terça-feira, 4 de julho de 2017

A IGREJA SEM GRAÇA

Venancio Junior

“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo”.

Eu sofro atualmente de uma crise de insatisfação. Muitas, mas muitas vezes eu julgo que o problema sou eu e não o que acontece a minha volta. Sou viciado em jogar futsal e não abro mão deste meu “vício”, porém, não consigo mais assistir futebol de tão sem graça que está. Também não consigo ouvir as novas músicas da nossa mpb e também as internacionais. As denominadas evangélicas ou música gospel não fogem à esta regra que é a falta de graça. Falta musicalidade, poesia e sentimento e muita honestidade. Antes eram raras as emissoras de rádio que tinham programas interessantes. Atualmente é raríssimo quem ouse reviver os grandes autores e intérpretes nacionais e internacionais não falo de estilo de música ou qualquer outra forma de arte. Existem algumas formas de expressão artística que não aprecio, talvez por ignorância, mas percebo a honestidade e sentimento empreendidos ali. Lembrando que até aqui é apenas uma explanação de como me sinto atualmente. Onde foram parar os grandes atletas do futebol porque os outros esportes não sobrevivem sem a qualidade dos seus atletas, enquanto no futebol, qualquer perna de pau com o apoio da mídia vira um fenômeno milionário. No tênis, no voleibol, basquete e em alguns outros esportes não existe meio termo ou se é habilidoso ou sucumbe em meio a técnica do adversário. O importante disso tudo é não sermos escravos daquilo que nos dizem. A imprensa é mestre em tentar manipular sentimentos e emoções por que a nossa tendência é investir naquilo que achamos que supostamente tenha valor. Exatamente neste ponto é que a Bíblia diz: “Porque onde estiver o teu tesouro, ali estará também o teu coração”. Mateus 6:21. Que tesouro é este que perdemos? Qualquer coisa que não tenha sentimento é algo duvidoso nas suas finalidades. Não deixa saudades.

A saudade de alguém querido é devido à relação de sentimento. A esta altura desta reflexão existe uma forte tendência em direcionar a opinião para o saudosismo. É exatamente neste ponto a minha crise. Saudosismo é, na verdade, um forte desejo de reviver grandes emoções tão raras hoje em dia. Regularmente vou à igreja assistir aos cultos e gosto de visitar algumas outras, principalmente onde tenho amigos e irmãos na fé. Sempre fico na expectativa de apreciar músicas que foram bem ensaiadas e uma palavra bem aplicada. Geralmente saio frustrado e indignado e me pergunto: onde foi a graça de todas estas coisas? Grandes igrejas cheias de pessoas e de grandes grupos, porém, sem graça. Apresentações “aguadas”, sem brilho com raríssimas exceções. Pregações que parece aquelas goteiras que sempre que chove lá vem a goteira, meio que óbvio. Mesmice, sem profundidade e assuntos fora do contexto. Em se tratando de igreja, os sentimentos são distintos e peculiares porque a motivação é estritamente espiritual. Quando me lembro disso fico pior por não sentir a emoção que as palavras dos cânticos ou da pregação exprimem. Onde está a graça dos pregadores? Onde está a graça dos grupos de cânticos? Onde está a graça dos corais? Aliás, onde estão os corais? Nunca as igrejas tiveram tantos bons e excelentes músicos e o acesso a seminários presenciais e também virtuais. Mas onde está a graça? Grupos ruins e pregadores ruins que gritam, esperneiam e usam de jargões para despertar alguns “glória a Deus e aleluias" tem se multiplicado. Certa vez fui a uma igreja a convite de amigos para uma apresentação especial e fiquei profundamente frustrado e triste com o rumo que aquela igreja estava tomando. Apresentações sem graça e não tinha o mesmo número de frequentadores que antes frequentavam a igreja nestes eventos. Será que aquela igreja estava perdendo a graça? Não me refiro a graça de Deus. Existe uma enxurrada de cânticos de louvores que, onde se vai, ouve-se as mesmas músicas e a cada ano é a mesma coisa e se torna uma coisa maçante. Falta inteligência nas letras, não me refiro à complexidade poética ou ortográfica. A composição de uma igreja não é algo tão complexo para se definir. A complexidade está em sermos igreja com o que temos. Somos agraciados por Deus com os talentos e o apóstolo Paulo discorreu sobre a diversidade dos dons e incluo aqui os talentos também. Mas uma igreja pode ficar sem graça mesmo não tendo algo que comprometa a integridade espiritual dos seus membros. E o que falta para que uma igreja com a graça de Deus tivesse graça na sua liturgia? É puro sentimento e motivação. A motivação é adorar a Deus, esta é a premissa do crente e a prática da adoração deve ser provida do sentimento. Isto é a essência da honestidade. Qual a motivação dos trabalhos e quais os sentimentos desprendidos? Em Efésios 3:8 o apóstolo Paulo explanou a riqueza da graça: “A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar aos gentios as riquezas inescrutáveis de Cristo”. A graça de Deus é tão rica e Ele nos capacitou para que o que fazemos tivesse graça. A graça com graça depende de nós. Muito daquilo que é apresentado hoje é como faca sem corte e sem ponta, não penetra, não se aprofunda e causam apenas escoriações. Os “hits” e as pregações não causam nenhuma mudança na nossa vida exatamente porque não se aprofundam e jamais alcançarão o nosso coração devido a superficialidade de suas mensagens. Ter graça é ter a graça de Deus e exprimir com o talento que Ele nos deu para O adorá-lo e atrair outros para que O adorem também.

campinas sp 16/02/2012

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