Venancio
Junior
Imagine
ter uma incontinência alimentar e que ficasse beliscando um doce ou salgado a
cada minuto? E se ficasse mais de três horas comendo sem parar nem um
pouquinho? Como será que o organismo reagiria? Colesterol, açúcar no sangue em
excesso, obesidade, fígado, rins e coração comprometidos seria uma
tragédia anunciada. O sistema digestivo colapsou. Será que para usufruir dos
sabores e dos nutrientes das vitaminas não seria melhor dosar o consumo ou
ingestão? Dar uma pausa entre as refeições, descansar o corpo para que possa
ter o tempo necessário para fazer a digestão e ter os benefícios de uma vida
equilibrada é uma decisão sensata.
Será
que existe este comportamento desregulado na vida digital onde o alimento são
as milhares de informações absorvidas diariamente? Nem preciso exemplificar
porque já vivemos desta forma desvairada e sem limites. Ficar três horas no
celular não é muita coisa porque chegam milhões de informações a todo instante
que nem se vê o tempo passar. Como o cérebro reage com tanta informação ao
mesmo tempo? Não temos capacidade nem para absorver 0,00000001% das informações
que nos chegam diariamente e a maioria para nada serve e não mudará a vida
significativamente. Não seria melhor acordar com tempo para uma boa
espreguiçada (da mesma forma que o cachorro quando acorda) e olha para o teto
para se reconectar ao ambiente, vai ao banheiro lava o rosto e se dirige a
cozinha para o café matinal? Tudo com leveza e ainda sem mexer no celular. Se você
tem este costume, também não ligue a televisão para ver o noticiário. Este
procedimento diário fará de você a melhor versão de si mesmo. Não fomos feitos
para fazer tudo ao mesmo tempo e não precisamos também disto. A bíblia afirma
que há tempo para tudo (Eclesiastes 3:1). Isto não é automático. É preciso dar
este tempo a si mesmo. O mundo digital quer e também precisa que se consuma
para que mais conteúdo seja produzido. Quanto mais, melhor. Acredite, nem tudo
que está nas redes precisa ser “consumido”. Tudo está ao alcance e disponível,
mas, quem escolhe é você. Fazer nada é o seu tempo precioso exclusivo que o
mundo digital quer roubar. Já roubou o seu tempo e agora quer a sua autonomia para
decidir o que fazer da sua vida. O cérebro precisa muito deste tempo “ocioso”
para não permitir esta intromissão e se reorganizar para poder oferecer o
melhor para si e compartilhar o seu melhor com as pessoas queridas do seu
círculo de relacionamento. Antigamente quando a pessoa queria demonstrar que
sua vida não tinha segredos afirmava que “minha vida é um livro aberto”.
Agora mudou e se diz que “minha vida é um celular sem senha”. Roube a
minha vida, mas, não roube meu celular. Infelizmente muitos perdem a vida por
causa do celular e se esquece que sem a vida, de nada serve o celular. Então, a
vida é mais importante que o celular mesmo que julgue que a vida esteja no
celular. Praticamente tudo o que se pensa em termos de vida digital, o celular
é o mundo que cabe no bolso. Agora, tente absorver todas as atividades ao mesmo
tempo? Quem nunca teve um celular ou um computador travado? Nem o próprio
sistema suporta tanta informação simultânea se não ampliar os limites das
memórias de armazenamento e de processamento o que pode provocar um bug ou
um colapso. Mesmo assim é impossível absorver tudo o que está sendo publicado e
o cérebro não conseguirá absorver toda informação instantaneamente. Isto gera
muita ansiedade. Nada mudará significativamente a vida se não houver uma
propensão em absorvê-los seletivamente. Pode deixar o celular no modo vibrar ou,
preferencialmente no modo silencioso e controle o acesso. Você no controle não
deve ser somente para os gastos, mas, para o consumo de tempo também. Dedicar
tempo com serenidade e com equidade gera qualidade de vida emocional e
psicológica.
Será
que é somente o celular ou laptop que rege a vida digital atualmente? Você pode
dizer que não mexe muito no celular ou no computador, mas, assiste muitos
filmes e programas de entretenimento. Desculpe, mas, dependendo do tempo
dedicado pode-se dizer que isto é sedentarismo. Quanto tempo da vida é dedicado
a visitar uma mata? Observar o horizonte sem prédios, carros e movimento de
pessoas é muito relaxante. Isto deve ser feito com regularidade. Quanto tempo
da vida é dedicado a uma prática esportiva que, muitas vezes não é a preferida,
porém, muito necessária? Uma boa caminhada já faz muita diferença no bem-estar
e na saúde. Quanto tempo é dedicado a boas leituras? Ler um livro é a melhor
forma de colocar um freio na rotina intensa, pois, exige paciência e atenção
para observar o conteúdo reativando a cognição. A prática de leitura é um
processo lento facilitando a absorção das informações e dando tempo para que
tudo do cotidiano se desconecte e você se recomponha. Outros processos que
ajudam na estabilidade interna é ouvir música e deixar que os ritmos e melodias
desobstruam toda os caminhos do prazer, conversar com alguém intimamente ou na
roda de amigos sem pressa e sem assuntos desconfortáveis, se reunir com os
familiares e se interessar pela vida do outro não para fofocar, mas, para saber
se está tudo bem com ele. Estas práticas deverão ser feitas sem obrigatoriedade
e sem cobrança. Se não quiser fazer nada disto, que seja algo consciente e
leve. Não precisa ser ativo a todo tempo. Desligue-se da rotina e saiba que
você é o personagem mais importante para fazer diferença no seu contexto de
vida. Nas redes sociais, a maioria das pessoas querem viver como celebridades provocando inveja e orgulho alheio. Não espere reconhecimento dos outros via redes sociais e não interessa
para ninguém o que esteja fazendo. Em tempos de violação de privacidade, o
melhor é não expor em redes sociais a vida familiar. Mantenha a racionalidade e
a leveza emocional e psicológica o que resultará numa vida fisicamente saudável
sem engasgo.
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