segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

SER LIVRE, DE DEUS

Venancio junior

        Ser livre, de Deus. Ser, livre de Deus. Há uma antagônica diferença na qual abordaremos as duas condições de liberdade. A liberdade é uma sensação ou uma condição? Sendo uma sensação, a liberdade é um processo esotérico, ou seja, de dentro para fora. O encontro consigo mesmo é uma das maiores sensações de liberdade. No processo inverso de introspecção, de fora para dentro, não tem como, pois, se trata de uma condição de aprisionado pelos fatores externos. Como explicar em palavras esta sensação e condição? Uma das questões mais emblemáticas em que não se encontra resposta plausível é a do conceito criacionista sobre a liberdade. O gênero humano “tornou-se livre” após decidir fazer algo de espontânea vontade? Porque, após isto, todos se tornaram culpados e escravizados pelo pecado mesmo antes de nascer? Esta culpabilidade causa revolta nas pessoas, pois, se consideram que nada tem a ver com o erro dos outros. No caso, os outros, seriam Adão e Eva. Antes da queda, havia liberdade determinada por Deus no sentido de fazer o que lhe foi confiado. Como tinha domínio sobre toda a criação, então, deveria cuidar da natureza e dos animais. Tudo o que fosse gerado nesta dimensão, teria a mesma essência de liberdade. Se os filhos de Adão e Eva nascessem nesta dimensão, provavelmente os seus descendentes diretos, estariam livres desta culpa do erro dos seus pais. Infelizmente, os seus filhos da qual descende toda a raça humana, nasceram na dimensão após a queda e todos já nascem com o “DNA do pecado”. O gênero humano, desde então, tornou-se escravo do pecado buscando de forma obstinada se ver livre da culpa e controlar o destino da sua vida. O que é a liberdade que tanto se busca e quando e como se sente verdadeiramente livre? Essencialmente ninguém é livre no sentido de desvinculo ou desligado. Todo conceito de liberdade que conhecemos é paliativo. Ser solto e ser livre não é a mesma coisa. A vida é um pequeno trajeto de tempo no infinito em que saímos de um lugar (nossa origem onde estamos presos) e prosseguimos até outro (nosso final que não tem como fugir). Condicionados a este espaço de tempo onde planejamos e agimos para que o futuro seja uma realidade presente. Após um tempo, quando já temos consciência do que seja viver, relembramos o passado e sabemos de onde viemos. Muitos, denominados saudosistas, permanecem presos a este passado na ânsia de que o tempo pare. Os mais arrojados e progressistas, ignoram o passado e rumam ao futuro que se torna também uma prisão porque, obcecados, tudo o que conquistarem, ainda não terá sido o ideal. Enquanto uns tentam retornar ao passado, outros fogem. Com o futuro é a mesma coisa, muitos querem que o futuro chegue logo, enquanto outros, temendo o envelhecimento, tentam, a qualquer custo, retardá-lo. Esta obsessão, independentemente se é otimista ou pessimista, faz as pessoas buscar freneticamente a famigerada liberdade. Liberdade para fazer o que quiser. Liberdade para ir onde quiser. Liberdade para comprar o que quiser. Liberdade para falar o que quiser. Liberdade para ver o que quiser. É a liberdade sem critério, sem parâmetro, sem vergonha e inconsequente. As pessoas querem a liberdade sem barreiras, sem regras, sem cobranças e sem limites. Mesmo com toda esta suposta liberdade, ora, “conquistada”, porque a maioria ainda não se sente livre? No meio jurídico é possível conseguir uma determinada liberdade que foi perdida devido a um ato criminoso. Esta reconquista pode ser com boas ações, delação premiada e outras “brechas” que a lei permita. Ainda não é exatamente esta liberdade que se busca mesmo que, a princípio, se tenha esta sensação. Pode ser também que seja aquela liberdade em que um astronauta fora da atmosfera e sem gravidade fique totalmente solto. Infelizmente, isto também não significa liberdade. Esta busca é incessante e extenuante. Para não ser surpreendido pela ilusão de uma falsa liberdade, é preciso reconhecer que se está ligado a um campo de “disciplina natural”. A partir desta disciplina, a liberdade muda de aspecto. Podemos partir do princípio de que, essencialmente, uma consciência livre, é de fato, o conceito primordial de liberdade. Muitos, daqueles, que estão fisicamente presos cumprindo suas penas, podem ser mais livres do que muitos que estão fora da cadeia aprisionados pelos seus traumas, seus vícios, seus próprios conceitos, portanto, escravizados pelas suas emoções. Tem aqueles que estão “presos” a uma cadeira de rodas ou a uma cama devido a um impedimento físico, porém, mesmo limitados fisicamente, são livres do peso da amargura ou da depressão porque conseguem prosseguir na contramão da absorção emocional das dificuldades impostas pela vida. Independentemente da condição, todos têm uma referência ou uma origem, então não somos, de fato, soltos ao vento, para fazer o que bem entende. Estamos presos a atmosfera como frutos de uma concepção conjugal. Nem fisicamente e nem intelectualmente podemos nos sentir totalmente livres. Estamos conectados para o bem comum. Fomos concebidos com uma origem, desta forma, somos seres sociáveis, ou seja, interligados e individualmente parte de um todo (também não absoluto) que é o conceito humano. Tanto os céticos como os religiosos pregam e difundem a sua liberdade através de suas filosofias e crenças respectivamente. Os céticos são descrentes e racionais. Os religiosos de qualquer linha são crentes e tem o sobrenatural como princípio regulador de suas crenças. De qualquer forma, a ideologia ceticista e a tradição das religiões não foram convincentes no conceito de liberdade. Podemos afirmar que a liberdade aglutina, constrói e aproxima, enquanto que a falta dela divide, destrói e afasta-se da essência da liberdade. Progredir é desfrutar de liberdade, enquanto que a prisão em qualquer aspecto, regride. Dentro do contexto social, liberdade é se relacionar doando a si mesmo. Enquanto que no contexto de isolamento, liberdade é exatamente não se envolver com as pessoas. Podemos, então, afirmar que a liberdade é relativa. Dentro deste último conceito de que se pode fazer o que quiser devido não ter compromisso firmado com alguém, liberdade seria algo egoísta, pois, busca o seu próprio interesse. Fazer o que se queira pode ser uma armadilha letal da própria liberdade tornando-se escravo de si mesmo. No primeiro caso, da sociabilidade, a prática do altruísmo é regra que define a conduta, por princípio, é sociável e dedicado ao outro visando o bem-estar de todos. Todos foram essencialmente concebidos altruístas. Até o momento, liberdade denota livrar-se de si mesmo, dedicar-se ao outro e, de certa forma, negar-se a si mesmo. Este é um dos princípios do evangelho de Cristo que aponta o caminho da verdadeira liberdade (Marcos 8:34). Liberdade para fazer o que precisa é praticar o bem. Isto acontece no processo de dedicação ao outro. Agora, fazer o que se queira, é submeter-se à prática do mal. Fazer o bem liberta, enquanto que, fazer o mal, escraviza. Isto é consequência de uma “desconfiguração” da natureza original quando somente se quer praticar o mal que veio habitar em nós. Tornamo-nos escravos deste mal a ponto de não se fazer o bem que se queira, mas, o mal que não se quer. Em qual destas condições se sente, de fato, livre? Será que a culpa da prática do mal escraviza e o prazer da realização daquilo que se precisa proporciona liberdade? Coloco em campo a lei da ética, da moral, da racionalidade e da espiritualidade. No caso, a espiritualidade está intrinsicamente ligada a dimensão mística que, nada mais é que a forma de “religar” o ser humano a um ser superior. Vamos nos ater exclusivamente na linha do propósito desta reflexão que é aquilo que o evangelho de Cristo que nos foi revelado em relação ao conceito de liberdade e não de acordo com a religião de cada um que diz que todas elas levam à um deus. Um texto que sintetiza o conceito de liberdade abordada nesta reflexão encontra-se em João 8:32, o próprio Jesus afirma que devemos buscar e, consequentemente, encontraremos nele a verdadeira liberdade, “...conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Conforme este evangelho que é a manifestação de Deus revelada aos homens, existe um caminho e não uma religião. A religião nunca foi apresentada como um caminho e, muito menos, como o caminho. O evangelho coloca a religião submissa a atitude em servir aos que necessitam. Em hipótese alguma, este serviço deva ser prestado, na condição de servo, a alguém superior hierarquicamente falando. Não é uma condição de título, mas, de atitude. Sem atitude, não há religião. Se tirar as tradições e costumes da religião dos homens, nada sobra. É a típica religião “casca de cigarra”, está oca e se decompõem com o tempo. A atitude é para quem é livre desta religião e está no caminho. Foi-nos revelado o caminho, que é Jesus. Ele próprio se revelou como o caminho para ser livre da religião também. Enquanto que a religião dos homens, com várias facetas, escraviza com rituais e sacrifícios, cujos líderes sempre procuram e até exigem, de forma persuasiva, serem servidos. O desempenho de Jesus na terra como homem foi inteiramente de humilde submissão a uma causa que não era justa da perspectiva de Deus. Tornamo-nos escravos, é justo que soframos as consequências do pecado. Para aliviar esta carga, Jesus, na sua peregrinação, foi ao encontro dos necessitados e agiu sobrenaturalmente aliviando a carga de uma doença, de possessões malignas e até da morte. Além de tudo isto, Jesus sempre despertava a consciência de que, cada ser humano, deva ser livre de si mesmo. O “eu” escraviza de tal forma que deforma a essência do sopro de vida de Deus em nós. A verdadeira liberdade é desvencilhar-se da carga emocional/espiritual nociva que a vida terrena impõe e converge todas as ações para servir a si mesmo alimentando as vaidades. Ao contrário do que muitas filosofias afirmam em relação a se valorizar, a ação de Deus em resgatar é exatamente para se tornar livre de verdade em Cristo. Mas livres do quê? Em João 8:34, Jesus afirmou “Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. O que significa verdadeiramente sereis livres? Não importa que o viciado em drogas seja liberto das drogas ou que o ladrão deixe suas práticas de furto, para Deus isto é indiferente, todos, mesmo que sejam bons aos seus próprios olhos, continuarão a ser escravo, mesmo deixando suas práticas imorais. O que ate mesmo os religiosos precisam é de salvação em Deus justificado em Jesus Cristo para serem livres da condenação do pecado. Esta é a verdadeira liberdade que Jesus falou. Deus não enviou Jesus para que o viciado fosse somente liberto das drogas que é isto que a sociedade quer. Reconheço que isto é muito bom, pois evitara muitos males, mas o que o viciado, assim como, qualquer outra pessoa com ou sem vício, precisa é de liberdade espiritual. As pessoas buscam a todo instante e estão dispostas a pagar por isto com grandes somas de dinheiro e sacrifícios diversos para alcançar esta liberdade. Estas tentativas frustradas, na verdade, são consequências de se estar fora da presença de Deus. Para que sejamos, de fato, livres precisamos ir além da ética e da moral que é a questão espiritual e tem tudo a ver com a integridade que a Bíblia fala. O diálogo entre o Senhor e satanás quando se referia a Jó é um exemplo da pessoa íntegra: “Disse o Senhor a Satanás: Notaste porventura o meu servo Jó, que ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal?” Jó2;3. O próprio Deus afirmou que não existiu e não existe ninguém semelhante à sua integridade e que se desvia do mal. Jó foi alguém livre e pertencente a Deus. Os livres de Deus a que me refiro são aqueles resgatados e usufruem da verdadeira liberdade proporcionada pela pessoa de Jesus Cristo que é Deus encarnado. O próprio Deus veio tirar “tudo a limpo” e nos deixar livres novamente para Ele. A grande promessa que Deus fez é da vida eterna. É claro que é importante que as pessoas sejam libertas dos seus males humanos, mais importante que isto é ser liberto definitivamente da condição de escravos do pecado. Jesus afirmou que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. Entendo isto, não como uma ação isolada, diria, dos nossos “pecadinhos” porque continuamos sendo pecadores, porém resgatados e libertos pela abundante graça de Jesus, mas se referiu àqueles que ainda não aceitaram a misericórdia de Deus porque a raça humana foi expulsa da Sua presença pela Sua justiça e fomos resgatados pela Sua misericórdia e graça. Os livres escolhidos e pertencentes a Deus são os predestinados pela Sua graça salvadora. Esta predestinação não é personalizada, em Efésios 1:11 o apóstolo Paulo não cita nomes,“...fomos feitos herança, havendo sido predestinados...” e em Marcos 16:6 creio que seja o complemento onde diz que “...quem crer será salvo e quem não crer será condenado”. Crer é uma questão de livre escolha. Salvação se escolhe, enquanto que a condenação já foi impingida a todos sem exceção. Ninguém vai para o inferno porque quer e ninguém vai para o céu porque não quer ir para o inferno. Nós temos a liberdade designada por Deus em escolher amar a Deus ou amar ao mundo e suas paixões. “Todo aquele que crer...” isto significa aceitar a sua graciosidade e confiar a sua vida à Ele “...será salvo”, esta é a consequência da liberdade quando escolhemos à Deus. E“...quem não crer já está condenado” é a consequência da rejeição à graça salvadora de Deus. Os livres de Deus foram predestinados pela sua promessa. Antes da graça de Deus não tínhamos escolha porque fomos condenados ao inferno. Todos que aceitam a sua graça são, de fato, livres da condenação eterna. Qualquer outro conceito de liberdade é digno de questionamento. A liberdade no conceito humano é relativa e a liberdade oferecida por Deus é absoluta. Deus é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas.

Campinas, dezembro de 2018

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