Jesus, mas, do seu jeito atrapalhado. De tão atrapalhado que precisou sofrer uma advertência antes deste episódio quando tentou impedir a prisão de Jesus. Não é bem assim que age um agente infiltrado porque Pedro não é definitivamente um exemplo para este fim. Teoricamente estava fazendo tudo certo, negou que estivesse servindo a alguém de fora, sempre estava próximo de pessoas estratégicas e na primeira oportunidade, aproveitaria para interromper o processo. Pedro desconhecia o processo e se recusou a admitir que a via crucis fazia parte da missão.

E na igreja, será que existe algum agente infiltrado? É bem estranho, afinal, no regime religioso teocrático é difícil conceber a ideia de que alguém vá contra o direcionamento de todas as atividades considerando que o propósito é servir a um único Deus. É um pensamento muito simplista acreditar desta forma. A forma não simplista é acreditar que na igreja também existem pessoas com pensamentos e objetivos diferentes. Paulo abordava este problema quando afirmou “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus”. Gálatas 3:28. Paulo expôs que a comunidade, mesmo sendo um corpo só em Jesus, era formada por pessoas de contexto social, características e visões diferentes. O problema que Paulo relevava é o mesmo que o seu mestre Jesus alertava aos sacerdotes que eram os líderes religiosos e que as pessoas estavam sendo enganadas e arraigadas à tradição em detrimento do evangelho. É preciso estar atento ao que se tem apresentado nas igrejas. Esta é a causa principal do surgimento de muitas denominações onde cada uma defende a sua religiosidade a seu próprio modo de ser. Aqueles que percebem algo estranho na mensagem exposta e que defendem o retorno ao princípio do evangelho dentro da própria igreja são perseguidos e marginalizados porque informalmente agiram como agentes infiltrados. A Igreja infiltrada na igreja nada mais é que o cuidado que estes agentes informais tem na exposição da palavra de acordo com os princípios do evangelho em que Deus é o criador da existência e Jesus como filho de Deus encarnado é o Salvador da humanidade. Este princípio jamais deve ser negado. Pedro na via sacra praticou um grande mal, negando a Jesus. Pior que negar a Deus é dizer que o ama e não viver este evangelho. Pedro posteriormente sentiu o peso desta sua atitude. Com certeza, este seu retorno ao caminho através do seu arrependimento mudou a sua perspectiva daquilo que lhe foi confiado em levar o evangelho adiante.

Deus não procura pessoas perfeitas, mas, busca pessoas destemidas e que desejam ser luz nas trevas e sal da terra, tal como um agente infiltrado. Ser luz na claridade e ser sal dentro do saleiro é totalmente inútil e não será nem um agente e muito menos infiltrado, pois, será semelhante aos demais e não fará a diferença necessária. Ser informalmente um agente infiltrado no cotidiano dos vizinhos, na família, no trabalho e onde for necessário, é fundamental para que, de fato, faça diferença na vida de cada pessoa.

sábado, 5 de agosto de 2023

VIDA, SOFRIMENTO E A ROUPA USUAL

Venancio Junior

 No Reino de Deus não existe sofrimento, orgulho e nem roupa usual. O processo de salvação em que Jesus é o único agente catalisador sendo responsável por neutralizar os gases poluentes do pecado e transformá-los em compostos limpos tem o claro objetivo em restaurar o paraíso ou o jardim do Éden como o conhecemos. E os primeiros habitantes criados por Deus não sabiam o que era sofrimento, pois, tinham tudo o que precisavam sem um mínimo de esforço, também não se sentiam orgulhosos por serem os primeiros privilegiados e também não usavam roupas. "Ora, um e outro, o homem e a sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam" (Gênesis 2:25).

Então, vamos começar pelo fim do início do tempo da graça. Após alguns milênios do ocorrido no jardim do Éden, considerando também que não há uma comprovação científica do tempo percorrido. A bíblia como única fonte de informações, relata somente a preocupação com os fatos e o tempo percorrido é secundário e muitas vezes ignorado e desconhecido. Prosseguindo, Jesus afirmou: “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11:25). Jesus estava consolando as irmãs de Lázaro que estava morto afirmando que ele "apenas dormia". Jesus estava sendo irônico ou simplista? Quando se apresentou e fez esta declaração, estava se referindo não somente a salvação do ser humano, mas, tinha o propósito em restaurar a vida a toda criação e trazer libertação de todo sofrimento, inclusive da morte. O que é o sofrimento e o que é vida no contexto que vivemos e também na vida futura pós morte física conforme as promessas de Jesus? Humanos, animais, vegetais e todos os seres vivos sofrem a consequência do pecado e igualmente serão beneficiados com esta nova vida que restaura a configuração original de uma vida perfeita. Na linguagem da informática, foi, tipo, formatar limpando a sujeira e manter os arquivos de boot para resgatar a configuração original no mesmo sistema da criação sem o vírus do pecado. Todos sabem o que acontece quando um vírus penetra o sistema, o estrago é avassalador, tal como o pecado na vida da criação. O sistema original teve o seu início na criação conforme o livro de Gênesis, porém, por causa do vírus do pecado que se alojou na dimensão possível da existência e perdeu a vida ao sair da presença de Deus (Romanos 3:23) que é onde se encontra o fôlego da vida, tudo morreu perdendo a “configuração de fábrica”. Fora da presença de Deus, a morte espiritual se tornou a única condição (Romanos 6:23) e a morte física literalmente tornou-se real porque é o contexto do pecado e que consiste numa configuração diferente onde tudo apodrece, o metal enferruja, a traça consome, o ladrão rouba e a morte do corpo se torna pó de onde veio (Gênesis 3:19). Seria como sair da atmosfera onde não há oxigênio. Sair da presença de Deus é a morte espiritual onde o sofrimento pode atingir o seu mais alto grau, porém, quem morre em Cristo ressuscitará primeiro e o espírito volta para Deus. Este trecho, na verdade está dizendo que a vida volta à sua origem.

Afinal o que é esta vida propriamente dita que ainda não conhecemos? Do que Jesus estava falando? A vida que conhecemos é uma só considerando que é um fôlego e distribuído nas mais diversas espécies humana, animal e vegetal na sua função natural conforme a característica específica de cada espécie. O fôlego de vida é igual para todos. Não somente o ser humano e os animais, mas, as plantas e toda a vegetação também possuem o mesmo fôlego de vida. Quando se está interagindo com o animal de estimação, o fôlego de vida é o mesmo que constitui aquele animal. Aquela espécie de um minúsculo animal, a borboleta, uma minhoca e até os animais peçonhentos possuem o mesmo fôlego de vida do ser humano. Inclusive os vermes e bactérias igualmente possuem o mesmo fôlego de vida. Semelhantemente ao fôlego de vida, o sofrimento é o mesmo para todas as espécies. O sofrimento que os animais recebem seja de maus tratos, abandono ou alguma doença é o mesmo sentido pelo ser humano e a intensidade é a mesma e não existe sofrimento exclusivo, pois, o aspecto é o mesmo. Da mesma forma que a aspiração pela vida, quando qualquer espécie luta para sobreviver ou se proteger, o sentimento é o mesmo para todas as espécies. Quanto ao sofrimento dos animais e da vegetação, Deus nos deu a ordem expressa para que cuidasse de absolutamente tudo. Cuidar do meio ambiente é também, de certa forma, cuidar também dos animais selvagens que são mais independentes, enquanto os animais domésticos que, inclusive, todos foram criados mesmo antes do ser humano (Gênesis 1:24), é nossa responsabilidade o cuidado necessário para que tenham qualidade de vida, afinal, o convívio é muito estreito, pois, dividirão o mesmo espaço da família. Somos partes de uma mesma fonte, porém, de características diferentes e cada um no seu habitat natural e a configuração original será restaurada após o arrebatamento em todas as espécies.

Sobre as promessas de bem-estar livre do sofrimento, muitos recorrem a religião numa tentativa em antecipar o porvir do arrebatamento. As principais “vítimas” são os recém-convertidos e aqueles que não meditam na palavra e que ainda não conseguem digerir uma “comida doutrinária” mais sólida, mesmo com um longo caminho percorrido, não amadureceram e ainda estão tomando leitinho. Há uma confusão que tem enganado este grupo específico em relação à pessoa que se rende ao evangelho. Qualquer explanação da palavra tem o objetivo de convencer as pessoas de seus pecados. A exposição da palavra convence, pois, a fé vem pelo ouvir (Romanos 10:17) através da ação do Espírito Santo (João 16:8) que o converte da condição de pecador para uma nova vida.  Ninguém se convence e assume que é pecador sem a ação direta do Espírito Santo, pois, não tem como ressuscitar a si mesmo. De acordo com a interpretação dos usurpadores de plantão das promessas, parece que a partir da conversão não haveria mais sofrimento e o cristão terá uma vida abundante sempre. Será que os convertidos não sofrem e os não convertidos recebem o castigo aqui na terra mesmo? Não é isto que temos presenciado na prática porque muitas daquelas pessoas que ainda estão fora da presença de Deus vivem bem, são bem-sucedidos, tem muita saúde e, aparentemente são felizes e o sofrimento foi destinado somente aos pobres. Jesus deu atenção especial a este grupo de marginalizados e, reitero mais uma vez, até exemplificou que a verdadeira religião é o atendimento às pessoas mais pobres para aliviar o sofrimento. Tim Maia já cantava “Muitos nascem para chorar, enquanto o outro ri”. É uma triste realidade e absolutamente inexplicável. A única certeza é que todos estão sujeitos as consequências do pecado. As pessoas bem-sucedidas também sofrem. A resposta é simples, Deus concede sua graça a todos independentemente da condição espiritual e a chuva beneficia os bons e os maus. Ser feliz ou ser triste não é e nunca foi uma pré-condição de abundância espiritual. Toda a criação está sujeita aos mesmos sofrimentos e alegrias na vida presente. Ao ser humano está reservada a vida ou a morte eterna que será após o arrebatamento. Os demais elementos da criação não possuem alma, por isto, para estas espécies, a morte é literalmente o fim e não há comprovação de que terá a restauração do fôlego de vida numa nova dimensão. Isto não significa que não terá animais. Serão novos animais e também uma nova vegetação.

Já expus noutras reflexões que, provavelmente, ainda não tenha alguém nem no céu e nem no inferno, pois, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro (I Tessalonicenses 4:16). Quem morre fisicamente na condição de restaurado, já lhe foi garantida a salvação. Para quem morre fora da presença de Deus para o qual toda a criação foi submetida, somente Deus é o juiz supremo para decidir o fim de cada um conforme o seu próprio julgamento.

Como será que é o céu onde fica o Reino de Deus? Céu e inferno é uma metáfora de referência geográfica para definir opostos entre si. Se o céu acreditamos que é acima, consequentemente, o inferno é abaixo. O céu espiritual não é como o vemos azul e cheio de nuvens brancas e os salvos em Cristo não vestirão roupas brancas. Céu e Reino de Deus não são a mesma coisa. Céu é um sentido figurado para sabermos onde Deus está e não perder tempo em ficar imaginando onde exatamente. Devido a esta limitação humana tornou-se carne para o vermos e enviou o teu Espírito para o sentirmos. Mesmo assim, não sabemos ainda onde esteja que satisfaça a nossa compreensão. As vestes brancas também é um sentido figurado de sem mácula ou mancha do pecado porque, sendo a restauração do paraíso, então, não precisaremos de usar roupas. Tenho minhas dúvidas se precisaremos mesmo de algum tipo de vestimenta. A roupa foi percebida por Adão e Eva após o pecado cometido, antes não se envergonhavam de estarem nus, sequer sabiam o que é estar nu. O céu é a restauração da criação do Gênesis onde havia o jardim do Éden e ninguém precisava de roupa. Todos que possuem a vida que Jesus ofereceu conhecerão como era o paraíso e conviverão eternamente com todas as espécies sem pecado e sem o sofrimento do mundo atual onde estão sujeitos às consequências causadas pelo pecado. A lógica deste contexto não explica o porquê alguns sofrem mais que outros. Parece que o sofrimento foi reservado somente aos pobres. Nesta questão é que a igreja tem o seu fundamental papel em atender a todos os que sofrem e mesmo aqueles que não sofrem quando precisam conhecer a porta da salvação. De nada adianta ser rico e saudável aqui na terra e não ter salvação. De que adianta ganhar o mundo, seja dinheiro, sucesso profissional, felicidade no amor e muita saúde se tudo não for dedicado a Deus e perder a vida eterna (Marcos 8:36)? Todas estas benesses sem a graça de Deus geram orgulho no coração da pessoa. O orgulho é um mal que precipitou o diabo fora do paraíso (Ezequiel 28:17/Apocalipse 12:9). Por que devemos glorificar a Deus? Por que a glorificação da criatura é incompatível para o propósito a que foi criada? A criatura glorifica a Deus não para enchê-lo de orgulho, mas, para ser esvaziada do orgulho que causa males profundos. Não temos a menor ideia do que fazer quando os fatores externos alimentam a nossa vaidade, pois, quando nos orgulhamos, na verdade, estamos nos enchendo de nós mesmos e isto causa uma implosão no nosso ser. Fomos criados para ser cheio do Espírito de Deus que é o fôlego de vida. A essência desta afirmação se encontra no livro de Salmos 150:6 “Tudo o que tem fôlego louve ao Senhor!” O salmista não estava se referindo somente ao ser humano, mas, a todas as espécies que respiram, incluindo os animais e toda a vegetação. Para se louvar a Deus é preciso ser vazio de si. Jesus afirmou que o Reino de Deus pertencia às crianças exatamente porque, devido a inocência, são vazias de si e conseguem extrair o prazer de Deus. Muitos podem até discordar e afirmam que conhecem crianças orgulhosas. Eu digo que, enquanto criança, ela não tem responsabilidade, pois, reflete o ambiente que vive e repete o mesmo comportamento das pessoas próximas e que compõem este ambiente.

O mais importante é crer na ressurreição de Jesus e reconhecer a fundamental importância da sua missão de restauração da vida que foi contaminada pelo orgulho do pecado e isto tornou a criatura uma nova vida nEle! A única antecipação do Reino porvir é que já estamos restaurados e prontos pela sua graça a idealizar com júbilo esta nova vida.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

VIDA SEM CONTROLE

Venancio Junior

E se, de repente, tivesse uma forma de controlar a vida de todo mundo? Tem situações que o desejo é acelerar a vida para fugir do tédio ou de uma situação desagradável. Enquanto em outras, o desejo é parar o tempo quando se está em férias com a família e em todos os momentos agradáveis.

Acredite, mas, é possível pausar o tempo de todo mundo. Antigamente quando o sinal de tv era analógico, isto era impensável que haveria alguma possibilidade de controlar o seu conteúdo. No início do sinal digital ainda não havia esta possibilidade. Quando chegaram os canais de streamings com transmissão pela internet, a possibilidade em controlar o conteúdo através de um simples controle remoto gerou uma falsa ideia de que seria um controle absoluto. O controle é parcial daquilo que se vai consumir e pausar quando desejar, porém, o conteúdo disponível jamais poderá controlar.

Imagine quando pausa uma exibição na televisão? Literalmente, o mundo inteiro foi pausado. Atrás daquilo que se está vendo há o restante do cenário. Se avançarmos nesta imaginação, atrás daquele local há paredes, muros, ruas, pessoas andando, carros transitando de um lado para outro e uma vida inteira do cotidiano que foi pausada pelo controle remoto. Absolutamente o mundo inteiro indiretamente está pausado. Não conseguimos enxergar porque o objetivo da transmissão é restrito aquela cena do programa ou do filme. Numa visão de raio-X poderia facilmente enxergar o mundo pausado. Mas, quem estava correndo algum tipo de perigo, o tempo parou e o perigo foi adiado. Quem estava tentando o suicídio, “ganhou” uma sobrevida na pausa do controle remoto. Aquele acidente que estava quase acontecendo, não aconteceu e todos os envolvidos ainda estão ilesos e fisicamente preservados. Quem estava festejando, ganhou um tempo a mais de comemoração. Aquele tempo gostoso das férias em família foi momentaneamente prolongado. Era tudo o que se deseja. Quem nunca pensou “gostaria que o tempo parasse agora” ...ou não.

Imagine na vida se tivesse um controle remoto? No filme Click de 2006, Adam Sandler fez o papel de alguém que tentou fazer isto com a sua vida e não deu muito certo. Ele queria controlar algumas situações de tédio avançando para que passasse bem rápido e acabou que algumas situações boas com a família avançaram também, pois, a vida funciona num sistema de tautocronia quando tudo acontece ao mesmo tempo. Foi uma decisão unilateral e infeliz.

 Apesar de que o desejo é, de fato, controlar a vida, isto, muitas vezes não é possível. Quantas vezes houve ações neste sentido e, a princípio, deu tudo certo e as coisas caminharam bem, porém, no final, o resultado não foi exatamente o que se esperava. Um dos maiores fascínios da vida é o inesperado e a boa surpresa. Lembro-me de algo muito simples, mas, que reflete muito bem esta situação. Quem não conhece o famoso vale-presente? Na dúvida se vai agradar ou não, a pessoa adquire um vale-presente e o presenteado faz a troca por algo que lhe agrade. Legal, né!? Que nada! Terrível este tal de vale-presente. Onde está a criatividade na escolha do presente? Conhecendo a pessoa, que tal buscar algo que condiz com o gosto pessoal? Se a pessoa não gostar, tudo bem, a vida não é perfeita, mesmo nas coisas mais simples. Este é o problema em tentar controlar tudo na vida porque não conseguimos ter o controle de tudo. Quem tem filhos e se os pais são possessivos, a intromissão no destino dos filhos será muito além do necessário e tenta a qualquer custo livrar os filhos dos infortúnios e das decepções. Não tem como controlar e isto também faz parte da vida e ajuda na administração das emoções levando à maturidade. Se tudo na vida fosse perfeito, não teríamos um parâmetro para diluir e organizar as expectativas. Da mesma forma que nas casas quando surgiram os aparelhos de tv com esta função em que havia “briga” pelo controle remoto porque as opções de programa eram restritas aos canais disponíveis. Muitas vezes assistia aos programas por tabela, pois, a televisão era a forma de entretenimento mais emocionante diante de um contexto com pouquíssimas opções disponíveis.

 Todos querem ter o controle para definir suas vidas da forma que desejarem. Nem mesmo a própria vida é possível ter o controle total. Em tempos de busca de autonomia, ignorar que o mundo digital é que está com o controle é um erro graxo. Consumimos conteúdo e nos relacionamentos, muitas vezes, convivemos com pessoas que não queremos. Muitas situações fogem do controle porque se criou muitas raízes que são impossíveis de se arrancar ou não se queira arrancar. Por exemplo, no trabalho, o salário é bom e o tipo de trabalho é o que sempre desejou, mas, o ambiente de trabalho e as pessoas que se convive são difíceis de diluir para que o emocional não sofra uma sobrecarga. Mudar de empresa resolveria esta questão, mas, perderia o bom salário que pode não conseguir outro equivalente e aliada ao tipo de trabalho de preferência tornaria esta decisão muito arriscada. Não somente o empregado, mas, também, o patrão pode estar sofrendo este mesmo tipo de pressão, dentre as dezenas deles, por exemplo, quando precisa melhorar as condições de trabalho dos seus funcionários em que há o comprometimento financeiro e precisaria fazer alguns ajustes sem comprometer a produtividade, a qualidade do produto e até mesmo a estabilidade dos funcionários que sempre gera insegurança. Ainda no contexto empresarial, quando as decisões dependem também de sócios que geralmente divergem nos ideais, como manter o controle e canalizar suas propostas? Neste caso que não se tenha o controle total, é preciso equalizar cada momento e cada palavra no sentido de serem aliados no suporte diário. Provavelmente já tenha ouvido nos tribunais “tudo o que disser será usado contra você”. Ser tardio em falar é uma forma de manter o controle da situação e utilizar somente aquelas palavras em que poderão acrescentar valores numa futura discussão. Lembrando que desenvolver ações que visam unicamente obter o controle total pode ser algo muito perigoso, inclusive, até mesmo ter o absoluto controle pode não ser algo construtivo. Qualquer que seja a decisão deve se ter a consciência de que afetará a vida de cada um dos envolvidos, seja o empregado ou o patrão e os seus sócios. A melhor postura é ter o controle dos seus ímpetos e nos momentos favoráveis não se exceder na euforia e nas contrariedades não deixar que a frustração e a mágoa assumam o controle. Nesta condição, qualquer decisão será desastrosa, pois, tem raiz na dor.

 Trazendo para outro contexto, o da família, onde a intimidade gerou raízes e quanto mais íntimo, mais profundas se tornam e o controle está totalmente fora do alcance? A proximidade no contato é algo natural da mesma forma que os atritos que são inevitáveis. Por diversas vezes se procura o controle da situação, seja, um filho que tomou uma decisão errada ou o cônjuge que decidiu se livrar de algumas frustrações fazendo algo que iria agravar mais ainda o relacionamento já instável e este leque pode ser ampliado para o contexto dos demais familiares, seja o pai, a mãe, irmãos e irmãs, depende muito do grau de proximidade que se esteja vivendo. A frustração, mágoa e outros sentimentos desta natureza são profundamente nocivos à saúde emocional e precisa ter uma atenção dedicada no sentido de diluir o seu acúmulo. Repito porque é muito importante que, qualquer decisão nesta condição não terá uma construção sólida porque é fundamentada na dor e muitas vezes, o sentimento que gera vingança assumirá o controle e o desastre será “incontrolável” trazendo perdas que não poderão ser reconquistadas.

E na igreja, será que existem pessoas que querem controlar a vida das pessoas? Será que existem pastores que trabalham para controlar o seu dinheiro e sua vida para que se dedique mais a igreja em detrimento da família? Sem esquecer que existe aquele grupo influente que controla quase todas as decisões da liderança. Infelizmente, o poder de coação utilizando a influência religiosa é uma realidade crescente em nossas igrejas. Quanto mais poder, menos unção. Isto é fato, pois, as ações estão bem distantes dos fundamentos do evangelho. Pregam um evangelho que amedronta as pessoas com o inferno e o virtual "castigo", ao invés de focar no amor de Deus. Fazem isto quando percebem que assumiram o controle total do sentimento das pessoas. Justificam o sacrifício como se fosse dedicado à Deus. A única pessoa que deve ter o total controle da nossa vida é o Espírito Santo quando Jesus, logo que ressuscitou afirmou que nos deixaria um outro consolador que, na verdade, era ele próprio. Por que Jesus falou isto? Jesus é onisciente e sabe de tudo o que acontece e se perdesse o controle da sua missão sem concluir, tudo o que foi conquistado estaria fadado a ser controlado pelo diabo que anda ao redor de cada pessoa pronto para destruí-la. O principal objetivo da missão de Jesus é assumir o controle total do destino de cada um que se rende ao evangelho promovendo a verdadeira liberdade. Muitos líderes usurpam do chamado e falam em nome de Deus numa tentativa de assumir o controle da vida das pessoas. Devido a isto, acontecem tragédias prenunciadas como aconteceu com o Reverendo Jim Jones e seus seguidores em que muitos cometeram suicídio numa justificativa de que o governo norte-americano estaria conspirando contra eles. A maioria das 918 pessoas que estavam sob o seu controle cometeu suicídio e outras foram assassinadas e ele próprio também cometeu suicídio. Uma das maiores tragédias envolvendo a religião porque alguém assumiu o controle daquelas vidas.

Jamais tenha atitude que agrida a normalidade sensata e se perca o controle da situação. É preciso estar atento e ter iniciativas que combatam vícios e maus costumes que escravizam e tornam a vida sem controle no sentido pejorativo. Por outro lado, ter uma vida sem o controle remoto dos aparelhos digitais despertaria o interesse por outras atividades sadias que se perderam pelo caminho e diluem as más energias do cotidiano. Ter uma vida religiosa de dedicação às pessoas e uma liderança que esteja sintonizada nas propostas do evangelho e ser alguém que faça diferença na vida das pessoas no contexto familiar, social e profissional são fatores preponderantes para que se tenha um controle com sabedoria.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

A AGENDA DE DEUS

Venancio Junior

Será que alguém já pensou na agenda de Deus? O que será que Deus está pensando ou planejando neste exato momento? O que será que tem reservado para hoje? Será que a única “preocupação” de Deus é com a humanidade?

Deus é aquele que criou a existência. Antes da criação nada existia, com exceção do reino de Deus que fica em algum lugar do contexto espiritual. Por que Deus criou a existência? Algo que é fato seria a sua infinita criatividade. Uma diversificação dos sentidos e formas presentes na criação é algo admirável. O som, as cores, o formato, o cheiro, a textura, o gosto presentes na criação são fantásticos. Além dos cinco sentidos incluo nesta lista os sentimentos de desejo e sensação. Mesmo após a queda pelo pecado que gerou uma profunda desfiguração na sua essência em que a matéria se tornou mortal, porém, alguns sentidos permaneceram irretocáveis, por exemplo, o sentimento do bem presente até nos animais que gostam do carinho do ser humano. Este sentimento pertence a configuração original. O apreço pelas pessoas aos seus semelhantes também pertence a configuração original. Toda esta existência foi criada perfeita para louvor do seu criador. Deus não precisava se incomodar em criar a existência para comprovar que é soberano. Considerando que Deus não existe porque a existência veio depois, então, não poderia criar a si mesmo e Deus simplesmente é, pois, não se submete ao tempo e ao espaço que conhecemos.

Explicar Deus é impossível. Mas, ele se tornou acessível através da existência, obra de suas mãos. Através das escrituras vimos a saber e conhecer a Deus como disse o salmista "O céu anuncia a glória de Deus e nos mostra aquilo que as suas mãos fizeram" (Salmos 19:01).

Deus não se manifestou porque precisava alimentar a sua vaidade de criador. Deus também não precisa que seja reconhecido como soberano. Deus ser reconhecido é uma iniciativa da criatura, enquanto ser conhecido foi uma iniciativa do próprio Deus e toda a sua glória e poder disponibilizou à sua existência e concedeu a responsabilidade ao ser humano o cuidado e proteção da sua criação, "O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar" (Gênesis 2:15). Contrariamente ao que se conhece, Deus não é ditador e concedeu também o livre arbítrio ao ser humano nas suas recomendações iniciais logo no início "E o Senhor Deus ordenou ao homem: De toda árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que dela comer, você certamente morrerá" (Gênesis 2:16,17). Algumas interpretações teológicas afirmam que o livre arbítrio não existe porque Deus já sabe tudo o que vai acontecer. Crendo, desta forma que tudo já esteja definido e quem será salvo e quem não será salvo. A agenda de Deus não funciona na conformidade literal de algumas interpretações. Se considerarmos esta linha de interpretação, então, devemos considerar Deus um tirano ditador cruel. Se já sabe tudo o que vai acontecer, então, ele está assistindo a todo sofrimento e degradação da sua existência do seu trono sem se preocupar. Exatamente neste ponto é que está o fundamento que desconstrói o conceito de que tudo já está definido. Deus se preocupou e se ocupa em resgatar e reconstruir a sua existência que é obra de suas mãos como já mencionado anteriormente. A existência é obra-prima que fazia parte da sua agenda. No livro de Gênesis 2:2 lemos "E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que tinha feito". A agenda de Deus neste texto é pública e notória. Deus descansou não porque estava cansado, mas, deixou de se preocupar e se ocupar com a criação que já havia concluído. No final do capítulo anterior "Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom" (Gênesis 1:31). Quem tem agenda sabe que no final do dia precisa conferir e fazer as considerações finais do trabalho daquilo que foi feito. Deus fez exatamente isto. Na agenda de Deus consta que Ele passeava pelo jardim e verificava como andava as coisas. Aparentemente nos parece que o contexto da criação é o mesmo de Deus, pois, o ser humano conversava diretamente com o seu criador, mas, se lermos o texto de Gênesis 3:8 parece que Adão não via a Deus, somente ouvia a sua voz e Deus se apresentava como o vento suave da tarde "Ao ouvirem a voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da tarde...". Provavelmente o ambiente da criação fosse distinto da morada de Deus que não tinha uma configuração humana, pois, é espírito (João 4:24) e a criação era matéria.

Considerando que tudo sofreu uma desfiguração, será que Deus descansou e não se preocupou mais com a sua criação? Isto, de fato, aconteceu quando Deus retirou a sua criação da sua agenda. Não constava na agenda a expulsão da criação daquele contexto, mas, como o ser humano se tornou conhecedor do bem e do mal, precisava ser retirado (Gênesis 3:23) para que (em pecado) não comesse da árvore da vida e vivesse eternamente (Gênesis 3:22). Percebe-se a gravidade da irresponsabilidade de Adão e Eva. A partir daí, o perdão ainda não constava na agenda como única forma de redenção ou recondução da existência à presença de Deus.

Não se sabe ao certo o tempo exato entre a expulsão do jardim e a decisão no resgate da sua criação. A agenda de Deus precisava ser revista e Deus se empenhou pessoalmente nesta empreitada. No texto de Gênesis 3:15 Deus deu a dica sobre a sua intenção em rever a agenda demonstrando que sempre esteve focado na sua criação. Ele afirmou que a descendência da mulher feriria a cabeça da serpente que é o diabo e apenas o calcanhar seria ferido numa alusão à crucificação de Cristo. Deus não pensou muito para assumir pessoalmente este processo quando fez esta afirmação.

A partir daí, o Reino celeste foi colocado à disposição para esta batalha espiritual que não se iniciou com a expulsão do ser humano do jardim, mas, com a precipitação do diabo e seus anjos fora da glória de Deus. No livro de Apocalipse 12:7,8,9 consta o início da batalha entre o bem e o mal "Então estourou a guerra no céu. Miguel e os seus anjos lutaram contra o dragão. Também o dragão e os seus anjos lutaram, mas não conseguiram sair vitoriosos e não havia mais lugar para eles no céu. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo. Ele foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos". Uma verdadeira batalha épica de grandes proporções e que mudou completamente a agenda de Deus porque a sua criação estaria à mercê desta legião maligna e não teria qualquer chance de vitória. Deus se compadeceu porque não fazia qualquer sentido a sua obra-prima se desintegrar pelo pecado e o diabo cantar vitória controlando a sua criação que foi feita com muito amor e carinho. A criação é essência de Deus e os seus escolhidos foi posteriormente considerado a “menina dos seus olhos”.

Após vencer a primeira batalha, pois, a guerra ainda não estava ganha porque a raça humana ainda precisava ser resgatada, Deus decidiu se envolver pessoalmente como única forma de vencer a guerra em definitivo. Na perspectiva humana, é um longo processo que precisava superar algumas etapas e todas foram incluídas na agenda como forma de respeitar estas etapas e definir um recomeço, meio e fim. Coloquei recomeço como sendo uma nova chance da vida eterna outrora perdida porque o começo de tudo foi no momento da criação da existência. Como já afirmei, este recomeço teve o envolvimento pessoal de Deus através de Jesus Cristo que é Deus encarnado. Algumas linhas teológicas não reconhecem a Jesus como Deus, mas, somente como o filho de Deus. Considerando que há somente um só Deus, então, esta interpretação começa a ser desconstruída conforme lemos no texto em que o próprio Jesus assume que "Eu e o Pai somos um" (João 10:30). Por causa desta afirmação, os religiosos sacerdotes queriam apedrejar Jesus por assumir esta condição. E ainda no texto de João 1:1 "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Verbo em grego é “Logos” e em latim é “Verbum” que significa palavra. Através da palavra a existência foi criada e Jesus estava lá no momento da criação. Reitero que não veremos no Reino de Deus três pessoas distintas na pessoa do Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. O que veremos é somente uma pessoa, pois, não há outro Deus. Esta definição trinominal é para revelar as ações distintas da pessoa de Deus, caso contrário, não conseguiríamos compreender o processo da sua onipresença, onisciência e onipotência.

Este envolvimento pessoal de Deus foi motivado pelo seu próprio amor. Isto lemos, talvez no texto mais famoso da bíblia em que o próprio Jesus revela que "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). Deus não se sentiu obrigado a fazer este sacrifício, mas, sendo essencialmente amor, não poderia abandonar a sua criação para a perdição eterna. Jesus veio para cumprir a agenda do Pai "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38). Afinal o que continha nesta agenda? Na carta de I Timóteo lemos que "...Deus, nosso Salvador, deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Timóteo 2:3,4). Qual é esta verdade? O próprio Jesus responde "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6).

A agenda de Deus para o pleno resgate do ser humano começa e termina em Jesus "Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê" (Romanos 10:4). Utilizando minhas palavras de acordo com o contexto desta reflexão seria “Porque a finalidade da agenda de Deus é revelar Jesus Cristo para justificar todos aqueles que crerem”. Crer o que contêm nesta agenda é fundamental para ser reconduzido à sua presença conforme o texto "Quem nele crê não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no Nome do Filho unigênito de Deus" (João 3:18). Jesus assumiu a sua condição de ser também o Espírito Santo quando designou a grande comissão que é a sua igreja e assim finalizou a sua missão na terra que foi a conclusão de uma das etapas do processo contido na agenda logo após a ressurreição "...eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus 28:20). Este texto está consoante com o de João 14:16 quando Jesus disse que pediria ao Pai que enviasse o Espírito Santo e que estaria para sempre com aqueles que creem "E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre".

terça-feira, 25 de julho de 2023

A ETERNIDADE PARA MORTOS E VIVOS

Venancio Junior

Alguém ainda defende que Deus não envia ninguém ao inferno. Na verdade, o texto de Romanos afirma que todos foram condenados ao inferno quando Deus expulsou a raça humana da sua presença (Romanos 3:23). Não existe uma terceira opção além de estar na presença de Deus ou fora dela. A raça humana foi condenada à morte eterna e Jesus é a principal via de recondução à presença de Deus. Se a geração posterior nada tem a ver com o pecado de Adão e Eva, por que também foi expulsa da presença de Deus? Primeiro, “todos pecaram” é absoluto e se refere ao contexto do pecado, pois, todos que nasceram depois no contexto do pecado herdaram a condição de pecador. Não importa se, aos olhos de outro semelhante, alguém seja uma boa pessoa, todos são pecadores e precisam da misericórdia de Deus. Maria, que é considerada "acima de qualquer suspeita" por ser a mãe biológica de Jesus, também foi pecadora e precisou do perdão de Deus. Ela mesma reconheceu esta condição crendo em Deus como salvador na famosa canção de Maria contida no livro de Lucas 1:47;48 “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, porque ele atentou para a humildade da sua serva”. Todos os demais líderes religiosos, incluindo o papa e todos os santos canonizados, os sacerdotes judeus, os monges budistas, os pastores, os pais de santo dentre outros são também pecadores e, caso confessem, os pecados serão perdoados pela misericórdia de Deus para serem libertos da condenação e reconduzidos à sua presença. Toda teologia e as escrituras do evangelho convergem para este processo.

Porque “a eternidade para mortos e vivos”? Quem morre não acaba tudo? Sempre ouvi dizer que a morte é o fim de tudo. A bíblia afirma o contrário para aqueles que crerem e diz que a morte não é o fim e o próprio Jesus fez esta afirmação: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente" (João 11:25,26). Esta afirmação de Jesus sintetiza que não é o fim nas duas situações do pós-morte, inclusive para aqueles que morrem sem a salvação. Observe “ainda que morra viverá” para os que tiveram seus pecados perdoados e “morrerá eternamente” para os que morreram sem o perdão dos pecados que é a pré-condição para a salvação. Após a morte física existe a vida eterna ou a condenação eterna. Portanto, a morte física não é o fim. Também lemos que estamos mortos e precisamos morrer para receber a vida. Óbvio, só receberá vida quem está morto pelo pecado e crer que receberá a vida. Há uma aparente confusão nas duas afirmações, como assim, para receber a vida precisa estar morto? Por causa do pecado, estamos mortos e para receber a vida, é preciso continuar morto, porém, revivido em Cristo que é a ressurreição e a vida. "Se, porém, Cristo está em vocês, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado...Cristo dentre os mortos vivificará também o corpo mortal, por meio do seu Espírito, que habita em vocês" (Romanos 8:10,11). Não vou dizer que é uma opção, mas, a única forma de se obter, ou melhor, receber a salvação. Não depende de esforços, rituais, sacrifícios, amuletos ou qualquer outra coisa que te ensinaram para obter ou conseguir a salvação, pois, não depende de qualquer esforço, inclusive, nem mesmo as religiões são capazes de resgatar o ser humano, mas, através da graça de Deus em Jesus. O "único esforço" é crer que o único caminho é Jesus Cristo, o Messias prometido exclusivamente para este fim. Jesus não veio para fundar alguma religião ou apresentar uma nova filosofia de vida. O processo é simples, “Quem crer será salvo, quem não crer já está condenado” (João 3:18) numa alusão ao texto de Romanos que todos foram expulsos da presença de Deus e condenados ao inferno. Ninguém nasce neutro, mas, numa condição de pecado. As crianças também estão em pecado? Então, porque Jesus afirmou que o Reino pertence a elas? Quando criança, mesmo nascendo numa condição de pecado, existe a consciência (alma) pueril em que Jesus afirma que o Reino de Deus pertence a elas e quem não tiver a inocência da criança não será herdeiro deste Reino.

segunda-feira, 19 de junho de 2023

O POVO ESCOLHIDO E A RELIGIÃO DOS OPRIMIDOS

Venancio Junior

Tudo o que se fala sobre Israel em ser o povo escolhido tem de considerar o contexto da trajetória do povo de Deus. Particularmente acho muito estranho considerar que o Israel atual seja considerado ainda como sendo o povo exclusivamente escolhido. Não vejo desta forma. Os fatos bíblicos não podem ter uma tradução literal. Caso assim fosse, as afirmações e colocações de Jesus seriam incompreensíveis. Primeiro que não sabemos o porquê Deus escolheu um povo do oriente médio para se manifestar e apresentar o plano de salvação. O que foi exposto é que Jesus teria de ter nascido de forma natural e alguém, obviamente, seria o privilegiado. Os judeus ainda não eram reconhecidamente uma nação e nem terra para se estabelecer tinha e saíram do Egito após 400 anos de escravidão em busca de suas terras baseadas em promessas do Deus que veneravam. O povo escolhido ainda não era denominado como Israel, mas, como judeus por causa da Judéia e também como hebreus referentes ao vale de Hebron. Israelitas veio do fato de que eram os descendentes da família de Jacó que veio a ser posteriormente a ser chamado de Israel e que era filho de Isaque.

Israel é o povo escolhido por Deus para iniciar o projeto de salvação da raça humana e restauração de toda a criação à sua configuração original. Conforme a história, no seu início antes de ser constituído como escolhido, foi um povo muito sofrido e até os dias atuais é perseguido principalmente pelos descendentes de Ismael, os Palestinos que reivindicam também a sua terra prometida, afinal são filhos do mesmo pai Abraão.

No Antigo Testamento, Israel foi o povo oprimido profetizado por Isaías 61:1. E no Novo Testamento, quem é o povo oprimido citado no evangelho de Mateus 11:28?

Tanto um como outro destes oprimidos representam a igreja dos escolhidos em que Deus no tempo da graça se envolveu pessoalmente para dar liberdade aos seus fiéis. Quem não conhece a história do Antigo Testamento da escravidão do povo hebreu no Egito? Durante 400 anos os israelitas foram oprimidos e submetidos a trabalhos forçados. Um grupo ou uma pessoa oprimida é aquela em que suas vontades são tolhidas e submetidas à vontade de outra pessoa ou de um sistema autoritário. O povo hebreu sofria por fazer trabalhos que não eram para o seu próprio povo e para piorar a situação, estava fora de suas terras que era uma de suas principais ambições e até os dias atuais é o principal motivo de conflitos territoriais. Outro agravante é a questão religiosa. Os hebreus criam e confiavam no Deus criador de todas as coisas. Enquanto os egípcios tinham os seus deuses pagãos. Com certeza havia dentre o povo hebreu aqueles que sofriam forte influência para confiar nestes deuses pagãos. A opressão era constante e os desafios precisavam ser diluídos com a esperança de que o Deus dos hebreus um dia libertaria o seu povo escolhido daquela condição. Quando, com muita dificuldade e luta foram libertos da submissão egípcia, muitos se submetiam aos deuses pagãos e forjavam os seus próprios deuses porque já estava acostumado e era mais cômodo. Como esta parcela abandonou o Deus libertador para confiar noutros deuses desconhecidos? O problema é a opressão emocional. Imagine uma pessoa que, mesmo na condição que não foi a escolhida por ela e nem a ideal para usufruir de um mínimo de conforto, de repente foi liberta de uma condição que havia uma determinada segurança alimentar e agora precisava de plantar sua comida? O povo hebreu permaneceu nesta jornada por mais de 40 anos motivados pelo anseio de liberdade quando teria sua própria terra. Muita gente nasceu durante esta jornada e não sabia de onde estava vindo e nem para onde estava indo. De certa forma, esta parcela de hebreus não sofria a opressão da história que eles conheceram. Logo que nasciam já eram orientados de que serviam a um só Deus. A maioria daqueles herdeiros do povo hebreu liberto do Egito, se dispersou e cada um decidiu pelos seus próprios rumos religiosos enquanto outros, optaram em permanecer sob as orientações da religião seguindo a sua tradição.

Chegando ao tempo do novo testamento, os escolhidos continuavam sendo oprimidos pelo sistema e pelos reinos tiranos. Quem era provido de fé foi perseguido e até morto. Não somente o governo oficial oprimia, como se não bastasse, a “igreja oficial”, o judaísmo, também oprimia aqueles que não se conformavam com a tradição imposta pelos sacerdotes. Geralmente os oprimidos eram os marginalizados socialmente, principalmente os pobres, os doentes e as prostitutas. Em diversos textos bíblicos, o foco era exatamente estes oprimidos e o interessante é que este grupo não pertencia ao judaísmo e, sim, ao grupo denominado de gentio que os judeus ortodoxos pejorativamente acusavam. Eram pessoas cansadas e sobrecarregadas pelos encargos da vida. Muitas vezes não era uma opção, mas, os infortúnios levavam estas pessoas cansadas a fazerem o que não queriam e a religião judaica oprimia ao invés de trazer leveza às suas vidas.

Ainda não havia a teologia que conhecemos, a referência da opressão era a tradição que foi construída desde os tempos de escravidão no Egito. Jesus chegou exatamente neste contexto, confrontando a sua própria religião e dedicando a atenção necessária àqueles que eram subjugados pela religião. Chamava toda responsabilidade para si e a morte de cruz foi a entrega total aliviando completamente a carga dos oprimidos das consequências do pecado. Jesus quebrou diversos paradigmas e tudo para favorecer e aliviar o peso que a religião impunha às pessoas que ela mesma menosprezava. Jesus pouco se importava se a pessoa era religiosa ou se seguia as tradições da religião judaica, pois, havia assumido as dores dos oprimidos surpreendendo até aqueles que o seguiam e eram religiosos, mas, não sofriam a opressão exercida pelos sacerdotes, pois, mesmo não se conformando com algumas práticas, eram seguidores fiéis.

Mas, Jesus chamou não somente os doze para segui-lo, o convite era para todos. Os doze foram escolhidos para ser a tropa do front, não exatamente para levar o evangelho que estava sendo escrito também através da história de vida deles próprios, mas, para serem complacentes atendendo as pessoas aliviando a carga das suas necessidades emergentes. Muitos passavam fome, outros eram apedrejados como forma de pagar pelo pecado e tantos outros que eram doentes e não tinham acesso ao sistema de saúde que os atendessem. Quem era deficiente físico, pobre e vivia na prostituição, era marginalizado e os doze tinha como uma de suas principais funções atender a estas pessoas e esta atitude mudava completamente a visão sobre a religião. Uma dúvida que surgiu e o próprio Jesus foi questionado de qual era a verdadeira religião. Afinal, Jesus foi perseguido e tornou-se também uma vítima da religião opressora de seus pais. Muitas vezes demonstrou reação a esta opressão. Jesus tinha de sofrer todas as dificuldades e tentações que as pessoas sentiam para que sua contraproposta de vida fizesse sentido. Jesus mais uma vez confrontou a religião vigente afirmando que a verdadeira religião é atitude de amparo aos que sofrem a opressão social e não a instituição (Tiago 1:27).

Mais recentemente o termo oprimido tomou proporções que vão além desta história. A religião de todas as vertentes místicas ainda continua oprimindo os seus seguidores. Prometem vida nova e alívio de suas aflições em troca de algumas práticas da tradição que os mantem fiéis a religião, inclusive com dinheiro. Caso não sigam esta tradição, não conseguirão alcançar a liberdade da opressão. As pessoas se tornam escravas da falsa liberdade apregoada pela religião institucional. Respeitar a religião do outro é um princípio da ética. Combater a religião é focar nos efeitos que ela produz sendo que o foco deve ser as causas que leva a religião institucional a submeter as pessoas a tradições criadas pelo ser humano. Deus quer que as pessoas se aproximem dEle e não é e nunca foi através da religião institucional. Toda religião oprime e cerceia a pessoa humana. Especificamente na religião cristã que não foi criada pelo Cristo, há três principais vertentes, tradicional/reformada, pentecostal e neopentecostal. Afinal, qual é a verdadeira? Os reformados se orgulham da sua tradição, pois, são fiéis oriundos da reforma protestante. Os pentecostais, cujo movimento teve início no começo dos anos 1900 igualmente se orgulham pelas manifestações dos dons espirituais e se julgam os seus únicos portadores e até desdenham dos cristãos reformados. Mais recentemente, os neopentecostais com início nos anos 60 do século passado estão focados nas bençãos promovidas por Deus e ignoram até com fundamentos teológicos que o povo de Deus é sempre feliz e quem sofre qualquer tipo de opressão é porque está “mal com Deus”. Este último grupo menospreza em suas mensagens os dois primeiros grupos os acusando de religiosos.

Estes três grupos representam os fundamentos de todas as vertentes do cristianismo. Nenhuma delas assume que suas doutrinas pertencem a tradição que foi combatida por Jesus e são opressoras, pois, exigem práticas para se chegar a Deus que são meros costumes e, muitos deles, são totalmente desprovidos dos fundamentos do evangelho. Quem define e impõe estes costumes são os velhos concílios e convenções de pastores que servem somente para alimentar a vaidade dos seus líderes e manter a qualquer custo esta opressão. Estas reuniões não é algo novo. Nos tempos de Jesus, estes líderes eram representados pelos sacerdotes que também se reuniam em concílio para definir os rumos da religião judaica e os seus costumes. Os “subversivos” seguidores de Jesus também promoviam suas reuniões. Um deles era Paulo que discursou no concílio da igreja primitiva em Atenas (Atos 17:22). Consta na história também o famoso concílio de Jerusalém onde os apóstolos Pedro e Paulo falaram e colocaram suas posições a respeito dos gentios e na abordagem final, Tiago que, além de ser o irmão de Jesus era o principal líder da igreja e sua intervenção foi muito influente nas decisões. Este conclave teve como principal assunto debater se os gentios que eram repudiados pelos judeus, deveriam seguir também as leis de Moisés (Atos 15:5). A diferença das reuniões atuais é que estes primeiros concílios estavam debatendo os fundamentos do evangelho. Nas reuniões atuais, a liderança quer reescrever o evangelho impondo suas próprias considerações com os seus costumes. Cada um dos representantes destes grupos não quer ser confundido um com o outro. O reformado não admite ser um pentecostal que é considerado por eles como um “sub-cristão” e o pentecostal não quer ser confundido como um reformado tradicional qualquer. O tradicional reformado aceita os dons, mas, dentro dos limites da tradição reformada. O pentecostal aceita a reforma, porém, “temperada” com a manifestação dos dons espirituais.

Mas, e a religião do povo hebreu, o que aconteceu? Ainda mantem as mesmas tradições? O judaísmo é uma das religiões mais influentes no mundo atual. Porém, há muitas vertentes, inclusive, o judaísmo messiânico que reconhece e crê em Jesus como o Messias. O judaísmo ortodoxo ainda espera pelo Messias e mantem irretocável suas tradições. Uma das vertentes do judaísmo é o Islamismo que é radicalmente ortodoxa mantendo suas tradições da mesma forma a milênios. O judaísmo que conhecemos é da tribo de Isaque, enquanto o islamismo é da tribo de Ismael. Ambos são filhos de Abraão, respectivamente filhos de Sara e da sua serva Agar. Tanto o judaísmo como o islamismo são religiões radicais que ainda são incrustadas de muita tradição e que oprimem principalmente as mulheres. As vestimentas tanto masculinas como femininas mantem o padrão e são facilmente identificados os seus seguidores. Já falei sobre a questão da submissão da mulher. Os mais espertos se aproveitam de uma brecha no mandamento de Deus e submetem a mulher ao homem e, na verdade, a submissão da mulher é em relação ao marido e jamais foi determinado que a mulher fosse submissa ao homem.

Após milênios e o surgimento de milhões de outras religiões, a função de cada uma delas ainda continua a mesma que é a de oprimir os seus seguidores. Jesus veio para combater a religião opressora que inventa doutrinas de acordo com as conveniências de seus líderes. É natural e perfeitamente legítimo a necessidade do ser humano em se conectar com uma divindade que faça sentido as suas buscas que preencham o seu vazio espiritual existencial, porém, o torna uma “presa fácil” porque assume uma busca desenfreada. Sempre que abordo um tema que envolva liderança me lembro que muitos dos líderes são frutos desta fragilidade do ser humano em discernir entre o bem e o mal travestido de religião. Muitas vezes as causas de uma religiosidade frágil é consequência da falta de senso crítico dos liderados que não questionam e engolem qualquer doutrina sem mastigar. A bíblia coloca a falsa doutrina como algo maldito (Gálatas 1:9), pois, mesmo que a pessoa tenha boas intenções, esta palavra maldita tem o inferno como destino certo. Estas pessoas vivem no engano e são oprimidas pelas práticas da religiosidade meramente humana. Pelo mundo afora observamos nos noticiários e muito difundido atualmente pelas redes sociais as causas de uma religiosidade fora do evangelho. Isto não significa que a religião cristã é a certa. De forma alguma. Primeiramente, Deus não criou nenhuma religião e Jesus não veio para convencer as pessoas para que vivesse a religião humana. Pelo contrário, Jesus foi confrontado, acusado, julgado e morto pela religião humana. Ele próprio demonstrou na prática qual era a verdadeira religião em que Deus se agrada que são atitudes que supra a necessidade das pessoas carentes independentemente de quem seja e nem de qual classe social ou religião pertença, Jesus mostrou que devemos amar as pessoas e levá-las ao conhecimento de Deus. Não é o deus de qualquer religião porque não existe outro deus. Em Efésios 4:5,6 Paulo conforme revelação que lhe foi dada, afirma que "Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos e por todos e em todos".

Diante desta afirmação não faz qualquer sentido o pertencimento a uma linha teológica reformada ou pentecostal e também não faz sentido afirmar que Deus está nas religiões e que todas tenham o mesmo destino. Deus não pertence a nenhuma religião e se envolveu pessoalmente para trazer a verdadeira liberdade sem a opressão da religião através de Jesus Cristo. “Se, Jesus te libertar, sereis realmente livres” (João 8:36).