segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

SER LIVRE, DE DEUS

Venancio junior

        Ser livre, de Deus. Ser, livre de Deus. Há uma antagônica diferença na qual abordaremos as duas condições de liberdade. A liberdade é uma sensação ou uma condição? Sendo uma sensação, a liberdade é um processo esotérico, ou seja, de dentro para fora. O encontro consigo mesmo é uma das maiores sensações de liberdade. No processo inverso de introspecção, de fora para dentro, não tem como, pois, se trata de uma condição de aprisionado pelos fatores externos. Como explicar em palavras esta sensação e condição? Uma das questões mais emblemáticas em que não se encontra resposta plausível é a do conceito criacionista sobre a liberdade. O gênero humano “tornou-se livre” após decidir fazer algo de espontânea vontade? Porque, após isto, todos se tornaram culpados e escravizados pelo pecado mesmo antes de nascer? Esta culpabilidade causa revolta nas pessoas, pois, se consideram que nada tem a ver com o erro dos outros. No caso, os outros, seriam Adão e Eva. Antes da queda, havia liberdade determinada por Deus no sentido de fazer o que lhe foi confiado. Como tinha domínio sobre toda a criação, então, deveria cuidar da natureza e dos animais. Tudo o que fosse gerado nesta dimensão, teria a mesma essência de liberdade. Se os filhos de Adão e Eva nascessem nesta dimensão, provavelmente os seus descendentes diretos, estariam livres desta culpa do erro dos seus pais. Infelizmente, os seus filhos da qual descende toda a raça humana, nasceram na dimensão após a queda e todos já nascem com o “DNA do pecado”. O gênero humano, desde então, tornou-se escravo do pecado buscando de forma obstinada se ver livre da culpa e controlar o destino da sua vida. O que é a liberdade que tanto se busca e quando e como se sente verdadeiramente livre? Essencialmente ninguém é livre no sentido de desvinculo ou desligado. Todo conceito de liberdade que conhecemos é paliativo. Ser solto e ser livre não é a mesma coisa. A vida é um pequeno trajeto de tempo no infinito em que saímos de um lugar (nossa origem onde estamos presos) e prosseguimos até outro (nosso final que não tem como fugir). Condicionados a este espaço de tempo onde planejamos e agimos para que o futuro seja uma realidade presente. Após um tempo, quando já temos consciência do que seja viver, relembramos o passado e sabemos de onde viemos. Muitos, denominados saudosistas, permanecem presos a este passado na ânsia de que o tempo pare. Os mais arrojados e progressistas, ignoram o passado e rumam ao futuro que se torna também uma prisão porque, obcecados, tudo o que conquistarem, ainda não terá sido o ideal. Enquanto uns tentam retornar ao passado, outros fogem. Com o futuro é a mesma coisa, muitos querem que o futuro chegue logo, enquanto outros, temendo o envelhecimento, tentam, a qualquer custo, retardá-lo. Esta obsessão, independentemente se é otimista ou pessimista, faz as pessoas buscar freneticamente a famigerada liberdade. Liberdade para fazer o que quiser. Liberdade para ir onde quiser. Liberdade para comprar o que quiser. Liberdade para falar o que quiser. Liberdade para ver o que quiser. É a liberdade sem critério, sem parâmetro, sem vergonha e inconsequente. As pessoas querem a liberdade sem barreiras, sem regras, sem cobranças e sem limites. Mesmo com toda esta suposta liberdade, ora, “conquistada”, porque a maioria ainda não se sente livre? No meio jurídico é possível conseguir uma determinada liberdade que foi perdida devido a um ato criminoso. Esta reconquista pode ser com boas ações, delação premiada e outras “brechas” que a lei permita. Ainda não é exatamente esta liberdade que se busca mesmo que, a princípio, se tenha esta sensação. Pode ser também que seja aquela liberdade em que um astronauta fora da atmosfera e sem gravidade fique totalmente solto. Infelizmente, isto também não significa liberdade. Esta busca é incessante e extenuante. Para não ser surpreendido pela ilusão de uma falsa liberdade, é preciso reconhecer que se está ligado a um campo de “disciplina natural”. A partir desta disciplina, a liberdade muda de aspecto. Podemos partir do princípio de que, essencialmente, uma consciência livre, é de fato, o conceito primordial de liberdade. Muitos, daqueles, que estão fisicamente presos cumprindo suas penas, podem ser mais livres do que muitos que estão fora da cadeia aprisionados pelos seus traumas, seus vícios, seus próprios conceitos, portanto, escravizados pelas suas emoções. Tem aqueles que estão “presos” a uma cadeira de rodas ou a uma cama devido a um impedimento físico, porém, mesmo limitados fisicamente, são livres do peso da amargura ou da depressão porque conseguem prosseguir na contramão da absorção emocional das dificuldades impostas pela vida. Independentemente da condição, todos têm uma referência ou uma origem, então não somos, de fato, soltos ao vento, para fazer o que bem entende. Estamos presos a atmosfera como frutos de uma concepção conjugal. Nem fisicamente e nem intelectualmente podemos nos sentir totalmente livres. Estamos conectados para o bem comum. Fomos concebidos com uma origem, desta forma, somos seres sociáveis, ou seja, interligados e individualmente parte de um todo (também não absoluto) que é o conceito humano. Tanto os céticos como os religiosos pregam e difundem a sua liberdade através de suas filosofias e crenças respectivamente. Os céticos são descrentes e racionais. Os religiosos de qualquer linha são crentes e tem o sobrenatural como princípio regulador de suas crenças. De qualquer forma, a ideologia ceticista e a tradição das religiões não foram convincentes no conceito de liberdade. Podemos afirmar que a liberdade aglutina, constrói e aproxima, enquanto que a falta dela divide, destrói e afasta-se da essência da liberdade. Progredir é desfrutar de liberdade, enquanto que a prisão em qualquer aspecto, regride. Dentro do contexto social, liberdade é se relacionar doando a si mesmo. Enquanto que no contexto de isolamento, liberdade é exatamente não se envolver com as pessoas. Podemos, então, afirmar que a liberdade é relativa. Dentro deste último conceito de que se pode fazer o que quiser devido não ter compromisso firmado com alguém, liberdade seria algo egoísta, pois, busca o seu próprio interesse. Fazer o que se queira pode ser uma armadilha letal da própria liberdade tornando-se escravo de si mesmo. No primeiro caso, da sociabilidade, a prática do altruísmo é regra que define a conduta, por princípio, é sociável e dedicado ao outro visando o bem-estar de todos. Todos foram essencialmente concebidos altruístas. Até o momento, liberdade denota livrar-se de si mesmo, dedicar-se ao outro e, de certa forma, negar-se a si mesmo. Este é um dos princípios do evangelho de Cristo que aponta o caminho da verdadeira liberdade (Marcos 8:34). Liberdade para fazer o que precisa é praticar o bem. Isto acontece no processo de dedicação ao outro. Agora, fazer o que se queira, é submeter-se à prática do mal. Fazer o bem liberta, enquanto que, fazer o mal, escraviza. Isto é consequência de uma “desconfiguração” da natureza original quando somente se quer praticar o mal que veio habitar em nós. Tornamo-nos escravos deste mal a ponto de não se fazer o bem que se queira, mas, o mal que não se quer. Em qual destas condições se sente, de fato, livre? Será que a culpa da prática do mal escraviza e o prazer da realização daquilo que se precisa proporciona liberdade? Coloco em campo a lei da ética, da moral, da racionalidade e da espiritualidade. No caso, a espiritualidade está intrinsicamente ligada a dimensão mística que, nada mais é que a forma de “religar” o ser humano a um ser superior. Vamos nos ater exclusivamente na linha do propósito desta reflexão que é aquilo que o evangelho de Cristo que nos foi revelado em relação ao conceito de liberdade e não de acordo com a religião de cada um que diz que todas elas levam à um deus. Um texto que sintetiza o conceito de liberdade abordada nesta reflexão encontra-se em João 8:32, o próprio Jesus afirma que devemos buscar e, consequentemente, encontraremos nele a verdadeira liberdade, “...conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Conforme este evangelho que é a manifestação de Deus revelada aos homens, existe um caminho e não uma religião. A religião nunca foi apresentada como um caminho e, muito menos, como o caminho. O evangelho coloca a religião submissa a atitude em servir aos que necessitam. Em hipótese alguma, este serviço deva ser prestado, na condição de servo, a alguém superior hierarquicamente falando. Não é uma condição de título, mas, de atitude. Sem atitude, não há religião. Se tirar as tradições e costumes da religião dos homens, nada sobra. É a típica religião “casca de cigarra”, está oca e se decompõem com o tempo. A atitude é para quem é livre desta religião e está no caminho. Foi-nos revelado o caminho, que é Jesus. Ele próprio se revelou como o caminho para ser livre da religião também. Enquanto que a religião dos homens, com várias facetas, escraviza com rituais e sacrifícios, cujos líderes sempre procuram e até exigem, de forma persuasiva, serem servidos. O desempenho de Jesus na terra como homem foi inteiramente de humilde submissão a uma causa que não era justa da perspectiva de Deus. Tornamo-nos escravos, é justo que soframos as consequências do pecado. Para aliviar esta carga, Jesus, na sua peregrinação, foi ao encontro dos necessitados e agiu sobrenaturalmente aliviando a carga de uma doença, de possessões malignas e até da morte. Além de tudo isto, Jesus sempre despertava a consciência de que, cada ser humano, deva ser livre de si mesmo. O “eu” escraviza de tal forma que deforma a essência do sopro de vida de Deus em nós. A verdadeira liberdade é desvencilhar-se da carga emocional/espiritual nociva que a vida terrena impõe e converge todas as ações para servir a si mesmo alimentando as vaidades. Ao contrário do que muitas filosofias afirmam em relação a se valorizar, a ação de Deus em resgatar é exatamente para se tornar livre de verdade em Cristo. Mas livres do quê? Em João 8:34, Jesus afirmou “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. O que significa verdadeiramente sereis livres? Não importa que o viciado em drogas seja liberto das drogas ou que o ladrão deixe suas práticas de furto, para Deus isto é indiferente, todos, mesmo que sejam bons aos seus próprios olhos, continuarão a ser escravo, mesmo deixando suas práticas imorais. O que ate mesmo os religiosos precisam é de salvação em Deus justificado em Jesus Cristo para serem livres da condenação do pecado. Esta é a verdadeira liberdade que Jesus falou. Deus não enviou Jesus para que o viciado fosse somente liberto das drogas que é isto que a sociedade quer. Reconheço que isto é muito bom, pois evitara muitos males, mas o que o viciado, assim como, qualquer outra pessoa com ou sem vício, precisa é de liberdade espiritual. As pessoas buscam a todo instante e estão dispostas a pagar por isto com grandes somas de dinheiro e sacrifícios diversos para alcançar esta liberdade. Estas tentativas frustradas, na verdade, são consequências de se estar fora da presença de Deus. Para que sejamos, de fato, livres precisamos ir além da ética e da moral que é a questão espiritual e tem tudo a ver com a integridade que a Bíblia fala. O diálogo entre o Senhor e satanás quando se referia a Jó é um exemplo da pessoa íntegra: “Disse o Senhor a Satanás: Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal?” Jó2;3. O próprio Deus afirmou que não existiu e não existe ninguém semelhante à sua integridade e que se desvia do mal. Jó foi alguém livre e pertencente a Deus. Os livres de Deus a que me refiro são aqueles resgatados e usufruem da verdadeira liberdade proporcionada pela pessoa de Jesus Cristo que é Deus encarnado. O próprio Deus veio tirar “tudo a limpo” e nos deixar livres novamente para Ele. A grande promessa que Deus fez é da vida eterna. É claro que é importante que as pessoas sejam libertas dos seus males humanos, mais importante que isto é ser liberto definitivamente da condição de escravos do pecado. Jesus afirmou que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Entendo isto, não como uma ação isolada, diria, dos nossos “pecadinhos” porque continuamos sendo pecadores, porém resgatados e libertos pela abundante graça de Jesus, mas se referiu àqueles que ainda não aceitaram a misericórdia de Deus porque a raça humana foi expulsa da Sua presença pela Sua justiça e fomos resgatados pela Sua misericórdia e graça. Os livres escolhidos e pertencentes a Deus são os predestinados pela Sua graça salvadora. Esta predestinação não é personalizada, em Efésios 1:11 o apóstolo Paulo não cita nomes,“...fomos feitos herança, havendo sido predestinados...” e em Marcos 16:6 creio que seja o complemento onde diz que “...quem crer será salvo e quem não crer será condenado”. Crer é uma questão de livre escolha. Salvação se escolhe, enquanto que a condenação já foi impingida a todos sem exceção. Ninguém vai para o inferno porque quer e ninguém vai para o céu porque não quer ir para o inferno. Nós temos a liberdade designada por Deus em escolher amar a Deus ou amar ao mundo e suas paixões. “Todo aquele que crer...” isto significa aceitar a sua graciosidade e confiar a sua vida à Ele “...será salvo”, esta é a consequência da liberdade quando escolhemos à Deus. E“...quem não crer já está condenado” é a consequência da rejeição à graça salvadora de Deus. Os livres de Deus foram predestinados pela sua promessa. Antes da graça de Deus não tínhamos escolha porque fomos condenados ao inferno. Todos que aceitam a sua graça são, de fato, livres da condenação eterna. Qualquer outro conceito de liberdade é digno de questionamento. A liberdade no conceito humano é relativa e a liberdade oferecida por Deus é absoluta. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas.

Campinas, dezembro de 2018

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

SEXO À TRÊS

Venancio Junior

A princípio, alguns ficarão chocados só de ler o título desta minha reflexão e nem se darão ao trabalho em continuar a leitura. A intenção é confrontar alguns valores, ora, mal concebidos e desmistificar esta questão com o objetivo de esclarecer à luz do evangelho bíblico para usufruir ao máximo deste nível de relacionamento. No contexto bíblico, o "sexo à três" não existe? Claro que existe. Não da forma como a sociedade secular apregoa. O sexo, como todos sabem e quem ainda não sabe que fique sabendo agora, é o ápice de um relacionamento intencionalmente embasado por direitos e responsabilidades. Quem decide compartilhar sentimento e emoção e até as despesas tem a clara intenção em abrir mão da solidão. Vamos discorrer sobre o começo, os meios e a finalidade do relacionamento conjugal.

Vivemos num mundo progressista. Nada é o mesmo que se mantenha por um longo período. As coisas mudam, assim como alguns conceitos. Toda esta mudança é provocada pela insatisfação e o desconforto emocional. As pessoas investem muito para se satisfazerem emocionalmente em todas as áreas da vida. Altas somas de dinheiro e tempo dedicado para alguns míseros segundos de prazer. No relacionamento conjugal não é diferente. O investimento na aparência visa, principalmente, atrair os olhares. Achar o seu par ou a cara metade não é fácil e pode não sair barato. Quase todo mundo busca uma vida a dois. O pior da solidão é conviver consigo mesmo. Por muitas décadas perdurou o conceito da monogamia como forma padrão de relacionamento heterossexual. Conforme o desconforto se manifesta, sente-se a necessidade de mudança e os padrões dos relacionamentos acompanham estas mudanças. Atualmente, conforme a sociedade progressista, não existe padrão heterossexual e, “pior”, no relacionamento à dois, foram incluídas uma ou mais pessoas para “esquentar” a relação. Muitos pares (relacionamento a dois independentemente do sexo), incluíram mais uma pessoa sem qualquer vínculo civil ou sentimental. Existem casais que são casados e moram cada um em suas casas e tem liberalidade para escolher os seus parceiros sexuais ocasionais. Enfim, diante de uma sociedade com conceito amplamente pluralista, é difícil dizer o que é certo ou errado. O que se difunde é que errado é ser infeliz e certo é ser feliz.

Diversidades à parte e cada pessoa sendo responsável pelos rumos da sua vida, vamos prosseguir, porém, dentro da linha cristã bíblica que foi definida por Deus. A bíblia é muito clara sobre os desígnios de Deus ao homem. O próprio Deus afirma em Gênesis 2:18 que não é bom que o homem esteja só e fez-lhe uma companheira. Se o próprio Deus soberano julgou que não é bom viver só, então, a questão do relacionamento é muito mais séria do que imaginamos. Não existe uma fórmula que alcance a perfeição no relacionamento. O que existe são princípios básicos que, aplicados em qualquer nível de relacionamento, evitam desconforto e mal-entendido. A palavra ou atitude, mesmo sendo certas, mas, na hora errada causarão um grande problema. Aliás, muitos relacionamentos começam a se desintegrar pela falta de sabedoria em lidar com as situações de contrariedade. O respeito é aplicável em qualquer situação e a qualquer pessoa. Respeito é neutro, pois, quem respeita, sempre tem razão.

E na intimidade do relacionamento conjugal, será que existe algo além do que já conhecemos e muito disseminado e avacalhado pelas redes sociais? Sim, e devemos crer que existe. Como já afirmei que o ato conjugal é o ápice do relacionamento, pelo menos enquanto a libido estiver ativa. Tudo o que acontece no cotidiano do casal se reflete na cama. Conforme o que determina a bíblia sendo esta, a palavra de Deus revelada aos homens, em outras palavras, é o próprio Deus se manifestando, qualquer convivência, mesmo sendo à dois, sempre há uma terceira pessoa. Esta pessoa é Deus através do seu Espírito Santo. Diria que, quando Jesus afirmou de que estaria presente onde dois ou três se reunissem no nome dEle (Mateus 18:20), se referia a este tipo de convivência também. Não somente na igreja, mas, Deus está sempre presente em toda e qualquer situação da vida onde se reúnem em nome dEle. Fazer sexo em nome de Jesus? Soa estranho, mas, é fato que Deus deve estar presente. Lembre-se do texto em Colossenses 3:17: “E tudo quanto fizerdes, seja por meio de palavras ou ações, fazei em o Nome do Senhor Jesus, oferecendo por intermédio dele graças a Deus Pai”.

Um relacionamento conforme o critério bíblico é profundamente salutar a vida espiritual. O ato conjugal nada mais é que um servindo ao outro com desejo e entrega de si. Em I Coríntios 7:3 e 4 lemos “O marido deve cumprir seus deveres conjugais para com sua esposa, e, da mesma forma, a esposa para com seu, marido. A esposa não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas, sim, o marido. Da mesma maneira, o marido não tem autoridade sobre o seu próprio corpo, mas, sim, a esposa”. Muitos julgariam um absurdo Deus estar presente num momento de intimidade do casal. O cristão que se preza é íntegro. Absurdo seria, Deus não fazer parte da nossa vida de forma integral em tudo o que nos envolve. Em relação ao ato conjugal, Deus, com certeza, só não está presente no relacionamento extraconjugal. O maior desconforto que sofremos é causado pela ausência de Deus nos nossos relacionamentos. Eu digo que Deus, além de presente, potencializa o prazer e o desejo deste ato que é bíblico. “Não vos priveis um ao outro...” diz o texto de I Coríntios 7:5. Este texto não se refere somente ao ato sexual puro e simples em si, mas, em ser "criativo" na relação e não impor limites na busca do prazer.

Alguns detalhes precisam ser esclarecidos. Quais os papéis do homem e da mulher na sociedade? Ninguém tem dúvida de que são distintos e, desta forma, deve permanecer na sua essência. O desempenho de cada um reflete diretamente no relacionamento sexual. O homem sempre foi visto e se comporta erroneamente desta maneira como um “dominador inveterado". Este domínio que acompanha gerações tem fundamentos distorcidos que o machismo oculta por uma questão de “preservação da dignidade masculina”. Parece que a honra depende em dominar sempre em qualquer circunstância e a qualquer custo. Para tristeza da classe masculina, primeiramente reconheço que o homem, de fato, mesmo sendo controverso, é o dominador e isto é bíblico para horror das feministas, mas, este domínio não é para impor suas vontades de forma possessiva e de forma absoluta. O domínio do homem primeiramente de si mesmo é para servir e cuidar, neste caso, da mulher. Esta característica de dominação se estende para o cuidado de tudo o que o envolve no planeta terra. Quem não gosta e não precisa de proteção, cuidado, carinho, afeto e dedicação? Com a mulher não é diferente. No ato conjugal, o homem é sempre o ativo no sentido de provocar o desejo e proporcionar-lhe prazer. Orgasmo e prazer são diferentes. Enquanto o orgasmo é resultado de um estímulo natural do corpo e que dura apenas alguns segundos, o prazer a dois no ato conjugal é o calor da sensualidade mesmo sem a penetração, sendo contínuo e incessante permanecendo enquanto ambos mantiverem o compromisso da mutualidade em provocar um ao outro de forma sadia e respeitosa. Muitos, tem um comportamento egoísta quando busca somente os seus interesses e não se importa se o cônjuge está sendo satisfeita(o) e os prazeres exauridos não correspondem à realidade dos fatos no convívio. Nesta condição, a frustração começa a ocupar a zona de perigo. Qualquer relacionamento se desgasta com o tempo, sendo necessário uma reavaliação do propósito assumido no começo. O Espírito Santo, uma vez sempre presente, é o agente capacitador das nossas emoções. Num ambiente de desgaste ou não, é preciso sempre envolver a terceira pessoa da trindade, o Espírito Santo, para se redescobrir dentro do relacionamento. De forma egoísta e independente, muitas vezes buscamos as nossas próprias soluções e quando tomamos o nosso próprio rumo, ficamos à mercê dos conceitos que a sociedade defende que o errado é ser infeliz e acaba por envolver uma terceira pessoa estranha no convívio do casamento numa tentativa de ser feliz.

O sexo à três deve ser praticado à dois somente, sendo o ato conjugal abençoado por Deus na pessoa do seu Espírito Santo!

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

PECADO DE ESTIMAÇÃO

Venancio Junior

Primeiramente devemos saber o que é pecado e como age em nós. Sem lei, não há pecado. Para o ser humano, a lei começou quando Deus falou que “não se podia comer e nem tocar no fruto da árvore do bem e do mal” (Gênesis 3:3) porque “onde não há lei, o pecado não é levado em conta”, Romanos 5:13. Não estou dizendo que não existia pecado antes deste fato que mudou toda a história da raça humana. Pecado é tudo aquilo que contraria a Deus. O pecado é uma afronta a Deus. Quando falamos de pecado, não podemos ignorar aquele que peca desde o princípio, o diabo. Lemos isto em I João 3:8. Que princípio seria este? Na minha concepção, este princípio é quando houve a manifestação do mal. O diabo não é Deus, ele é a manifestação do mal. O diabo é o fomentador do pecado porque é inimigo de Deus e de todos aqueles que o amam Pois bem, onde tudo começou em relação ao pecado e porque o pecado foi impingido a toda raça humana? O pecado existia, mas, ainda não influenciava o ser humano. No livro de Gênesis 3:6 Adão e Eva comeram do fruto. O pecado foi a desobediência à Deus e no livro de Romanos 3:23, o apóstolo Paulo enfatizou que “Todos pecaram e foram expulsos da glória de Deus”. Perdemos o manto da glória porque saímos da sua presença. Desde então, tudo o que a carne milita é pecado porque pecado, na verdade, é estar fora da presença de Deus. Respiramos em pecado, pensamos em pecado, sentimos o pecado e tudo o que fazemos é em pecado. Conhecemos o ditado “quem está na chuva é para se molhar”. O texto de Paulo aos Romanos 7:19 reflete o como sobrevivemos: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico”. A nossa relação com o pecado é desta forma e sempre estaremos envolvidos ou submersos no pecado. Mesmo que aos olhos do mundo sejamos pessoas corretas, cumprindo com todas as obrigações sociais e religiosas e podemos até ajudar os pobres, nada feito, fora da presença de Deus fomos condenados por causa do pecado que está em nós. Como se resolve isto? Morrer é a solução definitiva. Não me refiro à suicídio, mas, submeter-se a uma força maior que o pecado capaz de anular toda influência do pecado na nossa vida. O pecado é extremamente nocivo. O evangelho nos diz que o pecado nos impõe um envelhecimento precoce. No Salmo 32:3 lemos “Enquanto eu calei os meus pecados, envelheci de tão cansado”. Tem um texto bíblico muito difundido e utilizado nas situações de cansaço físico ou emocional, mas, na verdade, este texto se refere exclusivamente à culpa pelos nossos pecados. Leiamos o texto de Mateus 11:28: “Vinde a mim todos vós que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei”. O pecado, envelhece, debilita, cansa, sobrecarrega e nos desgasta a ponto de sucumbirmos frente ao peso da culpa porque somos incapazes de anular a força do pecado. Jamais devemos ignorar esta força que é muito maior que nós e nos faz ter práticas que nos mantem fora da presença de Deus que é o único lugar seguro onde estaremos fortalecidos para resistir ao diabo, Tiago 4:7. O pecado considerado por Deus não são focos como se pudesse afirmar que nunca estamos em pecado mesmo após a conversão. Muita gente se preocupa, quando no arrebatamento se não estiver pecando será salvo, tipo, “se Jesus voltasse agora eu subiria porque neste exato momento eu não pequei” ou o contrário disto quando diz, “se Jesus voltar quando estiver pecando, não serei salvo”. Isto é tolice. As coisas não funcionam desta forma. As práticas espiritualmente erradas são consequências, pois, habita em nós o pecado original, pode-se dizer que é o “pecado de estimação”. O pecado age em nós contínua, incessante e incansavelmente. Se um evangelho qualquer me convence de que esteja sem pecado mesmo sendo convertido, então, este evangelho é digno de repúdio e desprezo. O evangelho legítimo nos convence sempre de que somos errados porque o pecado habita em nós. O evangelho não é para nos deixar acomodados, mas, incomodados pela situação de pecado. O pecado é um incômodo. Paulo é considerado o intelectual dentre os autores dos evangelhos pela profundidade das suas explanações e não há como imaginar que ele próprio, mesmo sendo um dos apóstolos, sofreu a ponto de afirmar que o pecado que habitava nele é quem agia, “...não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim”. Romanos 7:17. Chego à conclusão de que Cristo não morreu na cruz para nos livrar do pecado, mas, para nos libertar da condenação do pecado. Pecado é uma situação de imersão. Tudo o que fazemos, de certa forma, é absolutamente pecado porque tem origem na corrupção humana e o mal ainda habita em nós e continuará em nós. O texto de I João 1:10 se refere aos convertidos, onde se lê: “Se dissermos que não temos cometido pecado, nos tornamos mentirosos e a palavra de Deus não está em nós”. Estamos atolados até o pescoço no pecado, mas, uma vez justificados em Cristo, não pertencemos mais ao pecado. Cristo morreu e ressuscitou para nos livrar e mudar a nossa condição de condenados pelo pecado. Ser livre do pecado em Cristo é não carregar mais a culpa, pois, levou esta culpa na cruz. Porém, devido ao corpo pecaminoso, não estamos livres, pois, o pecado habita em nós até recebermos um corpo glorificado definitivamente livre e também liberto da condenação do pecado quando não terá mais influência em nós porque o Espírito Santo assume o controle das nossas ações, nos convencendo também do pecado. Um exemplo bem interessante aconteceu com Jesus numa de suas peregrinações terrenas quando, disseminando o seu evangelho, deparou-se com situações que nos traz uma nova visão do que permeava o seu ministério. O Espírito Santo influenciava diretamente o ambiente em que Jesus estava inserido. Por exemplo, o episódio da mulher adúltera que estava prestes a ser apedrejada, quando Jesus desafiou a todos os que estavam com pedras na mão, prontos para arremessá-las, o Espírito Santo agiu no coração de cada um, os convencendo de que todos estão errados. Jesus também não a condenou e disse que partisse e não pecasse mais. Jesus quis dizer que saísse daquela vida que a mantinha fora da presença de Deus. Engana-se quem pensa que quando Jesus assumiu a nossa culpa, cruzamos os braços e nada precisamos fazer. O pecado continuará tentando nos derrubar porque age em nós continuamente. No livro de I Pedro 5:8 lemos que “...o diabo, vosso adversário, anda ao nosso redor, rugindo como um leão, pronto a nos devorar”. Percebe-se que este texto também se refere aos convertidos em Cristo, por isto que está ao redor. Os não convertidos, além de carregar o peso da culpa, sofre as consequências desta culpa. Esta culpa não é relativa às “pessoas más” de acordo com as nossas rasas considerações, mas, a todos, porque fomos condenados e não tem como o corpo retroagir na sua essência sem a ação do Espírito Santo de Deus. O único meio de ser livre é por meio da graça e justificação de Cristo vivendo em nós. Precisamos morrer para que as ações da carne sejam anuladas e a vida em Cristo sobreviva. Leia este texto de Romanos 8:10 “...se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça”. Isto é plena justificação. Esqueça o que te disseram que os crentes não pecam. Não tem como fugir do pecado, no máximo, evitar ou impedir a aparência do mal (I Tessalonicenses 5:22). A diferença é que, mesmo estando em meio ao pecado, não pertencemos mais ao pecado. No livro de II Coríntios 10:3 o apóstolo Paulo, dentro de um contexto espiritual, diz que “...embora andando na carne, não militamos segundo a carne”. Estamos no mundo, mas, não pertencemos ao mundo porque Cristo nos justifica e vive em nós. Qualquer processo humano, sejam rituais ou autoflagelo, absolutamente será incapaz de nos livrar desta condenação. É preciso uma conversão. Para não ser somente convencido, mas, sim, convertido é preciso sentir este incômodo do evangelho que nos mostra o caminho, a verdade e a vida livres da condenação do pecado, Jesus Cristo, João 14:6.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

VAMOS PARA CASA!

Venancio Junior

O pôr-do-sol é algo deslumbrante e no quintal da minha casa tenho este privilégio em apreciá-lo. Dias atrás, final de tarde, chegando em casa e, como algumas vezes faço quando já me sinto “desacelerado”, vou direto para o quintal e observo o sol se pondo. Com a vista para as árvores balançando, sinto uma leve brisa, e, coincidentemente naquele momento ímpar, ouvia aquelas grandes canções nas vozes dos grandes krooners Frank Sinatra, Tony Bennetti, Harry Connick Jr, Diana Krall, o desconhecido Matt Dusk e tantos outros acompanhados por grandes orquestras. Na rua de trás, tem uma escola muito arborizada e o sol se pondo entre as árvores é uma coisa muito linda. Particularmente, sou fissurado pelo final de tarde que é quando todos se recolhem, indo para as suas casas. O número de carros diminui e o silêncio “vai ocupando o seu espaço” e só ouvimos os pássaros findando os seus voos e os sons definem as diversas espécies que se aninham nas árvores. Com a mesma intensidade as pessoas também estão ansiosas para chegar às suas casas e tomar um revigorante banho, degustar uma bela janta e rever os seus familiares. Isto é muito confortável. Na escola também se ouve o sinal de fim de aula e as crianças e adolescentes correm, numa gritaria, cada um para as suas casas com toda a energia peculiar nesta fase maravilhosa da vida. Nada melhor que a segurança da nossa casa e também o conforto e o aconchego do nosso lar neste cotidiano. E não existe rotina mais gostosa do que voltar para casa. Quem não se lembra de quando a professora escrevia na “velha” lousa: “Para Casa”, que era a lição que deveríamos trazer na próxima aula e isto significava que a aula daquele dia acabara e iríamos voltar para casa. De certa forma, é para casa que voltamos, dando o sentido da nossa origem. Eu me extasiava em euforia. Minha casa estava sempre me esperando. Minha família estava lá sempre me esperando. Os meus brinquedos estavam lá também, como os deixei, me esperando. Isto também acontece nos filmes e quantas vezes assistimos os dramas onde tudo de ruim acontece seja um terremoto, um incêndio e até mesmo um sequestro e quando, no final do filme, tudo volta ao normal, alguém da família diz: “Vamos para casa!”. Que alívio! Na minha casa é onde me sinto seguro. Não conheço quem reclame desta rotina maravilhosa. Gosto muito de voltar para casa que é onde encontro literalmente o abrigo e o carinho que preciso. Afinal, em nossa casa é que nos sentimos confortáveis e seguros dentro de um contexto familiar. Infelizmente este contexto de família tem sido vítima das circunstâncias que cada um, muitas vezes é obrigado a se submeter. Outros, de livre escolha, decidem criar a família a seu próprio modo. Não entrarei no mérito desta questão porque envolve outros pormenores intimamente complexos. Mas, o lar é onde construímos os nossos valores, amadurecemos os nossos relacionamentos e contribuímos com a sociedade quando ensinamos os nossos filhos a enfrentar as dificuldades e os desafios da vida. Paz no lar. Lar doce lar. Todas estas frases denotam o desejo de cada um de ter um lar onde se “respire” conforto. Tal como aquela poltrona em que nos sentamos e não precisamos ficar nos remexendo para nos acomodar. Assim deve ser o lar onde não precisamos ficar nos “remexendo” tentando achar a melhor posição de conforto porque tudo o que desejamos e o que precisamos devemos encontrar no lar, a alegria da família. Nem tudo são flores no lar. Infelizmente, as contrariedades da vida atingem a todos sem escolher pessoas ou lugar e o lar tornou-se o alvo principal, seja numa crise conjugal, uma doença ou envolvimento dos filhos com drogas ou álcool, colocando em xeque a segurança do lar. A bíblia nos alerta sobre alguns procederes da coluna mestre do lar que é o casal formado pelo marido e a mulher. Sobre o homem, encontramos o alerta: “Qual a ave que vagueia longe do seu ninho, tal é o homem que anda vagueando longe do seu lugar”. Provérbios 27:8. Qual é o lugar do homem? Este texto não se refere exatamente a um lugar físico, mas, da responsabilidade e o seu compromisso como homem. Quando assume um relacionamento conjugal, o seu lar será o seu mundo onde todo esforço e dedicação deverão ser para propiciar segurança, conforto, alegria e prazer no convívio com aqueles que dependem do lar. Abrir mão desta responsabilidade é tornar vulnerável aquilo que lhe foi confiado. Quanto à mulher, não existe responsabilidade maior ou menor em relação ao homem, mesmo que aparentemente impute uma carga maior de trabalho. A bíblia mexe no cerne da questão quando lemos que “Toda mulher sábia edifica o seu lar. A insensata, com as próprias mãos o destrói”. Provérbios 14:1. Esta repreensão serve tanto para a mulher como para o homem. Toda ação deve ser feita com amor que, neste caso, é atitude que reflete diretamente no bem-estar do lar que o torna confortável mesmo em meio às dificuldades que a vida impõe. Muitos buscam este conforto no luxo que são situações díspares onde o piso, as portas e os utensílios de cada cômodo custaram uma pequena fortuna. O lar não se constrói com dinheiro e muito menos precisa do luxo. A casa serve para o conforto do nosso corpo abrigando-o do frio, da chuva e do calor, enquanto o lar é o conforto para o espírito. E é onde, também, compartilhamos sentimentos, sonhos, desejos, fazemos planos e traçamos metas. Creio que o maior exemplo, para este caso de desconforto é a do filho pródigo que, sem pensar, decidiu sair de casa. Deixou e menosprezou a segurança do seu lar para conhecer o mundo além das fronteiras da sua casa. (Lucas 15:13). Padeceu horrores sofrendo humilhações e privações do conforto da casa e do lar. Quando já não dispunha mais dos recursos que ainda o mantinham em condições decentes, sem opção, começou a se alimentar do que os porcos comiam e veio-lhe a lembrança do conforto da sua casa onde dispunha de roupas, uma cama confortável, comida à vontade e da melhor qualidade e, acima de tudo, o carinho da sua família. No versículo 18 dá-se a entender que ele disse: “Quero voltar pra casa!”. Nunca em sua vida ele valorizou tanto aquela rotina e “mesmice” da sua casa onde desfrutava do conforto do lar. Que situação decadente sofremos quando desprezamos a nossa casa e, consequentemente, perdemos o conforto do nosso lar. Não falo simplesmente de deixar a casa, mas o abandono do lar. Existem milhares de pessoas que não saíram das suas casas, mas estão distantes dos seus lares. Mesmo não abandonando a casa, muitos precisam voltar para o lar. Em contrapartida, mesmo saindo de suas casas para construir sua vida, existem também aqueles que, por motivos diversos, não estão sempre nas suas casas, mas não abandonaram o lar. O conforto do lar sempre está de “braços abertos”, mas quando perde este conforto ele deixa de ser um lar. Todos precisam de um lar. Não se trata de opção, mas de necessidade. Fora do lar estamos sujeitos às intempéries, as paixões lascivas, a insegurança diante das tragédias emocionais e corremos o risco de comer junto com tantos outros porcos sem lares. O lar é um lugar perfeito para pessoas imperfeitas como nós. O lar é onde nascemos, crescemos, amadurecemos. O lar é onde iniciamos a nossa vida. Quando abandonamos o lar nos perdemos e ficamos sem rumo. A caminhada espiritual nada mais é que o retorno ao lar. Quando pecamos perdemos o vínculo do lar e Jesus nos religa novamente a Deus e nos reconduz sendo Ele próprio o caminho no retorno ao lar. O lar é o nosso ponto de origem que é o ventre materno e o nosso ponto de destino que é o lar celestial.

sábado, 7 de julho de 2018

CRENÇAS

Venancio Jr.

Crer é algo natural no ser humano, seja no tudo, em alguma coisa ou no nada. De certa forma, até o incrédulo crê em alguma coisa porque para crer no nada precisa ter uma “fé dos diabos”.

O problema não é a capacidade em crer que sabemos que é natural, mas, naquilo que se crê e ao que as pessoas se submetem para potencializar suas crenças. Nunca se viu tantas crendices, simpatias e rituais para se conquistar ideais que denotam bem-estar e neste esforço adotam-se as mais diversificadas formas das mais diferentes ramificações religiosas. Inclui-se aí, um grupo de evangélicos que se sucumbiu à teologia da prosperidade e promove uma catarse sem precedentes. 

Crer instintivamente é a principal motivação para dar o próximo passo e avançar porque não se admite estagnação porque quando se deixa de crer, a vida entra num estágio de aparente morbidez.

Hoje não se consegue identificar a linha de crença de alguém apenas pelos seus rituais. A maioria tem um comportamento confuso provocado pela necessidade em eliminar as “brechas” do fracasso. Como se diz na linguagem popular quando alguém quer abraçar tudo de uma vez, “atira para todos os lados” porque não tem um alvo definido. Neste caso, tenta-se de tudo sem critérios e sem o cuidado em não piorar uma situação que ainda estava sob controle. O problema se agrava mais ainda quando algumas linhas religiosas associam o insucesso a problemas de espiritualidade. Este ambiente tem levado pessoas à exaustão emocional onde muitos até se entregam, mesmo contra vontade, aos seus fracassos e desistem da jornada em busca de uma “virada de mesa” da própria vida.

Mas o que é crer? Seria a mola propulsora da motivação? Deixar de crer é deixar de existir? Sabemos que crer é pensar à frente, avançar, enfrentar e superar os obstáculos. Os Coaching exploram esta capacidade de crer das pessoas para motivá-las emocionalmente. Se você levanta cedo todos os dias para trabalhar é porque crê que será recompensado, no mínimo por uma mera questão de sobrevivência o que já é relativamente uma grande motivação. Se você agenda compromissos é porque crê que o outro dia existe. Como ter certeza de algo quando não se tem qualquer controle que é o dia de amanhã? Como crer que os dias virão se não são controlados por si mesmo? Se você se alimenta é porque crê que esta ingestão irá te sustentar com os devidos nutrientes. Tudo isto é crer na fluidez natural das coisas. Quem controla o natural? O importante é que temos também esta crença antropológica. Crer é algo primordial, caso contrário o além jamais chegará e consequentemente o aquém nunca existiu.

Vamos desconsiderar as crenças esotéricas e refletir fria e introspectivamente em tudo aquilo que traz motivação. Será por tradição, adoção ou reflexão? Primeiramente tem de haver um auto questionamento. A autocrítica deve ser uma atitude diária e incessante. Deve-se questionar tudo o que se pensa e faz. Isto é sábio e também evita alguns equívocos, gerando com isto, boas oportunidades de amadurecimento. Quando escolhe algo é porque crê que é uma decisão certa e convicto de que o objetivo será atingido. Mal se sabe que, nem tudo o que é palpável fará diferença na vida, muitas vezes, nenhuma diferença. Isto se denomina futilidade quando se permanece na superfície da vida sem o devido e necessário aprofundamento. Incrível, mas escolhe-se coisas fúteis também. Por quê? Muitas vezes se é envolvido em ambientes nada sadios carregados de preconceito e tradições nocivas a sanidade espiritual. Este tipo de comportamento não é novo e vários embates já foram travados em busca do que seja certo ou errado.

Crer é inerente exclusivamente à espiritualidade? Geralmente quando se fala em crer logo associa-se à espiritualidade. O que é espiritualidade? Espiritualidade não é uma parte de nós. Tudo o que acontece fora é reflexo do que acontece no espírito. Então, podemos afirmar que tudo o que sentimos, pensamos ou fazemos tem reflexo espiritual. Do ponto de vista humano, espiritualidade não é uma exclusividade bíblica. A expressão do espírito é denominada esoterismo que abrange todas as linhas religiosas, incluindo as não cristãs. Vamos prosseguir, então, tendo como referência a Bíblia, porque cremos que o evangelho bíblico é divinamente inspirado conforme lemos em II Timóteo 3:16. Segundo a bíblia, não existem múltiplos caminhos para se chegar a alcançar a vida eterna, onde cada um escolhe o seu. Existe apenas um caminho, Jesus disse em João 14:6“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. O caminho do mal pode ser qualquer outro porque fora de Deus não há outro Salvador, Isaías 43:11. O próprio Jesus afirmou, “quem não é por mim, é contra mim”! Mateus 12:30 eliminando qualquer dúvida de que haja várias crenças com um mesmo objetivo.

A Bíblia tem inúmeras referências sobre crença ou sobre a fé que são expressões que se assemelham. A maioria delas já conhecemos exaustivamente e são todas desafiadoras, por isto que a misericórdia de Deus é infinita, se renova a cada dia e a sua graça superabundante nos sustenta frente a uma fé em frangalhos nos levando à nocaute de tão combalido que, sem estes predicados divinos, a fé não tem qualquer eficácia. A expressão da fé não se aplica num ambiente neutro porque revela o que você é e em quem confia. Um Deus em que apenas se acredita não faz qualquer diferença na vida porque se trata de uma relação superficial. Um Deus em que crê tem propensão a assumir compromisso entregando a vida que seria uma extrema atitude de confiança e isto acontece somente através da fé porque “...sem fé é impossível agradar a Deus”. Hebreus 11:6 e no versículo 1 deste mesmo capítulo fala o que seja a fé. É impossível praticar a fé com uma vida incrustada de tradições. Antes de se ter fé é preciso saber quais são as crenças que permeiam a espiritualidade humana. Acreditar, crer e confiar são múltiplas expressões onde acreditar é saber que Deus existe, porém, não assumindo qualquer compromisso. Crer é reconhecê-lo como Deus, sendo este o primeiro passo para efetivação da fé e o segundo é confiar que é a entrega de si mesmo a alguém em quem tenha plena confiança. A fé englobaria as três expressões, sendo o que define o caráter cristão.

A ratificação da crença tem uma essência abstrata ou concreta? A crença é a partir somente daquilo que é palpável? Jesus, logo depois da sua morte e ressurreição, conversa com Tomé que é famoso por crer somente naquilo que vê. Qual era o tipo de espiritualidade de Tomé que cria somente naquilo que era concreto? Tomé simplesmente não creu que era mesmo Jesus que havia ressuscitado e precisou que tocassem com os dedos nas feridas para dirimir toda a sua dúvida. E o mestre chamou-lhe a atenção como lemos em João 20:29: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”. Não tiro totalmente a razão de Tomé em ver para crer, mas, isto não deve, em hipótese alguma, ser adotado como regra de fé. Talvez este posicionamento esteja associado mais à sua personalidade do que ao caráter. Jesus, como sempre, aliás, era a sua principal missão quebrar os paradigmas e contrariar a conformidade humana que sempre tinha uma visão exotérica quando enxergava somente o exterior. Exatamente este ponto que quero destacar. Milhões de pessoas creem somente naquilo que vê. São as chamadas “crendices”. Fabricam esculturas e criam imagens e creem piamente neles como um elo que os mantem conectados aos seus deuses. A idolatria nos move em ver para crer, enquanto a fé nos motiva a crer para ver. A cada dia surgem diversos referenciais para potencializar suas crenças. Crê-se em rituais, em fitinhas, em bruxas, em imagens, na natureza, no próprio ser humano, em animais e tudo aquilo que contraria os princípios bíblicos apresentados desde a criação de que há um só Deus e um só mediador entre Deus e o homem, Jesus Cristo homem. O texto de Isaias 45:20 derruba toda esta crendice idólatra quando afirma que “...nada sabem os que conduzem em procissão suas imagens de escultura, feita de madeira, suplicando a um deus que não pode salvar”. Toda ação em busca de resposta para a saciedade humana é subterfúgio para mudar o foco desviando a atenção daquilo que é verdadeiro e que acrescenta algo de concreto à vida e revela uma espiritualidade legítima.

Jesus como mediador, sendo o próprio Deus que peleja por nós(Deuteronômio 3:22) no seu curto e pujante ministério terreno sempre apresentava a opção “...quem crer será salvo, quem não crer será condenado” Marcos 16:16. Como dizem, foi “curto e grosso”. “Será salvo” porque ainda estamos em via de ser salvos e será condenado porque o fim dos tempos ainda não se consumou. Esta afirmação é porque todos foram destituídos da presença de Deus e para voltar à sua presença é preciso, primeiramente crer no seu único filho, Jesus Cristo e retornar à condição do princípio da criação.

A Bíblia não nos impõe regras, apenas sugere-nos o caminho expondo aquilo que é humanamente impossível, mas, para Deus tudo é possível (Marcos 10:27) e o próprio Jesus afirmou que “...tudo é possível ao que crê” Marcos 9:23 sendo Ele próprio a porta quando disse: “...eu sou a porta” João 10:9. É preciso crer, lembrando que esta crença não é desprovida de responsabilidade e disciplina. Qualquer estrutura tem os seus caminhos e destinos peculiares. Não escolha o caminho menos difícil. Escolha o caminho que tem início e fim designado por Deus que é a vida eterna. Desta forma, deve-se processar uma renúncia dos valores corrompidos na queda afim de provocar uma reavaliação daquilo que se crê. A crença em Deus é a porta de acesso à nossa integridade diante dEle. A crença depende do esvaziamento de nós mesmos porque o caminho designado pelo homem natural é de perdição e o homem espiritual precisa ser liberto desta profusão de crenças para que Deus aja pelo Espírito Santo fazendo valer a nossa crença. 

Campinas, julho de 2018

sexta-feira, 22 de junho de 2018

O DESERTO NOSSO DE CADA DIA

Venancio Junior

Quem já teve a experiência em atravessar um deserto? Primeiramente, ao contrário do que a maioria sabe, o deserto não é um lugar totalmente vazio ou ausente de vida. Mesmo sendo um lugar inóspito para a maioria das espécies de vida da terra, a biodiversidade é algo fascinante e ocupa todos os espaços disponíveis, inclusive o deserto. Esta diversidade das espécies, principalmente animal e orgânica se recompõe e se adapta ao meio ambiente. É um mundo inteligente. Da mesma forma que existe vida nas profundezas do mar e dos rios, existe vida no deserto em harmonia com o seu “habitat” natural. O que podemos encontrar nesta exótica jornada e, muitas vezes, terrível? No deserto encontramos um terreno extremamente árido e com enorme, mas, não a pior, dificuldade em caminhar, sol escaldante queimando a pele causando feridas, escassez de água que seca a garganta, falta de horizonte que causa perda de referência e alucinações devido ao calor na cabeça. Tudo isto gera cansaço, desânimo, fraqueza e mina a esperança de que encontrará alívio para as inúmeras dificuldades causadas por esta condição terrível. Mesmo com a extenuante aventura, interromper a caminhada é desistir da própria vida porque agravaria ainda mais a situação. Persistência, esforço descomunal, resistência e força de vontade que sai de algum lugar obscuro são os únicos recursos para superar todas estas dificuldades inerentes à esta jornada. Nem tudo é ruim no deserto, existem os oásis que muitos conhecem como alucinações devido ao calor, mas, de fato, existem e servem como “pitstop” dos viajantes. Por incrível que pareça, existe também o turismo pelo deserto, porém, há todo um equipamento de sobrevivência que torna esta jornada agradabilíssima e sem traumas. De qualquer forma, é uma experiência inesquecível. Uma caminhada pelo deserto, por incrível que pareça, nem sempre pode ser algo, assim, tão ruim. Na vida, utiliza-se muito a metáfora de atravessar o deserto em que muitas situações, seria como se fosse uma travessia interminável. São diversas as situações impostas pela vida que nos provoca esta sensação de atravessar pelo deserto. Seja a cura de uma doença, uma situação financeira complicada, relacionamentos familiares teoricamente insolúveis e crises conjugais intensas, todos nós temos um deserto a ser explorado no sentido de buscar equilíbrio emocional. Ninguém está livre do deserto que não faz distinção de cor, credo, de nível social e até mesmo os psicólogos e os líderes religiosos cujas funções é trabalhar o enigmático sistema emotivo das pessoas, não estão isentos desta travessia pelo deserto. Em muitos casos, é o único caminho a ser percorrido. Atravessar o deserto da vida é aplicável somente ao aspecto emocional. Em qualquer um destes casos e tudo o que esteja envolvido na vida, o emocional é o principal agente de equilíbrio para ser bem-sucedido na vida. Tudo pode estar em ordem, mas, se o emocional estiver fora do lugar, nada irá compensar. Tudo o que se fizer terá uma leve sensação de fracasso. Independentemente das dificuldades externas, o deserto está no interior de cada um. Quando sentir que está no deserto, é hora de aprender a conviver com a solidão que será a sua melhor companheira apoiado por um grande vazio existencial. Alguns desertos a vida nos impõem inexplicavelmente, enquanto outros desertos, são consequências das nossas escolhas. O mundo por fora é o reflexo daquilo que somos por dentro que é onde a vida acontece de fato. O mundo exterior é apenas um cenário. Cada indivíduo tem o seu deserto particular com as suas implicações e os recursos para enfrentá-lo, um tanto quanto, ínfimos. Podemos afirmar que, enquanto estivermos de passagem por este mundo, atravessaremos pelo nosso deserto interior. O ruim desta questão é que não tem como alcançar o equilíbrio emocional sem passar pelo deserto. O deserto interior tem o poder de transformar fracassados em heróis ou o inverso. Muitos não conseguem passar ilesos pelo deserto das suas vidas. Temos muitas personalidades que tinham tudo, menos o equilíbrio emocional que ajudaria a atravessar os seus desertos. O grau de instabilidade emocional é tão grande que sequer conseguem sobreviver ao deserto e dão fim à própria vida. Este radicalismo nada mais é que consequência de um desajuste interior. É preciso perceber que não se pode exigir muito de si mesmo, isto causa desconexão da serenidade. O deserto não é um meio, mas, sim, o meio para avançar para um novo estágio da vida. De qualquer forma, considerando que o deserto é um trecho obrigatório e, às vezes, não tem como mudar os personagens e nem o cenário, neste caso, a melhor decisão é mudar a perspectiva. Nada mudou, então, mude a si mesmo, não exatamente de lugar, mas, as decisões, adotando a visão de um novo ângulo. Costuma-se enxergar a vida de fora para dentro, que tal mudar a perspectiva e começar a enxergar a vida de dentro para fora? Desta forma, mesmo o calor do deserto ainda sendo difícil, não será insuportável. Ninguém está ileso das dificuldades da vida. Na bíblia encontra-se o alerta do apóstolo João no capítulo 16:33 “...no mundo tereis aflições”. Isto significa que enquanto viver, as dificuldades permearão a vida. Na sequência, o próprio Jesus nos acalma dizendo “...tende bom ânimo porque eu venci o mundo”. Nesta frase “tende bom ânimo”, na verdade, Jesus quis dizer que, enquanto atravessar o deserto, deve-se manter a esperança porque Ele já venceu as implicações desta travessia. Jesus sempre enfocou os desajustes do nosso interior. Jesus não se preocupava com os efeitos das dificuldades financeiras, da vida desregrada no aspecto moral ou da religiosidade, o que Ele enfatizava e insistia para que fossem eliminadas, eram as causas que traziam à tona este comportamento nocivo à saúde emocional. Um texto muito propício é o que lemos em Mateus 15:11 quando Jesus responde, como sempre, aos fariseus dizendo “...não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas, o que sai da boca, isso é o que contamina”. Ele se preocupava continuamente com o interior do ser humano. Jesus não veio para nos libertar do deserto interior, mas, nos livrar, quem sabe de nós mesmos, durante a travessia neste deserto. “Tende bom ânimo” não significa sair do deserto, mas, seguir em frente que “Ele segura a rojão”. Não há qualquer condição para atravessar o deserto emocional sozinho. Precisa-se de um aparato que capacite e resgate o equilíbrio emocional, ora, combalido, fragilizado e quase sem condições de reagir. O texto ainda em Mateus 11:28 sintetiza a preocupação de Jesus com o interior e a disposição em ajudar a superar a travessia do nosso deserto interior: “Vinde a mim, todos os que estai cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”. Aliviar a carga é continuar no deserto, porém, com o aparato necessário para suportar as adversidades no deserto. A vida é bela para os que enfrentam e enxergam vida além do deserto. Para os de espírito frívolo, a vida não passa de um mero deserto onde sucumbirão respirando a vida toda por aparelhos.

Campinas, inverno de 2018


quarta-feira, 30 de maio de 2018

FRAGMENTOS CONJUGAIS

Venancio Junior

     Dizem que o casamento é uma loteria. Muitos insistem nesta teoria fazendo entender que se trata de uma “roleta russa”. Será que isto é verdade? Acho que não. Primeiro, sorte biblicamente “falando” significa possibilidades. Não é algo solto que acontece por acaso. Segundo, as pessoas são imprevisíveis, caso contrário, acertaríamos sempre. Não existe uma receita infalível. Sequer receita exista. O que existe são princípios aplicados na vida individual que afetam diretamente o outro numa situação de compromisso conjugal. Qual seria, então, o melhor caminho? Na crise, a decisão certa, muitas vezes, é não tomar nenhuma decisão. Parar, refletir e deixar que as coisas fluam naturalmente sem perda de controle porque qualquer “pré-ocupação” gera tensão e, nesta condição, a falta de serenidade anula a capacidade de optar pelo melhor caminho que, pode não ser o que queira, mas, o que precisa, mesmo sendo dolorido e traumático. Pode ser que o caminho ainda não tenha sido encontrado e precise abri-lo na “mata cerrada” do relacionamento. Estas crises, muitas vezes, acontecem nos primeiros anos do casamento quando há somente os dois. Assentamento das emoções, adaptação das personalidades e uma gama de costumes e manias dispostas num ambiente agora compartilhado. Isto pode ser o começo de uma grande e excitante jornada.

     Mesmo casados e já acostumados com a nova vida, o que nunca deve deixar é o respeito mútuo. Lembro que respeito não é um mérito, mas, uma questão de educação. Respeitamos porque somos educados e não porque a pessoa merece. O casamento pode ter sido circunstancial, conveniente ou nunca fez parte de um processo construtivo e o resultado, neste caso, não precisará de terapia de casal para detectar onde aconteceu o erro. Vamos considerar o erro como ações na tentativa em acertar. O erro não é uma culpa isolada. O casamento é uma relação concomitante. Onde não há parceria, é impossível ter um ambiente que respire segurança quando tudo favorece a fragmentação do relacionamento. Numa situação de extrema insegurança, ao invés de se abrir e viver a verdade a dois, por mais dolorida que seja, se omitem e buscam soluções fora do núcleo conjugal gerando, desta forma, mais problemas tanto para o relacionamento e, muitas vezes, traumas pessoais que se perpetuará na vida individual de ambos. Quando isto acontece, numa situação emocional em “frangalhos”, o melhor é evitar os ressentimentos que causam desfiguração em tudo o que foi construído e que, em hipótese alguma, deva ser descartado como se fosse algo sem importância. A pressa é livrar-se o mais rápido possível do passado. Ninguém consegue se livrar do passado. O que precisa é aprender a conviver com ele.

     Na vida, de uma maneira geral, muitas coisas não acontecem conforme planejamos. A frustração surge quando o que se espera fica aquém daquilo que se idealizou. Isto é normal. Esta situação será saudável e construtiva se considerar como um momento de rever a relação se não se tornou algo nocivo à saúde emocional e nada tem acrescentado. Não existe comportamento padrão generalizado porque cada um tem a sua peculiaridade que deverá ser administrada de forma que se adéque aos diversos níveis de personalidades. Não hesite em desabafar, porém, com sabedoria. Evite o acúmulo de carga emocional, pois, poderá descarregar em hora errada.

     O gostoso de qualquer relacionamento é saber administrar o inevitável. Até mesmo as crises, por pior que seja, é obrigação comum enfrentar a dois que, quando bem-sucedido, traz grande prazer fortalecendo o vínculo. O relacionamento conjugal nunca deve ser assumido como um risco. Pode ser um grande e maravilhoso desafio na vida. Superá-los juntos ou separados, é uma questão de hombridade. Independentemente da decisão, o que foi construído juntos deve ser preservado mesmo separados. O respeito é algo que sempre deve fazer parte da relação por uma questão de princípios. Como já afirmei, o respeito nada tem a ver com mérito. Tem tudo a ver com caráter elevado. Perder o respeito é desvio de caráter. Isto é muito sério. O que seria exatamente a falta de respeito? Na relação conjugal, o pior deles é a traição. Quem trai, não pode dizer que errou, pois, só erra quem está tentando acertar e traição jamais será uma tentativa em acertar. Traição é uma prática do mal. Não precisa ser exatamente um caso extraconjugal, mas, pode ser também uma simples decisão isolada que infringe diretamente o casal ou a família. Expor problemas conjugais ou familiares a terceiros. De qualquer forma, a traição é uma extrema falta de respeito e deve ser banida. Isto se aplica também na vida social, profissional e outros.

        Em qualquer nível de relacionamento, a atenção e dedicação ao outro deve ser sempre de forma altruísta. Na relação conjugal o carinho deve ser parceiro constante nas palavras e nos gestos. Todos nós precisamos de carinho, afeto e atenção. Sem esta afetuosidade a vida perde muito o sentido e a sua graça. O que devemos evitar é que a atenção exclusiva das pessoas, filhos ou o cônjuge, se torne uma exigência. Atenção dedicada é algo espontâneo porque é a única forma de demonstrar sinceridade. Todo mundo tem alguém com quem quer estar sempre por mera questão de empatia. O ideal seria o próprio cônjuge porque, quanto mais presente na vida, mais implica intimidade. Conhecer um ao outro é uma questão de necessidade e sobrevivência conjugal. Por exemplo, no relacionamento sexual, não se trata de sobrevivência no sentido de obrigação, mas, quando ambos ainda estão ativos e não acontece, com certeza, o relacionamento sobreviverá à mingua. Em I Coríntios 7:5 o apóstolo Paulo foi incisivo, “não vos priveis um ao outro”. No verso 3 do mesmo capítulo ainda lemos que “marido e mulher devem cumprir com o seu dever conjugal” e na sequência diz que “nem a mulher e nem o homem devem se dispor do corpo a terceiros porque um pertencem ao outro”. Fazendo um adendo, particularmente, no ato conjugal, julgo que a mulher é passiva e o homem é o ativo. O comportamento passivo da mulher é de ser amada e protegida na sua intimidade. O comportamento ativo do homem é o de cuidado, dedicação e proteção a alguém de sua intimidade. Dentro desta conjuntura, não faz qualquer sentido o relacionamento extraconjugal. A sexualidade é uma entrega. Assumir um compromisso conjugal é entregar-se também de corpo ao outro que, teoricamente, é a pessoa de maior confiança. Ninguém entrega o que é seu para um estranho. No capítulo 6:19 o apóstolo enfatiza de que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo para a glória de Deus e devemos fugir da imoralidade sexual.

     Casamento é uma construção de valores para favorecimento mútuo. Filhos, por exemplo, valor incalculável. Ouço muitos casais já desiludidos e até mesmo terapeutas conjugais afirmarem que filhos não “segura” casamento. Concordo em parte. Os filhos não podem ser jogados ao acaso quando “ninguém é culpado” por nascerem. "Os filhos são herança do Senhor para as nossas vidas" Salmos 127:3. Mesmo inicialmente não fazendo parte do plano original do relacionamento, um filho deve ser assumido como uma grande conquista. Quando nascem os filhos, a carga de preocupação se acentua porque a responsabilidade pela formação é dos genitores que ainda precisam administrar incessantemente a relação. Lembro que o cuidado para com eles independe da condição do relacionamento. Não amamos os nossos filhos porque são bons. Da mesma forma que também não amamos o nosso cônjuge por ser uma boa pessoa. Amar é algo incondicional. Muitos dizem que amor não é sentimento, mas é atitude. Creio que sejam as duas coisas intrinsecamente ligadas. O apreço aproxima as pessoas e o amor intensifica a relação pelas atitudes seja intencionalmente na parceria ou de forma espontânea. No relacionamento sempre deve haver o compartilhar das ideias, dos planos e, principalmente, dos sentimentos. Porém no decorrer da vida os relacionamentos se desgastam e podem perder o sentido e instintivamente tomar rumos ignorados. O ideal seria que, antes que aconteça este desgaste, reagir no sentido de revitalizar a relação ou, a grosso modo, cortar o mal pela raiz. Com ou sem crise, o entendimento deve ser um processo contínuo. O respeito ao outro nunca deve ser por mérito, pois, respeita-se a pessoa, mesmo que não mereça. Tanto no relacionamento conjugal ou com os filhos, em meio à uma potencial crise, deve-se evitar o confronto direto. No caso dos filhos, quando ainda estão na adolescência que é uma fase difícil até para eles mesmos que, numa busca incessante de identidade e querem conquistar o mundo, muitas decisões precisam ser tomadas em pouco espaço de tempo e julgam que já conquistaram o mundo e não admitem que alguém diga o que eles devem fazer. Entrar em confronto direto para quem está aceitando todos os desafios possíveis não é uma boa ideia porque a relação vai minando e chega num ponto que não tem muito o que fazer, tudo o que os pais disserem não vale e a melhor coisa é exatamente nada fazer e torcer para que aprendam da melhor forma possível. A maioria dos filhos nesta fase avançam destemidamente e transpõem todos os obstáculos possíveis. Isto é causado pela sobrecarga de energia da novidade em decidir pela própria vida. Não tem limite, até que amadureçam e percebam que precisam retornar, abaixar a poeira e reconhecer que sem o apoio dos pais nada seria possível porque, muitos, ainda dependem deles. Não se trata de questão financeira, mas de sentimento, afeto, apoio nas incertezas e o carinho que qualquer pessoa precisa principalmente daqueles que são mais próximos.

        Não somos perfeitos e temos os nossos defeitos, mas, em algum lugar deve ter alguma coisa de valor em cada um que propicie uma “compensação” e demonstre que vale a pena a convivência. Muitas vezes é difícil encontrar estes valores porque estão sufocados por um comportamento fechado, retraído e egoísta. Geralmente, reagimos de acordo com as circunstâncias e não tomamos qualquer iniciativa em agir conforme as qualidades. Muitas pessoas, mesmo na velhice, quando nesta fase não se exige muito da vida, estão escravizadas pelas suas convicções, ocultando o que tem de melhor. Talvez tenham de ser livres de si mesmas porque a própria vida pode estar fragmentada e que afeta o relacionamento conjugal. Viva a vida a dois sem a marra do ressentimento desfragmentando as emoções.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Gestão da Base Cartográfica e das Redes de Abastecimento e Esgotamento


TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Gestão da Base Cartográfica e das Redes de Abastecimento e Esgotamento
Venancio Rodrigues dos Santos Junior
RA: 2285327362
Curso: MBA em Gestão de Projetos
Pólo Campinas 1

Resumo

A gestão das informações da base cartográfica e das redes de saneamento é algo relativamente novo. Tem um grau de complexidade equiparado aos grandes projetos porque envolve profissionais altamente qualificados de diversas áreas, maquinário atualizado com tecnologia adequada a cada atividade e recurso financeiro relativamente vultoso. O principal processo que “interliga” a captação e o acesso às informações é o geoprocessamento que, para muitos, ainda é um mundo desconhecido. O trabalho de pesquisa baseou-se na experiência da implantação da gestão do geoprocessamento da cartografia e saneamento numa autarquia na cidade de Campinas, cidade do interior do estado de São Paulo. A princípio, o material disponível onde continham as informações que já se utilizava a quase 100 anos era o papel. O trabalho inicial foi migrar todas estas informações para uma estrutura digital sem qualquer associação dos dados com as entidades gráficas. Necessitou-se dispor de duas equipes, mantendo uma alimentando as informações na estrutura antiga e uma outra equipe já capacitada para o manuseio em computador confeccionando a nova base digital. Nesta fase aprendemos que padronizar procedimento em algo ainda desconhecido corre-se o risco de acumular um volume de serviço que provoca retrabalho o que, de fato, aconteceu. Adotar um ritmo de trabalho moderado e focado em evitar este retrabalho é a melhor opção para manter a confiabilidade das informações, mesmo que o trabalho dure um pouco mais de tempo que o previsto. O resultado deste processo garantiu 85% da confiabilidade e precisão em relação ao previsto. Os 15% restantes serviu para identificar as inconsistências e o refino das informações.
Palavras chaves: Projeto, Tecnologia, Ferramentas, Saneamento, Base Cartográfica Digital
Introdução
A análise espacial é responsável pela maioria dos estudos que visam desenvolver projetos. Por exemplo, na infraestrutura urbana, basicamente dos serviços públicos nas áreas de transporte, saúde, educação, saneamento, dentre outros.
Qualquer planejamento hoje em dia depende fundamentalmente de uma boa gestão das informações. Com o advento do mundo digital, a área técnica precisou se reinventar adequando-se ao novo sistema que, a princípio, apenas centralizou as informações facilitando a manipulação dos dados, porém, sem ainda qualquer possibilidade de se criar uma rotina inteligente que, para isto, precisariam ter os dados geo-referenciados.
A minha pesquisa partiu do princípio da experiência pessoal. Desde o início, quando a área técnica de desenho e cartografia sofreu esta mudança radical para o mundo digital, ouvíamos que a facilidade destes novos recursos tecnológicos facilitaria o trabalho a ponto de alguns imaginarem que para desenvolvê-lo bastava manusear o computador. Após vários anos cheguei à conclusão de que os recursos tecnológicos e a formação acadêmica não são o suficiente para a gestão de um projeto. Um grande exemplo é o desenho que, antes na prancheta, precisava do conhecimento técnico e este conhecimento deve acompanhar o profissional de qualquer especialidade no computador. Mudou a ferramenta e o seu consequente manuseio, porém, os princípios de como o trabalho deverá ser desenvolvido não mudaram e deverão acompanhar o profissional independente da tecnologia aplicada.
Na fase de migração do papel, o objetivo era colocar tudo na estrutura digital sem a preocupação com a forma de armazenamento que facilitasse posteriormente a busca destas informações. O maior erro percebido foi generalizar o trabalho baseado no conceito de que o computador propiciaria a habilidade o suficiente sem a especificidade do trabalho em si. Os resultados, à princípio, foram relevantes considerando a condensação das informações em um só local acessados por todos via rede interna.
Surgiu, então, os problemas de como fazê-lo e qual a melhor maneira para que estas informações se mantivessem atualizadas e fossem acessadas conforme as necessidades de cada grupo de usuários. Geoprocessamento foi o processo mais adequado para desenvolver todo este trabalho. A sua aplicação é ampla e pode ser utilizada em diversas áreas, mas, foquei a área de saneamento na qual estávamos envolvidos. Conforme o geógrafo e professor da UNIFAI e diretor da APROGEO-SP, Marcos Aurélio de Araújo Gomes, “...a cada ano que passa, as aplicações das tecnologias de Geoprocessamento tornam-se mais necessárias ao desenvolvimento das sociedades que necessitem planejar e implementar o seu desenvolvimento”.
O Brasil ainda é muito tímido na conscientização e na ação voltadas para o saneamento. Segundo o instituto Trata Brasil, uma organização de interesse público e formada por empresas que tem interesse em recursos hídricos e investimentos em saneamento, conforme os dados de 2013, os resultados ainda são insuficientes o que nos mantem muito distantes do ideal de nação desenvolvida. O atendimento com água tratada chega a 85% dos lares brasileiros. O índice de perda chega a 37%, ou seja, mais de um quarto da água tratada é desperdiçada. Apenas 48,6% da população tem acesso à coleta de esgoto, onde, 40% do esgoto coletado não recebem qualquer tratamento. As áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos, onde os investimentos são menores nesta área, sofrem pela precarização de recursos e tecnologias de abastecimento e esgotamento. A água e o esgoto igualmente tratados, além de ser um fator preponderante de saúde, economicamente é viável e o processo do geoprocessamento organizará todas as informações concernentes à estrutura de cada cidade, povoado e também das áreas rurais. Controlar e administrar dados são importantes para que as metas de eficiência sejam alcançadas. Em qualquer área de aplicação que influencie diretamente o cidadão esta meta é alcançada mediante uma boa administração das informações. Coletar, tratar e organizar dados é uma tarefa complexa, porém, o objetivo é torna-la simples no armazenamento e na busca sem perda de confiabilidade. O problema aqui exposto não é o técnico. Focamos, principalmente, as questões burocráticas na gestão do geoprocessamento das estruturas cartográfica e de saneamento conforme o guia PMBOK que estabelece as diretrizes para processos, ferramentas e técnicas no gerenciamento de projetos. O sucesso depende da forma como será implantado, o que pode também ocasionar o seu insucesso quando mal planejado mesmo dispondo de todos os recursos necessários. Após definir o cenário, os implementos tornam-se essenciais e adequá-los requer habilidades, tanto no conhecimento do produto, como também, na experiência da aplicabilidade. As principais práticas que deverão ser ressaltadas é o início do projeto, a evolução do trabalho considerando o seu tempo e o fim que deverá ter um prazo definido.
1. Desenvolvimento
1.1 Implementos utilizados
Com o surgimento do computador pessoal ou simplesmente PC (People Computer), uma página na história foi virada e tudo mudou estruturalmente em termos de comunicação e armazenamento de informações. Computadores e scanners de grande e pequeno porte ainda permanecem como as ferramentas essenciais para “trazer” as imagens antigas para uma estrutura digital. O computador evoluiu juntamente com os softwares que são desenvolvidos adequadamente para cada finalidade. Novas tecnologias surgem a cada ano e “pequenas revoluções” surgem em diversos lugares, fruto de pessoas interessadas em inovações que facilitem substancialmente o trabalho. A tecnologia não é algo recente e o seu princípio nada tem a ver com a modernidade. A tecnologia é a ideia em busca de solução. Nos tempos primórdios o ser humano, até por uma questão de sobrevivência, já desenvolvia meios e maneiras de adequação e manuseio. A tecnologia evolui e as ferramentas sofrem constante aperfeiçoamento frente aos problemas que, para identifica-los, é necessário que saiba o objetivo e qual o processo que será aplicado.
Assim como o computador e os softwares que sofreram evolução, os processos precisam também evoluir. Um destes, que incide diretamente no nosso trabalho é o geoprocessamento. Este é o processo muito abrangente, porém, o mais eficaz para a organização e o manuseio das informações e que deve ser aplicado de forma simples e não pode, em hipótese alguma, ser diferente porque esta é a essência do mundo geo. Segundo o geógrafo Jorge Xavier da Silva, Coordenador do Laboratório de Geoprocessamento (LAGEOP) da UFRJ, “...o planejamento e a gestão de projetos são campos técnico-científicos beneficiados pelo uso do Geoprocessamento”. A dificuldade na aplicação desta tecnologia, talvez, seja convergir os vários conceitos o que, de certa forma, sempre acarreta nova postura e flexibilidade no processo de implantação, caso os objetivos não sejam bem claros. O geoprocessamento, neste caso, pode tornar-se uma estrutura muito complexa considerando a sua magnitude, mas, é o processo fundamental para a organização das informações georreferenciadas.
Não muito tempo atrás a quantidade de informações absorvida era ínfima em relação aos dias atuais. Ao contrário do que a maioria defende, o maior problema não é de hardware e nem software que evoluíram e o mercado atual dispõe de computadores com boa performance de processamento e programas adequados para criar boas estruturas e, com isto, obter resultados satisfatórios.
Faz parte do processo, independente do rumo que se tomou, rever periodicamente tudo o que está sendo feito, sejam as ferramentas, os projetos, as metas, inclusive também as pessoas envolvidas e a forma como está sendo feito o geoprocessamento porque a era digital é volúvel, de certa forma cruel e nunca é o mesmo por um razoável período em que não se necessite de uma revisão. O maior obstáculo é exatamente conciliar as ideias que, individualmente são boas e muitas têm o mesmo objetivo, mas, quando associadas a outras, perdem a eficácia. Insistir nas mesmas ideias, nas mesmas soluções geram os mesmos resultados trazendo os velhos problemas de sempre. Apesar do potencial intelectual, muitos não conseguem ou não querem compreender a realidade de cada cliente e de cada estrutura. O recurso humano disponível deve ser específico na seleção dos profissionais e estar atento na capacitação e atualização do conhecimento técnico dos funcionários. Muitos deles ainda deixam uma incógnita. Mesmo sendo formados, percebe-se que tem uma postura profissional formatada. Atualmente devemos ter uma mente aberta para novas ideias e atentos as novidades do mercado digital que, como já afirmei, não é estático. Existem inúmeros profissionais qualificados e com mente livre e que, a cada dia, se atualizam no conhecimento para atender com excelência a demanda desta área não se apegando a velhos conceitos e sistemas engessados.
No caso específico das estruturas da Base Cartográfica e do Sistema de Abastecimento e Esgotamento, o único material disponível eram dados analógicos e que precisavam ser migradas para uma estrutura digital basicamente composta por imagem vetorial e raster. Com as ferramentas em mãos e o trabalho a ser desenvolvido, bastava aplicar os processos na implantação.

1.2 Implantação do projeto de gestão da Base Cartográfica e de Saneamento.
Aqueles que não conheceram o mundo antes da era digital já nascem trilhando um caminho “pavimentado”, “florido” e com as “placas de sinalização” indicando todos os destinos. A assimilação à tecnologia informatizada é algo natural e sequer imaginariam um mundo sem este sistema revolucionário. Mesmo com toda esta facilidade, de nada adianta dispor de recursos, soluções e pessoal habilitado e não conseguir desenvolver o trabalho com o retorno esperado. Isto é típico da falta de um projeto ou de planejamento. Em qualquer época, independente da condição e dos métodos, o projeto, o planejamento e os processos são companheiros inseparáveis diferindo apenas na característica dos seus idealizadores. Na verdade, qualquer projeto precisa ter uma cara e uma das piores condições é ficar sem uma, porque, quando não se têm uma cara, qualquer uma serve. Isto não significa que não poderá sofrer adequações de aprimoramento, afinal, vivemos em um mundo globalizado e capaz de se reinventar. A receita para este quadro é seguir o que diz Pize (2012) esbravejando que, a forte concorrência de um ambiente globalizado obriga as empresas a manter suas estratégias flexíveis e adaptáveis, como forma de estarem aptas a realizar estas mudanças.
Existem alguns pontos indiscutíveis que imediatamente no início da implantação procuramos conscientizar cada um dos envolvidos. Um destes pontos é nivelar o resultado final pelo beneficiário ou cidadão comum que é, de certa forma, leigo e não pelo “expert” que vive a tecnologia, portanto, deverá ser simples, prático, objetivo e acessível a todos. É a famosa inclusão tecnológica dos que usufruem pelo grupo responsável pelo projeto. Mesmo sendo bem implantado, de nada adiantaria ser bem-sucedido na implantação se os objetivos propostos não deixassem o usuário final satisfeito. Para que isto aconteça sem imprevistos, é necessário saber o que está sendo feito, como está sendo feito e para quem está sendo feito. A tecnologia, por mais sofisticada que seja, não será capaz de substituir o planejamento que é fator essencial. Um planejamento depende de dois fatores: Projeto e Processos. O projeto, segundo o PMI (PMBOK, 2008), é um esforço temporário com a finalidade de criar um produto. Os processos, além de fazer parte da implantação do projeto tem características de temporários na fase de desenvolvimento ou contínuos na linha de produção subsequente. Desde o planejamento até a finalização do projeto, a equipe deverá ter a complacência em respeitar as propostas visando um trabalho de excelência com equidade superando, desta forma, todos os prováveis obstáculos. Nesta fase, o único excesso permitido além dos limites estabelecidos é o de ideias visando solucionar problemas e também evitá-los. Neste caso, é de suma importância conhecer quem participa do projeto ou como conhecemos, stakeholders. Segundo Sommerville (2007), ele os define como todos os envolvidos direta ou indiretamente e podem interferir e exigir mudanças no início, durante e no fim do projeto no sentido de aperfeiçoar os processos. A troca de informações e o conhecimento das opiniões também são imprescindíveis. Estes são bons indícios de que o processo está pronto para o próximo passo.
Manter os “pés no chão” é algo que deve ser muito considerado porque não adianta sonhar com o impossível. Para não ser seduzido por uma utopia é importante levantar a real situação do ambiente onde se quer desenvolver o projeto e saber quais as ferramentas e mão de obra disponíveis. Após o levantamento da situação, deve-se decidir por aquilo que seja mais adequado. Todas as opções ou caminhos a serem percorridos deverão ser analisados, identificados e gerenciados por se tratar de riscos que, bem gerenciados, trarão benefícios ao projeto conforme ressalta Salles (2006).
Contrariamente ao que se imagina, não basta migrar a estrutura das informações do papel para um sistema digital, porque um vício adquirido não deixa de sê-lo, mesmo mudando da mesa para um computador. Caso não haja uma atitude na revisão dos próprios conceitos, cujo paradigma precisa sofrer uma ruptura, a ineficiência comprometerá o resultado final dos processos e do próprio projeto. Desta forma, a meta prevista no planejamento não será alcançada.
A primeira ação que deverá ser bem assimilada é o controle das informações que, neste caso, é o produto propriamente dito. Este controle não visa a manipulação buscando o interesse individual, onde todos os stakeholders são corresponsáveis e se renovam nas ideias, nas propostas e na forma que melhor convêm e atinja a finalidade proposta inicialmente. Tanto os softwares, hardwares e todos os envolvidos devem se atualizar continuamente nos recursos, na capacidade de desenvolvimento e limites das possibilidades.
Os stakeholders formam a “coluna vertebral” do projeto e em qualquer fase é necessário decidir na continuação da estrutura ou ampliação e até mesmo na redução do mesmo visando adequação que pode ser aquisição ou descarte tanto do recurso humano como, também, do material em desuso. Muitas vezes é preciso ser bem radical e alguns males deverão ser arrancados pela raiz. Este mal pode ser um membro do grupo que não consegue enxergar a proposta do projeto ou que seja inflexível. O envolvimento de todos, independentemente da vontade pessoal, se faz necessário em qualquer fase do projeto e o que deve prevalecer é a consenso dos envolvidos na construção e dos beneficiários que são os clientes. Isto não significa que as ideias ou sugestões não serão discutidas, pelo contrário, deverão ser esgotadas e analisadas todas as propostas como já mencionado anteriormente. Isto contraria aquela filosofia atualmente muito difundida pelos meios de comunicação, principalmente pelos formadores de opinião, de que todo mundo pode e deve fazer o que quiser. Imagine se cada um do grupo responsável pelo projeto priorizasse sua própria vontade? Com certeza teríamos um resultado bem parecido com o Frankenstein onde cada parte do corpo é diferente uma da outra onde não há harmonia. Fazer o que quer não é uma postura correta, porque vivemos em sociedade e quase tudo é compartilhado, inclusive o resultado da ideia que hoje em dia está deixando de ser propriedade exclusiva de um grupo ou de apenas uma pessoa. Pode-se patentear a ideia, mas não o seu resultado. Somos parceiros e o indivíduo deve agir visando sempre o benefício comum e jamais ter como princípio fazer o que quer o que, muitas vezes, consegue aquilo que não precisa e para recuperar o tempo e o trabalho perdidos, assim como os gastos, nem sempre será possível fazê-lo porque, no caso, o geoprocessamento é um processo contínuo que, enquanto existir informação, será necessário aplica-lo de acordo com o interesse vigente.
Quanto ao sucesso do projeto em si, na sua concepção, no seu encaminhamento, no seu gerenciamento e tantas outras ações, segundo Philips (2004), trata-se de um esforço integrado. O gerente de projeto, segundo Rabechini (2002) e Gasnier (2000), é o responsável pelo sucesso ou o fracasso e também tem a incumbência de como será feito. O desempenho efetivo do gerenciamento de projetos está diretamente relacionado ao nível de competência em que as habilidades são dominantes. Isto é fruto de uma pesquisa e das experiências vivenciadas por Kerzner (1992).
A primeira providência tomada foi a capacitação dos recursos humanos que já trabalhavam com os arquivos em papel e conheciam profundamente todo o material. Mesmo com toda a experiência do grupo, quando surge algo novo é preciso um tempo razoável para o domínio das informações e, consequentemente, manuseá-los. Esta fase foi um aprendizado coletivo em que precisávamos manter as informações atualizadas e que, ora, ainda eram acessadas no papel e migrar as informações já existentes e as que iriam sendo atualizadas para a nova estrutura digital. Mesmo com a chegada dos computadores, estes, além de ainda não dispor de softwares adequados para esta finalidade, os funcionários não tinham habilidade o suficiente. As informações precisavam pelo menos ser dispostas em planilhas que foram as primeiras plataformas (ainda no sistema DOS) de inserção de dados.
Os projetos dos bairros e das redes de saneamento entraram no processo de digitalização e que, posteriormente, seriam indexados à estrutura digital como um link.
Após a implantação do sistema digital e concluída esta primeira fase, chegou o momento de como funcionaria o acesso às informações. A princípio, as informações da BC (Nomes de Ruas, Nomes de Bairros, Números de Quadras e de Quarteirões, Números de Lotes e Prediais) e da estrutura do sistema de Saneamento (Nomes e extensão de Redes) mesmo digitais, ainda se encontravam numa estrutura gráfica. Analisamos e concluímos que indexar as informações como atributo diretamente nas entidades gráficas é a melhor opção. Por exemplo, Número do Lote e Predial atributado no polígono e as informações das redes e a extensão diretamente no objeto correspondente.
Definimos três equipes para as estruturas BC, Redes Agua e Esgoto respectivamente e uma quarta equipe que mantinha as informações atualizadas na base ainda ativa. Conforme os processos de migração dos dados cessavam, deslocávamos os profissionais para a equipe de atualização até que todo o processo fosse concluído.
Com este processo em plena atividade e em fase final de conclusão, precisávamos armazenar em banco de dados. Optamos pelo que atendeu as nossas expectativas quanto a confiabilidade, estabilidade, agilidade e que preservasse as informações.
Finalizados todos os processos de implantação e encerrado o projeto, definimos a rotina de atualização das informações e os softwares principais porque, uma vez em banco de dados, o resultado do trabalho não precisava ser “escravo” de um software porque para se ter o acesso aos dados no banco, bastava que o programa acessasse a extensão original do banco de dados. Assim, democratizamos o acesso e simplificamos o trabalho.

2.  Considerações finais
  As áreas de cartografia e saneamento sofrem, por razões óbvias, mudanças que precisam de constantes atualizações. Tanto o armazenamento como o acesso às informações devem ser simplificados. Uma das dificuldades de uma estrutura meramente gráfica que se dispunha era a impossibilidade de desenvolver processos “inteligentes” como listagens de grupos comuns, mapas temáticos dinâmicos e gerar relatórios com dados específicos que facilitassem a busca de resultados. Como já exempleficamos, o geoprocessamento é o processo mais eficaz para converter informações gráficas em dados geo-referenciados. Este trabalho facilitou também o levantamento de dados permitindo que uma equipe de manutenção realize o trabalho em menor tempo gerando economia de tempo e dinheiro. Facilitou também o acesso às informações dos atendentes dos consumidores proporcionando um atendimento mais preciso e mais ágil. Os dados atributados também permitiu que a operação de água realizasse manobras definindo as áreas de incidência.
Organizar, tratar e disponibilizar é resultado de um trabalho desenvolvido e bem implantado em conjunto com a tecnologia à serviço da sociedade.

Glossário: (fonte ABNT)

Atributo - Tipo de dado não gráfico que descreve as entidades representadas por elementos gráficos. Termo usado para referenciar todos os tipos de dados não gráficos e, normalmente alfanuméricos, ligados a um mapa.

Geoprocessamento - Conjunto de tecnologias de coleta, tratamento, desenvolvimento e uso de informações georreferenciadas.

Dados analógicos - Dados armazenados em um meio não magnético. Ex.: em papel

Raster, Imagem Raster - Imagem raster. Informações não simbolizadas por equações matemáticas e sim por células ou pixels.

Vetor - Segmento de linha reta, com o tamanho normalmente representado pelos pares de coordenadas dos pontos extremos. Dados vetoriais referem-se a dados em forma tabular com uma dimensão.

Hardware - Conjunto formado pelos equipamentos de processamento de dados e seus componentes como monitor, mouse, mesa digitalizadora, CPU, disco rígido, impressora, plotter, scanner, etc.

Software - Conjunto de componentes lógicos que possibilitam o funcionamento dos componentes físicos do computador. Pode ser: Software básico: composto de programas de controle das funções básicas do computador. Software de aplicação: programas de solução dos problemas específicos dos usuários.

Cartografia - 1 - Ramo da ciência que trata da elaboração de mapas, proporciona subsídios para a análise e interpretação de mapas, tabelas e outros recursos gráficos.
2 - Conjunto de operações científicas, artísticas e técnicas produzidas a partir de resultados de observações diretas ou de exposições de documentos.


Anexos

Exemplos do trabalho concluído


Base Cartográfica e Redes de Abastecimento e Esgotamento (conforme ABNT)
Imagem da Base Cartográfica e da estrutura de Abastecimento e Esgotamento com informações atributadas em cada objeto correspondente.






Mapa temático dinâmico da Base Cartográfica (conforme ABNT)
Esta é uma imagem de um mapa temático dinâmico dos lotes que pode ser delimitado por uma região (objetos acumulados) ou pode ser por informações identificadas pela cor abrangendo a área total. (conforme ABNT)

ORGANOGRAMA

REFERÊNCIAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

Gasnier, D. Guia Prático para gerenciamento de Projetos. 1ª ed. São Paulo: IMAM 2000.

Goldratt, E. M. Corrente Crítica. 3. Ed.  São Paulo: Nobel, 2005

Kerzner, H. Project Management : A Systems Approach to Planning, Scheduling, and Controlling.7ª edição, Nova York: John Wiley & Sons, 2001.Martinez, João Cordeiro. A importância do Gerenciamento de Projeto. 2012. Disponível em: http://www.cimentoitambe.com.br/a-importancia-do-gerenciamento-de-projetos/
Moura, D. G.; Barbosa, E. F. Trabalhando com Projetos.: Planejamento e Gestão de Projetos Educacionais, Petrópolis – RJ: Editora Vozes, 2006.

Philips, J. Project Management Profissional, guia de estudo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

Trata Brasil: www.tratabrasil.org.br

Pize, Adilson. O Papel do Gerenciamento de Projetos no Sucesso do Planejamento Estratégico da Organização. 2012. http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/o-papel-do-gerenciamento-de-projetos-no-sucesso-do-planejamento-estrategico-da-organizacao/45613/

Rabechini, R. Carvalho, Laurindo, F. Fatores críticos para implementação por gerenciamento de projetos. O caso de uma organização de pesquisa. Revista produção, v. 12 n. 2, 2002.Sommerville, Ian. Engenharia de Software. 8ª edição. São Paulo: Pearson, 2007.

Robbins, Stephen P; Timothy A. Judge, Filipe Sobral. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.

Salles, C.; Soler, A.; Gerenciamento de riscos em projetos. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

Valeriano, D. Moderno Gerenciamento de Projetos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.

Xavier, Jorge da Silva, Coordenador do Laboratório de Geoprocessamento (LAGEOP) da UFRJ. www.ufrj.br

Gomes, Marcos Aurélio de Araújo - geógrafo e professor da UNIFAI e diretor da APROGEO-SP (Associação Profissional dos Geógrafos do Estado de São Paulo).