Venancio Junior
Será
que alguém já pensou na agenda de Deus? O que será que Deus está pensando ou
planejando neste exato momento? O que será que tem reservado para hoje? Será que
a única “preocupação” de Deus é com a humanidade?
Deus
é aquele que criou a existência. Antes da criação nada existia, com exceção do
reino de Deus que fica em algum lugar do contexto espiritual. Por que Deus
criou a existência? Algo que é fato seria a sua infinita criatividade. Uma diversificação
dos sentidos e formas presentes na criação é algo admirável. O som, as cores, o
formato, o cheiro, a textura, o gosto presentes na criação são fantásticos. Além
dos cinco sentidos incluo nesta lista os sentimentos de desejo e sensação. Mesmo
após a queda pelo pecado que gerou uma profunda desfiguração na sua essência em
que a matéria se tornou mortal, porém, alguns sentidos permaneceram irretocáveis,
por exemplo, o sentimento do bem presente até nos animais que gostam do carinho
do ser humano. Este sentimento pertence a configuração original. O apreço pelas
pessoas aos seus semelhantes também pertence a configuração original. Toda esta
existência foi criada perfeita para louvor do seu criador. Deus não precisava se
incomodar em criar a existência para comprovar que é soberano. Considerando que
Deus não existe porque a existência veio depois, então, não poderia criar a si
mesmo e Deus simplesmente é, pois, não se submete ao tempo e ao espaço que
conhecemos.
Explicar
Deus é impossível. Mas, ele se tornou acessível através da existência, obra de
suas mãos. Através das escrituras vimos a saber e conhecer a Deus como disse o
salmista "O céu anuncia a glória de Deus e nos mostra aquilo que as
suas mãos fizeram" (Salmos 19:01).
Deus
não se manifestou porque precisava alimentar a sua vaidade de criador. Deus também
não precisa que seja reconhecido como soberano. Deus ser reconhecido é uma
iniciativa da criatura, enquanto ser conhecido foi uma iniciativa do próprio
Deus e toda a sua glória e poder disponibilizou à sua existência e concedeu a
responsabilidade ao ser humano o cuidado e proteção da sua criação, "O
Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o
guardar" (Gênesis 2:15). Contrariamente ao que se conhece, Deus não é
ditador e concedeu também o livre arbítrio ao ser humano nas suas recomendações
iniciais logo no início "E o Senhor Deus ordenou ao homem: De toda
árvore do jardim você pode comer livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal você não deve comer; porque, no dia em que
dela comer, você certamente morrerá" (Gênesis 2:16,17). Algumas interpretações
teológicas afirmam que o livre arbítrio não existe porque Deus já sabe tudo o
que vai acontecer. Crendo, desta forma que tudo já esteja definido e quem será
salvo e quem não será salvo. A agenda de Deus não funciona na conformidade
literal de algumas interpretações. Se considerarmos esta linha de interpretação,
então, devemos considerar Deus um tirano ditador cruel. Se já sabe tudo o que
vai acontecer, então, ele está assistindo a todo sofrimento e degradação da sua
existência do seu trono sem se preocupar. Exatamente neste ponto é que está o
fundamento que desconstrói o conceito de que tudo já está definido. Deus se
preocupou e se ocupa em resgatar e reconstruir a sua existência que é obra de
suas mãos como já mencionado anteriormente. A existência é obra-prima que fazia
parte da sua agenda. No livro de Gênesis 2:2 lemos "E, havendo Deus
terminado no sétimo dia a sua obra, que tinha feito, descansou nesse dia de
toda a obra que tinha feito". A agenda de Deus neste texto é pública e
notória. Deus descansou não porque estava cansado, mas, deixou de se preocupar
e se ocupar com a criação que já havia concluído. No final do capítulo anterior
"Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom" (Gênesis
1:31). Quem tem agenda sabe que no final do dia precisa conferir e fazer as
considerações finais do trabalho daquilo que foi feito. Deus fez exatamente
isto. Na agenda de Deus consta que Ele passeava pelo jardim e verificava como
andava as coisas. Aparentemente nos parece que o contexto da criação é o mesmo
de Deus, pois, o ser humano conversava diretamente com o seu criador, mas, se
lermos o texto de Gênesis 3:8 parece que Adão não via a Deus, somente ouvia a
sua voz e Deus se apresentava como o vento suave da tarde "Ao ouvirem a
voz do Senhor Deus, que andava no jardim quando soprava o vento suave da
tarde...". Provavelmente o ambiente da criação fosse distinto da
morada de Deus que não tinha uma configuração humana, pois, é espírito (João
4:24) e a criação era matéria.
Considerando
que tudo sofreu uma desfiguração, será que Deus descansou e não se preocupou
mais com a sua criação? Isto, de fato, aconteceu quando Deus retirou a sua
criação da sua agenda. Não constava na agenda a expulsão da criação daquele contexto,
mas, como o ser humano se tornou conhecedor do bem e do mal, precisava ser retirado
(Gênesis 3:23) para que (em pecado) não comesse da árvore da vida e vivesse
eternamente (Gênesis 3:22). Percebe-se a gravidade da irresponsabilidade de
Adão e Eva. A partir daí, o perdão ainda não constava na agenda como única
forma de redenção ou recondução da existência à presença de Deus.
Não
se sabe ao certo o tempo exato entre a expulsão do jardim e a decisão no
resgate da sua criação. A agenda de Deus precisava ser revista e Deus se
empenhou pessoalmente nesta empreitada. No texto de Gênesis 3:15 Deus deu a
dica sobre a sua intenção em rever a agenda demonstrando que sempre esteve
focado na sua criação. Ele afirmou que a descendência da mulher feriria a
cabeça da serpente que é o diabo e apenas o calcanhar seria ferido numa alusão
à crucificação de Cristo. Deus não pensou muito para assumir pessoalmente este
processo quando fez esta afirmação.
A
partir daí, o Reino celeste foi colocado à disposição para esta batalha
espiritual que não se iniciou com a expulsão do ser humano do jardim, mas, com
a precipitação do diabo e seus anjos fora da glória de Deus. No livro de
Apocalipse 12:7,8,9 consta o início da batalha entre o bem e o mal "Então
estourou a guerra no céu. Miguel e os seus anjos lutaram contra o dragão.
Também o dragão e os seus anjos lutaram, mas não conseguiram sair vitoriosos e
não havia mais lugar para eles no céu. E foi expulso o grande dragão, a antiga
serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo. Ele foi
atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos". Uma verdadeira
batalha épica de grandes proporções e que mudou completamente a agenda de Deus
porque a sua criação estaria à mercê desta legião maligna e não teria qualquer
chance de vitória. Deus se compadeceu porque não fazia qualquer sentido a sua
obra-prima se desintegrar pelo pecado e o diabo cantar vitória controlando a
sua criação que foi feita com muito amor e carinho. A criação é essência de
Deus e os seus escolhidos foi posteriormente considerado a “menina dos seus
olhos”.
Após
vencer a primeira batalha, pois, a guerra ainda não estava ganha porque a raça
humana ainda precisava ser resgatada, Deus decidiu se envolver pessoalmente
como única forma de vencer a guerra em definitivo. Na perspectiva humana, é um
longo processo que precisava superar algumas etapas e todas foram incluídas na
agenda como forma de respeitar estas etapas e definir um recomeço, meio e fim. Coloquei
recomeço como sendo uma nova chance da vida eterna outrora perdida porque o
começo de tudo foi no momento da criação da existência. Como já afirmei, este recomeço
teve o envolvimento pessoal de Deus através de Jesus Cristo que é Deus
encarnado. Algumas linhas teológicas não reconhecem a Jesus como Deus, mas,
somente como o filho de Deus. Considerando que há somente um só Deus, então,
esta interpretação começa a ser desconstruída conforme lemos no texto em que o
próprio Jesus assume que "Eu e o Pai somos um" (João 10:30). Por
causa desta afirmação, os religiosos sacerdotes queriam apedrejar Jesus por
assumir esta condição. E ainda no texto de João 1:1 "No princípio era o
Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". Verbo em grego
é “Logos” e em latim é “Verbum” que significa palavra. Através da palavra a
existência foi criada e Jesus estava lá no momento da criação. Reitero que não
veremos no Reino de Deus três pessoas distintas na pessoa do Deus-Pai, Deus-Filho
e Deus-Espírito Santo. O que veremos é somente uma pessoa, pois, não há outro
Deus. Esta definição trinominal é para revelar as ações distintas da pessoa de
Deus, caso contrário, não conseguiríamos compreender o processo da sua onipresença,
onisciência e onipotência.
Este
envolvimento pessoal de Deus foi motivado pelo seu próprio amor. Isto lemos, talvez
no texto mais famoso da bíblia em que o próprio Jesus revela que "Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16). Deus não se
sentiu obrigado a fazer este sacrifício, mas, sendo essencialmente amor, não
poderia abandonar a sua criação para a perdição eterna. Jesus veio para cumprir
a agenda do Pai "Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria
vontade, mas a vontade daquele que me enviou" (João 6:38). Afinal o
que continha nesta agenda? Na carta de I Timóteo lemos que "...Deus,
nosso Salvador, deseja que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento
da verdade" (I Timóteo 2:3,4). Qual é esta verdade? O próprio Jesus
responde "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai
senão por mim" (João 14:6).
A
agenda de Deus para o pleno resgate do ser humano começa e termina em Jesus "Porque
o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê" (Romanos 10:4).
Utilizando minhas palavras de acordo com o contexto desta reflexão seria “Porque
a finalidade da agenda de Deus é revelar Jesus Cristo para justificar todos
aqueles que crerem”. Crer o que contêm nesta agenda é fundamental para ser
reconduzido à sua presença conforme o texto "Quem nele crê não é
condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no Nome do
Filho unigênito de Deus" (João 3:18). Jesus assumiu a sua condição de
ser também o Espírito Santo quando designou a grande comissão que é a sua
igreja e assim finalizou a sua missão na terra que foi a conclusão de uma das
etapas do processo contido na agenda logo após a ressurreição "...eis
que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mateus
28:20). Este texto está consoante com o de João 14:16 quando Jesus disse
que pediria ao Pai que enviasse o Espírito Santo e que estaria para sempre com
aqueles que creem "E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro
Consolador, a fim de que esteja com vocês para sempre".
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