quinta-feira, 18 de maio de 2023

A VIDA SEXUAL DA IGREJA

Venancio Junior

Como assim!? Se o sexo é pecado, a igreja não se limitaria ao contexto da espiritualidade?

Sexo não é pecado. Quem disse que sexo não é algo espiritual? Se perdemos a espiritualidade por causa do sexo, por que não podemos usufruir da espiritualidade do sexo? Espiritualidade não é uma parte de nós, mas, compõe o todo do ser. Ser espiritual é diferente de estar espiritual que, na verdade, não existe. Da mesma forma que não estamos pecadores, mas, somos pecadores.

Deus criou a relação sexual após concluir a criação de todas as espécies vivas quando disse em Gênesis 1:28 “Deus os abençoou, e lhes disse: Frutificai, multiplicai-vos, enchei a terra”. O sexo no sentido de coito, não é exclusividade do ser humano. Quando Deus abençoou/determinou “frutificai e multiplicai” foi de forma generalizada a toda a criação onde se inclui, além do ser humano, os animais e os vegetais. O termo sexo é utilizado também para distinguir os gêneros macho e fêmea dos animais, dos vegetais e foi criado antes mesmo da criação do ser humano que veio a ser criado posteriormente. A reprodução já estava “rolando” mesmo antes do ser humano conhecer a excitação prévia do coito. Frutificar para os vegetais é gerar frutos e para o ser humano é gerar filhos que são frutos do relacionamento sexual. Não é somente isto, Deus também colocou prazer no sexo, caso contrário, ninguém se interessaria em fazer sexo. Ninguém em sã consciência afirmaria: “Vamos transar porque gosto de ter filhos”!

Os anos iniciais do casamento, diria que o sexo é um agente de apoio da sociedade enchendo a terra, depois, como diz o texto (versão minha) de Paulo: "Não deixe de fazer sexo um ao outro, senão talvez de consenso por algum tempo, para dedicar à oração, depois, façam sexo à vontade para não ser tentado por Satanás por causa da excitação sexual" (I Coríntios 7:5). Paulo observou que a excitação não é algo que se possa controlar e tinha uma personalidade difícil, sendo muitas vezes mal interpretado. Talvez lhe tenha faltado exatamente o carinho de uma mulher para diluir toda aquela rispidez da personalidade. Será que, se Paulo tivesse casado ele mudaria alguma coisa nos seus conceitos? Por exemplo, nas recomendações sobre o casamento em I Coríntios 7:1 “...é bom que o homem não toque em mulher”. Logo em seguida no verso 8 ele afirma “...é bom que permaneçam como eu”. Paulo era solteiro. Provavelmente, quando ainda era militar do exército romano, caso sua personalidade não fosse coerente, tenha participado de algumas orgias como era costume numa sociedade onde imperava o paganismo. Por causa disto, deve ter associado o coito sexual como algo impuro. O sexo nunca é impuro, mas, com quem se faz é que aloja a impureza. Apesar da falta de experiência conjugal, Paulo tinha consciência da importância do coito sexual e sabedoria para orientar os jovens casais da época de que, caso não seja controlado, satanás que é astuto, pode assumir o controle desta excitação. Quando se está em pleno vigor físico da juventude, a “moçada vive no cio”. Cio é um termo popular, geralmente aplicado aos animais quando estão no ápice da excitação sexual. A primeira sensação que antecede o coito sexual é a excitação. A excitação antecede o consenso. Sexo não consensual, de certa forma, é estupro. Mesmo que sejam casados, não existe um “grau leve” de estupro. Considerando que o sexo é uma das vertentes da espiritualidade, fazer algo que não se queira é uma violação da intimidade espiritual do homem ou da mulher. Mas, quem de bem com a vida conjugal não quer fazer sexo com a pessoa amada?

Deus também determinou que o sexo não era e nunca foi para as crianças, mas, para pessoas maduras e responsáveis conforme o texto de Gênesis 2:24 “Portanto deixa o homem a seu pai e a sua mãe, e se une à sua mulher; e são uma só carne”. Este termo “une” significa morar juntos e fazer sexo juntos e tem um sentido espiritual rumo a maturidade. Muitos aprenderam que este texto fala sobre o homem deixar a casa do pai e da mãe conforme algumas versões bíblicas. Não é isto que significa, pois, existem muitos homens que deixaram a casa dos pais, mas, não amadureceram, enquanto alguns outros, mesmo ainda morando com os pais, são plenamente maduros. Este termo deixar o pai e a mãe tem uma conotação espiritual de maturidade. A relação do filho com o pai e a mãe é espiritual porque é uma relação que teve origem na impetração da benção pelo próprio Deus. Releia Gênesis 1:28 “Deus os abençoou...” Maturidade e espiritualidade tem uma relação intrínseca. Reafirmo que o relacionamento conjugal do coito sexual é espiritual. Paulo enfatizou na carta aos I Coríntios 6:16 "Vocês não sabem que aquele que se unir a uma prostituta é um corpo com ela? Pois como está escrito: "Os dois serão uma só carne". Novamente foi utilizado o termo unir. Por isto que a relação sexual extraconjugal é pecado, pois, o sexo é união espiritual em uma só carne. Prostituta no contexto da época significa uma pessoa que não seja a esposa. Naquela época, no caso, o homem, fazia sexo com a esposa ou com a prostituta que ganhava para isto. Interessante é que no Antigo Testamento, parece que a prostituição em alguns casos não era "levado muito a sério". Perceba no texto de Juízes 16:1 no famoso episódio em que Sansão arranca o portão da cidade de Gaza, antes disto, ele havia passado um tempo com uma prostituta e na bíblia é relatado como um fato comum. Outro episódio considerado como comum, pode ser considerado um fato ordinário na ação extraordinária de Deus que aconteceu com Josué antes da conquista de Jericó quando os mensageiros enviados passaram a noite na casa da prostituta Raabe (Josué 2:1). Será que estes mensageiros "fizeram amor" com ela? Nesta época ainda não havia o “sexo casual” quando acontece com qualquer pessoa que não necessariamente precisa ter algum compromisso. As prostitutas ainda existem. Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Eu afirmo o que está escrito na bíblia, prostituição não é profissão, mas, depravação do coito conjugal que é um relacionamento sadio na perspectiva bíblica. Segundo a bíblia, a profissão mais antiga do mundo é de agricultor conforme Gênesis 3:23: "Deus enviou o homem para fora do jardim do Éden, a fim de cultivar a terra de que havia sido tomado". Isto aconteceu logo após a queda pelo pecado. Eu acho que antes da queda, talvez, não houvesse necessidade de algum tipo de esforço dedicado, pois, havia a “subvenção divina”.

Sobre os termos utilizados atualmente para o relacionamento sexual, alguns são populares que, numa aplicação acadêmica, poderíamos chamar de semiótica literária que significa, neste caso específico, interpretação de palavras. Por exemplo, transar é um termo genérico que significa troca e pode ser aplicado em transação imobiliária quando se troca uma quantia equivalente por um imóvel que corresponda ao valor disponibilizado ou transação financeira quando se troca por ações ou aplicações em algum fundo de investimento. Não é usual a utilização em algumas situações, por exemplo, no relacionamento pessoal e falar que deseja transar algumas palavras. O que normalmente ouvimos é trocar algumas palavras e o sentido será o mesmo. O termo está tão incrustado no sentido popular que não precisaria da aplicação da semiótica, pois, se chegar na presença de alguém e falar que deseja transar, o sentido será relativo à transa sexual. Este termo relativo a relação sexual foi cunhada pelos hippies nos anos 70. Outro termo hippie é curtir que as redes sociais utilizam nos aplicativos. Na verdade, curtir é relativo a um processo de curar o couro para perder o cheiro natural do gado e torná-lo macio. Transar e curtir um sexo se tornou algo normal e sem tabu da moralidade das “pessoas de bem”. Mas, isto não será um problema se a pessoa usar de sabedoria para aplicar as palavras corretamente.

A bíblia, contrariamente ao que alguns desconhecem e evitam tomar ciência sobre a sexualidade, foi a primeira que mencionou esta questão e os seus textos são “recheados” de termos concernentes a sensualidade que provocam escândalos para quem julga que a bíblia fala da espiritualidade sem integralidade. Aliás, o conceito de espiritualidade bíblica é algo que precisa ser revisto com discernimento mais aprofundado quando se atinge a maturidade espiritual. Boa parte, se não a maioria dos pastores ensina que Deus não está presente no ato conjugal do sexo. Nas igrejas, com raríssimas exceções, não existem estudos bíblicos sobre a vida sexual daqueles que compõem a igreja. Igreja a que me refiro, não é a instituição que é totalmente irrelevante neste conceito, mas, as pessoas individualmente que compõem o corpo que é a igreja. Esta composição é formada por pessoas cheias de preconceitos e que se constrangem quando o assunto é o coito sexual. Como falar de sexo na presença dos filhos? Como assim, para fazer o coito sexual os dois precisam estar completamente nus? Muitos tabus ainda rondam a consciência dos pastores. Muitos tem dificuldade até para falar qual o termo correto para o ato íntimo conjugal que não cause um choque. O que precisa é ter cuidado para não banalizar algo tão importante no relacionamento conjugal que interfere diretamente na estrutura familiar. Infelizmente, diz o ditado, se não aprende em casa ou na igreja, vai aprender nas ruas da pior forma possível. Este assunto nunca deveria ter a sua discussão e análise nas igrejas e sociedades organizadas como um tabu. Creio que a falta de esclarecimento é a principal causa das práticas irresponsáveis que envolve a relação sexual entre duas pessoas. Atualmente não podemos afirmar que este tipo de relacionamento seja feito somente por um homem e uma mulher e estaríamos infringindo algumas leis recentes com risco de ser preso. Mas, isto não impede a sua discussão e a bíblia orienta que cada pessoa não deve escolher com quem deseja transar à revelia, sem critério e sem responsabilidade enquanto faz as suas confissões mais íntimas porque a moçada quer, tem e sempre teve grande incentivo daquela família que está fora do contexto bíblico para transar. Tem pais que, logo que o filho tenha a consciência sexual e isto tem acontecido cada vez mais cedo, levam até a um prostíbulo para que conheça a mulher intimamente com medo de que o filho se torne um homossexual.

A igreja precisa sair da condição marginal e voltar ao caminho do protagonismo espiritual que sempre lhe pertenceu e assumir a responsabilidade de orientação sem que haja uma interferência indevida na vida das famílias. Uma vez que as famílias frequentam a igreja, subentende-se que todos desejam orientação, principalmente nestas questões polêmicas. As famílias estão sendo bombardeadas, não por conceitos errados, quem erra é porque deseja acertar, mas, por maus conceitos de destruição de algo sublime e que faz fundamental diferença na vida conjugal que é o relacionamento sexual. Toda a emoção, todo o prazer e todo o êxtase da vida a dois se encontram literalmente no relacionamento sexual e Deus também tem interesse, tanto é que definiu a essência da intimidade como uma só carne.

Se parar por aqui, esta reflexão será apenas uma verborragia. Então, qual o principal fator de atração numa pessoa? Geralmente se procura um grande caráter, pessoa honrada, bem quista, elegante, charmosa e de respeito. Caso alguém encontre uma pessoa com todas estas qualidades reunidas, parabéns, encontrou a pessoa perfeita. Por mais metódica que seja, nenhuma pessoa nasce com manual de funcionalidade e quais os recursos principais disponíveis. Se fosse desta forma, os relacionamentos em qualquer nível seriam simples de se manter. Pense comigo. É muito bom a surpresa e no início da relação não se conhece muito a pessoa com quem se deseja compartilhar confidências e mais alguma coisa e seria muito interessante ser surpreendido por ela. Isto acontece porque a vontade em agradar leva a pessoa a ser criativa e surpreendente. Quem é surpreendido indaga que “não esperava isto de você”. Se estiver no início do relacionamento, esta reação será no sentido positivo, mas, se a relação já tiver um tempo razoável, provavelmente terá uma conotação negativa. O desgaste do relacionamento é normal e precisa estar constantemente atento a esta questão.

Antes do envolvimento com alguém, surge a indagação, com quem e com qual tipo de pessoa vai se envolver? Após um tempo juntos, talvez seja necessário reavaliar com quem está envolvido(a) e se a pessoa mudou ou condiz com o que sempre sonhou. Pode não ser a pessoa que sonhou, porém, é possível torná-la a pessoa dos seus sonhos porque as pessoas mudam para melhor ou para pior. Algo que precisa ser bem administrado é quando um dos cônjuges se sente desvalorizado no relacionamento e transfere este mal sentimento para as demais áreas que não seja somente a vida conjugal. Por exemplo, quando há um claro menosprezo de uma das partes, a tendência é a parte menosprezada sentir-se diminuída. A referência de valorização do cônjuge nunca deve ser somente pela avaliação do parceiro(a). Isto gera desgaste e mágoa que irá interferir diretamente na pré-disposição em se manter dentro do relacionamento. Será necessário se redescobrir dentro do relacionamento e, caso tenha algo que atinge negativamente o relacionamento, não hesite em mudar a postura e se empenhe em atrair novamente a pessoa que atraiu você.

O que te atrai em alguém? A amizade, geralmente é o começo de tudo e a relação evolui e toma outros rumos que não estavam nos planos iniciais. Quando o primeiro contato visa caminhar para uma vida a dois, algo que não se deve menosprezar é a amizade. Tem casais que deixaram de ser ou nunca foram amigos. A amizade é algo muito sério. O próprio Jesus tinha o seu amigo íntimo e existe um Provérbio que diz que há amigos mais chegados que irmãos (18:24). Creio que a amizade é que mantem a leveza do relacionamento. Ninguém escolhe amigos, tipo, nem sempre é possível evitar que as pessoas se aproximem, mas, é possível escolher quem vai permanecer no círculo de relacionamento e naturalmente, tornar-se amigo. Quando o relacionamento com alguém atinge outros níveis de compromisso, a amizade com a pessoa amada jamais deve ser preterida.

Para os casais casados, a amizade ainda perdura? No cotidiano, é possível perceber alguma fagulha de amizade? Como se manter a amizade mesmo após inúmeros contatos íntimos? Como ser surpreendido por alguém que já não é tão estranho? Neste estágio do relacionamento, muitos afirmam que não tem muitas surpresas que poderiam dar um toque especial na relação. Não existe receita eficaz com esta finalidade porque a vida a dois não depende somente de um e a razão e coração tem de caminhar em paralelo. Algo que deve ser percebido é detectar se as emoções do relacionamento estão sendo redirecionadas para outros fins. Esta situação acontece muito quando o relacionamento está muito maduro e se perde a criatividade para dar leveza, inclusive no relacionamento sexual. O relacionamento sexual, diria, é o ápice do relacionamento. Não é o principal, mas, a questão é que o envolvimento emocional no sexo é muito profundo. Quando a emoção está sendo redirecionada, o sexo será apenas “uma rapidinha” quando se faz por obrigação ou necessidade e, muitas vezes, nem acontece e o relacionamento se perde na rotina e o casal acaba se distanciando.

Qual o papel do homem e da mulher no relacionamento sexual? O ambiente é o mesmo e a cama é a mesma, porém, as “funções” exercidas naquele momento precisam ser diferentes. Repito, o sexo é também envolvimento emocional. Qual a característica de um relacionamento sexual emocionante? A princípio, o homem tem uma função ativa, enquanto a mulher, de certa forma, é passiva. Explico. O estímulo sexual que leva a pessoa a excitação é diferente no homem e na mulher. O homem tem maior probabilidade de se excitar apenas com um olhar. A mulher precisa de um tempo mais dedicado para estimular a excitação e precisa do toque. Não é regra, mas, geralmente acontece desta forma. Uma brincadeira sobre esta situação é, o homem já chega engatado e com o motor ligado, enquanto a mulher só pega no tranco, muitas vezes, precisa de muitos “empurrões”. Quando se tem pouco tempo juntos, o sexo dura muito e quando tem muito tempo juntos, o sexo dura pouco.

Este é um desafio constante em dedicar mais tempo no ato conjugal sem que isto seja um fardo e continue sendo um prazer. Este prazer a que me refiro, não é somente o orgasmo, mas, o prazer de estar juntos e compartilhar as emoções que depende de cada um o investimento para que o tempo juntos não seja uma perda de tempo.

O que fazer na relação sexual? O sexo anal e o sexo oral são pecados? Na bíblia não há qualquer mandamento ou a forma correta dentro dos parâmetros naturais de se fazer sexo. Como já mencionei o texto de Paulo que fala “...não vos priveis um ao outro”. Isto não significa que pode tudo. O sexo matrimonial deve ser sempre consensual quando os dois são estimulados e um deseja o outro. Conheço pastores que não se opõem ao sexo oral e nem ao sexo anal desde que haja consentimento. Uma ressalva que faço é que alguns órgãos não foram feitos para o sexo. Não basta ser um orifício para ter penetração. É preciso saber que alguns órgãos têm uma determinada função específica e o sexo pode não ser uma delas. De qualquer forma, a conversa sobre o que se deve fazer ou não tem de ser, repito, consensual e consciente se o cônjuge esteja sentindo prazer também.

Para concluir, farei algumas recomendações as igrejas. A liderança tem de estar próxima das pessoas que frequentam a comunidade para que se sintam seguras em relação ao que acreditam. A espiritualidade não pode ser restrita a busca dos dons. Espiritualidade na bíblia que conheço tem uma abrangência integral na vida humana. As pessoas precisam de segurança nos questionamentos que ainda são tabus que precisam ser discutidos com discernimento bíblico. O casamento foi estabelecido por Deus e ninguém melhor que o próprio criador do relacionamento conjugal para dar segurança nestas questões. Muitos pastores precisam descer do pedestal e demonstrar que são pessoas comuns e que precisam também de orientação. O conhecimento bíblico também é adquirido através do relacionamento e a comunhão do corpo de Cristo é o lugar mais apropriado e saudável para saber sobre a sexualidade também.

3 comentários:

  1. Você foi longe, amigo Venâncio!
    Parabéns pelo texto!

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  2. Acho que deveria ser ensinado aos casais a importância em convidar o Espírito Santo, também para esse momento!

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