sábado, 26 de abril de 2025

PAPA NA LÍNGUA

Venancio Junior

O Papa Francisco se foi e deixou um legado religioso e político que tem feito diferença na vida das pessoas, principalmente católicas.

O papa nem sempre foi denominado como papa. Outra questão importante. Porque a sede da igreja cristã é em Roma e não em Jerusalém onde Jesus foi crucificado e sepultado? Como sabemos pelos relatos bíblicos, Roma era avesso ao cristianismo, inclusive, milhares de cristãos foram perseguidos e sacrificados em Roma. O papa é o herdeiro do legado de Pedro que morreu e foi sepultado em Roma. Conforme a tradição, o túmulo dele está sob a basílica de São Pedro no vaticano.

O título exclusivo de papa concedido ao chefe da igreja católica apostólica romana foi adotado no século III. Antes, todos os clérigos eram papas ou simplesmente bispos conforme os textos bíblicos. Papa vem do grego “pappas” ou latim “papa” que significa "papai".

Uma declaração do papa Francisco que me chamou a atenção foi: “O oposto da fé não é a incredulidade. O oposto da fé é a idolatria”. Engana-se quem julga que o papa estava se referindo aos inúmeros ídolos expostos nas igrejas católicas. Os apóstolos e as diversas pessoas comuns que se tornaram santos canonizados com as bençãos dos papas e o próprio Jesus fazem parte deste grupo de imagens de barro, de ferro, de gesso, de madeira, de ouro, de prata e de diversos materiais conforme as criatividades dos artesões. Independentemente das habilidades e sensibilidades dos artistas, todas as imagens foram destinadas para fins religiosos. Nem mesmo a cruz se livrou da idolatria, provavelmente a que tenha mais imagens espalhadas pelas igrejas ao redor do mundo. Não somente a igreja católica, mas, as imagens se tornaram um amuleto de devoção e intercessão inerente ao deus de cada segmento religioso. A idolatria ao que o papa se refere é amor e confiança aos bens materiais. Muitos se afastaram da igreja porque se julgam auto-suficientes e não precisam de um deus qualquer para seguir e depositar a sua confiança.

O que a bíblia fala sobre os ídolos? Será que são os mesmos ídolos que o papa se referiu ou vai muito além abrangendo toda e qualquer forma de idolatria? O primeiro relato de idolatria na história bíblica foi o famoso bezerro de ouro construído pelo povo hebreu após serem libertos da escravidão no Egito. Moisés era o líder e tinha subido ao Monte Sinai para receber as orientações de Deus para aquela jornada em busca da terra prometida. O povo estava impaciente com a demora e pediu a Arão, irmão de Moisés para que permitisse fazer um deus, pois, precisavam de uma “adoração palpável”. Fizeram um bezerro de ouro. Porque um bezerro? No Egito era comum adorar o touro Ápis e a vaca Hator que representavam força e fertilidade. Os hebreus para não se assemelharem aos egípcios optaram pelo bezerro que tinha a mesma consideração de força e fertilidade. Obviamente que Deus não gostou nada disto em ser substituído por um objeto inanimado e que representava a riqueza material. Este comportamento demonstra que a fé que boa parte do povo hebreu praticava era passível de questionamento. Deus nunca havia se materializado e o povo tinha uma enorme dificuldade em crer e confiar em algo ou alguém que não enxergavam. O povo religioso gosta e exige um deus palpável para criar uma relação de textura miometrial em que não há qualquer alteração no princípio da fé. Ela brota e vai crescendo até vir à luz teoricamente saudável. Este termo é utilizado quando o feto está bem protegido no útero e se encontra em perfeitas condições na sua evolução. Moisés desceu alertado pelo próprio Deus e quando viu aquilo ficou furioso e Arão afirmou que o povo tende ao que é mal.

Moisés recebeu de Deus os dez mandamentos que começa assim:

"Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus...". Imagem de escultura é absolutamente tudo o que se faz para adoração e para prestar culto. Não importa se é a imagem de uma pessoa ou de um objeto. Neste caso, a cruz também é uma imagem de escultura. O que mais se vê nas igrejas nas celebrações de festas de páscoa é a cruz. O único símbolo permitido por Deus é o pão em que Jesus afirmou na celebração da ceia com os apóstolos “Em memória de mim...”I Coríntios 11:23. Este símbolo não é para criar uma imagem, mas, para se lembrar de que o corpo foi sacrificado e o vinho representa a aliança do sangue derramado para o perdão dos pecados. Tudo o que se faz fora disto é idolatria. Adorar imagem e prestar culto é abominação ao Senhor e tem o mesmo deboche da veneração ao dinheiro e a riqueza. Jesus fez o gesto apenas para se lembrar do que foi feito na cruz.

Este mesmo Jesus foi perseguido e desacreditado pela religião. Os judeus não adoravam e não cultuam imagens, porém, rejeitam Jesus como o Messias. Jesus foi enfático quando criticou os religiosos que valorizavam mais a tradição de qualquer religião do que o evangelho e o poder de Deus. “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens” Marcos 7:8. Jesus nunca deixava para depois e falava o que precisava ser dito. A idolatria que é o culto e adoração a imagens desde o tempo de Moisés se tornou uma tradição religiosa condenada por Jesus dentre outras coisas. Afirmar que os cristãos pertencem ao cristianismo e dizer que acreditar em Deus é ser religioso é limitar o poder de Deus a uma denominação meramente humana. E o que Jesus fez não foi para libertar a humanidade da religião, mas, da condenação do pecado que mantem as pessoas fora da presença de Deus.

Vamos a alguns textos sobre idolatria. Isaias foi cruel no sentido de profundidade crítica em relação a idolatria. "...nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar". Isaias 45:20. No texto de 46:6 a referência é de ídolos de ouro e prata que não se movem. No novo testamento também há diversos textos referentes a idolatria. Em I Coríntios 10:14,15,16 Paulo coloca a idolatria como o oposto do que Jesus demonstrou com o pão representando o seu corpo e o vinho representando o seu sangue. Quem tem comunhão representado pelo pão e o vinho deve fugir da idolatria. “Portanto, meus amados, fugi da idolatria. Falo como a sábios; julgai vós mesmos o que digo. Porventura, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo?”. Da mesma forma que as imagens de deuses e pessoas, não se deve participar do cálice e do pão diante da cruz ou de qualquer outro ídolo. Jesus não estava com uma cruz na ceia. Estava com o pão e depois o vinho “...este é o meu corpo e este é o meu sangue”. Orar diante da cruz ou de qualquer outra imagem é inútil. Obviamente é idolatria, pois, a cruz não representa comunhão. Devemos orar sempre a Deus em nome de Jesus foi o que ele nos ensinou.

Sem “papas na língua” digo que a afirmação do papa não faz qualquer sentido quando diz que o oposto da fé é a idolatria. O oposto da fé é a incredulidade e o oposto da idolatria é a liberdade. A idolatria é uma prisão da fé. Até mesmo o cético crê. Crer ou não crer são opostos antagônicos e precisam de parâmetros para coexistirem. Devemos seguir o que a bíblia diz: “O crente deve ser fiel a Palavra” Romanos 2:16. Em nenhum texto bíblico se encontra alguma fidelidade a ídolos. Pelo contrário, a adoração aos ídolos é condenada na bíblia.

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