Venancio Junior
Bem-aventurados os pobres de
espírito porque deles é o Reino dos céus Mateus 5:3. Pobres de espírito são aqueles
que estão vazios de emoção que os tornam vinculados aos valores materiais. O
espírito pobre, neste texto, se refere a um espírito livre no sentido de estar
sempre disposto a ser generoso mesmo nada possuindo. Engana-se quem julga que
se deve ajudar somente quando se tem com o que ajudar. Ajudar os pobres é um
mandamento também para os pobres.
Mas, qual a relação de Jesus com
os pobres? Jesus sempre esteve ao lado dos pobres e marginalizados. Não porque
exatamente eram pobres, mas, de certa forma, eram pessoas livres. O rico sempre
tem a preocupação com a sua riqueza e o vínculo é profundo que o torna escravo.
Em I Timóteo 6:09
“Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos
desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e
na destruição...”. Quem
segue Jesus, mesmo tendo riqueza, deve ser livre da escravidão dos seus bens.
Tem diversos relatos em que Jesus exemplifica o desprendimento do verdadeiro
discípulo das riquezas materiais. Um dos motivos que me inspirou esta reflexão
é a distinção entre mendigo (morador de rua) dos pobres. Quero esclarecer que
Jesus focou a sua missão nos pobres, mas, não para que deixassem de serem
pobres porque a questão da pobreza envolve diversos fatores que não abordarei
nesta reflexão. O objetivo da missão de Jesus sempre foi em demonstrar que a
generosidade é uma missão do discípulo, portanto, a pobreza é um problema
nosso. Pobre é aquele que trabalha e ganha pouco. Mal tem dinheiro para comer,
não tem moradia decente e não consegue planejar o futuro, pois, os escassos
recursos não o permitem este privilégio, mas, tem responsabilidade civil e
social. Já o mendigo, a maioria deles vivem nas ruas como opção e não querem
responsabilidade para dignamente ganhar o seu sustento sem que precise depender
de esmolas. Todos devem ter responsabilidade sobre as suas decisões, inclusive
os mendigos. Sei que é uma afirmação muito polêmica e controversa. Mas, observe
o texto de Paulo na carta a igreja de Tessalônica “Nem de graça comemos
o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia, para
não sermos pesados a nenhum de vós”. “Porque, quando ainda
estávamos convosco, vos mandamos isto: que se alguém não quiser trabalhar, não
coma também” II Tessalonicenses 3:8 e 10. Esta afirmação de Paulo está em
sintonia com a determinação de Deus ao homem antes de ser expulso do
paraíso: "No suor do teu rosto, comerás o teu pão..." Gênesis
3:19. Em toda a extensão bíblica há uma clara exortação de que todos
devem trabalhar para obter o teu sustento. Não era para ser assim. Este recado
vai direto também aos mendigos que não querem trabalhar. Paulo foi claro que
não queria que as pessoas se sacrificassem por eles e todo sustento viria da
força de trabalho. Provérbios 6:6 é ainda mais duro com aqueles que não querem
trabalhar: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus
caminhos e sê sábio”. Considerar o seu caminho é rever a sua situação e
utilizar a sabedoria para progredir na vida. Por que ajudar a quem não quer
trabalhar? Ninguém tem a obrigação em ajudar. Nem mesmo Deus nos obriga a isto.
Mas, como discípulos, a nossa via da jornada cristã é na contramão do sistema.
A disposição em ajudar deve ser com compaixão e alegria. Também não é para os
tratar como uns coitadinhos porque a iniciativa em mudar a situação será sempre
de quem precisa de ajuda. Infelizmente a maioria não quer esta ajuda, mas,
somente uma esmolinha. Muitos deles julgam que a sociedade é obrigada a
ajudá-los e quando não ajuda, ficam com raiva. Sinceramente, a primeira pessoa
que deveria se revoltar contra esta situação é ele mesmo. Muitos não tem mais
força de reação porque emocionalmente estão desgastados e se tornaram
dependentes químicos o que agrava ainda mais a situação porque utilizam as
drogas, seja álcool ou entorpecentes como fuga de uma realidade degradante.
Precisam urgentemente de apoio do poder público. Praticamente todas as cidades
possuem secretarias sociais voltadas para os moradores de rua dando-lhes
oportunidades de ressocialização. Os dados são desanimadores. De cada 10 apenas
03 permanecem no programa porque a finalidade é recolocação profissional.
Quando o assunto é trabalho, muitos deles preferem continuar “empurrando a vida
com a barriga” vazia. Os assistentes sociais e psicólogos desenvolvem trabalhos
exaustivos voltados para esta classe de pessoas e a opção em permanecer nesta
vida miserável que escolhem são inexplicáveis. Passar frio, fome, falta de
higiene e humilhações diárias não é algo fácil de suportar. Parece que estes
problemas não os afetam mais e a dignidade e a honra foram aniquilados. Isto
não significa que não é para ajudar. Para a maioria deles, o dinheiro não fará
diferença alguma, pois, utilizam para outros fins que não a sobrevivência. Não
conheço alguém que tenha mudado de vida porque recebeu esmola. A mudança só
acontece se a própria pessoa desejar e tiver iniciativa. A ajuda tem mais um
efeito moral e psicológico para que a pessoa se sinta acolhida. No entanto,
para outros, o efeito para este tipo de ajuda funciona como um incentivo para
permanecer nas ruas. Uma pequena ajuda não te deixará pobre, mas, irá gerar
riqueza da graça porque Jesus quer despertar em nós a pré-disposição em servir.
Servir a alguém jamais deve ser por mérito, pois, isto seria justiça aos nossos
olhos.
Vamos para o outro lado desta
mesma moeda. A ajuda deve ser somente para aqueles pobres que trabalham ou os
mendigos também “merecem” esta ajuda? Na concepção do evangelho, de certa
forma, a esmola ou ajuda financeira não é exatamente para fazer diferença na
vida dos pobres e dos miseráveis. Quando Jesus fala em ajudar os pobres, a
maior ênfase é para aquele que ajuda, desvencilhar o coração dos bens
materiais. O evangelho é bem claro quando diz sobre aqueles que tem muito para
ajudar quem nada tem. Neste processo de um ajudando o outro, ninguém passaria
fome ou qualquer outra necessidade. Para que isto funcione é preciso que cada
um faça a sua parte com generosidade. O mundo possui dinheiro e comida
suficiente para acabar com a miséria e a fome. Muito simples, se alguém está
passando fome é porque o outro tem comida em abundância. A bíblia sempre relata
o desafio da prática da generosidade. O discípulo é em suma, generoso. O
apóstolo Paulo traz uma exortação na carta de I Timóteo 6:18 “Ordene-lhes
que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir”.
Se os recursos entregues para
alguma causa social fizer diferença na vida das pessoas, então, a conexão
espiritual foi eficaz na vida de quem doou. Se a ajuda aos miseráveis não
surtiu o efeito desejado, isto não significa que não houve sinceridade no
serviço, simplesmente o ato em si não foi correspondido por aquele que foi
ajudado. Observe o diálogo entre Jesus e o homem rico “Jesus disse a
ele: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos
pobres, e terás um tesouro no céu” Mateus 9:21. O foco de Jesus nunca foram
os pobres, mas, o coração do jovem rico. Talvez os pobres continuassem pobres
mesmo com aquela ajuda, mas, esta generosidade proposta por Jesus deixaria
aquele homem num estágio espiritual elevado e rico em graça. Ele não se
conectou com a mensagem e decidiu permanecer pobre na graça e com o coração nas
suas riquezas. No lugar do jovem rico, o que você faria?
Os desafios no mundo estão cada
vez mais intensos. A generosidade não é somente dar dinheiro e ajudar os
pobres. Qualquer gesto de apoio em suprir a necessidade do próximo
independentemente de quem seja é uma característica de generosidade. Não
precisa falar a mesma língua e nem pertencer a mesma classe social ou a mesma
religião. A generosidade não tem cor e não tem sexo. Ela deve ser praticada nas
ruas, em casa, no clube, no trânsito (difícil, hein!?), na igreja e em todos os
lugares para os ricos e para os pobres. Por isto que a verdadeira igreja não
tem parede e nem nome. Deus não criou uma religião para viabilizar a
generosidade. A prática deve ser onde estiver e para o próximo que esteja
próximo. O desafio de Jesus é romper com o nosso padrão. Amar a quem já se ama
não é nada desafiador. Amar os inimigos é o maior desafio. Imagine ser generoso
a quem o prejudica? Imagine ser generoso para quem te traiu? Imagine ser
generoso com os seus desafetos? Quem nunca se revoltou com o lixo espalhado
pelos mendigos? É uma cena deprimente quando na região que se mora houver
mendigos por todos os lados e, às vezes praticando alguns delitos, tipo, roubar
o cabo de internet da casa. Jesus afirma que devemos dar a outra face. Isto não
significa que se deva deixar o mendigo entrar na sua casa e fazer o que quiser.
A proposta da outra face é, primeiramente não revidar da mesma forma, mas,
mostrar o outro lado desta mesma moeda. Onde houver tristeza, leve alegria,
onde houver rancor, leve o amor, onde houver guerra, leve a paz e onde houver
fome, leve comida. Dar a outra face e amar os inimigos é a contraproposta do
evangelho. Não ajude o próximo como um desencargo de consciência, mas, para se
manter conectado com Deus que torna o nosso espírito vazio do mundo e cheio da
sua graça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário