quarta-feira, 29 de maio de 2024

NATUREZA DECAIDA

Venancio Junior

Após a queda, Deus nos deixou à mercê de todas as possibilidades por causa do pecado. O mundo sofreu uma desconfiguração e se tornou natureza decaída. Pecar tornou-se algo normal e o pior de tudo é que absolutamente ninguém está livre de pecar por mais “boazinha” que a pessoa seja. Cada um tem as suas fraquezas ou os seus podres e deverá colocar diante de Deus para alcançar misericórdia e a graça do perdão. Não adianta “espernear” ou fazer sacrifícios, Deus não nos livra do pecado, pois, o principal propósito do processo de salvação é libertar da condenação do pecado. Enquanto vivermos nesta dimensão, será indissoluto e precisamos ter um comportamento abjeto em relação a esta propensão pecaminosa. Cada pessoa tem a sua tendência carnal, inclusive Paulo que tinha também o seu "espinho na carne" e Deus não o livrou daquele tormento dizendo que tinha o propósito em aperfeiçoá-lo na fraqueza (I Coríntios 12:9). Muitos defendem que é algo que faz parte da sua natureza íntima e não tem como lutar contra. Porém, reafirmo que a natureza em questão é decaída. Paulo relacionou algumas das tendências desta natureza decaída e foi bem radical e não poderia ser de outra forma. A salvação não tem conveniência e muito menos o “jeitinho brasileiro”. Leia o texto: "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus" I Coríntios 6:9,10. O ponto mais controverso atualmente é a homossexualidade. Alguns dizem que houve uma tradução equivocada. Mas, porque somente um destes "pecados relacionados" é questionada a tradução, conveniência? No livro de Levíticos 18:22,23 milênios antes de Paulo, Moisés fez esta exortação ainda mais explícita porque as práticas imorais já existiam no meio do povo. "Nenhum homem deverá ter relações com outro homem; Deus detesta isso...". Mas, o homossexualismo condenado é somente masculino? Em Romanos 1:26b Paulo enfatiza "Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza". A tendência da natureza decaída é se contrapor à natureza original da criação. Como cada pessoa deve reagir diante daquilo que a domina? O imoral gosta de viver na imoralidade. O idólatra sempre coloca uma "fezinha" no seu ídolo de estimação. O homossexual se sente atraido por alguém do mesmo gênero. O adúltero não consegue colocar um basta nas suas tendências em se unir a estranhos. O ladrão sempre tem aquele desejo de se apropriar daquilo que não lhe pertence. O alcoólatra não pode se relacionar socialmente onde a bebida tem fácil acesso. E assim, cada um de nós temos as nossas fraquezas. O mesmo direito ao respeito que os homossexuais exigem, o ladrão, o mentiroso e o adúltero também tem. Imagine ouvir estes protestos: Respeitem a minha liberdade em mentir! Respeitem a minha liberdade em adulterar! Respeitem a minha liberdade em roubar! Nascemos com as nossas fraquezas, pois, não escolhemos a nossa perversidade. O que podemos escolher é permitir que esta tendência da natureza decaida nos domine ou dizer não a esta má influência. Temos um caminho que é o de amar como Deus ama a todos sem distinção! Mas, e aquelas pessoas que tendem a praticar aquilo que a bíblia afirma que Deus detesta? Continuar amando. Cada pessoa é responsável por si. Não devemos rejeitar ninguém com julgamento. Ser amado por Deus é um direito que o próprio Deus nos concedeu deliberadamente. Como em todo processo, o direito está intrinsecamente associado a responsabilidade. Seremos questionados diante de Deus se tínhamos ciência da responsabilidade para que o amor de Deus chancele a nossa salvação. Não adianta conhecer e não obedecer. Leia o texto de João 14:21: "Aquele que tem os meus mandamentos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele". Este texto fala sobre direito e responsabilidade. O amor de Deus é incondicional para conceder o direito de salvação a todos. Mas, é preciso ter responsabilidade e obedecer para legitimar o amor a Deus.

Julguei propício a abordagem deste tema porque há uma confusão na interpretação do que é pecado. O texto de I Coríntios na ótica humana é bem cruel. Paulo não expressou a sua opinião. Em algumas das suas abordagens, por exemplo, aos solteiros, ele é explícito afirmando que não tem mandamento e expressou a sua opinião pessoal o que não é este caso. Todos querem ir para o céu e já contam com a certeza de que o amor de Deus é muito maior que os nossos pecados, porém, sem critérios e, principalmente, sem arrependimento. A maioria das pessoas considera que basta ser boa pessoa, pagar as contas em dia, respeitar as leis de trânsito, não estacionar em vagas especiais, não matar e não roubar que esteja tudo certo para garantir a salvação. Esta é uma teologia da conveniência que é adequar o evangelho na conformidade humana. Paulo na sua carta aos Romanos 12:2 exorta: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus". Quando houve a queda, Deus nos colocou para fora da sua presença. O único pecado considerado por Deus é estar fora da sua presença. Tornamo-nos imperfeitos sem qualquer chance de salvação e pecar é a condição normal padrão a que fomos submetidos não importando se é pessoa boa ou não. A concepção de bondade válida é a de Deus, pois, é o criador soberano. A bondade aos nossos olhos é uma conformidade humana que muitos adotaram como referência. O problema é que se ignora o processo de recondução do ser humano à presença de Deus. Não é tão simples como se imagina ou queira. Deus quer que todos sejam salvos (I Timóteo 2:4) e a sua graça é superabundante e a sua misericórdia é inesgotável. Deus se envolveu pessoalmente na pessoa de Jesus Cristo no resgate do ser humano, afinal, é criação tua e desde sempre amou cada criatura e continuou amando, mesmo após o pecado. O amor de Deus não é e nunca foi seletivo. Escolheu a todos antes da fundação do mundo. Para a ala cristã reformada, há uma única interpretação de que esta escolha seria um prenúncio de que a queda já estaria nos planos de Deus e já definiu quem seriam os privilegiados herdeiros do Reino. Mas, porque, então, expulsou a todos da sua presença (Romanos 3:23) e não somente aqueles que sabia que não seriam salvos? A soberania de Deus é tão ampla que se dá ao luxo de anular em parte algumas das suas atribuições, por exemplo, a pré-ciência. Deus já sabe quem será salvo e quem não será salvo? Eu creio que ele faz questão de não saber. Existe uma brincadeira de gente grande quando surge uma fofoca sobre alguém e a pessoa diz que “não sabe, não quer saber e tem raiva de quem sabe”. Acho que Deus se comporta desta maneira. Se Deus se permitisse saber, então, talvez esteja brincando de Deus e sendo cruel com a raça humana. Para o quê serviria o plano de salvação? Jesus Cristo seria um fantoche diante do cenário trágico da humanidade? A morte de cruz e a ressurreição foi um deboche para aqueles que não foram escolhidos? Primeiramente, Deus se alegra por um pecador que se arrepende. "Eu digo que, da mesma forma, há alegria na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende" Lucas 15:10. Alegria é expressão inesperada. Se há alegria para quem se arrepende, provavelmente haja tristeza que é frustração inesperada por aqueles que se perdem. Deus se entristece com aquele que ouve a palavra e não se arrepende. A tristeza faz parte da natureza humana cuja essência está na semelhança da composição trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Eu creio no amor pleno de Deus por nós. Quando Deus no processo da criação viu que tudo era bom, estava demonstrando que tudo foi feito com muito amor, inclusive, o ser humano. Ser (presente indicativo) humano é imagem e semelhança de Deus. Será que somos de todo mal? Afinal, somos feituras de Deus. A maldade entrou na dimensão porque Deus permitiu que assim o fosse. Qual o propósito? Se Deus fosse um tirano autoritário, simplesmente não permitiria que houvesse escolha entre o bem e o mal. Como agem os ditadores? Eliminam os seus opositores e toda suspeita de males que poderia prejudicá-los. Deus fez diferente e em amor permitiu que o mal fizesse parte da história para que fosse completa o que é diferente de perfeita. Deus criou o mal (Isaias 45:7) porque é completo e é perfeito porque é amor.

Qual a característica do amor que Deus empreende no relacionamento com o ser humano? No mundo jurídico existem as leis civis que definem os direitos e responsabilidades do cidadão. As leis de Deus também definem os direitos e responsabilidades do ser humano no relacionamento com Deus não somente dentro do processo de salvação para que não haja equivalência de interesse. E a salvação não é um direito adquirido por mérito através de sacrifícios. Fomos criados exclusivamente para adorar a Deus.

Será que o pecado foi um acidente de percurso? Não foi porque Adão e Eva sabiam o que estavam fazendo. As pessoas sabem que estão pecando e na iminência de não ter certeza da salvação procuram interpretações convenientes e julgam que Deus não manda ninguém ao inferno. Deus já mandou, pois, todos pecaram. Não foi assim diretamente e o inferno foi criado para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41). Mas, qual o destino daqueles que estão fora da presença de Deus? Não adianta ter ódio do diabo e desprezar o inferno. O acesso ao Reino de Deus é através de Jesus Cristo pela sua justificação. Muitos julgam que odiar o mal seja o suficiente para ter certeza da salvação. É preciso amar a Deus acima de todas as coisas e isto implica cumprir com a responsabilidade e não somente se iludir exigindo os seus direitos.

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