Venancio Junior
A
religião nunca foi tão buscada e propagandeada. Em tempos de multimidia
diversas, a facilidade em expor os posicionamentos políticos e, principalmente
religiosos, revelou que há uma carência espiritual nas pessoas. Quanto mais
intensa esta busca e o grau de sacrifício imposto, mais profundo é o vazio
interior. O problema não está em buscar uma força superior que faça diferença
na vida, mas, qual tipo de deus que está se buscando e as formas aplicadas para
que o objetivo seja atingido e as necessidades satisfeitas. Neste processo, se distingue
dois grupos principais. O primeiro é formado por aqueles que compreenderam e aceitaram o evangelho de salvação e alcançaram de
alguma forma os seus intentos através da graça de Deus e conforme a sua boa, agradável, perfeita e soberana vontade e no outro grupo pertence àqueles que continuam a
busca e mantem os rituais que lhes foram ensinados e, muitas vezes, criam suas
próprias performances devocionais e vivem confortavelmente a superficialidade
da teoria da religião.
No caso dos dois grupos, permeia a disciplina que é uma postura abstrata que pode ter uma característica de costume ou ritual onde prevalece uma rotina. É algo fundamental em todas as áreas da vida. Sem a disciplina,
muitas coisas se perdem e os resultados almejados não chegarão. Na vida
mística/religiosa, a disciplina pode ser uma libertação ou escravidão. A disciplina
libertadora tem os seus fundamentos no evangelho que apresentou Deus para o ser
humano. Não adianta insistir na crença de que qualquer religião leva a Deus. Aliás,
nenhuma religião leva a Deus, pois, por si só se apresentou como criador da
existência. Deus é educado, “...chegai-vos a Deus e ele chegará a vós” Tiago
4:8. É preciso o passo inicial para iniciar esta grande jornada rumo a
espiritualidade genuína. Não basta ter disciplina com os processos errados. Não
basta investir emoção para deuses errados. Chegar a Deus é conhecê-lo a cada
dia e gerar um relacionamento de intimidade entre pai e filho ou entre criador
e criatura. Este processo vai muito além da teoria em que os rituais são
vazios. O relacionamento com Deus não envolve entidade, mas, pessoas para exercitar
e crescer na comunhão. Também não adianta amar a Deus que não vê e não amar ao próximo
que vê, inclusive aqueles que são potenciais inimigos. O envolvimento através dos
talentos também faz parte da disciplina sendo uma das cobranças que Deus fará
no juízo final. A parábola dos talentos não é apenas mais uma “historinha sem
importância”. Tudo deve ser feito para a glória de Deus e os talentos têm esta
única finalidade em glorificar a quem ofereceu gratuitamente todos os talentos.
"Assim, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa,
fazei tudo para a glória de Deus" 1 Coríntios 10:31. Nada referente a
isto é prodígio do ser humano. Jesus quando estava sendo julgado afirmou a
Pilatos: “Nenhum poder você teria se do alto Deus não lhe concedesse” João
19:11. Mesmo o contexto sendo totalmente diferente posso afirmar que nenhum
talento qualquer pessoa teria se do alto Deus não concedesse.
Infelizmente
existem muitos que conhecem a verdade e na prática abandonaram a libertação que
foi concedida. Possuem talento e habilidade para serem investidos na expansão
do Reino, porém, vivem uma vida cristã somente na teoria. Nos tempos modernos
com o auxílio da facilidade das mídias sociais levam uma vida cristã na teoria.
Compartilham coisas de Deus, mas, não vivem aquilo que compartilharam. Limitam-se
a apenas navegar pelo celular deitado na cama exortando os outros pelas redes
sociais e falando em vida cristã sem assumir como uma autocrítica. Criticam os
falsos profetas, mas, na prática, a farsa está no vácuo da teoria. Falam de
amor, mas, não vivem a comunhão com os irmãos. Falam que o mundo está perdido
sem Deus, isto é fato, mas, se perdem em meio as meras teorias vazias em que o
talento não resultou em conteúdo que faria diferença na vida das pessoas porque
não há envolvimento prático. Deus irá cobrar o que foi feito com o talento. "Pois
quem usa bem o talento que lhe é dado, ainda mais será dado, e terá em
abundância. Mas, quem é infiel, mesmo sendo pouco o talento que ele tem será
tirado. Agora joguem este servo inútil para fora, nas trevas, onde haverá choro
e ranger de dentes” Mateus 25:29,30. Deus joga muito pesado chamando
aqueles que levam uma vida cristã na teoria de inúteis. Sei que está muito associado
as palestras dos “coaching”, mas, Deus também gosta de resultados. Na bíblia
é a tradução para render frutos para o Reino. "E também agora está
posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom
fruto, é cortada e lançada no fogo" Mateus 3:10. Este é o mesmo
conceito da parábola dos talentos. Multiplicar os talentos é produzir bons
frutos.
Um
exemplo de falta de disciplina que leva a pessoa a se lembrar de Deus somente
quando as coisas não estão bem é o texto relatado na história do filho pródigo.
O filho mais novo exigiu do pai antecipadamente a sua parte na herança e sumiu
no mundo para viver a sua vida do seu jeito. Perdeu a disciplina que aprendeu
em casa e se perdeu completamente tendo que comer a mesma comida dos porcos. Neste
estado miserável, lembrou-se do conforto da casa do pai. Teve que dar novamente
o primeiro passo rumo a jornada de reconstrução da vida que tinha. Não é fácil
reconhecer os próprios erros e se humilhar para viver de novo a liberdade de
uma vida disciplinada. O pai o recebeu de braços abertos e com muita alegria. Da
mesma forma, Deus também nos recebe de volta quando nos arrependemos da nossa
vida indisciplinada. A disciplina que nos escraviza é aquela em que perdemos o
foco e a consciência de que fomos feitos servos para servir ao Deus que nos
garante a liberdade da disciplina para usufruir de uma vida abundante de frutos.
Tem
aquele grupo de religiosos que são muito disciplinados e impõem a si mesmos
sacrifícios como gratidão ou devoção para fortalecer a espiritualidade. Vivem a
religião da casca de cigarra. A cigarra quando troca a roupagem, ela deixa a
casca no formato do seu corpo, porém, é oco por dentro. Tem aparência, mas, não
tem conteúdo. Muitos dos sacrifícios religiosos tem este fundamento com
aparência de religião, mas, é oca por dentro. Mesmo mantendo a rigidez da
disciplina, em nada resulta porque são baseadas em teorias vazias. O sentimento
principal e, muitas vezes único é manter a tradição. Jesus exortou aqueles que
valorizam mais a tradição do que o seu evangelho. Suponhamos que todo ritual é
direcionado a Deus. Tudo certo neste caso? Claro que não porque os rituais
fogem das ordenanças bíblicas. Primeiro que todo sacrifício Jesus já fez na
cruz e não há mais necessidade de qualquer esforço neste sentido. A dinâmica de
toda atividade na relação com Deus é de adoração em espírito e em verdade. Noutras
palavras seriam conexão e dedicação e sinceridade com ações. É risível quando
as pessoas supostamente recebem alguma benção e dedicam um sacrifício
desproporcional. Decidem fazer uma longa caminhada e alguns o faz de joelhos causando feridas profundas. Onde está escrito na bíblia que isto é uma exigência de Deus? Se for exigência dos homens, é sacrifício de tolos. Por que não dedicam algo bom? Um talento que se tenha, dedique
a Deus como gratidão. Dedique uma música, uma poesia ou qualquer outra expressão
artística.
Lembrar de Deus é muito bom principalmente quando, em tese, não há motivos de favores recebidos. Sempre devemos lembrar de Deus pelos seus grandes feitos como diz o salmista. Toda lembrança deve vir acompanhada intencionalmente por expressões de louvor e gratidão.
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