Venancio
Junior
"Cumprireis os meus juízos, e guardareis os
meus estatutos, para neles andardes; eu sou vosso Deus". Levíticos 18:4
“Tudo
me é permitido, mas, nem tudo me convém” I Coríntios 6:12.
Qual
a relação do texto de Levíticos 18 escrito por Moisés na exposição das leis com o texto acima de Paulo que estava sendo
confrontado pelos legalistas sacerdotes?
Moisés
escreveu sobre a proibição do incesto, homossexualismo, sexo na menstruação,
zooerastia ou zoofilia que é o sexo com animais e tantos outros comportamentos que, muitos deles eram consideradas aberrações. Alguns ainda são consideradas e até foram criadas leis proibindo. Parece
que eram práticas que se tornaram comuns no meio do povo hebreu. Moisés era o
líder designado pelo próprio Deus para direcionar pelo caminho até a terra
prometida. Que caminho era este, o que era certo e errado e o que era mal aos
olhos do Senhor? Algumas coisas eram bem estranhas e não adiantava ficar
incomodado com aquela situação, sem a orientação de Deus, estaria com as mãos
atadas.
Muito tempo depois, Paulo
se encontrava num embate jurídico com os sacerdotes legalistas que ainda se mantinham
fiel a lei de Moisés e outras que foram criadas ao longo deste tempo milenar
que separa o contexto de Moisés e o de Paulo. Apesar do assunto terminar em
relacionamento sexual, o foco de Paulo era a justificação em Cristo que os
sacerdotes não compreendiam.
Enquanto isto, Moisés teve uma responsabilidade bem complicada na condução do povo hebreu
quando foi liberto da escravidão do Egito e ainda não havia o conhecimento da
lei que o próprio Deus entregava diretamente a Moisés porque alguma
coisa que acontecia no meio do povo hebreu não estava muito legal. A lei surge após o fato ocorrido. Alguém sabe de alguma lei que se
antecipa ao delito? Provavelmente estes delitos imorais já estivessem
acontecendo no meio do povo, pois, houve necessidade em proibir e falar
claramente sobre estes assuntos delicados. Moisés enfrentava uma situação em
que uma boa parte das pessoas pareciam crianças e, de fato, desconheciam a
formalização do processo em que precisava proibir e dizer que aquilo não poderia
fazer e alguns, com certeza, questionavam, mas, por que não? Caso não fosse
algo tão reprovável, algumas instruções já eram o suficiente para resolver esta
questão. Com certeza as práticas se tornaram culturais e uma destas práticas
foi a famosa história da feitura do bezerro de ouro. Alguns artigos, parágrafos, incisos e alíneas
que compõem a lei de Deus, na verdade, foram adaptadas pelos homens. Por
exemplo, por que, no caso do adultério, somente a mulher teria de ser
apedrejada? Deus determinou que ambos os adúlteros deveriam ser mortos
(Levítico 20:10), mas, não é claro qual forma seriam mortos. Obstante, conforme
a lei em que o adultério era um delito factual e só poderia ser cometido com
parceria, juridicamente, quando a acusação envolve duas ou mais pessoas no mesmo
delito, não existe crime parcial. A questão do apedrejamento foi
impositiva para quem adorasse ao deus Moloque que seria o “desafeto” de Deus na
peregrinação rumo a Canaã (Levítico 20:2).
Por
volta de 1450 anos depois de Moisés, Paulo ainda era confrontado com estas
leis. Paulo, sendo muito inteligente, era um exímio intérprete da lei e seguia
a rigor, porém, pela falta de sabedoria, muitos abusos eram praticados porque
julgava por si mesmo que era permitido. São as chamadas “gordurinhas
jurídicas” em que se consegue extrair uma nova interpretação, pois, há um provável sentido
dúbio. Esta era a interpretação dos seus subordinadores que, não somente permitia,
mas, também recomendava. Paulo perseguiu a igreja de Jesus Cristo com a lei
embaixo do braço e quem pensava diferente, sofria o castigo. No contexto atual,
muitos perseguem as pessoas citando frases bíblicas de efeito e querem criar
leis para que tenham motivos para punir aqueles que pensam diferente. Paulo
tinha esta personalidade e praticou muitas atrocidades, inclusive consentiu na morte de Estevão (Atos 8:1) quando estava sendo brutalmente apedrejado e da
forma que interpretava a lei antes da sua conversão, estava tudo certo e
ninguém questionou que ele não poderia fazer do seu jeito. A lei de Deus não constava este "delito" e muito menos o castigo. Paulo conhecia profundamente
a lei e, após a sua conversão ao evangelho, foi chamado para ser apóstolo (II
Timóteo 1:1) e não mais agia com violência, mas, continuava afirmando e confrontando
aquilo que os sacerdotes acreditavam dizendo que tudo era permitido. Para os
legalistas, nem tudo a lei permitia, mas, praticavam os delitos, mesmo a lei
não permitindo, por isto que são legalistas quando a lei só vale para os
outros. Não bastava a lei proibir, havia o consenso da permissividade. Paulo
estava atento a esta situação de questionamentos que ele mesmo intencionalmente
provocou. Precisava ser feito desta forma. Os legalistas jamais fariam uma
autocrítica que descontruísse todos os seus conceitos. Se a lei proíbe, por que
Paulo afirmava que tudo era permitido? Noutras palavras, Paulo quis dizer que
se pode fazer de tudo, porém, nem tudo é conveniente. Quem pode proibir as
pessoas de fazer o que quiser? Na concepção dos líderes religiosos da época,
isto é possível através da aplicação da lei. Os sacerdotes eram legalistas e
este mesmo grupo, teve plena liberdade em perseguir Jesus até a sua morte.
Inclusive, após a ressurreição, os sacerdotes também tiveram plena liberdade em
pagar propinas aos guardas para mentirem dizendo que os discípulos roubaram o
corpo de Jesus (Mateus 28:12,13). Não constava na lei este tipo de atitude que é reprovável até os dias de hoje.
No
texto de I Coríntios 06, Paulo estava (como sempre estiveram os apóstolos e o
próprio Jesus) confrontando a lei dos judeus. A lei dominava o coração dos
judaizantes religiosos que, em hipótese alguma, aceitavam qualquer
questionamento ou confrontação dos valores da tradição, porém, algumas práticas
contrariavam a própria lei. Por isto que Jesus é a única finalidade da lei.
Observe o que Paulo, citando Moisés, escreve sobre lei e graça em Romanos
10:4,5 "Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que
crê. Moisés escreveu que o homem que pratica a justiça que vem da Lei, viverá
por ela". O próprio Jesus que justifica a todos pela graça afirmou que
veio cumprir e não mudar a lei (Mateus 5:17). Como assim, Jesus também seria um
legalista, por que era criticado por não cumprir a lei de Moisés? Lendo o texto
de Marcos 7:8, parece que Jesus foi contraditório “...E assim abandonais o
mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens”. Quem perseguiu
Jesus foi o grupo que prezava pela lei que neste texto Jesus denominou de “tradição
dos homens”. Este é o velho problema que ainda persiste na religião dos homens, cada uma
cria a sua própria lei e o evangelho torna-se irrelevante e até desconhecido, pois, vai sendo sufocado pela tradição. Mas,
Jesus demonstrou que incoerência não era do seu feitio e lemos no verso 20 "Pois
vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus...".
Percebe-se que Jesus confrontou o legalismo (gordurinhas da religião) dos
sacerdotes e fariseus e ratifica a lei, como posso dizer, seguindo o protocolo
do processo irretocável de salvação desde o seu início quando fomos condenados
ao inferno pela lei e que a salvação agora é justificada pela sua graça.
Tudo
que escrevi até agora foi para justificar o que antes a lei não permitia e
agora sob a graça, tudo é permitido. Não é bem assim. Esta ótica é equivocada porque, mesmo diante da lei, o ser humano não perde a sua autonomia, porém, graça não significa que tudo é permitido sem responsabilidade e consequências. No tempo da
lei, Moisés precisava orientar o povo por qual caminho deveria seguir, porque o
coração e mente do ser humano é tendencioso ao mal que o distancia de Deus. Mas,
se o propósito é ter um relacionamento com Deus, então, pelo fato de ser
permitido é preciso fazer o que seja preciso e evitar em alguns casos, fazer o
que se queira.
Afinal,
o que era permitido e Paulo observou e colocava como inconveniente? Nesta
situação específica do texto de Paulo, envolveu até um debate jurídico, pois,
falavam sobre a lei dos judeus. Foi observado o litígio que é um conflito de
interesses e o termo lícito encontrado em algumas versões da bíblia, sendo
utilizado onde a interpretação é segundo a lei e não conforme os conceitos do
evangelho da graça que Jesus expôs. Se utilizarmos este termo, creio eu que
perderia o sentido do contexto que Paulo quis se referir porque alguns pontos
principais desta discussão não constavam na lei e Paulo, da mesma forma que
Jesus fez, precisava relevar à consciência dos judeus o sentido da graça na
perspectiva do evangelho que Jesus ressignificou. Então, neste caso, poderia fazer abordagem sobre
qualquer assunto e não somente sobre o relacionamento sexual generalizado como
abordam os dois textos. As pessoas julgavam conforme suas convicções de que
poderiam, pois, seguiam a tendência da mente e do coração (Releia Levíticos 18).
A forma como Paulo coloca, parece que a bíblia diz que sim, mas, não recomenda,
pois, ninguém pode te impedir de fazer estas práticas porque o pecado está
controlando o coração (vontade) e a mente (atitude). A lei proíbe, sim, proíbe,
mas, no contexto da graça não existe proibição e o ser humano é responsável pelas suas decisões e
ações. A lei não se sobrepõe a graça e lemos na bíblia as consequências
destas más atitudes que permitem que o pecado domine não somente a consciência,
mas, também o coração o que chamamos de libertinagem que não pode ser
confundido com liberdade. Libertinagem é a prática do libertino que não se
submete as leis morais, éticas e nem espirituais e se mantem fora da graça.
Existem
duas concepções de liberdade atualmente que, dependendo da escolha, nos
direciona a destinos diferentes:
-
Liberdade de Deus
A
liberdade que Deus nos mostrou não é desvinculada da responsabilidade. Vamos
analisar a liberdade do Antigo Testamento e a liberdade no Novo Testamento.
Logo no início da criação, antes mesmo da queda Deus determinou que o ser
humano teria domínio sobre absolutamente tudo o que estava sobre a terra. Isto
derruba o conceito de alguns que julgam que Deus é um tirano ditador e que não
permitia liberdade. Alguém conhece algum ditador que concede liberdade para as
pessoas? Deus não retirou esta liberdade após a queda, mas, fazer o que bem
entender com liberdade confrontaria a responsabilidade e geraria consequência. O melhor exemplo de liberdade sem responsabilidade e que gera consequências degradantes é aquela praticada por boa parte dos moradores de rua. Muitos deles estão naquela condição miserável por opção e todos os dias tem oportunidades desenvolvidas por instituições sociais que oferecem, além da higiene pessoal, vagas de trabalho para gerir o seu próprio custo. Muitos decidiram pela liberdade em viver como desejarem dentro da concepção de que ser livre é ser solto e não se submeter ao sistema. De qualquer forma, todos estes mendigos sofrem as consequências da queda espiritual onde tudo perdeu a sua configuração original. Seria difícil pensar no bom uso da liberdade quando tudo foi desconfigurado e o
mal passou a ocupar o coração e a mente do ser humano. O episódio de Caim
matando Abel demonstra o que viria depois. Hoje em dia, os profissionais da área estariam buscando nos
livros de psicologia qual foi a fonte de motivação de Caim. Não existia ainda
atitudes em consequência de instabilidade social ou emocional. Este crime
praticado por Caim teve como o principal fator, a liberdade em fazer o que era mal. Deus permitiu que
isto acontecesse. Totalmente consonante com o texto de Paulo em I Coríntios
6:12.
-
Liberdade do ser humano
Há
um conceito de liberdade que as pessoas insistem em demonstrar que seja
desvinculada dos princípios do relacionamento social e espiritual. No livro de
Gálatas, logo no primeiro texto lemos: "Para a liberdade Cristo nos
livrou; portanto ficai firmes e não vos sujeiteis de novo a um jugo de
escravidão". (Gálatas 5:1). Paulo é afirmativo de que a liberdade que Caim
se apropriou para cometer o assassinato de seu irmão Abel, na verdade, era
escravidão da carne. Leia o texto do verso 13 “Vós, irmãos, fostes chamados
à liberdade: porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne..."
(Gálatas 5:13). Novamente este texto é consonante com o texto do próprio Paulo,
“tudo é permitido”, mas, nem tudo convém. Caim poderia matar Abel, mas,
principalmente no aspecto espiritual, não foi uma atitude que convinha para
resolver o problema criado pelo próprio Caim. Abel foi duplamente inocente, por
não ter dado qualquer motivo e por ter sido morto. Quem poderia proibir Caim
e se proibisse, do que iria adiantar? Podemos afirmar que Caim era escravo da
sua própria liberdade.
Usar
a liberdade e Jesus oferecendo a liberdade seriam dois tipos de liberdades? A
absoluta liberdade nos foi oferecida através de Jesus: "Se, pois, Jesus te libertar, sereis realmente
livres" (João 8:36).
Afinal,
que tipo de liberdade é esta oferecida por Jesus? Afinal, quem é este Jesus que, segundo os próprios sacerdotes, afrontou a sua própria religião, o judaísmo e se apresentou como o filho de
Deus prometendo a verdadeira e genuína liberdade? Do que exatamente, ele quer
nos libertar? Jesus é aquele que foi citado ainda no Jardim do Éden quando o próprio Deus afirmou que Jesus pisaria na cabeça da serpente, com isto, anularia toda ação do mal e a
serpente apenas lhe feriria o calcanhar que é a morte de cruz que foi minimizado
pela ressurreição"...e entre a tua semente e a sua semente; esta te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3:15). Sem a ressurreição,
a morte de Jesus seria uma tragédia. Este foi o medo dos discípulos e de muitos
dos seus seguidores porque a visão em relação à missão de Jesus era periférica,
pois, não enxergavam uma decisão com foco na eternidade. Ferir a cabeça é uma metáfora em como
inutilizar a consciência da pessoa que, neste caso, é o diabo que nos escraviza com
o pecado e Jesus foi prometido para nos dar a liberdade desta escravidão da condenação do pecado. Jesus é também aquele que estava presente na criação "Disse também Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança" (Gênesis 1:26) e foi mencionado
pelo rei Nabucodonozor quando condenou os três jovens hebreus Mesaque, Sadraque
e Abdenego à fornalha ardente e Jesus estava com eles "Disse ele: Eis
que eu vejo quatro homens soltos, que andam no meio do fogo, e não recebem
dano; e o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses"
(Daniel 3:25). Este episódio demonstra também que Jesus pode prover a liberdade
literal (sendo a sua vontade) e se envolve pessoalmente em qualquer situação
difícil na nossa dimensão física.
Quando se fala em Deus, Jesus e tudo o mais que coexiste na nossa mente com a religião, lembramos que, de certa forma, não limita as nossas ações? A grande dúvida e que nos faz escravos da conveniência humana, qual é a verdadeira religião? Esta pergunta fizeram a Jesus que numa resposta com precisão cirúrgica afirma que a verdadeira religião não é a instituição, mas, a atitude em atender os órfãos e as viúvas que representavam, naquele contexto social, as pessoas mais necessitadas. Outro questionamento, porque vivemos a instituição que tolhe as nossas vontades, os nossos desejos e os nossos pensamentos? Exatamente, este é o contraponto ao texto de Paulo sobre o mal uso da liberdade. A carne citada por Paulo quer viver a religião, enquanto o espírito livre quer viver a liberdade em servir ao próximo. Considerando que servir é uma prerrogativa das pessoas de bom coração, então, quem vive esta liberdade são somente as boas pessoas? Muitas pessoas se consideram como boas pessoas e não teriam problemas em fazer uso da sua liberdade que consideram como um direito adquirido. Nem o próprio Jesus assumia que era bom. Jesus sempre estava rodeado de uma multidão, e, logo após o contato com as crianças, um homem ajoelhou-se diante de Jesus e o chamou de bom e Jesus lhe respondeu: “Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus” (Marcos 10:18). Se o próprio Jesus não se julga bom, quem seria bom?
Bondade,
liberdade, salvação e outros atributos estão contidos na lei de Deus e não na lei dos
homens que só constam a escravidão da religião e Jesus é a finalidade desta lei que nos concedeu o direito em usufruir e
propagar esta liberdade adquirida no sacrifício da cruz. Jesus livremente se tornou
escravo da cruz se submetendo sem muito questionamento, exceto, quando chegavam
os dias mais próximos do momento da morte de cruz em que questionava ao
Pai se precisava mesmo daquilo, pois, não queria morrer e muito menos como um
malfeitor de alta periculosidade em que a morte de cruz era destinada. Jesus poderia muito bem decidir não morrer por pessoas que não merecem o sacrifício que os tornariam verdadeiramente livres. Sofreu todas
as dores possíveis física, emocional e psicológica que foi a morte de cruz para
que a liberdade fosse real no processo de salvação.
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