Venancio Junior
Digo de antemão de que ninguém vai para o céu
porque odeia o inferno ou o diabo. É unânime de que ninguém vai para o inferno
por opção ou falta dela. Escrever sobre este tema sempre me assusta e
causa calafrios. Não exatamente por não crer na misericórdia de Deus, mas, o
que me preocupa são as pessoas, inclusive familiares, que ainda não estão
debaixo da graça. Ainda tem aqueles que deixaram de ser agraciados por diversos
motivos, esfriaram na fé, perderam a noção de vida cristã e tantos outros que
brincam de crentes exatamente pela falta de integridade quando seu modo de vida
não condiz com a integridade do evangelho. São pessoas que adequaram o
evangelho a seu próprio estilo de vida e julgam que Deus não vai se importar,
pois, se tornaram apenas crentes nominais consumindo, por exemplo, pregações
on-line e nada mais. A bíblia diz que “a fé sem obras é morta!” (Tiago 2:26).
Não basta afirmar que é cristão, tem de gerar frutos com o talento dado por
Deus. Muitos antecipadamente já “penduraram as chuteiras” e julgam que já
fizeram muito e não precisam se dedicar mais. Ledo engano. Nós ainda estamos no
jogo e dentro do campo (Mateus 13:38) buscando a vitória. A vida cristã é uma
contínua e incessante dedicação ao propósito de difundir o Reino de Deus que
deseja que todos sejam salvos e conheçam a verdade (I Timóteo 2:4). Quem tem a
missão em levar a verdade é cada um que conscientemente se rendeu ao evangelho
e afirma ser discípulo de Cristo. Quem não conhece a história do eunuco etíope
que, respondendo a Filipe, afirma que não entenderia o evangelho se alguém não
explicasse a ele (Atos 8:31). Alguém, além de falar sobre o Reino usando de
todos os meios (I Coríntios 9:22), tem de explicar o propósito do Reino e fazer
a vontade do Deus que deseja salvar a todos do inferno para o qual foram
condenados (Romanos 3:23). Jesus nos entregou a missão “...e sereis minhas
testemunhas” (Atos 1:8). Esta afirmação de Jesus não limita a missão a um
determinado tempo na existência, mas, em todo o tempo de vida. Caso contrário,
isto será cobrado no juízo final. Porém, há o contraponto para aqueles que
acreditam que o intenso ativismo é o suficiente para fugir do inferno e lemos
em Efésios 2:9 que “...a fé também não é pelas obras para que ninguém se
glorie”. Aliás, nossa missão não é meramente para fugir do inferno, mas,
resgatar outros da condenação do inferno. Este texto de Efésios contraria
exatamente aquela vida cristã oca que seria ação sem sentimento, sem
conhecimento e sem compromisso. Filipe se tivesse uma vida cristã sem conteúdo,
não conseguiria explicar ao eunuco o significado do Reino de Deus. O conteúdo,
no caso, é conhecimento do evangelho e experiência da caminhada que geram
frutos e ressignificam o talento concedido por Deus. Quem não conhece a
parábola dos talentos? Especificamente o episódio em que o servo apresenta
intacto o único talento dado e que não rendeu frutos porque julgou que o senhor
era muito severo e tinha medo de perdê-lo e o senhor afirma “Ao servo inútil, porém,
lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá o choro e o ranger de dentes”
(Mateus 25:30). Em outras palavras, cuide do talento dado por Deus. Ele será
cobrado o porquê não rendeu frutos. O apóstolo Paulo reconheceu “ai de mim se
não pregar o evangelho” (I Coríntios 9:16). Ele tinha consciência de que o
talento lhe foi dado e temia em não o utilizar o que demonstraria um total
menosprezo à Deus. Um detalhe, porque o inferno neste episódio da parábola é
denominado de “trevas exteriores”? Se lermos o texto de Gênesis 1:5 o dia e a
noite respectivamente foram originalmente denominados como luz e trevas. Então,
esta referência das trevas exteriores é fora da dimensão finita da matéria.
Devemos cuidar da nossa vida cristã para não sobreviver em meio a um
cristianismo oco e sem conteúdo.
Se não é para os fracos, então, para quem
exatamente foi destinado o inferno? Paulo afirma em II Coríntios 2:10 “...que é
forte quando está fraco”. A princípio, esta afirmação seria uma contradição. O
que o apóstolo quis dizer é que esta fraqueza é quando está vazio de si mesmo
ou quando as ações da carne não têm influência na sua vida. É preciso estar
vazio de nós mesmos para que o Espírito aja em nós. Sentir-se forte por
iniciativa própria neste caso é pura soberba e julgar que esteja “blindado”
contra as ações malignas. Então, o inferno não é para os reconhecidamente
fracos, mas, para os que se julgam fortes, os arrogantes, presunçosos e
orgulhosos.
O inferno foi destinado exclusivamente ao diabo e
seus anjos devido ter agido com arrogância querendo ser igual a Deus e também
com orgulho, pois, se sentia igualmente soberano. O alter ego do diabo estava
muito em evidência. Deus e diabo não são e nunca foram poderes equiparados. Por
que Deus não compartilha sua soberania e seus poderes
com outros? Será que Deus tem orgulho da sua soberania e teria medo de perdê-la para o seu oponente? Essencialmente o orgulho no
contexto celestial é a soberba que não é um sentimento sadio. O motivo pelo
qual o inferno foi criado é exatamente por causa do orgulho. Uma vez
precipitados do que chamamos de céu, o diabo e seus anjos teriam um destino
eterno e o inferno, a princípio, foi criado somente para este fim, “abrigar” os
orgulhosos. Contrariamente ao que se supõe, o diabo e seus anjos não estão
ilesos do sofrimento do inferno que será eterno, pois, não tem a função apenas
de isolamento. O inferno ainda está vazio, não tem ninguém sofrendo por lá,
pois, o julgamento final dos condenados não justificados ainda não aconteceu e
o inferno também não é o lugar onde o diabo vai reinar. O contexto de reino é
referente a absoluto e a referência a reino das trevas é por causa do contexto
do absoluto sofrimento. O inferno foi criado para o sofrimento eterno de todos
os que não foram justificados em Cristo que é a única forma de estar livre
desta condenação. Enquanto estivermos na terra, ainda não seremos, mas,
estaremos livres em Cristo. Seremos livres na eternidade, uma vez justificados,
após a vida terrena. Da mesma forma, provavelmente ainda não tenha alguém
também no céu pelo motivo de que ainda não houve o arrebatamento dos
justificados em Cristo Jesus. Apesar de que Jesus foi categórico, ainda na cruz
antes de morrer quando afirmou que um dos condenados na cruz juntamente com Ele
estaria no paraíso naquele mesmo dia. Pode ser que seja condizente com o que
Paulo afirmou em Romanos 6:8 em que diz que morrer em Cristo é lucro. Tem um
outro episódio que subentendesse que já exista vidas no paraíso em que o rico
em vida menosprezou a Lázaro e depois da morte de ambos, o contemplou no
paraíso enquanto ele sofria no inferno. Talvez tenha sido apenas uma visão do
porvir e não refletisse exatamente o real cotidiano daquele momento. Lázaro
neste caso representava os fracos, pois, era pobre e doente, ou seja,
totalmente desprovido de si mesmo em que não tinha nada a oferecer, a não ser a
sua humildade e desprezível condição putrefaça em vida e o rico claramente
viveu como se fosse o mais forte porque sua virtual força estava na riqueza.
Se julgarmos e confiarmos a nossa força na riqueza dos bens em detrimento do reconhecimento da condição de pecador, então, o inferno é o destino certo. Mas, se a nossa força (não por nosso próprio julgamento) está em reconhecer (por nosso próprio julgamento) que somos fracos e pecadores, com certeza a vida será preenchida com a graça salvífica e a misericórdia de Deus será abundante.
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