Venancio
Junior
A
eleição de um novo Papa está prestes a acontecer. O domínio do homem é total e
absoluto no conclave. Será que alguém já pensou que a igreja poderia ter uma
Papisa? Um dos candidatos é favorável a ordenação da mulher ao sacerdócio e
isto já se torna um caminho aberto. Quem sabe chegou a vez das mulheres, nada
mais justo! A cronologia histórica da liderança em geral é dominada pelo gênero
masculino. Será que tem uma explicação razoável? A mulher sempre foi e ainda é
na maioria das vezes submetida a uma condição quase de figurante na vida.
Ajudadora ou auxiliadora não satisfaz a mulher que busca protagonismo no
processo de liderança. Na política, na vida profissional e até na ortodoxia
eclesial a mulher sequer é lembrada para tecer alguma consideração. Porque a
igreja católica e algumas das igrejas históricas evangélicas não aceitam a
liderança feminina? Qual a interpretação para os textos e mandamentos bíblicos
que embasam este posicionamento? Não existe textos bíblicos que sustente radicalismo
preconceituoso. A liderança de todas estas igrejas é machista.
Papisa
é o feminino de Papa, Episcopisa é o feminino de Bispo e Sacerdotisa é o
feminino de Sacerdote. Historicamente ou eclesiasticamente são muito
semelhantes no desempenho das funções. Papa é um termo grego e significa papai.
Pedro é considerado o primeiro papa porque a igreja católica o considera como o
líder dos apóstolos. Algo que se deva considerar também é que não existe na
bíblia alguma alusão a esta liderança. Os católicos citam o texto de Mateus
16:18, quando Jesus diz a Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja". Jesus em nenhum momento se referiu a
Pedro, mas, a si mesmo, pois, é a pedra da edificação. Jesus queria saber o que
diziam dele pela região e Pedro foi o último a responder. Jesus edificaria a
igreja sobre esta afirmação de todos os discípulos ali presentes de que Ele era
o Cristo. Há um outro texto em que Paulo, também apóstolo, reafirma que Jesus
é o fundamento do evangelho onde a igreja é edificada. Leia I Coríntios 10:4 “Todos
eles comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual.
Porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo”.
Portanto, não se trata de um equívoco, mas, de uma interpretação conveniente
que induz ao erro. A figura do Papa atualmente tem mais representatividade
política do que religiosa, contrariando a maioria dos católicos que é mais religiosa
do que política.
O
nome sacerdote é de origem judaica e, pela tradição, foi mantido até os dias
atuais sendo a função do principal líder religioso dos judeus. Bispo é um
desígnio que consta na bíblia, sendo o mesmo que pastor ou presbítero que é uma
palavra grega que significa ancião e utilizado somente nas religiões cristãs.
Na verdade, pastor é um sentido figurado porque os seguidores do cristianismo
são considerados como ovelhas e o rebanho é a igreja e cada uma tem o seu
pastor. Até bem pouco tempo, não era necessário ter diploma teológico para se
tornar pastor. Bastava ter uma boa oratória e compreensível ao público ouvinte
que estaria "aprovado". Porém, as atribuições que são conferidas à
função exigirão um bom conhecimento das escrituras. No livro de II Timoteo 2:15
lemos “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de
que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Manejar bem a
palavra é ter conhecimento para explicar e exortar sem distorcer o sentido a
que foi proposto. Qualquer pessoa independentemente de gênero pode almejar esta
função. Na bíblia não consta que deve ser exercido somente por homens. As
denominações religiosas, cristãs e não cristãs, que predominantemente defendem
o exercício somente pelos homens justificam que foi delegado aos homens exercer
as funções de liderança. O fato de a maioria daqueles que exercem esta função
ser composta por homens não lhes confere o direito exclusivo aos homens.
Algumas denominações justificam a questão da escolha por Jesus dos apóstolos
serem somente de homens. Eu creio que Jesus não quis contrariar a própria
cultura judaica e, principalmente também, criar um embaraço pelo fato de no
meio dos homens terem mulheres. Imagine os apóstolos reunidos em local fechado
e no meio deles terem duas mulheres? Coloquei duas, mas, poderia ser pior,
apenas uma mulher entre 11 homens. Causaria um mal-estar e para eles ficaria
muito difícil convencer alguém quando falassem de moralidade. Jesus não foi
machista, mas, prudente. As mulheres "disponíveis", que eram as
descasadas, naquela época eram mal vistas perante a sociedade e as demais que
eram casadas, na sua maioria tinha compromisso conjugal e as tarefas de casa.
Se faltasse a mulher, o homem teria de assumir os afazeres e quem sustentaria a
casa? Óbvio, a mulher. Na cultura da época o embaraço era difícil de explicar
de uma mulher trabalhando. Os homens oportunistas se aproveitaram disto e
impuseram algo estritamente cultural e nada tinha (e não tem) a ver com
religião ou doutrina.
Esta
questão do homem ser cabeça da mulher é desígnio de Deus restrito ao contexto
conjugal. A relação social homem e mulher nada tem a ver com a submissão da
mulher que é exclusiva ao marido e jamais ao homem. No crescimento e evolução
das comunidades, toda mulher teria o seu homem. A mulher que não tivesse seria
mal vista e difamada. O contexto familiar era o homem ser responsável pelo
trabalho externo que era braçal e a mulher cuidaria dos trabalhos do lar. Cada
um desempenharia o seu trabalho de acordo com a composição macho e fêmea. A
igualdade entre homens e mulheres não se aplica nesta situação, pois ambos
(graças a Deus) são diferentes no gênero. E assim, cada espécie cuida daquilo
que lhe é adequado.
E
nas funções eclesiásticas? Não existe trabalho braçal que limite o desempenho
tanto do homem como da mulher. As atribuições são de conhecimento e algum tipo
de amparo delegando as atividades a cada um dos seus fiéis. Qualquer pessoa
pode fazer este trabalho desde que tenha o chamado para cumprir a missão.
Aprimorar o conhecimento é um esforço intelectual e não braçal. Precisa ter uma
vida, além de manejar bem a palavra, que não tenha algo com que se envergonhar.
Outra
questão que precisa ser esclarecida é que filho de pastor não é “pastorzinho”,
esposa de bispo não é “bispa” ou episcopisa e nem esposa de sacerdote é
sacerdotisa. Isto se chama oportunismo. Estas funções são muito sérias para
fazer parte de um pacote de conveniência conjugal. Para não ser injusto, é
possível que haja uma “divina coincidência” quando a esposa ou o esposo recebem
o mesmo chamado. De qualquer forma, tanto um como outro não é regra. O chamado
é para todos, homem ou mulher.
Algumas
linhas religiosas não aceitam o exercício sacerdotal feminino. Não há uma
explicação plausível para esta postura machista. Consideram a igreja como se
fosse a casa deles e submetem a mulher ao serviço doméstico, tal como, promoção
de chás beneficentes, arrecadação de fundos para a caridade, organizar cursos
artesanais e outros serviços diaconais não menos relevante, porém, aos olhos da
liderança seria "serviço de mulher". Será que é medo em perder o
protagonismo sacerdotal? Ninguém tem o direito de submeter alguém a um trabalho
subalterno. A submissão é espontânea e de uma grande importância na estrutura
de toda organização. A comunhão é a principal liga de união da igreja. Sem a
comunhão todas as atividades perdem a sua importância no crescimento do corpo.
Submissão é a iniciativa que ratifica a comunhão. Sem submissão não há
comunhão. A submissão não é uma obrigação, mas é uma atribuição do servo.
Por
que algumas religiões cristãs e não cristãs ainda não aceitam a ordenação
ministerial da mulher? A única explicação razoável é que a liderança se
aproveita de uma brecha na interpretação bíblica da submissão da mulher ao
marido. A partir desta determinação de Deus, o homem se aproveita e condiciona
a mulher aos seus caprichos machistas. Homem e mulher são iguais nos direitos e
responsabilidades onde, naquela época, cada um exercia a sua atividade adequada
a sua estrutura física. A submissão nunca foi da mulher ao homem e na bíblia
não existe esta submissão. Na vida ministerial também não deve haver esta
submissão e a mulher pode exercer sem medo de contrariar os mandamentos
relativos ao ministério pastoral. Paulo foi um dos principais expositores das
ordenanças ministeriais. Quando falava sobre mulher, era dentro do contexto
cultural da época e exclusivamente se referiu a esposa no ambiente conjugal e
nunca ao gênero feminino. Observe o texto de I Coríntios 14:34,35 “As
mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas
estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa,
interroguem em casa a seus próprios maridos”. Este texto é bem explícito na
questão da submissão determinada por Deus. Não permitir é um costume imposto
pelo homem e a lei a que se refere é relativa a estar sujeita ao marido e não a
proibição em falar na igreja.
Há
muitos fatos relatados na bíblia sobre a liderança feminina. Mas, também há
relatos de que a intervenção da mulher que subjugasse o homem era algo
considerado vergonhoso. No texto de Juízes 9:52,53,54 “Abimeleque
aproximou-se da torre e a atacou. Ao chegar próximo da porta da torre para lhe
atear fogo, uma mulher jogou sobre ele uma pedra de moinho que o atingiu na
cabeça, rachando-lhe o crânio. No mesmo momento ele chamou seu escudeiro e lhe
ordenou: “Toma a tua espada e mata-me, para que não se divulgue que uma mulher
conseguiu me abater!”. O rei Abimeleque estava morrendo com o crânio
rachado e se esforçou para dizer ao escudeiro que o matasse com a espada para
que ninguém soubesse que foi uma mulher que o matou. O orgulho estava
incrustado na essência do brio masculino. A mulher era tratada como um gênero
inferior. Tem o episódio de Débora. Era uma profetisa e juíza de Israel. Ela
chamou Baraque para reunir 10 mil soldados para lutar contra o exército de
Jabim. Porém, Baraque disse que só iria se ela fosse junto e Débora afirmou que
iria e as honras da vitória seriam dela conforme Deus prometera (Juízes 4:9).
Na
história bíblica contextualizada num ambiente machista, constam tantas outras
que se destacaram, mas, não por serem mulheres. Eram pessoas imperfeitas como
qualquer homem, porém, tementes a Deus. No contexto do Reino de Deus não há
diferença de pessoas, não há homem ou mulher, nem escravo e nem livre, nem rico
ou pobre ou de qualquer etnia ou classe social (Gálatas 3:28). Perante Deus
todos são absolutamente iguais. A melhor forma de combater o preconceito é não
considerar o gênero primariamente e a competência deve ser o principal
balizador.
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