Venancio Junior
Se alguém está cansado das verdades das religiões
que existem por aí, saiba que, talvez, não seja exatamente a religião que
esteja te cansando, mas, quase certeza, que seja a denominação. Primeiramente
vamos discorrer à luz da bíblia sobre o conceito de religião e denominação. O
que é religião? A religião não é uma instituição. Em Tiago 1:27 lemos que é
atitude de amparo, cuidado e desapego do mundo. Observe o texto: “A religião
pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas
nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo”.
Dentro deste conceito, religião não tem parede, não tem dogma além do próprio
evangelho e não tem costumes. Religião é religar o que foi desprendido através
de atitudes que revelem submissão. O que seria a denominação? No livro de
Marcos 7:8, o próprio Jesus, durante o seu ministério na terra, advertindo os
mestres da lei e os fariseus, mostrou o que é a denominação, dizendo: “...E
assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens”.
Creio que não há necessidade em utilizar mais palavras que explicite melhor
esta afirmação. Como estamos envoltos num mundo em que há milhares de linhas
denominacionais ou grupos organizados e, cada qual com os seus dogmas, então,
creio que seja cabível uma reflexão sobre o porquê abandonamos a liberdade do
evangelho para sermos escravos da denominação. Reflita sobre o texto de Mateus
15:6 a 9 em que Jesus exorta os fariseus e escribas: “E assim por causa da
vossa tradição invalidastes a palavra de Deus. Hipócritas! Bem profetizou
Isaias a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu
coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas
que são preceitos de homem”. Esta afirmação de Jesus enfatiza que a denominação
é a hipocrisia da religião. Ambas são distintas e antagônicas se contrapondo
uma à outra. Enquanto religião é atitude, denominação é uma organização social,
muitas vezes conveniente, criada pelo homem com a máscara da religião, porém,
mesmo sendo mística independentemente da linha doutrinária, geralmente
atendendo mais aos interesses escusos dos seus progenitores. Valorizar mais a
instituição que as pessoas que a compõem, provavelmente, precisarão lembrar-se
do texto em que diz que a fé não é pelas obras (Efésios 2:9). Quando está
submissa à religião, a denominação tem a função em administrar, regular,
organizar e fomentar a obra que impulsiona a fé, sendo esta, uma grande
responsabilidade. Deus criou a religião como um dos processos para libertar o
homem que, por sua vez, criou a denominação com os seus costumes e tradições
ineficazes, tornando-se seu escravo. Tem aqueles que não acreditam em religião
e, muito menos, na denominação, porém, estão em busca do sentido das coisas e
preferem se acomodar na razão de que tudo surgiu de um grande evento
estratosférico e se mantêm escravos de si mesmos. Este grupo também se esforça
para se encontrar consigo mesmo e descobrir qual é a sua função nesta máquina
universal indescritível. Já o grupo que crê em divindades e sente um incomodo
espiritual, desde o princípio, busca o elo perdido com o criador. Para isto,
faz de tudo e até um pouco mais, criando regras e mais regras segundo os seus
preceitos, como acusa Jesus no texto que já lemos, e são estritamente pessoais
numa tentativa desesperada em desvendar o que é obscuro aos olhos humanos.
Muitas destas regras nada têm a ver com os princípios bíblicos que servem
também para alimentar a vaidade e manter as pessoas sob as rédeas dos seus líderes.
Inclusive entre as denominações que professam o evangelho bíblico, existem
muitas dissensões na interpretação bíblica surgindo, daí, muitos “gurus
doutrinários”. Ao longo do tempo, o mundo espiritual, principalmente
evangélico, tem sido pulverizado por diversas linhas doutrinárias e cada
igreja-instituição, defende apaixonadamente a sua linha teológica seja,
tradicional, pentecostal, reformada, luterana, anglicana, católica, testemunhas
de jeová, espírita, messiânica, judaica, racionalismo cristão que é uma
dissidência do espiritismo e tantas outras interpretações do evangelho. A
bíblia é uma só, porém, de tempos em tempos surgem estes “novos reformadores”.
Ultimamente tem surgido uma classe de “novos profetas” portadores de uma “nova
unção” que, aliando a falta de espaço para os seus egos nas suas antigas
igrejas com a meritocracia da vaidade pessoal, criam suas próprias denominações
com normas e regras “extra evangelho” e implantam a ditadura da denominação.
Interferem na sua vida, na sua casa e na sua família, porém, não é com a
intenção de ajudar e apoiar nas necessidades, mas, sugar o seu tempo e o seu
dinheiro. A bíblia os classifica como “...lobos devoradores”, Mateus
7:15. Quem nunca participou de algum grupo onde constavam as normas de conduta
relativas até a vestimenta e comportamento e que não tenha sido vítima de algum
tipo de extremismo? Até o próprio Jesus foi vítima, sendo julgado, crucificado
e morto pela denominação. A denominação se torna uma monstruosidade e uma
verdadeira aberração quando abandona os princípios da religião descrito em
Tiago 1:27. Ninguém escapa ileso das garras da denominação. Ela cria suas
próprias leis e também o castigo por as infringir e tudo em nome de um deus
criado por eles mesmos. Existem no mundo milhões de pessoas com traumas, julgam
que seja da religião, mas é por causa da denominação. A denominação quando
assume o papel sem os fundamentos da religião, compromete e até aniquila a
espiritualidade das pessoas. Alguns dos líderes da denominação se comportam
como verdadeiros ditadores se perpetuando no cargo que, muitas vezes, foi
conquistado a base de golpe. Falo isto com conhecimento de causa. A vaidade é
tão grande que muitos traem a seus próprios superiores provocando divisões e
constituindo suas próprias denominações. A doutrina da denominação diz que Deus
castiga quem comete erros e precisa pagar algumas penitências para alcançar o
perdão. Para a religião, mesmo em meio ao erro, Deus perdoa pela sua graça. A
religião é atitude! A religião essencial veio para nos aproximar de Deus.
Aproximar-se de Deus não é seguir as regras da denominação. Proximidade com
Deus é algo pessoal, fora do contexto da denominação, mas, sintonizada com a
religião do evangelho puro e simples de Deus. Evangelho genuíno não propõe e,
muito menos, exige sacrifício de tolo, mas, orienta para que o propósito de
redenção seja total a partir da verdade do evangelho. O evangelho de Deus
afirma que há somente uma verdade, portanto, as demais, são versões
contrariando cada denominação cristã, evangélica, budista, muçulmana, hindu, espírita
ou qualquer outra que afirma que cada qual tem a sua verdade. As versões são
construídas ao longo do tempo e, muitas delas, são circunstanciais ou
ocasionais. Estas versões é o caminho mais curto para implantar a ditadura dos
costumes e das tradições. Julgamos as pessoas pela maneira de se comportar no
traje e nos rituais e aceitamos esta maneira de ser como verdade. Devido a isto
que julgamos que a religião perdeu a credibilidade acreditando de que não tenha
somente uma verdade, ignorando totalmente os fundamentos daquilo que mostra o
que é a verdade, de fato, da religião. No livro de João 8, o próprio Jesus
advertiu os judeus dizendo: “Se vós permanecerdes na minha palavra,
verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará”. Ainda, neste mesmo capítulo, no versículo 36, nos mostra qual
é, de fato, a verdade que nos libertará da tradição dos homens: “Se, pois, o
Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. Para aproximar-se de
Deus, somente praticando a genuína religião. Primeira coisa é obedecer ao que
Jesus disse à multidão e aos discípulos: “negue-se a si mesmo, toma a sua
cruz e siga-me”, Marcos 8:34. Isto significa submissão, assumindo todos os
implicadores em servir. No livro de João 14: 21 Jesus, pouco antes de ser preso
e crucificado, deixou estas orientações aos discípulos: “...aquele que tem os
meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama”. Guardar os mandamentos é
ter uma vida disciplinada nos valores da religião como forma de se manter perto
de Deus e não pode ser como “crentes narcisistas” que tem a hipocrisia em
evidência, “...se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se
ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural;”. Tiago 1:23. O
mandamento de Deus discorre primariamente em amá-lo acima de todas as coisas e
depois amar ao próximo como a si mesmo. A ideia desta reaproximação a uma
divindade suprema, é porque houve a ruptura desta sintonia. Todo esforço,
porém, é inútil quando se tenta utilizar os recursos meramente humanos porque a
dimensão onde aconteceu este fato, não é física. Foi preciso uma predisposição
divina. Somente desta forma esta reconexão tornou-se plenamente possível. A
partir do momento desta condescendência de Deus em permitir uma aproximação,
mesmo assim, ainda acontecem várias tentativas frustradas em alcançar o
inalcançável pelo esforço físico. Orações a deuses que não podem salvar (Isaias
45:20), rituais, modo de vestir, comportamento e objetos de idolatria para
potencializar a crença ainda são os recursos dos homens para se aproximar da
divindade celestial. Nem a cruz escapou desta idolatria. Utilizar símbolos
inerentes a religiosidade para demonstrar espiritualidade, muitas vezes, denota
mais idolatria do que devoção. Não há recomendação bíblica sobre qualquer
artefato para este fim. São os “penduricalhos” da denominação. Como uma
denominação se torna uma religião? Quando deixa de olhar para si mesma e volta
os olhos para o próximo. Olhar para a denominação, o autoritarismo e o
radicalismo humanos causam desfiguração da essência da religião. Seria como, a
denominação, para conquistar as pessoas, colocar a máscara da religião e,
depois, uma vez conquistadas, retirar, revelando a cara da hipocrisia. Na
estrutura da denominação, as atitudes vivem em contínuo conflito com a
religião, pois, não têm compromisso com a sua essência. Desta forma, que a
denominação se torna a hipocrisia da religião. Parece religião, mas, não é.
Considerar a influência do místico nocivo na nossa vida de forma ingênua
corre-se o risco do muito esforço com pouco ou nenhum resultado gerando um
mal-estar espiritual profundo e quase irremediável porque o poder de influência
deste mundo místico cauteriza o consciente espiritual. Leia I Timóteo 4:2. A
bíblia considera duas coisas que precisam ser transformadas no ser humano para
um bem-estar espiritual, a mente e o coração. Com a mente têm se a ciência do
evangelho (Romanos 10:7) e com o coração se crê para salvação (Romanos 10:10).
Tem-se a triste mania em subjugar a mente e o coração às próprias convicções,
mesmo sabendo que esta atitude, do ponto de vista espiritual, trará danos
irreparáveis. A denominação socialmente organizada define o sucesso da sua
doutrina pelo crescimento numérico e patrimonial. Quanto mais fiéis, maior será
o poder de influência no meio em que se está inserida e maior, obviamente, a
arrecadação. O poder de influência de muitas denominações atuais é algo
admirável. Influenciam governos em todas as esferas, influenciam empresas,
influenciam entidades diversas sendo que, muitas delas, são criadas pelas
próprias denominações para, exatamente, continuar ditando as regras. Há grupos
organizados dentro das esferas de poder na tentativa de mudar as leis. Na
verdade, são legalistas e lutam pela denominação. Em Efésios 6:12 lemos que “...a
nossa luta não é contra a carne, mas, contra os principados e potestades do
mal”. A usurpação do evangelho descaracteriza esta guerra espiritual porque
os fins não justificam os meios. Exigem contribuição financeira de forma
irresponsável e “antibíblica” em troca de integridade espiritual. Exigem também
assiduidade nas programações da igreja como forma de fazer crer que a pessoa se
sinta parte do corpo daquela instituição, num completo ativismo, nada mais que
isto. Uma vez a pessoa convencida disto, impõem vestimenta, rituais, pensamento
positivo, uma verdadeira persuasão idólatra da instituição e dos líderes. Não
eximo nenhuma denominação de qualquer linha doutrinária, sociedades secretas e
grupos, incluindo as denominações evangélicas e cristãs principalmente, desta
culpa em criar as suas próprias regras. Não faz sentido uma denominação impor o
seu costume fora do contexto bíblico. Em muitos grupos recém-organizados, mesmo
ditos evangélicos, a bíblia é apenas um desencargo de consciência. Pessoas são
tratadas como produtos de consumo e manipulação. Uma completa inversão de
valores. Quem mais sofre com isto são as pessoas que, de fato, são
necessitadas, porém, desassistidas por serem marginalizadas. Não sou contra ser
organizado para fins lícitos, é assim que se funciona bem, quando se está
organizado e esta influência pode ser positiva com ações que atendam às
necessidades das pessoas nas suas aflições. Um equívoco muito grande que se
comete é considerar líderes mal ou bem-intencionados como “semideuses”. São
pessoas como outra qualquer, cheia de falhas e fraquezas. Muitos destes
líderes, consideram que o seu chamado é confirmado por Deus pelas suas
conquistas pessoais e creem que sejam ”enviados de Deus”. Cada um,
independentemente da função, tem um papel importante na vida que, mesmo sendo
um trabalho que se destaque aos demais, precisa sempre se submeter a um
processo de reavaliação e autocrítica. Os líderes denominacionais não estão
isentos disto só porque se julgam mais importantes que os outros.
Particularmente creio que há uma necessidade urgente em qualquer denominação
mística, cristã/evangélica ou qualquer outra, em “virar a própria mesa”.
Qualquer organização é passível deste processo que deve ser periódico e
contínuo. É uma iniciativa que deverá partir, principalmente, destes líderes.
Devemos reconhecer aqueles líderes que são sinceros nas suas aspirações e se
submeteram a uma missão nobre, renunciando aos seus próprios projetos pessoais
e que também precisam ser assistidos nas suas necessidades. O primeiro passo (e
isto é muito difícil) para esta “virada de mesa” é deixar de priorizar a
instituição e se dedicar às pessoas. O que é a denominação sem as pessoas?
Absolutamente nada! O que são as pessoas sem a denominação? São livres para
praticar a genuína religião servindo ao próximo e não à denominação. Isto é uma
afronta ao poder de influência dos gestores da denominação. Bens móveis,
imóveis e dinheiro são os patrimônios valorizados pela denominação. Quando se
coloca tudo isto dentro do conceito de servir e não de idolatrar, por mais que
tenha bens, tudo será insignificante diante da genuína religião, sendo o seu
maior patrimônio, as pessoas. Este maior patrimônio da denominação que pratica
a religião, está nas ruas passando fome, se perdendo nas drogas, na embriaguez,
cometendo crimes, na dissolução dos relacionamentos, enfim, mesmo alguém não se
identificando com algumas destas práticas reprováveis, o mais grave é o
distanciamento de Deus e cada um sofre as consequências disto. No livro de
Tiago 4:9 lemos: “...aproxime-se de Deus e ele acolherá a vós”. Ainda no
livro de João 6:37 o próprio Jesus assume este compromisso: “Todo aquele que
o Pai me der, esse virá a mim; e o que vem a mim, de maneira alguma o
excluirei”. Como vemos, a verdade está descrita nos evangelhos e não
pertence à denominação, mas, foi revelada por Deus a todos os homens. Se nos
atermos somente ao evangelho, não precisaremos considerar as balelas dos falsos
profetas que utilizam a própria bíblia para justificar os seus atos. Os falsos
profetas estão por aí empenhados em difundir a denominação, mas, no livro de I
João 4:1 há um antídoto contra estes usurpadores da palavra de Deus, “Amados,
não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo”.
Campinas, fevereiro de 2019
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