Venancio Junior
Dizem
que riqueza não traz felicidade, mas, compra. Geralmente temos a avaliação de
alguém feliz pelos bens que possuiu. É uma felicidade passageira porque tudo acaba
após a morte onde nada se leva e quem fica feliz são os herdeiros. Já ouvimos muito
de que a verdadeira riqueza não é palpável, mas, perceptível no comportamento. Subentende-se que a maior riqueza é, a princípio, o respeito,
a dignidade e a honra. Estes valores pertencem a pessoa que faz uso na sua
vida, nos relacionamentos, nos negócios, no trabalho, no namoro, no casamento,
com os amigos, com os vizinhos, com os estranhos, na igreja com os fiéis, no
esporte e em todas as situações sejam elas simples ou complexas. Esta riqueza
não é acessível a outros porque é uma particularidade de cada pessoa, mas, plenamente
violável na sua integridade. É possível alguém atingir estes valores por razões
diversas e até mesmo por vingança. Porém, ninguém (sem exceção) tem o direito
de agredir as pessoas na sua maior riqueza que são os seus valores éticos e
espirituais. Geralmente, quem o faz não é capaz de reconhecer seus próprios
defeitos encobrindo a sua mediocridade. Prejulgamento sem fundamento é
leviandade e a pessoa agressora não consegue se desculpar com a virtual vítima.
Faz um estrago generalizado e diz que não foi nada muito grave. A pessoa
agressora fez uso da sua mais absoluta pobreza de caráter. Preferiu renunciar
aos seus valores que constroem pontes e permitiu que a sua pobreza aprofundasse
a vala tornando-a intransponível. São pessoas que não se importam e não
percebem que praticam o mal que está alojado no coração.
Mas,
qual a relação da riqueza com o mal? Em I Timóteo 6:10 diz que “O amor ao
dinheiro é raiz de todos os males”. Deve haver uma ponte que faça esta conexão
entre o dinheiro e o mal. No contexto do mundo atual, podemos considerar que o
dinheiro é a única forma de sobrevida. O mal é uma tendência da natureza humana
desfigurada. Então, conclui-se que toda maldade é uma luta por sobrevivência. A
sobrevivência, como o prenome indica, é o esforço acima daquilo que a vida
exige porque ignora o limite da capacidade. Se há um esforço, então, muitos
valores correm um sério risco em serem descartados. A sobrevivência, neste
caso, é a conexão.
O
que as pessoas estão dispostas a fazer para sobreviver? A disposição em se
manter em evidência para muitas pessoas é mais importante que a própria vida.
Soa estranho, mas, é a mais pura verdade e a vida é uma daquelas “coisas” que é
ignorada no esforço em busca da sobrevivência. Quantos comprometem a saúde
física e mental se esforçando mais do que consegue suportar numa busca
desenfreada de um padrão de vida que lhes interessa? Comprometem o
relacionamento com a família e com os amigos e se perdem em meio aos objetivos
que, com o passar do tempo, se tornam confusos. Em qualquer processo o
sacrifício é necessário e o que teria de maior valor para dar em troca? Será
que está na espaçosa garagem, nas aplicações financeiras, na sua casa, na sua
vida social ou na performance física plenamente saudável? Cada pessoa tem os
seus valores que não precisa necessariamente ser um bem físico. Infelizmente,
dentre estes valores, muitos colocam em xeque a dignidade e a honra. O problema
é que estes valores têm a característica de inegociáveis porque, uma vez
perdidos, não se consegue recuperar. Quem não negocia os seus valores
primordiais, pode ser considerado como alguém muito rico mesmo não possuindo
nenhum bem. Muitos moram de aluguel, vendem salgadinhos no sinaleiro, andam a
pé pela cidade empurrando um carrinho vendendo sorvete sob um sol escaldante e,
talvez, nem sejam aposentados. Caso sejam, recebem um mísero salário-mínimo que
não dá para comprar quase nada. Mas, são pessoas de muito valor. Diferentemente
do exemplo do tipo de pessoa no início, aqueles que não possuem bens materiais,
destaco o caráter elevado, a moral ilibada, a honestidade refinada e tantas
outras riquezas que a pessoa pobre possui e que não se consegue com dinheiro.
Apesar das dificuldades no seu entorno, não se vende e não recua nos seus
princípios.
A
Bíblia fala sobre a riqueza e joga muito pesado. Quem ama a riqueza que o mundo
oferece não tem parte no Reino de Deus. Onde está o tesouro, ali estará o
coração. O objetivo não é falar mal da riqueza, mas, identificar qual a relação
com os bens materiais. Engana-se quem acha que o pobre não tem orgulho da
riqueza. Mesmo não tendo bens materiais, pode facilmente ser seduzido por um
desejo de uma vida glamourosa de luxo. O coração está na riqueza que não
possui, mas, deseja. Não precisa possuir bens, onde estiver o coração, pode ser
um desejo que já é o suficiente para identificar onde está direcionado.
Pois
bem, o cenário do mundo atual é preocupante. Enquanto as pessoas de valor estão
acuadas, as pessoas sem valor estão em evidência ostentando tudo o que foi
conquistado, inclusive parceiros no amor que, na maioria das vezes, dura
pouquíssimo tempo. Quais os valores que causam admiração nas pessoas? Óbvio, se
você fica impressionado com a conquista material do outro é porque o seu
conceito de valor esteja precisando de uma reavaliação. Considerar o valor de
alguém pelos bens materiais que possui não precisa de muito esforço para saber
o que precisa mudar. Por outro lado, para considerar alguém pela sua capacidade
intelectual em construir uma obra sinfônica ou um livro de filosofia é preciso
muito mais que consideração, mas, de envolvimento e profundidade. Quantos
cientistas desenvolvem pesquisas com benefícios a sociedade inimagináveis e
professores que são os principais responsáveis pela formação acadêmica e vivem
anonimamente? Sem falar que ganham seus sustentos de forma honesta e com muito
sacrifício e pouco reconhecimento. Mas, as suas riquezas são incalculáveis e
beneficiam a todos.
Na
outra ponta estão as chamadas celebridades que fazem questão em exibir as suas
riquezas. A maioria destas pessoas não tem qualquer formação e não sabem
conversar com inteligência. Suas vidas não possuem construção de valores porque
investem a exaustão somente na imagem. As ruinas da fama é o destino certo e
percebem que o único valor agregado é o vazio existencial. Infelizmente, este é
o único valor considerado por aqueles que admiram as pessoas famosas. Muitas
vezes, estas pessoas dependentes da fama estão desorientadas e emocionalmente
em frangalhos. Mesmo assim, o seu fã-clube permanece ativo e conquistando cada
vez mais admiradores. Gerar uma dependência emocional nos fatores externos é um
risco muito grande e o preço pode ser alto a se pagar. Os fãs funcionam como
algodão doce, o sabor dura muito pouco. Quando a fama acaba, tudo o que a
compõe se dissolve.
Aprendemos desde muito cedo que as pessoas boas são aquelas que possuem riquezas e nunca imaginamos que alguma maldade uma pessoa rica possa ter. Julgamos que sejam ricas porque são honestas e merecedoras do conforto e dos bens. O melhor caminho para identificar é avalizar qual a maior riqueza que a pessoa considera. Sei que é muito difícil distinguir se a pessoa rica seja má. O mundo não precisa de pessoas ricas. Apesar de que os ricos tentam impingir na consciência de que o mundo depende deles. Não depende porque a relação das pessoas com a riqueza deve ser o de beneficiar outros e nunca egoisticamente a si próprio. Não faz sentido alguns poucos se beneficiar da maior parte da riqueza, enquanto a maioria das pessoas possui pouco para o seu sustento. Quando a relação com a riqueza se torna escravagista é preciso impor um choque para quebrar a dependência. Jesus propôs esta decisão radical em vender tudo e distribuir aos pobres. Ele foi bem específico. Enquanto a raiz de todos os males estiver ocupando o coração, a generosidade não terá espaço para brotar.
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