segunda-feira, 3 de abril de 2023

LADRÃO DE FELICIDADE

Venancio Junior

Diante de tanta aglomeração urbana o que causa efeitos sociais negativos profundos, somos submetidos a todo tipo de violência, no trânsito, no roubo a residências, nos carros e nas ruas, as tragédias previsíveis causadas pelas chuvas e a ocupação desordenada. A onda de criminalidade cresce a cada ano cujo índice é consideravelmente maior que o crescimento econômico e social. Nossos gestores públicos, na prática, parecem que não se importam em nada com isto e investem somente em seus projetos pessoais. Nos discursos de campanha ouvimos promessas e mais promessas de que tudo vai melhorar caso sejam eleitos. No final das contas, são mentiras infindas e continuamos na esperança de dias melhores, ao que parece, nunca vai chegar.

Chega o próximo pleito e os discursos não mudam e a cada dia o crescimento desordenado tornam-se “currais eleitorais” e ninguém é capaz de mudar a realidade, nem mesmo os próprios moradores. Pobreza, falta de saneamento básico que afetam diretamente a saúde, desemprego que causa instabilidade nos relacionamentos familiares e todo o caos possível que são consequências dos discursos mentirosos que prometeram mudar para melhor a realidade das pessoas. A classe melhor favorecida, com medo (e com razão) de que sua vida e da sua família sofram as consequências desta insegurança quase que se refugiam nos condomínios. A princípio, é seguro e confortável o que em tese, é possível desfrutar da felicidade que os anúncios prometeram.

Acreditar em propaganda e em político é tão inútil quanto ensacar vento. São os verdadeiros ladrões de felicidade. A felicidade não está no anúncio que promete vida nova e nem nos discursos políticos, mesmo que se cumpra à risca tudo o que foi prometido. A felicidade está em qualquer lugar. Os fatores externos é apenas o contexto e não a essência.

Além destes relatados, existem outros ladrões de felicidade. Os maus sentimentos são os principais ladrões de felicidade. A frustração do anúncio de vida nova e da propaganda mentirosa dos políticos talvez sejam os maiores ladrões de felicidade. A mágoa causada por alguém próximo também é um ladrão de felicidade. Pior que, quanto mais próximo, mais desprovido de felicidade se torna. Hoje em dia as famílias se tornaram um sumidouro da felicidade. Os casais não se entendem, os pais não se entendem com os filhos e os filhos não se entendem com os seus irmãos. Se ampliarmos o leque, os sogros e os avós não se entendem com os seus genros e netos e os tios e tias não se entendem com os seus sobrinhos. Neste contexto, a mágoa é o principal elo de sentimento predominante na família. Consequência disto, a felicidade foi totalmente roubada pela mágoa. A tristeza causada por algo que aconteceu com alguém também rouba, e muito, a felicidade. A morte de alguém querido ou a tristeza de pessoas queridas também roubam a felicidade.

Onde mais que existe o roubo da felicidade? No trabalho, a frustração em ser preterido a algum cargo de promoção é um fator que rouba a felicidade. O relacionamento profissional também é algo que rouba a felicidade quando se percebe que os colegas estão mal-intencionados nas suas aspirações e falam mal do colega e esquece deles quando a situação traz vantagens profissionais. Na igreja também existem fatores que roubam a felicidade. O que se acredita e o que os líderes religiosos sempre defendem é que na igreja podemos encontrar a felicidade, não uma simples felicidade, mas, a felicidade plena e absoluta. Qualquer pessoa vai à igreja em busca da felicidade. Qualquer um tem aquele momento de solidão emocional e recebe uma mensagem religiosa de esperança e quer encontrar pessoas que a faz feliz. A frustração é precedida pela esperança. Quanto maior a esperança, maior é a frustração. Quando depositamos a esperança nas pessoas, a frustração é o muro onde será uma barreira, muitas vezes intransponível. A frustração tem uma ramificação no fator surpresa que pode ser positivo ou negativo. Surpreendente é aquilo que brota no caminho do inesperado e não tem raiz. Posso até classificar este adjetivo como um oximoro quando os significados entre si estão juntos na mesma frase, porém, os significados são antônimos, tanto pode ser de felicidade ou de infelicidade.

É sempre um risco ser feliz. Para avançar na vida o risco será sempre iminente. Ilude-se quem procura sempre ser feliz e faz de tudo para não ser infeliz. O problema da felicidade roubada é que para ser feliz tem de sair da defensiva e manter a guarda aberta. Isto é totalmente arriscado. Para os padrões humanos a que estamos acostumados, isto seria um absurdo. Mas, existem outros conceitos de felicidade que não é exatamente o que se busca considerando o que foi aprendido desde criança de que o importante é ser feliz.

Vamos buscar na bíblia outros conceitos de felicidade, muitas vezes surpreendentes. A bíblia fala sobre a igreja, mas, não fala que na igreja qualquer pessoa será feliz. A bíblia fala sobre diversos tipos de relacionamento, mas, não categoriza que nas relações humanas em qualquer nível se encontra a felicidade. É surpreendentemente absurdo quando lemos na bíblia que “Há maior felicidade em dar do que em receber” (Atos 20:35). O apóstolo Paulo afirma que foi Jesus quem fez esta afirmação. Não há nenhum relato bíblico sobre Jesus fazendo uso destas palavras. Paulo, na verdade, se referia as bem-aventuranças que foram apresentadas pelo próprio Jesus e que é um contrassenso absurdo daquilo que nos foi ensinado sobre a felicidade. Feliz e bem-aventurado são sinônimos. Por exemplo, bem no começo, na segunda exposição das bem-aventuranças Jesus afirma que felizes são os que choram porque serão consolados!? É uma felicidade surpreendente, que, neste caso, é positiva ou negativa? Jesus fala sempre em se doar ou se entregar a uma causa altruísta, daí, no final, encontra-se, enfim, a felicidade tão almejada. Muitos farão aquela cara de “sério Jesus que isto é a felicidade prometida?”. O que nos foi prometido que vai gerar em nós plena felicidade “os olhos ainda não viram e nem os ouvidos ouviram” (I Coríntios 2:9). O foco de Jesus não era e nunca foi a busca da felicidade na terra, mas, no Reino de Deus. Alguns textos bíblicos nos trazem algum indício das práticas que geram esta felicidade focada no Reino de Deus, que não é uma felicidade passageira como a que vivenciamos, mas, é uma felicidade eterna. Na vida terrena a felicidade é relativa. Estamos felizes quando não estamos tristes. Como saberemos o que vem a ser a felicidade se no contexto do céu não existe tristeza? A promessa é de Deus, então, Ele sabe o que está falando e quem é capaz de dizer o contrário?

Primeira coisa, segundo a bíblia, para ser plenamente feliz é preciso agradar a Deus em tudo. Colossenses 1:10 lemos "...vivam de maneira digna do Senhor e em tudo possam agradá-lo". Dá-se a entender de que Deus é que precisa receber algo para se sentir feliz. Agradar a Deus, de certa forma, é fazê-lo feliz. Mas, e nós como ficamos na história? Onde exatamente está escrito de que seremos felizes com esta atitude de devoção? Já lemos que Jesus afirmou que muito melhor dar do que receber. Dedicamos tudo a Deus e o fazemos feliz. Deus não precisa que o façamos feliz. Todo o processo em busca da felicidade é por causa de nós e não por causa de Deus. Lembrando de que estamos num contexto de vida que foi essencialmente desconfigurado e foi preciso implantar um processo de reintegração do ser humano com Deus. Não foi algo fácil para Deus que se dispôs pessoalmente na pessoa de Jesus Cristo para que a esperança da felicidade fosse real novamente em nossas vidas. A felicidade genuína e absoluta é aquela em que não há oximoro quando felicidade e tristeza são antônimos entre si e não compõem a mesma frase ou, neste caso, a mesma dimensão.

É apenas uma suspeita ou Deus quer demonstrar com isto de que devemos nos esvaziar de nós para sermos cheios da sua felicidade? Então, podemos afirmar com plena convicção de que o Deus que é a fonte da felicidade tem todo o interesse por nós a ponto de nos oferecer a felicidade eterna.

Quando pensarmos em nós mesmos, lembremos de Deus de que tudo é para sua glória e honra. Este é o único processo eficaz que nos torna esvaziados de nós mesmos e cheios da sua graça. A graça de Deus é inviolável e ninguém consegue roubar a felicidade propiciada por Ele a nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário