Venancio Junior
Não muito tempo, as mudanças aconteciam “rapidamente” a cada 5
anos ou menos. De uns tempos para cá, esta mudança se intensificou e a cada ano
muita coisa tem mudado de forma impressionante. A grande capacidade de
armazenamento de 10 anos é simplesmente ridícula comparada aos dias atuais. O
acesso às informações é o que mais surpreende. Qualquer acontecimento é
registrado e já é possível acessá-lo de qualquer parte do planeta e fora dele
em tempo real. Charles Chaplin no início do século passado tinha grande
dificuldade em sincronizar o vídeo com o áudio dos seus curtas metragens,
aliás, apenas alguns segundos de imagens quando qualquer aparelho de celular
nos dias atuais, por mais simples que seja, faz isto sem qualquer dificuldade.
Mas o que há por trás de todos estes grandes avanços? Ferramentas
tecnológicas. Sempre tem alguém trazendo novas ideias para nos facilitar a
vida. Insisto que tecnologia não é a ferramenta em si, mas a ideia propriamente
dita. Quando se aplica uma tecnologia, na verdade está colocando em prática uma
ideia com as ferramentas apropriadas. O último modelo do mais sofisticado
aparelho de celular, o Iphone, custa alguns milhares de reais com centenas de
recursos, muitos deles jamais serão utilizados. Com todos estes recursos, quem
possuir qualquer um dos modelos similares jamais se sentirá solitário. A
utilização de celular hoje se tornou uma febre e, tenho certeza, que algumas
pessoas adoeceriam se, de repente, ficassem sem o seu estimado aparelho. Isto
não é mais uma tendência, mas uma realidade fria e irreversível.
Computadores, tablets, celulares e outras mídias proporcionam uma comunicação virtual instantânea pelas redes sociais. Dizem que as redes sociais aproximam quem está longe e distancia quem está perto. É exatamente isto o que tem acontecido. As relações são intensas, porém, a maioria é fria e sem aproximação de sentimento. Tanta tecnologia e não conseguimos resolver as nossas diferenças. Não conseguimos criar vínculos que nos retornarão mais humanos. Tanta tecnologia e não conseguimos resolver os nossos problemas emocionais. Temos medo de envelhecer, de empobrecer e somos incapazes de recomeçar uma relação fragilizada e desgastada pelo tempo. A tecnologia tem a sua parcela de culpa nesta nossa incapacidade porque ela nos atenta para a importância de se ter e não de ser. O grau e intensidade de felicidade de séculos e milênios atrás ainda são os mesmos, não mudou e independe de tecnologia que desvia a nossa atenção para o que é fútil e evasivo. Muitos dos nossos sonhos onde investimos prazer e emoção acabarão na lixeira e precisaremos preencher com algo novo, ou seja, é um círculo vicioso e somos sutilmente envolvidos pela sedução da tecnologia. O melhor remédio é fazer uma análise introspectiva e reconsiderar os valores porque, nesta situação, o nosso maior inimigo pode ser nós mesmos. Quando nos tornamos o nosso próprio inimigo é porque a situação fugiu totalmente do controle. Afinal, quem nos controla? Nossa vida é escrachada nas redes sociais sem qualquer controle de nossa parte. Infelizmente este caminho não tem volta. Tudo já está dominado e vivemos à mercê das grandes corporações de vendas e das notícias que manipulam a nossa vontade e aquilo que queremos. Na verdade, a nossa vontade é irrelevante e o que queremos não importa, pois, perdemos totalmente a nossa capacidade de mudar esta situação. Tudo é construído para nos desconstruir. Vivemos emocionalmente em frangalhos e quando tentamos fugir desta situação e combater o envolvimento com todo este sistema, somos compelidos e convencidos a acreditar que o que nos oferecem seja necessário e nos ajudará a recompor-nos como pessoa. Mais uma ilusão. Vivemos uma grande mentira. Como consequência disto, parece que o nosso "eu" se tornou uma fraude porque a maioria evita expor o que seja de fato e se perde entre curtições e comentários. Quem quiser se encontrar, procure-se no quarto escuro da solidão ou na frustração dos relacionamentos. Quem sabe poderá se encontrar no fosso da mágoa ou, até mesmo, na mediocridade das redes sociais. De qualquer forma, encontrar-se a si mesmo não é tarefa fácil, pois, há um longo caminho para retornar às origens. Quem quiser se encontrar, primeiro tem de saber de onde veio e reconhecer o caminho para onde estava indo até se perder. É uma decisão difícil que exige renunciar a alguns valores conquistados à base de uma falsa imagem. O espelho da notoriedade deverá refletir honestidade e tudo fará sentido novamente porque o caminho traçado será pavimentado com o palpável e real. Esta nova configuração do mundo real não precisa de muita ou quase nenhuma tecnologia. Priorize os valores que não dependam de tecnologia. As conquistas através da tecnologia nos levam até a próxima esquina, pois, é desta forma que funciona devido ao seu avanço rápido, enquanto a pessoa amiga pode caminhar por um longo trecho e por muito tempo sem a cobrança e, muito menos, da necessidade do avanço tecnológico mesmo que fique sem bateria.
Artigo muito interessante.
ResponderExcluirDe fato, temos que acompanhar as constantes mudanças decorrentes dos avanços tecnológicos.
Todavia, o cristianismo não pode mudar, não pode ficar à procura de adaptações, não pode ser resiliente.