Venancio Junior
Quem
nunca tentou tocar as vestes de alguma celebridade? Nas grandes apresentações
musicais isto é muito comum. Alguns com muito esforço em meio a cotoveladas
involuntárias e empurrões conseguem esta façanha que ficará na história para os
netos. Tudo bem que eles sequer saberão quem é a pessoa famosa que os avós
falaram e que após alguns anos nem é mais tão famosa assim.
Qual
a motivação em estar próximo de alguém que se destaca na sociedade? Para muitos
isto funciona na mente como um fetiche. Na antiguidade, fetiche era como uma
magia. Este tipo de “devoção” se modernizou e tem até uma conotação erótica
quando a pessoa se sente seduzida por alguém famoso, por pessoas de uniforme,
por pessoas musculosas e por aí segue as inexoráveis obsessões porque não se
impõe um limite no esforço para atingir o objetivo. A pessoa não se importa se
é algo vexatório, pois, a decisão na entrega para conseguir este grande feito
está cauterizada na mente. A pessoa investe o dinheiro que não possui, mas, dá
um jeitinho, se sacrifica fisicamente porque a frustração é algo impensável.
Diante de tanto sacrifício, estas pessoas se tornam presas fáceis para aqueles
que, mesmo sendo celebridades, não deixam de ser humanos com todos as suas
limitações e defeitos. Infelizmente muitas destas celebridades se aproveitam da
fragilidade emocional dos fãs e praticam abusos que deixam traumas para o resto
da vida.
Jesus,
na sua curta vida terrena foi uma celebridade para alguns, líder para outros e
uma ameaça para os religiosos e políticos. Independentemente da consideração,
todos queriam se aproximar de Jesus. A maioria para conhece-lo, outros por
curiosidade e alguns outros para extrair alguma coisa que poderia
“incriminá-lo” conforme a lei judaica. Lembre-se que os inimigos sempre estão
por perto.
Jesus
era o tipo de pessoa que provocava uma certa sedução. Somos humanos e a partir
do momento que se tem uma relação com pessoas famosas, esta relação é incomum. Relacionamento
tem cara, tem cor e tem cheiro característico. Não é igual com todos. Distingui
três grupos com interesses incomuns, apesar de que todos tinham
o mesmo objetivo que era se aproximar de Jesus. Jesus se encontrou com diversas
pessoas, manteve diálogos pessoais quando precisava atingir a ferida na pessoa
e com os seus discípulos, procurava sempre mantê-los próximos para que
aprendessem na prática os fundamentos do evangelho. Afinal, eles continuariam a
missão do Ide.
Quero
destacar uma pessoa que tocou as vestes de Jesus e foi curada. Ninguém sabe o
seu nome. Jesus sabia e também sabia das suas necessidades e até sentiu que
saiu virtude de si quando foi tocado por causa da fé daquela mulher
desesperada. Primeira dificuldade que ela encontrou foi que era mulher. Onde já
se viu uma mulher fora da sua casa correndo atrás de um homem? As intenções
estavam bem longe daquilo que imaginamos. Segunda dificuldade, era uma mulher
que sofria de hemorragia que, na época, era considerada pela sociedade como uma
pessoa impura. Terceira dificuldade, como passaria incólume em meio à multidão
sem sofrer agressões físicas e ser considerada como uma mulher qualquer? Não
tem como andar desesperadamente no meio da multidão sem sofrer algum toque
físico. Bem ou mal intencionado, a mulher naquela condição não poderia ser
tocada, pois, o sangramento era contínuo. Quem a tocasse seria considerado
igualmente impuro.
Jesus
era a personalidade da época, afinal, promovia curas e milagres na vida das
pessoas trazendo conforto e tranquilidade para aqueles que estavam sem
esperança. Podemos imaginar o desespero desta mulher. Já sofria a doze anos e a
certeza de que seria liberta daquela condição vexatória e fisicamente doida
estava a alguns passos. Não é pouco tempo e também não é pouco o sofrimento. No
desespero, muitos ignoram a dignidade e a posição na sociedade que exercem e
vão em busca quase a qualquer custo do alívio do sofrimento. A mulher tocou com
fé em Jesus, por isto saiu virtude. Mas, a fé daquela mulher não começou no
exato momento do toque. A fé foi construída, a princípio, pelo que ela ouviu de
Jesus. A fé não é uma sensação, mas, uma construção (Romanos 1:17). Depois, se solidificou pelo enorme esforço empreendido. Imagine numa
multidão em que todos queriam tocar Jesus e a mulher conseguir tocar a suas
vestes? Ela não pensou no que os outros iriam pensar e ignorou que poderia
passar vergonha, pois, estava sangrando sem parar. Nem passou pelo seu
pensamento de que alguém ou algum dos discípulos poderia lhe impedir o acesso.
A sua fé era a única motivação e a confiança em alguém que tinha absoluta
certeza de que resolveria o seu trágico problema era a sua força motriz. Ela pensou
em Jesus por causa da sua dor e chegou até Ele pela sua fé. Aquele ditado popular que
diz que alguém vai a Jesus por amor ou pela dor chega a ser até antibíblico. A interpretação
comum é que a pessoa vai por bem ou por mal. Podemos reinterpretar. Há
diversos motivos que uma pessoa pode se chegar a Deus, seja de forma simples
pelo ouvir e crer no amor de Deus ou através de uma necessidade urgente. A dor
referida não é necessariamente física. Pode ser um desconforto, uma agonia, uma
desorientação em que tudo se resumiu em dor.
É
agradável ouvir canções que falam de fé, porém, ignoramos o esforço daqueles
que exercem a fé para chegarem até Jesus. Não basta somente ter fé verbal ou
teórica, o esforço para colocar a fé em prática irá demonstrar a legitimidade
da conexão com Jesus. Fazendo uma adaptação ao texto original que aborda as
obras, diria que a fé sem esforço é morta. Porém, não basta se esforçar. É
preciso integridade na vida cristã para que a fé tenha a forma do texto em
Hebreus 11, a certeza do que se espera e a convicção do que não se vê. A mulher
logo que tocou as vestes de Jesus, não conseguiu se esconder e Jesus logo falou
que foi curada porque teve fé. Ela tinha certeza de que seria curada, caso
contrário, não tocaria as vestes de Jesus. Também não é pelo fato de simplesmente
tocar Jesus, havia integridade na intenção da mulher. O próprio Pedro falou que
muita gente tocava Jesus e como saberia quem especificamente havia lhe tocado? A mulher sabia de quem se tratava e tinha também a convicção do que não se via
porque ainda sangrava e queria a sua cura.
Infelizmente,
nos dias atuais, a fé tomou proporções fora do padrão da vida cristã. Muitos
usurpadores do evangelho mercantilizaram a fé porque enxergou um filão de
sobrevivência às custas da ingenuidade das pessoas. Dentre estas pessoas, muitos se esforçam a um
deus que nada pode fazer e adotam práticas que nada tem a ver com o evangelho.
O Jesus das multidões ainda é o mesmo Jesus dos grandes centros urbanos. A vida
mudou, mas, Jesus não mudou e continua disponível para todos que sofrem lhes oferecendo
também salvação. Jesus não está presente fisicamente, mas, a fé não mudou,
sendo a mesma para se chegar as suas vestes pela fé imutável.
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