Venancio Junior
Em plena era digital que já é algo “velho” quando
não podemos dizer que seja novo, pois, muitos sequer conheceram o mundo fora da
era digital, uma palavra que nos é bem familiar é a formatação. Em casos
extremos em que o computador foi invadido por vírus e o desempenho devido ao
uso constante, está comprometido, a formatação é a melhor e, talvez, em certos
casos, a única solução para resolver o problema definitivamente. Mesmo sendo
uma palavra relativamente nova que deriva de formar, o processo é novo, porém,
a intenção não é algo novo. Formar, de certo modo é a partir do nada. Formatar
é um pouco diferente que é trazer à forma original destruindo outra. A ação em
formatar tem o propósito em dar uma nova forma, mesmo que nada mude do
original, eliminando todos os elementos indesejáveis e nocivos ao sistema. Toda
esta metáfora foi para trazer à tona uma realidade gritante nas igrejas e que
precisa urgentemente ser debatido e questionado à luz da palavra de Deus.
Sempre ouvimos falar que o povo de Deus (a igreja) é feliz e satisfeito. Isto
se reflete (muitos acham e defendem que sim) nas igrejas, nos relacionamentos e
na disposição em servir a Deus. Será que, de fato, isto acontece ou temos medo
de questionar a própria espiritualidade a partir da nossa motivação? As igrejas
são inclusivas e atraentes na coerência do que defendem e no que fazem? Cada
pessoa pode desenvolver a sua pessoalidade dentro do sistema das igrejas? Sua
criatividade e diversidade tem algum valor dentro da comunidade cristã que
frequenta? Há algum incentivo para que Deus seja glorificado com aquilo que
tens de melhor? São vários os questionamentos e as respostas, muitas vezes, não
há uma sequer. Particularmente, acho que temos um só questionamento se
invertermos os papéis, quando surge a indagação do que aconteceu com as
igrejas, considerando que Deus é soberano e criador de tudo? Toda a natureza é
bela e funcional, fruto de uma criatividade absoluta, pois, surgiu do nada
físico que ainda não existia e que provocasse alguma inspiração. Considerando
que somos um povo escolhido (I Pedro 2:10) e criados a sua imagem e semelhança,
temos por natureza, criatividade e diversidade na sua execução através dos dons
e talentos dados por Deus. Sou assumidamente, mesmo não sendo ainda avançado em
idade, uma “raposa velha” de igreja. Conheço todas elas, de todos os tamanhos e
de todos os tipos. Opa! De todos os tipos, não! Percebi que as igrejas
assumiram uma cara sem coragem, tipo igreja formatada. Todas pregam a mesma
coisa, porém, na unicidade do evangelho ainda falta alguns elementos. Em I
Corintios 12:4,5 o apóstolo Paulo já dizia: “Existem diferentes tipos de
dons, mas o Espírito é o mesmo. Existem várias formas de ministérios, mas o
Senhor é o mesmo. E há diversas maneiras de atuação, mas é o mesmo Deus quem
efetua tudo em todos”. E no final do verso 11 define que o evangelho é o
mesmo, porém, os dons são diversos e desenvolvidos de várias formas, “unidade
na diversidade”. Este texto exemplifica que não podemos sufocar a criatividade
concedida por Deus com a nossa pequenez. O evangelho, a partir de Cristo, nos
permite a criatividade e a diversidade cultural. Este evangelho criativo e
diverso, sem desprezar o princípio que permeia a redenção, não tem sido visto
nas igrejas. Imagine uma igreja composta por 2000 pessoas onde todos pensam a
mesma coisa e gostam das mesmas coisas? Difícil de acreditar que isto seja
possível sem um regime que condicione as pessoas a pensarem igual. O evangelho
é o mesmo, isto está fora de questão, mas, o formato da igreja não deve ser
único de acordo com a liderança porque fica parecendo uma sociedade de
autômatos onde são programados para desempenharem utilizando um único formato.
O sistema atual da maioria delas transparece que a igreja pertence a uma classe
de nobres enquanto os demais são plebeus para satisfazer a nobreza. Neste caso,
onde fica a criatividade de Deus no talento das pessoas? Onde vivenciar as
diversas formas de expressões pertencentes a Deus dedicadas as pessoas? Na
conjuntura atual fica difícil servir sem o cabresto personalista. Talvez este
seja o motivo principal de que a maior igreja e a que mais cresce seja a dos
“desigrejados”. Segundo pesquisa, são mais de 20 milhões nos Estados Unidos e
10 milhões no Brasil que não deixaram de acreditar no evangelho, mas, na forma
como é apresentado. Até quando a vaidade dos líderes e de grupos influentes da
igreja será mais importante que a liberdade que temos em Cristo em sermos um só
corpo criado por Ele? Afinal, o que é a igreja, senão, o povo escolhido por
Deus e não pelos homens?
Campinas, outono de 2019
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