quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

A OUTRA FACE NO LIMITE

Venancio Junior

Ano novo, vida nova, novos planos, novas ideias, possibilidade de novos relacionamentos, novos projetos e os velhos e necessários princípios para quem leva muito à sério as boas práticas da espiritualidade. O velho hábito em amar ao próximo como a ti mesmo e a velha mania em dar a outra face dentre outros princípios, mesmo não se aplicando, não perderam o seu valor. Pode até ser velho, mas, esta atitude na prática, se torna nova a cada desafio. No ano velho nos roubaram a alegria, o prazer, a paz e a esperança e no ano novo estamos maltrapilho ou nu e ainda precisaremos continuar dando a outra face. Estes princípios não mudam, nós é que envelhecemos em nossos pecados. A renovação espiritual não é um delírio e nem emoção que causa arrepios, mas, é retomar o caminho do crescimento que, nem sempre é fácil, porém, necessário. O convite de Jesus em dar a outra face é voltar ao caminho e vai além do sentido literal. Dar a outra face não é um momento de reação aplicada numa situação específica, mas, um estilo de vida. Dar a outra face vai muito além de um momento em que se precisou demonstrar humildade expandindo e aprofundando a atitude de entrega. Doar um “pedaço” de si e caminhar junto não importando a distância são prerrogativas dentre várias outras do discípulo. Talvez o primeiro questionamento que vêm à mente seja, “dar a outra face” não seria fazer papel de trouxa? Aparentemente tudo indica que sim, mas, esta é a ótica da mente de uma sociedade doentia que pensa só em si mesma e quer levar vantagem em tudo. Quando se fala em dar a outra face, parece que é virar o rosto para levar outro tapa. Não é isto! O sentido é mostrar o outro lado da situação demonstrando que existe uma opção. Dar a outra face é viver na contramão e romper a lógica do egoísmo. Esta reação é uma contraposição que desperta a mente do outro para aquilo que é honesto e sadio e faz bem ao coração elevando o caráter. Mas, tudo tem limite.

Mateus e Lucas relataram esta parte significativa do sermão do monte proferido por Jesus. Na minha visão, a outra face resume tudo o que foi dito sobre o sermão do monte. A característica do ser humano condizente com as bem-aventuranças propensa a dar a outra face é aquela resgatada pela graça e restaurada pelo amor de Deus. Não se trata de um sentimento de nulidade pessoal e muito menos de sacrifício de tolo. A outra face não é uma atitude impetuosa, mas, um modo de vida em Cristo como nova criatura. O contexto decadente da nossa sociedade exige como contraponto que é preciso dar a outra face para ser discípulo legítimo, o sal da terra.

A submissão conforme o contexto do evangelho é continuamente dar a outra face. Conviver com alguém difícil é dar a outra face. Fazer o que não quer, mas, o que precisa é dar a outra face. Fazer o bem a quem lhe faz o mal é dar a outra face. Negar-se a si mesmo como Jesus sugeriu é dar a outra face. Imagine conviver com alguém que te persegue e que emocionalmente te faça mal? De certa forma, é dar a outra face. Coloco assim porque esta situação não é uma regra. De repente, as pessoas sofrem por motivos diversos e permanecer nesta condição nem sempre dar a outra face é a atitude adequada. No relacionamento, cada um tem a sua parcela de "culpa" ou responsabilidade porque a humildade não deve ser sinônimo generalizado de sofrimento. Muitas pessoas demonstram humildade e reagem proativamente sem necessariamente estarem sofrendo algum tipo de assédio moral, risco físico ou pressão emocional.

Praticar a humildade não se trata de ser arrogante e acordar humilde e permanecer assim a partir daquele dia. Humildade não é uma postura isolada, mas, a postura isolada revela a humildade. É um processo que demanda basicamente renúncia e escolhas. Não pense que quanto mais decisão de boas escolhas e de renúncia a pessoa se tornará mais humilde. Não existe grau de humildade. Por exemplo, afirmar que aquela pessoa é muito ou pouco humilde não existe. O que existe é relativo à personalidade. Tem pessoas que são mais tranquilas que outras e demoram a reagir, enquanto tem outras que são mais explosivas. Tem pessoas minimalistas e tem as vaidosas e gananciosas. Em qualquer situação e independentemente do que a pessoa seja, trago o texto do apóstolo Paulo quando diz que é forte quando é fraco. Ele quis dizer que quando há a consciência da condição de pecador que carece da graça e misericórdia de Deus (sem soberba) é que se está forte não importando o que a pessoa é. Mas, quem deve considerar este valor é somente Deus. Ninguém deve se vangloriar com a humildade, obviamente deixará de ser humilde. O único caminho da espiritualidade é ser humilde em dar a outra face sendo vazio de si e com disposição máxima e contínua em servir ao outro.

Atualmente com a facilidade da comunicação presenciamos pessoalmente ou nas redes sociais pessoas (pela reação, não mereceriam serem tratadas como pessoas) que perdem a oportunidade em dar a outra face e fazer diferença no cotidiano. Tenho uma frase que diz: “A vida é simples, basta que cada um faça a sua parte”. Muitos não tem feito a sua parte em dar a outra face e reagem com ódio por motivos banais. Acredite, não é fácil, mas, é libertador conseguir dar a outra face. Precisamos ser libertos da raiva, do ódio, da ira e dos impulsos agressivos que nos aprisionam. Ao invés de exigir aquilo que se julga ser os seus direitos, dê a outra face. No trânsito acontecem as mais difíceis situações em que o desafio em dar a outra face revela o que somos, de fato. No convívio do trabalho também acontecem desafios que colocam em prova a nossa condição de discípulo. Aqueles que são “passados para trás” e são preteridos a uma promoção, como dar a outra face? Na vida social com os amigos onde, ultimamente os valores perderam o ponto comum de compartilhamento e se polarizaram, está muito difícil dar a outra face. Pessoas queridas e muito próximas tem atitudes que exigem um sacrifício inimaginável. Nas reuniões de família houve grandes desfalques porque se esqueceram de dar a outra face. Na igreja, por incrível que pareça, pois, todos teoricamente deveriam ser discípulos movidos pelo amor ao próximo, também existem os desafios para exercer a prática da humildade em dar a outra face. A religião ao invés de unir e reunir, tornou-se motivo de discórdia. E no relacionamento conjugal? Cujo nível é o mais próximo possível e não pode ser de outra maneira e, conforme o tempo passa há um visível desgaste, o relacionamento sofre desafios diários constantes onde tem acontecido muitas agressões e até feminicídios e os motivos não justificam os meios bárbaros porque faltou dar a outra face. Nestes casos de violência doméstica, faltou ao agressor dar a outra face. Uma atitude muitas vezes difícil, mas, um gesto muito simples. Como dar a outra face se uma das partes cede como forma de sujeição e se anula a ponto de subsistir com as suas próprias forças? Qual o limite para isto? Como dar a outra face quando o relacionamento não redunda em afeto, carinho e um se submetendo ao outro? Como dar a outra face quando acontece uma traição? Como dar a outra face quando cada um exige que deva ser satisfeito pelo outro? 

A espinha dorsal do relacionamento é um sustentando o outro. Não existe outro critério. Dar a outra face é o princípio em qualquer processo que envolva duas ou mais pessoas porque vai além dos limites da obrigatoriedade. Porém, devemos observar que, se esta condição se perpetuando sem que a outra parte não reconsidere que deve reagir e se esforçar também para que não se anule uma das partes, dar a outra face deve ser uma excepcionalidade e não uma atitude que seria como “dar murros em ponta de faca” que não trará a solução adequada. Jesus nunca nos disse que devemos ser tolos porque dar a outra face é sempre uma reação. O problema é que muitas vezes esta atitude de humildade não tem mudado a outra pessoa ou a si mesmo e acabamos por ter um comportamento aparentemente de tolo. Eu creio que a atitude em dar a outra face é quando os problemas do relacionamento ainda estão na superfície. Digo isto no sentido de que só existe uma profundidade no relacionamento. É preciso observar o que se encontra nesta profundidade, o amor ou os desafios? Sendo os desafios, lamento, o amor esfriará. Mas, se for o amor, os desafios serão controlados juntos. Sempre é bom lembrar que os dois não subsistem concomitantemente. Um dando suporte ao outro é dar a outra face para que o relacionamento se mantenha em pé. O “romantismo” no relacionamento em qualquer nível ou situação tem limites. Razão e coração deverão caminhar juntos. Onde um está ausente, o outro avança os limites para suprir esta carência. Porém, tudo tem seu limite e o desgaste não pode chegar a níveis de flagelo emocional e uma decisão radical deverá ser tomada. Muitos fatores deverão ser considerados e não pense que não haverá perdas. Sempre há. Dar a outra face no relacionamento é também interromper um processo que tende ao fracasso. Em muitos casos, dar a outra face é renunciar a intensidade de um relacionamento doentio e se projetar no conforto da solidão para se recompor. Não é exatamente se isolar, mas, deixar de exigir que as pessoas supram as suas necessidades. Dar a outra face é como dar um grito no deserto de valores que se tornou este mundo onde poucos sobrevivem, incluindo você mesmo. Resumindo, dar a outra face não é fazer, mas, mostrar com atitude o que o outro tem de fazer.

domingo, 22 de dezembro de 2024

O JESUS QUE (AINDA) NÃO FAZIA MILAGRES

Venancio Junior

A vida de Jesus antes do início do seu chamado ministerial é cercada de mistérios. Não existem relatos ou escritos que descrevam o que foi Jesus na infância, adolescência e juventude. Considerei que a juventude acaba nos trinta anos e a partir daí tem início a vida adulta.

Tem alguns escritos que descrevem supostamente alguns episódios da vida inicial de Jesus. Além do livro de Tomé, considerado apócrifo pelos estudiosos por não comprovar a sua autenticidade, existem alguns outros papiros antigos que tentam descrever os milagres acontecidos na infância. Inclusive, recentemente foi descoberto por dois historiadores, um brasileiro e o outro húngaro um recorte de papiro datado no quarto século e descreve supostamente o primeiro milagre de Jesus quando purificou as águas de uma lagoa. Porque eles não relatam a vida comum? Na infância e na adolescência acontece muita coisa. Principalmente que Jesus não era uma pessoa comum e muita gente gostaria de saber o que acontecia no seu cotidiano. Será que Jesus fazia “birra” na infância? E na adolescência, será que contrariava os seus pais e tinha pensamentos reprováveis? Deus enviou Jesus e antes de se envolver no cumprimento da missão a que foi proposto, ele tinha de, não somente viver o contexto da vida humana, mas, também sentir o que o ser humano sentia. “Deus se tornou carne...” João 1:14. Não somente se tornou carne, mas, carregou consigo tudo o que a carne pôde sentir. Jesus não viveu como Deus. Nesta fase inicial da sua vida precisava viver exclusivamente na carne. “...mesmo sendo Deus, esvaziou-se e se tornou meramente humano” Filipenses 2:6,7. Se na tua vida você fosse Jesus, o que será que faria considerando tudo o que te envolve?

Vamos começar por aí, será que Jesus antes do início do seu ministério tinha poder para realizar milagres? O poder de milagre de Jesus não era para brincar de mágica. Creio que Jesus tinha a orientação em utilizar poder a partir do início do seu ministério aos 30 anos logo após ser batizado no rio Jordão. No livro do primeiro evangelho Mateus descreve a afirmação de Jesus na grande comissão do Ide em ter recebido de Deus todo o poder no céu e na terra (Mateus 28:18). Obviamente muitos questionarão o episódio no templo em que Jesus com apenas doze anos confrontou os sacerdotes doutores da lei. Sinceramente, no contexto humano é raro, mas, existem pessoas superdotadas. Jesus pode ter sido um garoto superdotado, pois, estava entrando na adolescência. Seria surpreendente se isto acontecesse quando ainda criança e não sabia falar. Mas, o problema é que Jesus afirmou aos seus pais, que o procuravam desesperadamente, que estava na casa do Pai dele já cumprindo a sua missão em obediência. José era o pai adotivo e Deus é o legítimo pai que, através do Espírito Santo, inseriu a semente em Maria para que engravidasse. Um detalhe interessante é que os doutores se admiravam da sua inteligência. Há uma grande diferença entre sabedoria (postura) e inteligência (conhecimento).  Para se conhecer algo é preciso buscar o saber de forma prática. Jesus, com certeza estudou as leis judaicas e provavelmente possuía o dom excepcional do conhecimento. Lucas 2:47,49

A crença de que Jesus já nasceu com poder nunca foi questionada. Muitos creem que Jesus é semelhante a Hércules que, quando criança, brincava com as serpentes e fazia outras estripulias revelando a sua força. Eu creio que Jesus tinha poder na infância, mas, só seria “ativado” em consonância com o conhecimento. Na adolescência ele buscou o conhecimento das leis e da vida tendo demonstrado sabedoria no controle da sua divindade. Na juventude eu creio que Jesus não deu vazão aos impulsos da sua idade e, tipo, se anulou porque tinha plena ciência da sua missão e não fazia sentido sair pela vida fazendo milagres a revelia. Se tivesse acontecido, o alvoroço e a notícia se espalhariam. Naquela época seria um evento marcante porque todos estavam de olho em Jesus para ver o que iria acontecer. Ele foi anunciado como o Messias, o Salvador da humanidade e o seu nascimento foi cercado de expectativas pelos judeus. Jesus não realizou milagres que poderiam ser conhecidos porque o seu poder tinha um propósito com começo, meio e finalidade. Não há registro nesta fase inicial da sua vida, pois, nada aconteceu de relevante porque Ele quis assim.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

JESUS, O FILHO DE JOSÉ

Venancio Junior

“E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo filho de José...” (Lucas 3:23).

Porque será que Jesus nunca questionou sua descendência? Jesus não era filho biológico de José que era, de fato, o legítimo descendente de Davi. Então, porque era reconhecido como pertencente a sua linhagem familiar e não a de Maria sua mãe biológica? Algumas interpretações forçam o parentesco biológico de Maria com a linhagem de Davi, porém, não há qualquer texto que evidencie esta conexão. A interpretação mais provável é que Maria tornou-se uma só carne com José, agora fazendo parte da linhagem de Davi conforme o texto de Lucas 2:4,5 "...por ser ele (José) da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida". De qualquer forma, a linhagem tem alguns episódios trágicos e sombrios que envolvem tramas de assassinato, estupro e prostituição. O mais conhecido é o de Davi e Jesus sabia do triste episódio envolvendo o caso com Bate-Seba ou Betsaida, viúva de Urias e a mulher com quem Davi cometeu adultério. Posteriormente Bate-Seba se tornou esposa de Davi e veio a ser a mãe do rei Salomão. Mas, antes disto, tem alguns questionamentos, Bate-Seba sabia que no local onde tomava banho ficava muito exposta à visão do rei? Porque Bate-Seba se expôs a Davi? Se os banhos neste local eram frequentes, será que Davi manteve a postura real e evitava observar? Se não era um lugar comum onde tomava banho, será que Bate-Seba queria provocar Davi? Esta virtual provocação era por causa de um problema conjugal com Urias? Ele era um fiel comandante do rei. Por diversas vezes optou em permanecer subjugado às suas atribuições militares e até “desobedeceu” ao rei que deu ordem para que fosse para casa e fizesse sexo com a sua esposa que já estava grávida de Davi. Baseado nisto, será que Urias não estava negligenciando o relacionamento conjugal com a sua esposa e isto frustrava Bate-Seba que se permitiu ser observada porque sabia que o rei Davi esporadicamente observava a cidade daquela varanda? Mas, a pergunta que ninguém ousa fazer: Será que, se Davi não fizesse aquela “emboscada” com Urias para que morresse e não soubesse da traição da sua esposa Bate-Seba, não teria nascido Salomão e o próprio Jesus seria de outra linhagem que não fosse a de Davi? Quando Maria foi a escolhida, ela já estava prometida a José que descendia desta "grande família".  Deus poderia tranquilamente falar com Maria que arrumaria outro marido porque a família de José era problemática e não gostaria que Jesus tivesse uma descendência que "manchasse a sua honra". Deus não mudou o que já estava preestabelecido e ainda legitimou a adoção de Jesus por José e também não relevou as maldades humanas a uma condição que comprometesse os seus planos.

Este não foi o único escândalo na família de Davi. Tem o triste episódio da relação de Tamar com o filho primogênito de Davi, Amnon que acabou sendo assassinado por seu outro filho, Absalão por ter estuprado sua irmã Tamar por parte de pai. Esta é uma outra longa história das tragédias desta família. E os escândalos não param por aí. Na genealogia de José ainda consta Tamar (não é a filha de Davi) que se fingiu de prostituta e se engravidou do sogro. Tinha Raabe a prostituta que escondeu os espias hebreus e Rute que seduziu Boaz para melhorar a vida da sua sogra pobre. O machismo era tão forte que nos relatos bíblicos lemos que o pai gerou o filho. O autor teve o cuidado de incluir estas mulheres que eram citadas como sendo a mãe de alguém que o pai gerou. Não nesta ordem. O pai gerou e depois falava quem era a mãe. Com exceção de quando chegou em José, não se lê que ele gerou Jesus, no evangelho consta que era marido de Maria que gerou Jesus sendo a única citação de uma mulher que gerou um filho e foi o único motivo em ter sido incluída na genealogia. Esta é a família que os judeus consideram ser da descendência de Jesus.

No evangelho de Mateus logo no primeiro capítulo que consta esta genealogia de José que inclui Jesus como sendo o seu filho adotivo. Jesus como ser humano tinha de ter um pai. A questão familiar na época de Jesus era algo muito importante por causa da herança, não somente dos bens, mas, da linhagem cultural. Nesta época a escolha do marido para a filha era motivada principalmente para estabelecer a linhagem familiar. Pouco ou quase nada importava a questão sentimental até mesmo do homem e o sucesso emocional no relacionamento conjugal era algo secundário. Na maioria das vezes nem era considerado. O homem ainda na sua tenra idade não escolhia a sua mulher e esta, por sua vez, escolher alguém era uma utopia, sofria calada e submissa. Esta é uma condição imposta pelo gênero masculino e não é mandamento de Deus. Não chega a ser uma “conivência divina” de tudo o que acontecia. Eu acho que Deus não queria complicar ainda mais o contexto da vida humana. Então, José era o herdeiro da linhagem de Davi. Com exceção do texto de Lucas que, por razão desconhecida relatou a genealogia de Maria, na maioria das vezes as mulheres nem eram relacionadas na genealogia. Em hipótese alguma é uma desvalorização do gênero feminino. Por sua vez, os homens não aceitavam nenhuma submissão à mulher. Não podemos considerar que a descendência de Maria era todo mundo “santinho”. A própria Maria, mesmo Deus tendo escolhido para ser a mãe de Jesus porque encontrou virtudes, era pecadora como qualquer outro que foi expulso da presença de Deus. Se Maria não reconhecesse a sua condição de pecadora e não cresse em Jesus, seu próprio filho como o seu Salvador, o seu destino estava selado como o dos demais seres humanos. O fato de ter sido escolhida para ser a mãe de Jesus não há nenhum privilégio ou garantia da salvação. Algo que se deve ser esclarecido e, que Maria em alguns episódios esquecia é que ela era mãe de Jesus e não do Messias. Jesus por diversas vezes dizia a ela: "Mulher, o que tenho eu contigo?" João 2:4. Com o avanço atual dos recursos tecnológicos, se fizesse um exame de DNA em Jesus, não encontraria algum gene de Davi. Ele não era da família de Davi, pois, Maria tinha outra vertente genealógica.

Porque, então, há várias exclamações “Jesus, filho de Davi!”? Primeiramente foi uma promessa de que o Messias viria da descendência de Davi. É uma questão também cultural por causa da herança familiar e Deus também demonstrou que a adoção de filho é também legítima. O filho adotado poderia herdar os bens e compor a genealogia. Deus respeitou a questão cultural e Jesus era o filho adotado pela linhagem de Davi. Apesar de que, quando José soube que Maria estava grávida, não se atentou de que era do Espírito Santo e ficou muito chateado. A princípio, qualquer um ficaria. Talvez porque era algo difícil de se conceber. A maioria daqueles que criam, conhecia ou, pelo menos, ouviu falar nas ações do espírito de Deus. José não compreendeu, mas, aceitou, como também, adotou Jesus como sendo o seu filho e o trouxe à linhagem de Davi mantendo uma relação normal de pai e filho tanto é que ensinou a sua profissão ao seu filho Jesus. Este comportamento de José fez toda a diferença no contexto da religião judaica da época que igualmente aceitou esta adoção e Jesus era conhecido como sendo da linhagem de Davi. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

ESPINHO NA CARNE

Venancio Junior

O espinho na carne é muito dolorido. Esta metáfora foi utilizada por Paulo para demonstrar a dor profunda que estava sentindo e o pior é que ele não seria liberto daquela dor. Leia o texto de II Coríntios 12:7b e 10b "...foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar...Porque, quando estou fraco, então, sou forte". Ele pedia que o libertasse, mas, aquele sofrimento o mantinha em comunhão com Deus. Será que Paulo parou de pedir a Deus que o libertasse daquele sofrimento? Afinal, não adiantava orar, pois, o sofrimento era permitido para que se mantivesse a comunhão com Deus. Outro questionamento, será que foi um desabafo Paulo afirmar como força de expressão que aquele sofrimento era um mensageiro de satanás para demonstrar a sua irritação? Muitas vezes sofremos uma dor terrível, por exemplo, dor de cabeça que chegamos a dizer que é uma “dor infernal” o que, na verdade, não é. É uma forma aparentemente cruel e diferente de tudo o que se diz por aí sobre a comunhão com Deus e, conforme o texto, o sofrimento era a única opção. Naquele contexto, a dor desconstruía Paulo. Deus conhecia o coração característico de Paulo. Não podemos afirmar que se tratava de uma dor física. A única certeza é que aquela situação era profundamente desconfortável e angustiante para Paulo. Obviamente que esta não é uma forma padrão para Deus manter os seus filhos na comunhão. Apesar de que lemos de que Deus disciplina a quem ama (Hebreus 12:6). Acredite, tem pessoas que não precisa de um sofrimento qualquer para se manter na comunhão com Deus. Conheço muitas pessoas que são bem resolvidas nesta questão e se mantêm fiéis a Deus.

Mas, o espinho na carne não é somente aplicado como uma dor física ou emocional. Existem situações em que pessoas ou condição que são verdadeiros espinhos na carne. Quem não vive uma situação no trabalho em que somente pela graça é possível se manter? Existem também pessoas que são verdadeiros espinhos na carne. Quanto mais próxima, a dor se acentua e se aprofunda. Imagine alguém que te aborrece e não te respeita? Mesmo esta condição que justifique uma decisão em romper os laços, Deus diariamente coloca no coração de que é necessário a convivência para que os seus planos não sejam frustrados. Como Deus permite este tipo de situação tóxica, desgastante e que consome a alegria, o prazer e a motivação no planejamento da vida? Isto acontece no trabalho, na igreja e até mesmo no relacionamento conjugal. No trabalho é mais comum surgir contrariedades, porém, a questão da sobrevivência é o que mais pesa e a submissão forçada é o espinho na carne. Chefe que faz assédio moral e colegas que desejam que seja prejudicado para benefício deles e constantemente falam mal da sua pessoa que chega um momento que o sentimento de que esteja fazendo tudo errado domina suas emoções. Pior é que nada muda. Este é um profundo espinho na carne. Na igreja, por incrível que pareça, também existem contrariedades que com o passar do tempo criam fendas no relacionamento. Disputas de poder, traição, corrupção, adultério, ganância, orgulho, vaidade e soberba são alguns dos problemas que acontecem. Nestes casos, o espinho na carne não está em quem tem tais práticas abomináveis, mas, naquele que não se conforma com a podridão sendo obrigado a conviver com estas pessoas. Como servir a este tipo de pessoa? Porque, então, Deus não envia uma legião de anjos para colocar um fim a estas atrocidades morais? Deus poderia jogar uma faísca que pusesse um fim a tudo isto. Pois bem, da mesma forma que não correspondeu aos anseios de Paulo, Deus pode não fazer do nosso jeito e, geralmente, não o faz. Tem situações que se perpetuam e parece que nunca vai mudar por mais errado que seja o comportamento das pessoas. O sofrimento em não se conformar é o espinho na carne porque gera também quebrantamento.

Na vida conjugal também há o espinho na carne. Conheço casamentos em que as atitudes de um dos cônjuges provocava um espinho na carne do outro. Era uma pessoa, apesar da aparência que não levantasse suspeitas, tinha uma má índole e não conseguia reconhecer o seu comportamento corrosivo. Os problemas são diversos, desde a escravidão a algum tipo de vício até o envolvimento extra conjugal. Tem outros casos que, talvez, sejam piores em que tudo parece aparentemente caminhar bem, mas, o comportamento ácido nas palavras direta ou indiretamente quando as críticas ultrapassam a fronteira do núcleo familiar ou conjugal é o cotidiano da casa. As atitudes também podem se tornar ácido em que não há propensão em reconstruir o relacionamento e ainda a pessoa se coloca como vítima. Deus permite que se permaneça nesta situação e o contexto é um verdadeiro espinho na carne para aquele que é temente ao soberano. A outra parte está virtualmente “destruída” e na bíblia lemos que é desta forma que se é forte. São os mistérios de Deus que jamais serão revelados. 

Não queira viver uma vida certinha conforme se crê. Muitas vezes o espinho na carne é necessário para que a visão de Deus permaneça na vida daqueles que buscam uma vida de quebrantamento e reconstrução diária da fé para que a comunhão com Deus seja irretocável. Repito que o espinho na carne não é um padrão que Deus utiliza para manter os seus escolhidos em retidão. Cada situação é ímpar e carece de discernimento e oração onde se inclua a busca por sabedoria.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

JESUS NÃO ERA FILHO DE PAPAI NOEL

Venancio Junior

Que lindo! Todo mundo na igreja cantando em minha homenagem. Muita música, poesia e teatro recheiam a programação. Pelo jeito, todos gostam de mim e depois do culto não será difícil visitar a casa destas pessoas onde a comemoração vai continuar com muita comida e bebida e, eu, é claro. Afinal, sou o principal personagem da festa e será uma honra para aqueles que me receberem. Daqui a pouco vai chover de convites e ficarei rodeado de pessoas querendo que eu vá a casa deles. Vai ser difícil escolher qual casa irei. Qual família que vou visitar primeiro? Depois destas apresentações, todos vão para as suas casas continuar a festa junto com os familiares e até amigos. Estou muito ansioso. Este ano será diferente. Lembra das promessas que me fizeram dizendo que seriam pessoas diferentes? Já que sou tão importante, o culto já terminou e as pessoas estão se abraçando de alegria e logo alguém virá me convidar para ir a sua festa. Olha só, até agora a família do pastor da igreja é a mais assediada. Alguns “mais amorosos” até dão presentes. Muita gente vai perceber que estou aqui e com certeza vai me convidar para a festa na sua casa. Vou ficar muito feliz também em saber que as pessoas me amam e desejam que o meu amor ocupe espaço no coração e que cada um inspire outros para que a vida seja mais leve. Mas, agora me leve para a sua casa. Quero participar da festa também. Aos poucos vai diminuindo o número de pessoas na igreja. Cada um está eufórico para as novidades no cardápio e não faltará fome para saborear. Alguns alimentos só aparecem no final de ano. Agora só tem uma meia dúzia de pessoas e alguns são os responsáveis em desligar as luzes e fechar a porta. E agora, se fecharem a igreja, eu fico do lado de dentro no escuro seguro ou do lado de fora na rua vazia? Percebi que ninguém me percebeu e nenhum convite surgiu. Será que não sou filho de Papai Noel? Quem diria que eu, “o famoso” Jesus, o principal nome lembrado nas comemorações, foi esquecido de verdade. Estou com fome, pensa na quantidade e variedade de comida neste momento? Além do mais, a noite será longa, mesmo sendo verão, a madrugada sempre é fria. Ninguém se lembrou de convidar alguém que faria diferença na festa. Quem sabe transformar a água em vinho, curar alguém doente ou até mesmo ressuscitar algum morto vivo. Mais uma vez fiquei de fora da festa. As pessoas se acostumaram a causar uma boa impressão usando o meu nome, porém, não me acolheram. Desejaram uma vida próspera a todos, mas, me deixaram nu. Parece que o valor que tenho só vale nas comemorações da igreja. Nas casas não tenho valor e não sou bem-vindo. Pelo jeito, o filho de Deus não é filho de Papai Noel.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

QUANDO A IGREJA ATRAPALHA

Venancio Junior

Gosto muito de praticar esporte, especificamente o futsal, bicicleta ou popularmente “bike” e mais recentemente a corrida. Nas pedaladas, gosto de fazer o meu caminho, apesar de que na cidade onde moro não tem muita opção de trajeto para quem gosta de pedalar, de certa forma “forçando” o deslocamento até numa região sem movimento. Ainda assim, na maioria das vezes gosto de pedalar pelos bairros e, de repente, numa destas pedaladas percebi que limparam um quarteirão inteiro para a construção de um mega condomínio. Neste quarteirão “existiam” as casas e uma igreja evangélica. Só ficou a igreja porque o pastor não quis vender para o empreendimento. Perguntei pessoalmente ao pastor que afirmou que não venderia de jeito nenhum. Óbvio que gostaria de saber o porquê. Não perguntei, mas, é evidente que o pastor está pensando na valorização do imóvel, por sinal, está bem precário por falta de manutenção, e também está pensando que alguns das centenas de futuros moradores poderão frequentar a sua igreja. Confesso que ficou bem esquisito. Um enorme conglomerado composto por três edifícios de classe média e a igreja literalmente ficou espremida destoando completamente a composição urbana e frustrando em parte os empreendedores. A igreja que já está envelhecida, ficará ainda mais diante do novo condomínio. Não conseguirá acompanhar. Nas vezes que passo por lá, não vejo movimento na igreja e parece que a frequência, tal como a falta de manutenção, está também decadente.

Porque a igreja nesta situação deixou de ser igreja? Faltou visão ao pastor para que a igreja servisse aqueles que poderiam receber o bom testemunho cristão baseado num dos pilares do evangelho que é o de servir aos empreendedores e os futuros moradores. A igreja poderia mudar o nome para “igreja evangélica espremida”. Temo pelo seu futuro, pois, o maior patrimônio da igreja não é o prédio e não se deve ter a falsa teologia de que igreja cheia é que tem valor para Deus. Não sei se a igreja sobreviverá. As poucas pessoas que a frequentam nenhuma culpa têm. O pastor é o grande responsável pelo destino da igreja. Poderia ter vendido o prédio e construído uma maior, moderna e mais confortável. Qual a impressão que ficará nas pessoas envolvidas no empreendimento e naquelas que circulam a região? Faltou a igreja servir as pessoas e deixar de atrapalhar dando mal testemunho.

Mas, há outras situações em que a igreja atrapalha. A igreja quando tem o foco em crescimento sem raiz, está atrapalhando a vida das pessoas. Perdeu-se a essência da mensagem de salvação que é amar a Deus acima de todas coisas e amar ao próximo com a mesma dedicação que a si mesmo. A igreja tem investido mais no patrimônio físico do que em missão e assistência social que são os pilares do evangelho. As igrejas se tornaram exclusivas e ninguém que seja diferente é bem-vindo. Não somente pessoas diferentes, mas, uma proposta de inovação que fará diferença na vida das pessoas está fora dos planos dos conselhos, das convenções e dos concílios. A igreja está atrapalhando porque o evangelho está ofuscado pela tradição e pela liturgia mecânica. A teologia do evangelho tem sido descaracterizada por conceitos que visam meramente atrair as pessoas sem a consciência de pecadores e sem arrependimento. Muitas pessoas frequentam a igreja com o pecado a tiracolo. O evangelho da conveniência tem atraído muitas pessoas e isto tem atrapalhado a se tornarem discípulas de Cristo. A igreja está sem manutenção e isto reflete no evangelho raso que as pessoas tem vivido. Um evangelho mofado e cheio de teias de aranha é o que vemos na maioria das igrejas. Isto é muito fácil de perceber hoje em dia, basta acessar as transmissões on-line. As músicas e as mensagens não convencem mais ninguém e isto tem atrapalhado as pessoas a conhecerem o Deus da restauração e também da diversidade e criatividade. Será que o Deus que está agindo naquela igreja que está atrapalhando o condomínio é o mesmo Deus que afirmou que não habita mais em templos feitos por mãos humanas? O único templo que deve ser considerado é o nosso corpo onde o orgulho, a vaidade e a soberba são submetidas a restauração do caráter. O templo feito por mãos humanas é a casa de oração para todos. Não é do pastor e nem do conselho, mas, de todos. 

A VIDA SEXUAL DE PAULO

Venancio Junior

Primeiramente quero desmistificar o conceito de santo dedicado aos apóstolos. Nenhum deles era santo e nem se comportavam como pessoas especiais. Todos eles sem exceção eram pessoas comuns que tinham dificuldades, limitações e suas crises.

Creio que todas as pessoas já sentiram uma pedrinha no sapato que se tornou uma metáfora de algo que incomoda muito. Ainda mais dolorido que a pedrinha no sapato é o espinho na carne ilustrado por Paulo que, não somente incomoda, mas, machuca mesmo. Eu acho que ele tinha uma perturbação na área sexual e tudo leva a crer que era uma angústia mal resolvida e que nunca houve um final feliz. O apóstolo Paulo era solteiro e viveu esta questão entre a cruz e a espada até a sua morte. A ilustração revela que havia uma “perfuração dolorida” e que o incomodava muito. Isto confrontava os seus próprios valores e os do seu caráter agora convertido.

Esta confissão de Paulo despertou a curiosidade do mundo cristão e dos que, mesmo não professando a fé cristã, são estudiosos da teologia e que ainda buscam uma vírgula que revele o que seria, de fato na prática, esta figuração utilizada por Paulo. Muitos ateus aceitam a teologia porque não há como negar os fatos da história. Eu tenho o meu palpite baseado nos próprios relatos de Paulo que, para mim, deixou algo revelador. Não tenho dúvidas sobre a minha conclusão. Esta reflexão não é somente sobre o episódio e o sofrimento de Paulo. Por mais “santo” que a pessoa se sinta, cada um de nós tem o espinho na carne. Já escrevi uma reflexão falando dos nossos pecados de estimação.

Vamos ao texto: “...foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar” 2 Coríntios 12:7. Paulo culpou o mensageiro de Satanás como sendo o espinho na sua carne, mas, qual era a tentação? É bíblico que haja alguma presença maligna na tentação? Sim, é bíblico a tentação ao pecado é somente influenciada pelo maligno. Lembro que o diabo, o nosso adversário está ao nosso redor pronto a nos devorar (I Pedro 5:8). Deus também permitiu que o diabo tentasse a Jó que, mesmo com todo o sofrimento, não pecou. O próprio Jesus foi tentado no deserto. Ele pensou em tudo no que o diabo falava, mas, não pecou. Provavelmente Paulo era tentado e não tivesse pecado? Pensava no pecado e pecava. Leia o texto de Romanos 7:15 “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio”. Ninguém morre porque pensou em suicídio. Ninguém também não fica drogado só em pensar nas drogas. Interessante é que o adultério é diferente e acontece já no pensamento. Parece que a bíblia, na maioria das vezes tratava a mulher como mera coadjuvante na história. Como o contexto da época era culturalmente masculino, então, foi utilizado a cobiça do homem em relação a mulher, mas, o inverso também é factível.

Afinal, qual era este tormento de Paulo? Ele reafirmou no verso 19 que continuava fazendo “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo”. Todos conhecem o esforço e dedicação de Paulo em proclamar o evangelho. Era uma grande missão que ele cumpria. Afinal, o que ele fazia de tão errado? Para compreender alguém é preciso conhece-lo nas suas atitudes e palavras. A maioria das doutrinas bíblicas foi exposta por Paulo. Ele é muito criticado por algumas colocações e pelas revelações. As colocações ele afirma que são opiniões pessoais. Porém enfatiza que as demais são revelações doutrinárias dadas por Deus onde não há interpretação dúbia ou descontextualizada. Paulo era solteiro e nalgumas destas revelações apresentou as principais questões do sexo dentro e fora do relacionamento conjugal. Porque Deus escolheu um cara solteiro para revelar a teologia do sexo no contexto conjugal? Paulo também fazia este questionamento o que aumentava ainda mais o seu tormento. Eu creio que Deus queria alguém neutro e sem qualquer influência pessoal de uma vida conjugal. Nenhum relacionamento é igual e os exemplos não podem ser generalizados. Um cara desprendido de qualquer natureza conjugal, a princípio, era o cara ideal. Mas, e o sexo? Provavelmente Paulo não era virgem. Foi um oficial do exército romano, uma corporação poderosa e influente e que periodicamente realizava as suas orgias regadas a bebidas e muitas mulheres. Paulo era um oficial de alta patente do exército romano e gozava de algumas regalias. Estes oficiais eram os alvos principais das mulheres, dentre eles, Saulo que era o seu antigo nome. Algumas mulheres na época, logo após o ciclo da primeira menstruação, literalmente já procuravam homens capazes de sustenta-las e se entregavam para convencê-los de que era a mulher ideal para as suas necessidades. Não, não era assim que acontecia. Boa parte delas não se expunha e se mantinha recatada e pura. Os pais da boa moça é que tinha a responsabilidade em encontrar alguém estável e de bom caráter para entregar a sua filha. Um homem com estabilidade financeira e membro do exército romano era tudo o que o pai da moça procurava e uma mulher precisava. Poderia ser até feio, segundo a história, como Paulo. Mas, Paulo não era bem visto pela sociedade por causa da sua forma violenta em defender a lei. Era alguém de má fama e por isto que nenhum pai entregou a sua filha a Paulo. Então, a sua única companheira era a excitação. Esta excitação sem se extravasar com uma companheira o acompanhou e foi com ele para o túmulo. Nos seus relatos sobre a sexualidade, há diversos pontos em que procurou ser excessivamente comedido onde deixou fortes suspeitas em como pensava em se aliviar.

Paulo refere-se a alguma parte do seu corpo como “membros”. Na bíblia há diversos contextos de membros, por exemplo, membro do corpo de Cristo se referindo a igreja. Não é do corpo da igreja que Paulo está se referindo, mas, a algumas partes do seu corpo que, por prudência classifica como membro. Ainda nos dias atuais as pessoas mais conservadoras referem-se ao órgão genital masculino como membro. Paulo era conservador, tanto é que defendia a lei até com excesso de zelo e após a conversão, o caráter mudou, porém, a sua personalidade se manteve conservadora, então, jamais iria ser explícito com algo que as pessoas consideravam imundas que são os órgãos sexuais.

Na minha opinião pessoal não tenho dúvidas de que Paulo se masturbava. O texto de Romanos 6:12 diz: “Portanto, não permitam que o pecado continue dominando o corpo mortal de vocês, fazendo que obedeçam aos seus desejos”. Façam o que eu digo, mas, não façam o que eu faço. Apenas lembrei do texto em que afirma que continua fazendo o que odeia. Este texto não está na bíblia. Observe a parte deste texto primário de Romanos 6:19 que consta na bíblia “Assim como vocês ofereceram os membros de seu corpo em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade...”. Agora leia o trecho deste texto secundário de Romanos 7:23: “...mas vejo outra lei nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado (mensageiro de Satanás) que atua em meus membros”. Ele está falando para as mesmas pessoas. Observe que membros está no plural, então, é mais de um membro e ele separa membro e corpo. Tudo leva a crer que membros que ele cita é o órgão genital e as suas mãos. Não poderia ser os pés? Claro que não! Ele poderia dizer: “...outra lei que atua no meu corpo”. Nem precisaria ser extenso, mas, foi específico classificando os membros do corpo. Será que se referia aos olhos? Ou à boca? Ou será que seriam os ouvidos? Nunca ouvi alguém citar os olhos, a boca ou os ouvidos como membros do corpo. O livro de Mateus cita os olhos e as mãos como sendo membros do corpo. É óbvio que são membros do corpo, porém, o contexto é completamente diferente.

Não quero ser tácito nesta questão porque todos estudaram o corpo humano na disciplina de ciência. Em nada muda a teologia ensinada por Paulo. Sendo verdade esta suposição, é uma alegria saber que as pessoas que consideramos como santos, são pessoas comuns e isto nos aproxima muito daquilo que somos, pecadores e todos eles são gente como a gente.

terça-feira, 23 de julho de 2024

IMAGEM...NÃO É TUDO

Venancio Junior

Imagem é uma placa de exposição. Quem deseja ter visibilidade precisa de um lugar onde todos tenham acesso visual. O que diz a imagem, cada pessoa traz consigo a sua leitura. Depende de diversos fatores, perspectiva, contexto e das emoções. Na mesma perspectiva e com sentimentos distintos, a leitura terá concepções diferentes. Da mesma forma que tendo perspectivas diferentes, porém, com o mesmo sentimento, a leitura será comum de qualquer ângulo.

Este é o pilar das empresas de propaganda e marketing. Ninguém em sã consciência tem absoluta certeza do sucesso da imagem que foi construída até que os resultados cheguem dando alívio aos profissionais. Por isto, a cada investida, tentam emplacar a mensagem de cada imagem exposta. Comunicação é a palavra-chave. Enquanto escrevo estas poucas linhas, há um turbilhão de processos tentando chamar a sua atenção com propagandas e utilizando de todos os meios possíveis para se comunicar. O retorno que eles desejam não é somente o consumo do produto, mas, eles querem que faça parte da sua vida. Construir uma imagem para conquistar confiança. Ninguém confia em algo ou alguém desconhecido. De onde veio e o que pretende é o mínimo que precisa saber.

Mas, e as pessoas, também precisam ter uma imagem? Nos relacionamentos, a imagem que se passa é o primeiro passo para gerar uma proximidade. Construir uma imagem espontaneamente não é nada fácil. Os políticos são mestres em falsas imagens. Prometem muito mais do que cumprem. A imagem fica atrelada somente às promessas. Na vida comum, as pessoas também buscam construir suas imagens. Afinal, muitos dos interesses dependem fundamentalmente da imagem que se constrói. Não é fácil construir uma imagem de confiança. É muito difícil saber o que a pessoa seja de fato. Infelizmente, as circunstâncias pode ser um fator preponderante na construção da imagem. Quem não gosta de falar mal dos outros? Geralmente, as pessoas de longe que se sujeitam a leviandade. Mas, muitos são os exemplos de pessoas próximas que se esforçam para desconstruir a imagem de alguém. Existem dois motivos principais, a inveja ou a vingança. O invejoso não consegue superar sua própria fraqueza pela falta de humildade e tenta a todo custo diminuir a outra pessoa para que ele se sinta “superior”. A pessoa vingativa, geralmente, forja um contexto para justificar suas maldades. Tanto a inveja como a vingança são males sutis e avassaladores. Temos muitos exemplos de pessoas que fizeram uso destes sentimentos malignos e tentaram destruir a reputação de pessoas inocentes. Sempre digo que não tenho medo da mentira. Enquanto falarem mentiras sobre minha pessoa, o meu brio, a minha dignidade e o meu caráter estarão preservados porque só existe uma verdade, as demais nada mais são que versões infundadas. Mas, tenho muito medo da verdade. Ouvir a verdade não é tão simples como se acredita. Muitas vezes, a verdade dói e desconstrói as falsas imagens. Quando somos crianças, os amiguinhos falam muitas “verdades”, tipo, não sabe jogar bola, é feio, é pobre, é fedido, é burro e por aí vai. Mas, mesmo sendo na vida real, tudo fica ali nas brincadeiras. Tudo o que se falou não está emplacado na imagem. A imagem da criança está atrelada ao que a família representa. Aquela criança é de boa família. Aquela família é muito distinta. Estes são os comentários mais comuns que se ouvia antigamente no meio social.

A vida adulta tem raiz, tem muitos interesses e depende muito da imagem que se constrói. A melhor imagem que a pessoa possui é aquela em que não se busca o próprio interesse. A pessoa calculista idealiza uma imagem do seu interesse e que seja teoricamente de boa reputação e todas as suas ações são previamente pensadas visando ser o mais próximo possível daquilo que construiu e que tenha boa estima entre as pessoas do seu convívio. Tendo boas intenções e se a vida é coerente com aquilo que se apregoa, tudo bem. Quem pensa muito se torna prisioneiro de si mesmo e escravo da sua falsa imagem. 

Há de convir de que imagem não é tudo. Reputação é apenas uma parte de um processo que perdura a vida toda. Alguns desistem de manter o que nunca tiveram. Nos dias atuais, imagem e reputação são coisas muito diferentes. Antigamente as pessoas até pagavam para sair na coluna social que era onde se emplacava a imagem de pessoa bem-sucedida. O anonimato era uma sombra a ser evitada literalmente a qualquer custo. Muitos pagavam para serem expostos nas revistas de famosos. O que havia, de fato, por trás de cada sorriso era uma vida incondizente com a imagem construída. Construir uma imagem é muito difícil, mantê-la é muito mais difícil. Lembra da pessoa invejosa e da pessoa vingativa? Quanto maior a exposição, maior será o alvo a ser alvejado. Não se iluda achando que este tipo de pessoa são teus inimigos. Quanto mais próxima, maior serão os sentimentos de inveja ou de vingança. Quem está longe do seu convívio não te conhece e não teria motivos aparentes para lhe considerar como uma pedra no caminho. O maior problema da pessoa invejosa ou vingativa é que ela não se cansa nunca. Estes sentimentos sempre estarão em “stand-by” e será acionado no momento oportuno mesmo que haja um reencontro após muitos anos. Enquanto estiver próximo, sempre estará à espreita e na primeira oportunidade que pode ser gerada por ela mesma para destilar o veneno, soltará faíscas para arranhar a imagem.

Construir uma imagem com todos os recursos disponíveis na palma da mão está muito fácil. O processo é dinâmico Story, Feed, Rels, TikTok além das redes dedicadas a vida profissional e os de vídeos e de esporte também, por que não!? Conheça a história das pessoas realmente bem-sucedidas. Sendo possível, envolva-se com elas e seja humilde em reconhecer as conquistas e tenha como um referencial para a sua vida. Ao invés de se sentir como o invejoso ou o vingativo, os tenha como pessoas de valor na sua vida. Ter esta postura é uma grande e inimaginável utopia na sociedade atual. O problema das pessoas é que o contexto das redes sociais cauteriza a mente e não conseguem diluir a massa de inutilidades acumulada diariamente. O senso crítico está praticamente em desuso. As publicações que estão em evidência nas redes são as que possuem mais acessos. Observe que o conteúdo inteligente é pouco visualizado. A briga pelo espaço para conquistar a atenção das pessoas é muito grande e desleal. Quanto mais acessos, mais se recebe dinheiro e se ganha mais espaço para publicar. A maioria das imagens das pessoas que são publicadas são apelativas e mentirosas. Ninguém se importa mais com os princípios da moralidade e da ética. Até os religiosos abandonaram este discurso moralista.

O que fazer diante deste monstro que construimos? Lembrar de onde veio e para o quê veio é um bom começo. Cada pessoa tem a missão de fazer diferença (para melhor) na vida do outro. Ter consciência disto é muito difícil diante das atuais circunstâncias. Seria como uma garimpagem. Em meio aos pedregulhos encontra-se o tesouro. Os pedregulhos são aquelas imagens que as pessoas constroem desfocada e nebulosa. O importante não é construir uma imagem o que, na verdade, nem deveríamos nos preocupar com isto, mas, deixar que as pessoas encontre a sua imagem de valor. Quem não consegue enxergar o valor nos outros é porque não consegue encontrar o valor em si mesmo.

sexta-feira, 12 de julho de 2024

SEDUÇÃO 5G

Venancio Junior

A conexão 5G, enfim, chegou e bem antes de se conectar, muitos já se sentiam seduzidos e imaginavam quão veloz seria a transmissão de dados. Bem, ainda está em fase de implantação e a maioria não tem este acesso. Talvez nem precise de tanta velocidade. O mundo caminha velozmente e a conexão nesta época precisa acompanhar ou estar a frente abrindo caminho e permitindo que os usuários mais sagazes se sintam satisfeitos alimentando ainda mais a sua sedução. A qualidade do conteúdo não tem acompanhado este avanço tecnológico. Quanto mais tempo dedicado, mais se vê que tem muito joio em meio ao trigo.

A sedução não é algo novo. Todos estão sujeitos a serem escravos daquilo que os seduz. O apóstolo Pedro já afirmou que o ser humano se torna escravo daquilo que o domina, ou posso colocar, daquilo que o seduz. A sedução pode ser para o bem ou para o mal. Ela não tem lado próprio. Quem define os objetivos da sedução é a própria pessoa seduzida. A sedução em alta escala e incontrolável é um grau de emoção sem raiz, mas, de alta incidência no sistema nervoso da pessoa. Objeto, pessoas, situações, sentimentos, projetos, ambições e tudo o que envolve o ser humano pode ser indistintamente sedutor. Tem pessoas que se sentem seduzidas por tecnologia. Qualquer novidade ela sempre está se antecipando na fila de espera. Outras já preferem a sedução do luxo. O consumismo é obstinado, sempre procura estar a frente das pessoas da sua convivência. Pura ilusão, pois, o prazer dura até a próxima sedução. O mundo do marketing é o principal fomentador da sedução do consumo. O mundo capitalista precisa que as pessoas consumam e a sedução é o principal veio de acesso que foi apropriado pelos profissionais de propaganda. A sedução anula a racionalidade e faz a pessoa adquirir ou desejar na sua maioria aquilo que não precisa. Esta carência é mordaz e só se satisfaz quando consome e não tendo limites para este comportamento chega a ser vexatório.

Mas, é somente o consumo de bens que seduz as pessoas? Claro que não. A sedução está nos relacionamentos. Tem pessoas que se sentem seduzidas por perfumes, pela aparência, por exemplo, pessoas de uniforme. Muitas das fantasias sexuais são frutos da sedução, mulher vestida de enfermeira ou de colegial. Homens de terno, com farda militar (policial, bombeiro) ou de atleta de academia são as principais armadilhas para seduzir as mulheres e até mesmo outros homens. Por falar em academias, existem muitas pessoas que se deixam seduzir pelo corpo delineado. Nada contra e até admiro um corpo bem cuidado seja de homem ou de mulher. O problema é quando esta performance se torna uma obsessão. Nunca estão satisfeitas e fica mais em busca dos defeitos que precisa "corrigir" do que das conquistas nas maratonas de exercícios.

A sedução também atinge a religião. As inúmeras promessas em ser bem-sucedido tem seduzido milhões de pessoas. Independentemente da situação social, a sedução alcança a todos porque a busca incessante por prazer ou por paz de espírito tem seduzido as pessoas a se comportarem de forma ridícula e infantil. Milhões de pessoas têm sido seduzidas pelas falsas bem-aventuranças. Existem até profissionais que desenvolvem técnicas de sedução. Isto não é novo. Nos anos 70 o, então, famoso pregador norte-americano Jim Jones seduziu uma multidão que as levou ao suicídio coletivo. Algo inacreditável. Isto demonstra o perigo que é o poder de sedução. Jesus nunca seduziu as pessoas com quem se relacionou porque sempre deixava que a própria pessoa primeiramente refletisse e tomasse a melhor decisão. Prova disto é que, enquanto uma multidão decidiu seguir o mestre, outros decidiram espontaneamente não seguir. Jesus fez duras críticas aqueles que utilizavam o poder de seduzir para enganar e levar as pessoas à perdição. Por incrível que pareça, o recado era sempre direcionado aos religiosos.

No episódio de Jó, quando o diabo respondeu a Deus que estava rodeando a terra, na verdade, estava em busca de pessoas para seduzir e jogar as suas artimanhas malignas naqueles que estão fragilizados pela vida. Muitas coisas contribuem para que percamos o foco. Consumismo, erotismo, ganância, vingança, orgulho, egocentrismo e tantos outros predicados são os principais valores muito considerados pela nossa sociedade e que são armadilhas de sedução. Perdemos a noção do quão ridículo nos comportamos quando somos seduzidos. Quando é por consumo, os créditos e as economias são pulverizados pela gastança desenfreada. Aos poucos vai perdendo o confortável padrão que foi adquirido com muito sacrifício. Quando a sedução é por alguém, o comportamento é vexatório e se submete aos mais baixos caprichos daquele que a seduz. Perde-se a vergonha e o respeito. Não conheço alguém que perdeu e os tenha conseguido recuperar. As marcas no caráter são irreparáveis porque permitiu que a sedução a envolvesse. Na religião, a sedução é o que mais arrebanha pessoas ao redor do mundo. As pessoas têm pressa e recorrem ao imediatismo para terem segurança em algo ou alguém que não exige nada em troca e são facilmente seduzidas pela confiança em ídolos de diversos tipos. A idolatria tem seduzido e levado milhões de pessoas ao ridículo acreditando que viverão em segurança e mudarão suas vidas para melhor depositando confiança num objeto inanimado ou não, pois, os animais também são alvos dos idólatras. Milhões se sujeitam a doutrinas de sacrifícios e que são vazias, pois, é mandamento meramente humano. As principais lideranças religiosas vivem uma vida de luxo às custas da sedução que impõem às pessoas que são seduzidas pelas promessas de bênçãos, enquanto muitos pastores são seduzidos pelo dinheiro, de certa forma, fácil que as pessoas regularmente entregam. Em diversas outras religiões, principalmente asiáticas, a pobreza é motivo de orgulho que seduz a todos com a autocomiseração. A humildade nada tem a ver com a miséria. O propósito da filosofia de vida é jamais levar as pessoas ao extremo nem além e nem aquém do ponto de equilíbrio. A filosofia de vida que boa parte das pessoas adotou é ser bem sucedido a qualquer custo. Milhares de pessoas não conseguem separar a vida profissional da vida social. Muitos não conseguem se aposentar porque foram seduzidas pelo ritmo do trabalho e estão escravizadas pela rotina de décadas. Este vínculo foi construído pela sedução em ganhar dinheiro e ser bem sucedido. Para esta mudança inevitável recorrem aos profissionais de psicologia que focam o desvinculo da emoção com a realidade.

No mundo artístico a sedução se encontra em todos os ambientes. A sedução da fama no mundo do cinema, da televisão e do esporte principalmente é um vírus mortal. Toda a construção da vida é baseada na fama que nada mais é que uma cortina de fumaça. Quando tudo acaba, a pessoa se torna um pária social. Muitos cometem suicídio e outros sobrevivem se tornando dependentes químicos de drogas legais e ilegais. A ruína da fama é o resultado da sedução. Um dos problemas que vejo com preocupação é a sedução da imagem. Pessoas com relevância ou não na mídia estão se descaracterizando com aplicações de preenchimento labial e facial. Estão se tornando verdadeiros monstros. O medo de envelhecer e ficar feio está fazendo com que as pessoas se submetam a procedimentos cirúrgicos, muitas vezes perigosos e o resultado na imagem que foi motivada pela sedução é um desastre. Elas próprias não conseguem enxergar a própria desgraça porque estão seduzidas. As pessoas não querem se sentir em desvantagem uma em relação as outras. Esta disputa existe em todos os segmentos sociais e a busca desenfreada é alimentada pela sedução em não ser inferior. A competividade se tornou irracional, pois, muitas pessoas não se importam em estarem bem, o que querem é ter certeza de que a outra pessoa está mal, daí, adota a lei da relatividade em que se sentirá bem porque o outro está mal.

Não pense que somente as pessoas comuns são seduzidas. No mundo celestial também aconteceu isto e até mesmo o diabo foi seduzido. Ele não foi seduzido por alguém, mas, pelo seu orgulho. O diabo é a manifestação do mal e se imaginou sendo também Deus. A serpente no jardim do Éden era o mal manifestado e tinha o objetivo em destruir a obra da criação quando seduziu Eva que, por sua vez, seduziu Adão. Porque a serpente seduziu Eva e não Adão? Se fosse o inverso, Adão jamais conseguiria seduzir Eva. O homem é prático e não gosta de confusão. A mulher é pragmática e gosta de sentir todo o processo, neste caso, da sedução. Enfim, o diabo não conseguiu atingir os seus objetivos malignos porque a obra da redenção de Deus superabundou sobre o mal. O objetivo de Satanás era anular o processo de salvação porque almejava ser também soberano. O diabo não tem interesse em destruir o maior número de pessoas e não se sentirá vitorioso por isto porque o foco é ser igual a Deus ou ser o único deus. No inferno todos os que foram seduzidos pelo mal sofrerão, inclusive o diabo e seus anjos que foram seduzidos pelo orgulho. O desejo do diabo é aniquilar a Deus e julgou que havia conseguido quando Deus nos deixou a própria sorte. Jamais conseguirá porque a morte expiatória e consequente ressurreição de Jesus rasgou o véu que separava a criatura do seu criador. Jesus na cruz não se deixou seduzir por ser o filho de Deus sendo o próprio Deus encarnado em Jesus. Ele tinha poder para descer da cruz ou ser resgatado por um exército de anjos, era o que o diabo queria tentando seduzi-lo, mas, não conseguiu.

A sedução é um poder invisível capaz de controlar os nossos sentidos. Vivemos tempos em que a facilidade digital é um poder sedutor extremamente envolvente. Muitos perderam a noção dos limites que precisam ser estabelecidos. Toda interferência que desperta qualquer um dos cinco sentidos precisa ter uma leitura dinâmica e racional para que a reação tenha um ponto de equilíbrio que dilua o poder da sedução. Quem está te seduzindo e controlando a sua vida atualmente?

sábado, 29 de junho de 2024

EPISCOPISA E SACERDOTISA

Venancio Junior

Episcopisa é o feminino de Bispo. Sacerdotisa é o feminino de Sacerdote. Historicamente ou eclesiasticamente são muito semelhantes no desempenho das funções. O nome sacerdote é de origem judaica e, pela tradição, foi mantido até os dias atuais sendo a função do principal líder religioso dos judeus. Bispo é um desígnio que consta na bíblia, sendo o mesmo que pastor e até presbítero que é uma palavra grega que significa ancião e utilizado somente nas religiões cristãs. Na verdade, pastor é um sentido figurado porque os seguidores do cristianismo são considerados como ovelhas e o rebanho é a igreja e cada uma tem o seu pastor. Até bem pouco tempo, não era necessário ter diploma teológico para se tornar pastor. Bastava ter uma boa oratória e compreensível ao público ouvinte que estaria "aprovado". Porém, as atribuições que são conferidas à função exigirão um bom conhecimento das escrituras. No livro de II Timoteo 2:15 lemos “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Manejar bem a palavra é ter conhecimento para explicar e exortar sem distorcer o sentido a que foi proposto. Qualquer pessoa independentemente de gênero pode almejar esta função. Na bíblia não consta que deve ser exercido somente por homens. As denominações religiosas, cristãs e não cristãs, que predominantemente defendem o exercício somente pelos homens justificam que foi delegado aos homens exercer as funções de liderança. O fato de a maioria daqueles que exercem esta função ser composta por homens não lhes confere o direito exclusivo aos homens. Algumas denominações justificam a questão da escolha por Jesus dos apóstolos serem somente de homens. Eu creio que Jesus não quis contrariar a própria cultura judaica e, principalmente também, criar um embaraço pelo fato de no meio dos homens terem mulheres. Imagine os apóstolos reunidos em local fechado e no meio deles terem duas mulheres? Coloquei duas, mas, poderia ser pior, apenas uma mulher entre 11 homens. Causaria um mal-estar e para eles ficaria muito difícil convencer alguém quando falassem de moralidade. Jesus não foi machista, mas, prudente. As mulheres "disponíveis" naquela época eram mal vistas perante a sociedade. A maioria tinha compromisso conjugal e as tarefas de casa. Se faltasse a mulher, o homem teria de assumir os afazeres e quem sustentaria a casa?

Esta questão do homem ser cabeça da mulher é desígnio de Deus restrito ao contexto conjugal. A relação social homem e mulher nada tem a ver com a submissão da mulher que é exclusiva ao marido e jamais ao homem. No crescimento e evolução das comunidades, toda mulher teria o seu homem. A mulher que não tivesse seria mal-vista e difamada. O contexto familiar era o homem ser responsável pelo trabalho externo que era braçal e a mulher cuidaria dos trabalhos do lar. Cada um desempenharia o seu trabalho de acordo com a composição macho e fêmea. A igualdade entre homens e mulheres não se aplica nesta situação, pois ambos (graças a Deus) são diferentes no gênero. E assim, cada espécie cuida daquilo que lhe é adequado.

E nas funções eclesiásticas? Não existe trabalho braçal que limite o desempenho tanto do homem como da mulher. As atribuições são de conhecimento e algum tipo de amparo delegando as atividades a cada um dos seus fiéis. Qualquer pessoa pode fazer este trabalho desde que tenha o chamado para cumprir a missão. Aprimorar o conhecimento é um esforço intelectual e não braçal. Precisa ter uma vida, além de manejar bem a palavra, que não tenha algo com que se envergonhar.

Outra questão que precisa ser esclarecida é que filho de pastor não é “pastorzinho”, esposa de bispo não é “bispa” ou episcopisa e nem esposa de sacerdote é sacerdotisa. Isto se chama oportunismo. Estas funções são muito sérias para fazer parte de um pacote de conveniência conjugal. Para não ser injusto, é possível que haja uma “divina coincidência” quando a esposa ou o esposo recebem o mesmo chamado. De qualquer forma, tanto um como outro não é regra. O chamado é para todos, homem ou mulher.

Algumas linhas religiosas não aceitam o exercício sacerdotal feminino. Não há uma explicação plausível para esta postura machista. Consideram a igreja como se fosse a casa deles e submetem a mulher ao serviço doméstico, tal como, promoção de chás beneficentes, arrecadação de fundos para a caridade, organizar cursos artesanais e outros serviços diaconais não menos relevante, porém, aos olhos da liderança seria "serviço de mulher". Será que é medo em perder o protagonismo sacerdotal? Ninguém tem o direito de submeter alguém a um trabalho subalterno. A submissão é espontânea e de uma grande importância na estrutura de toda organização. A comunhão é a principal liga de união da igreja. Sem a comunhão todas as atividades perdem a sua importância no crescimento do corpo. Submissão é a iniciativa que ratifica a comunhão. Sem submissão não há comunhão. A submissão não é uma obrigação, mas é uma atribuição do servo. 

Por que algumas religiões cristãs e não cristãs ainda não aceitam a ordenação ministerial da mulher? A única explicação razoável é que a liderança se aproveita de uma brecha na interpretação bíblica da submissão da mulher ao marido. A partir desta determinação de Deus, o homem se aproveita e condiciona a mulher aos seus caprichos. Homem e mulher são iguais nos direitos e responsabilidades onde, naquela época, cada um exercia a sua atividade adequada a sua estrutura física. A submissão nunca foi da mulher ao homem. Na vida ministerial não existe esta submissão e a mulher pode exercer sem medo de contrariar os mandamentos relativos ao ministério pastoral. Paulo foi um dos principais expositores das ordenanças ministeriais. Quando falava sobre mulher, era referente a esposa no ambiente conjugal e nunca ao gênero feminino. Observe o texto de I Coríntios 14:34,35 “As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos”. Este texto é bem explícito na questão da submissão determinada por Deus. Não permitir é um costume imposto pelo homem e a lei a que se refere é relativa a estar sujeita ao marido e não a proibição em falar na igreja.

Há muitos fatos relatados na bíblia sobre a liderança feminina. Mas, também há relatos de que a intervenção da mulher que subjugasse o homem era algo considerado vergonhoso. No texto de Juízes 9:52,53,54 “Abimeleque aproximou-se da torre e a atacou. Ao chegar próximo da porta da torre para lhe atear fogo, uma mulher jogou sobre ele uma pedra de moinho que o atingiu na cabeça, rachando-lhe o crânio. No mesmo momento ele chamou seu escudeiro e lhe ordenou: “Toma a tua espada e mata-me, para que não se divulgue que uma mulher conseguiu me abater!”. O rei Abimeleque estava morrendo com o crânio rachado e se esforçou para dizer ao escudeiro que o matasse com a espada para que ninguém soubesse que foi uma mulher que o matou. O orgulho estava incrustado na essência do brio masculino. A mulher era tratada como um gênero inferior. Tem o episódio de Débora. Era uma profetisa e juíza de Israel. Ela chamou Baraque para reunir 10 mil soldados para lutar contra o exército de Jabim. Porém, Baraque disse que só iria se ela fosse junto e Débora afirmou que iria e as honras da vitória seriam dela conforme Deus prometera (Juízes 4:9).

Na história bíblica contextualizada num ambiente machista, constam tantas outras que se destacaram, mas, não por serem mulheres. Eram pessoas imperfeitas como qualquer homem, porém, tementes a Deus. No contexto do Reino de Deus não há diferença de pessoas, não há homem ou mulher, nem escravo e nem livre, nem rico ou pobre ou de qualquer etnia ou classe social (Gálatas 3:28). Perante Deus todos são absolutamente iguais. A melhor forma de combater o preconceito é não considerar o gênero primariamente e a competência deve ser o principal balizador.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

SURPREENDENDO DEUS

Venancio Junior

É possível surpreender a Deus? Digo que é plenamente possível. Não se trata de alguma manobra de nossa parte para conseguir este feito. Deus é soberano e tudo depende de Ele próprio se permitir. Na bíblia há várias ocasiões em que se permitiu surpreender com alegria e com tristeza. Deus é surpreendente e surpreendeu a todos com a sua criação. Tudo bem que ainda não existia alguém para ser surpreendido. Deus é onisciente e sabe de todas as coisas, mas, se surpreendeu com a sua própria criação. “Viu que tudo era bom” Gênesis 1:31. Ele não sabia que tudo aquilo que estava fazendo era bom? Porque, então, ficou surpreso de que tudo que havia criado era bom? Deus em pleno processo da criação alimentou uma expectativa e foi surpreendido pela alegria em perceber que tudo era bom. Outra evidência de que Deus se deixa surpreender é quando expressa sentimento de tristeza ou de alegria relatados nos escritos bíblicos. Deus se revelou através da sua escritura. A expressão de um sentimento só acontece mediante uma expectativa de forma impetuosa. Quando alguém fica triste ou alegre é porque foi surpreendido. Deus ficou triste quando viu que o ser humano que Ele próprio criou era mau. Gênesis 6:5. Deus foi surpreendido pela maldade e se entristeceu. Ação e reação. O ser humano age com maldade, Deus reage com tristeza. Quando o ser humano age reconhecendo Deus como Senhor, Deus surpreendentemente reage com alegria.

Deus se alegra também e de forma surpreendente. No livro de Neemias 8:10 lemos “...porque a alegria do Senhor é a nossa força”. Deus também expressa alegria. Jesus sendo Deus encarnado era onisciente e conhecia o coração do ser humano relatado em diversos episódios da sua vida ministerial, porém, foi também surpreendido pela alegria. “Naquela mesma hora, se alegrou Jesus no Espírito Santo”. Lucas 10:21. O contexto desta alegria é que Jesus glorificou ao Pai por se revelar as pessoas humildes que reconheceram as suas ações e não aos sábios que não conseguiam enxergar a glória de Deus. Outro texto que revela que mesmo na glória de Deus há expressões surpreendentes de alegria quando um pecador se arrepende e se converte. Deus revelou a Lucas o que acontece quando um pecador se arrepende. “Eu digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende” Lucas 15:7. Quem se alegrará no céu? Os anjos e o próprio Deus que expressarão alegria. Todos foram surpreendidos porque alguém decidiu seguir pelo caminho do bem e expressaram alegria.

Os tempos atuais não têm trazido motivos para que Deus se alegre. Sendo mais específico, o que exatamente fará com que Deus se alegrasse? Como e quando é possível surpreender a Deus? Quem conseguirá alegrar o coração de Deus? Os escolhidos, em tese, são aqueles que alegram o coração de Deus, pois, foram escolhidos mediante algo que o surpreendeu. A igreja que Deus designou é formada pelos escolhidos. Temos diversos textos que revelam que Deus se deixa surpreender. O texto de Mateus 22:37 e 39 revela a chave que surpreenderá a Deus “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento” e “Ame o seu próximo como a si mesmo”. No maior mandamento que Jesus afirmou percebemos sentimento do coração, expressão da alma e a razão do entendimento. No amor ao próximo há a pré-disposição e a intenção em amar. Amor é incondicional. Não existe motivos aparentes para amar, caso contrário seria um amor meramente útil. Deus não nos amou mediante uma condição. O amor de Deus é a chave de acesso ao seu coração que nos permitiu surpreendê-lo com alegria de júbilo e gratidão. Em tudo dai graças (I Tessalonicenses 5:18) e celebrem jubilosos ao Senhor (Salmos 98:4) são mandamentos para alegrar o coração de Deus porque viu que tudo era bom.

Sei que quando lemos estes textos parece que o contexto é somente de alegria e prazer. A realidade da vida humana muitas vezes é cruel e não há motivos aparentes para se regozijar, cantar júbilos ou demonstrar gratidão por alguma coisa positiva que tenha ocorrido. Nesta situação, como alegrar o coração de Deus? Obviamente que expressamos alegria somente quando estamos alegres e o contrário também é verdadeiro quando expressamos tristeza somente quando estamos tristes. A honestidade em expressar e a sinceridade em admitir a tristeza, de certa forma, provoca alegria no coração de Deus. Quer maior surpresa em expressar a Deus o que acontece no coração? Surpreendemos a Deus quando se espera que fiquemos revoltados com as dificuldades e demonstramos devoção a sua soberania e mantemos a nossa fidelidade. Quer surpreender a Deus? Mantenha-se fiel. Os escolhidos são aqueles que se mantiveram fiéis. O critério de escolha de Deus é exatamente surpreendê-lo. Nada tem a ver com aqueles que não se converteram e não creram. Deus não se surpreende com os legalistas que usam a interpretação a partir da lei para justificar o evangelho. Deus também não se surpreende com os idólatras, com os ladrões, com os mentirosos e muito menos com os religiosos. Surpreender a Deus é ouvir o que o Espírito diz as igrejas, compreender o evangelho e aceitar a rendição através do seu amor. O céu se alegra quando alguém é escolhido. Não se sinta privilegiado por ser um dos escolhidos pela graça. Isto não deve ser motivo de orgulho. O critério nunca foi a de pessoa perfeita. A principal característica em ser alguém escolhido é a fidelidade.

No livro de Neemias 8:10 no texto descrito no início diz que a alegria do Senhor é a nossa força. Esta alegria vem direto da fonte de todos os sentimentos que é o próprio Deus. Imagine a força desta energia que compõe esta alegria? Somos criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus. Não é o inverso. Formato, expressão, desejos, sensibilidade e toda expressão do ser humano vieram de Deus. A alegria é um dos componentes do Reino de Deus além da Paz e a Justiça. Observe a riqueza do que é extrair a alegria de Deus? Cada criatura é capaz de surpreender a Deus com alegria. Não é, em hipótese, ser alguém perfeito. As pessoas que conhecemos e tiveram intimidade com Deus foram imperfeitas e, mesmo assim, andaram com Deus demonstrado na fidelidade e isto foi retribuído de forma sempre surpreendente com alegria pelo criador.

quarta-feira, 29 de maio de 2024

NATUREZA DECAIDA

Venancio Junior

Após a queda, Deus nos deixou à mercê de todas as possibilidades por causa do pecado. O mundo sofreu uma desconfiguração e se tornou natureza decaída. Pecar tornou-se algo normal e o pior de tudo é que absolutamente ninguém está livre de pecar por mais “boazinha” que a pessoa seja. Cada um tem as suas fraquezas ou os seus podres e deverá colocar diante de Deus para alcançar misericórdia e a graça do perdão. Não adianta “espernear” ou fazer sacrifícios, Deus não nos livra do pecado, pois, o principal propósito do processo de salvação é libertar da condenação do pecado. Enquanto vivermos nesta dimensão, será indissoluto e precisamos ter um comportamento abjeto em relação a esta propensão pecaminosa. Cada pessoa tem a sua tendência carnal, inclusive Paulo que tinha também o seu "espinho na carne" e Deus não o livrou daquele tormento dizendo que tinha o propósito em aperfeiçoá-lo na fraqueza (I Coríntios 12:9). Muitos defendem que é algo que faz parte da sua natureza íntima e não tem como lutar contra. Porém, reafirmo que a natureza em questão é decaída. Paulo relacionou algumas das tendências desta natureza decaída e foi bem radical e não poderia ser de outra forma. A salvação não tem conveniência e muito menos o “jeitinho brasileiro”. Leia o texto: "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus" I Coríntios 6:9,10. O ponto mais controverso atualmente é a homossexualidade. Alguns dizem que houve uma tradução equivocada. Mas, porque somente um destes "pecados relacionados" é questionada a tradução, conveniência? No livro de Levíticos 18:22,23 milênios antes de Paulo, Moisés fez esta exortação ainda mais explícita porque as práticas imorais já existiam no meio do povo. "Nenhum homem deverá ter relações com outro homem; Deus detesta isso...". Mas, o homossexualismo condenado é somente masculino? Em Romanos 1:26b Paulo enfatiza "Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza". A tendência da natureza decaída é se contrapor à natureza original da criação. Como cada pessoa deve reagir diante daquilo que a domina? O imoral gosta de viver na imoralidade. O idólatra sempre coloca uma "fezinha" no seu ídolo de estimação. O homossexual se sente atraido por alguém do mesmo gênero. O adúltero não consegue colocar um basta nas suas tendências em se unir a estranhos. O ladrão sempre tem aquele desejo de se apropriar daquilo que não lhe pertence. O alcoólatra não pode se relacionar socialmente onde a bebida tem fácil acesso. E assim, cada um de nós temos as nossas fraquezas. O mesmo direito ao respeito que os homossexuais exigem, o ladrão, o mentiroso e o adúltero também tem. Imagine ouvir estes protestos: Respeitem a minha liberdade em mentir! Respeitem a minha liberdade em adulterar! Respeitem a minha liberdade em roubar! Nascemos com as nossas fraquezas, pois, não escolhemos a nossa perversidade. O que podemos escolher é permitir que esta tendência da natureza decaida nos domine ou dizer não a esta má influência. Temos um caminho que é o de amar como Deus ama a todos sem distinção! Mas, e aquelas pessoas que tendem a praticar aquilo que a bíblia afirma que Deus detesta? Continuar amando. Cada pessoa é responsável por si. Não devemos rejeitar ninguém com julgamento. Ser amado por Deus é um direito que o próprio Deus nos concedeu deliberadamente. Como em todo processo, o direito está intrinsecamente associado a responsabilidade. Seremos questionados diante de Deus se tínhamos ciência da responsabilidade para que o amor de Deus chancele a nossa salvação. Não adianta conhecer e não obedecer. Leia o texto de João 14:21: "Aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele". Este texto fala sobre direito e responsabilidade. O amor de Deus é incondicional para conceder o direito de salvação a todos. Mas, é preciso ter responsabilidade e obedecer para legitimar o amor a Deus.

Julguei propício a abordagem deste tema porque há uma confusão na interpretação do que é pecado. O texto de I Coríntios na ótica humana é bem cruel. Paulo não expressou a sua opinião. Em algumas das suas abordagens, por exemplo, aos solteiros, ele é explícito afirmando que não tem mandamento e expressou a sua opinião pessoal o que não é este caso. Todos querem ir para o céu e já contam com a certeza de que o amor de Deus é muito maior que os nossos pecados, porém, sem critérios e, principalmente, sem arrependimento. A maioria das pessoas considera que basta ser boa pessoa, pagar as contas em dia, respeitar as leis de trânsito, não estacionar em vagas especiais, não matar e não roubar que esteja tudo certo para garantir a salvação. Esta é uma teologia da conveniência que é adequar o evangelho na conformidade humana. Paulo na sua carta aos Romanos 12:2 exorta: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Quando houve a queda, Deus nos colocou para fora da sua presença. O único pecado considerado por Deus é estar fora da sua presença. Tornamo-nos imperfeitos sem qualquer chance de salvação e pecar é a condição normal padrão a que fomos submetidos não importando se é pessoa boa ou não. A concepção de bondade válida é a de Deus, pois, é o criador soberano. A bondade aos nossos olhos é uma conformidade humana que muitos adotaram como referência. O problema é que se ignora o processo de recondução do ser humano à presença de Deus. Não é tão simples como se imagina ou queira. Deus quer que todos sejam salvos (I Timóteo 2:4) e a sua graça é superabundante e a sua misericórdia é inesgotável. Deus se envolveu pessoalmente na pessoa de Jesus Cristo no resgate do ser humano, afinal, é criação tua e desde sempre amou cada criatura e continuou amando, mesmo após o pecado. O amor de Deus não é e nunca foi seletivo. Escolheu a todos antes da fundação do mundo. Para a ala cristã reformada, há uma única interpretação de que esta escolha seria um prenúncio de que a queda já estaria nos planos de Deus e já definiu quem seriam os privilegiados herdeiros do Reino. Mas, porque, então, expulsou a todos da sua presença (Romanos 3:23) e não somente aqueles que sabia que não seriam salvos? A soberania de Deus é tão ampla que se dá ao luxo de anular em parte algumas das suas atribuições, por exemplo, a pré-ciência. Deus já sabe quem será salvo e quem não será salvo? Eu creio que ele faz questão de não saber. Existe uma brincadeira de gente grande quando surge uma fofoca sobre alguém e a pessoa diz que “não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe”. Acho que Deus se comporta desta maneira. Se Deus se permitisse saber, então, talvez esteja brincando de Deus e sendo cruel com a raça humana. Para o quê serviria o plano de salvação? Jesus Cristo seria um fantoche diante do cenário trágico da humanidade? A morte de cruz e a ressurreição foi um deboche para aqueles que não foram escolhidos? Primeiramente, Deus se alegra por um pecador que se arrepende. "Eu digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende" Lucas 15:10. Alegria é expressão inesperada. Se há alegria para quem se arrepende, provavelmente haja tristeza que é frustração inesperada por aqueles que se perdem. Deus se entristece com aquele que ouve a palavra e não se arrepende. A tristeza faz parte da natureza humana cuja essência está na semelhança da composição trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Eu creio no amor pleno de Deus por nós. Quando Deus no processo da criação viu que tudo era bom, estava demonstrando que tudo foi feito com muito amor, inclusive, o ser humano. Ser (presente indicativo) humano é imagem e semelhança de Deus. Será que somos de todo mal? Afinal, somos feituras de Deus. A maldade entrou na dimensão porque Deus permitiu que assim o fosse. Qual o propósito? Se Deus fosse um tirano autoritário, simplesmente não permitiria que houvesse escolha entre o bem e o mal. Como agem os ditadores? Eliminam os seus opositores e toda suspeita de males que poderia prejudicá-los. Deus fez diferente e em amor permitiu que o mal fizesse parte da história para que fosse completa o que é diferente de perfeita. Deus criou o mal (Isaias 45:7) porque é completo e é perfeito porque é amor.

Qual a característica do amor que Deus empreende no relacionamento com o ser humano? No mundo jurídico existem as leis civis que definem os direitos e responsabilidades do cidadão. As leis de Deus também definem os direitos e responsabilidades do ser humano no relacionamento com Deus não somente dentro do processo de salvação para que não haja equivalência de interesse. E a salvação não é um direito adquirido por mérito através de sacrifícios. Fomos criados exclusivamente para adorar a Deus.

Será que o pecado foi um acidente de percurso? Não foi porque Adão e Eva sabiam o que estavam fazendo. As pessoas sabem que estão pecando e na iminência de não ter certeza da salvação procuram interpretações convenientes e julgam que Deus não manda ninguém ao inferno. Deus já mandou, pois, todos pecaram. Não foi assim diretamente e o inferno foi criado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41). Mas, qual o destino daqueles que estão fora da presença de Deus? Não adianta ter ódio do diabo e desprezar o inferno. O acesso ao Reino de Deus é através de Jesus Cristo pela sua justificação. Muitos julgam que odiar o mal seja o suficiente para ter certeza da salvação. É preciso amar a Deus acima de todas as coisas e isto implica cumprir com a responsabilidade e não somente se iludir exigindo os seus direitos.