segunda-feira, 22 de abril de 2024

MINISTÉRIO PASTORAL E SUAS IMPLICAÇÕES

Venancio Junior

Que saudade dos tempos em que a figura do pastor era exclusivamente sacerdotal. Sempre procurava saber dos problemas dos fiéis para poder ajudar no que fosse preciso. Literalmente carregava a carga e abastecia a despensa dos pobres, visitava os doentes, visitava também aqueles que estavam presos e se envolvia com a dor do próximo. Ultimamente, muitos pastores se tornaram celebridades, famosos e com evidência nas principais mídias sociais. Quanto maior a visibilidade, maior será a propensão a críticas e difamação (alguns com razão). Muitos deles se tornaram empresários da fé, tantos outros estão envolvidos em escândalos financeiros e sexuais e uma parcela influente destes líderes se empenham em serem militantes políticos radicais.

Como filho de pastor, fico muito tranquilo em relação ao trabalho do meu pai. Conhecendo as suas histórias através de relatos daqueles que presenciaram e das fotos antigas, vi que sua trajetória pastoral foi de muitas dificuldades, passando até fome e, muitas vezes não possuía os recursos para o sustento da família. Morreu sem deixar bens e recebia de aposentadoria um mísero salário-mínimo da previdência porque nunca pensou em si mesmo e ninguém pensou nele também no sentido de ampará-lo quando não pudesse mais exercer a nobre missão do Ide. Ministério significa servir e serviu do começo ao fim da vida sem reclamar e glorificando a Deus. A riqueza do seu trabalho foi servir as centenas de famílias reestruturadas e encaminhadas para também servir a outros com a mesma visão altruísta que sempre lhe acompanhou.

Quando alguém decide seguir a vida ministerial eclesiástica, aqueles que são sérios em suas ambições, não tem um propósito profissional que, muitas vezes nem há esta associação. A mente está focada em servir a Deus ajudando as pessoas nas suas dificuldades. Vida ministerial é o amparo as famílias, não somente na questão do evangelho, mas, também, o fortalecimento na vida social, profissional e psicológica. Independentemente da classe social, todos precisam de apoio de alguém de confiança. As pessoas ainda confiam nos religiosos porque estes se colocam como enviados de Deus. Infelizmente, alguns se aproveitam desta confiança e abusam de forma a favorecer somente os seus interesses. Servir é sempre a dedicação ao outro e jamais as pessoas devem servir ao pastor ou a qualquer outro líder religioso. O sacerdote tem como prerrogativa principal servir a todos sem distinção. Neste processo, diante de tantas dificuldades e sem o apoio necessário, muitos desistem em prosseguir no ministério e tantos outros até cometem suicídio. O índice tem crescido assustadoramente e não tenho visto a disposição das principais lideranças em amparar estas pessoas e suas famílias que sofrem da mesma forma. Os desafios são diários e de grande vultuosidade e não consta na agenda qualquer iniciativa em discutir esta questão com seriedade que o caso merece. Por mais urgente que seja a iniciativa, já chegará com muitos anos de atraso. O problema não é recente. Os pastores também sofrem privações, tem problemas financeiros, emocionais, conjugais e também com os filhos que todos exigem que sejam exemplos.

O que diz a bíblia sobre o exercício sacerdotal? Jesus designou atribuições aos apóstolos que seria primeiramente lançar os fundamentos do evangelho para composição da igreja. Estas atribuições vão muito além da simples pregação do evangelho o que implica assistir as pessoas nas dificuldades que envolvem qualquer família. Relacionamento, emprego, moradia, saúde e até educação secular. Havia esta preocupação. Meu pai fundou algumas igrejas e em anexo fundava uma escola de alfabetização. Nos anos 40 e 50 havia muitos lugares remotos, principalmente rurais em que a educação pública não chegava e muitos filhos chegavam na idade escolar sem aprender a ler e escrever. Os pais já vinham de uma estrutura de trabalho braçal difícil e muitos eram analfabetos. Este espaço de apoio às famílias era ocupado pela igreja cristã. Porém, a maioria dos pastores não tinham esta visão e se preocupavam tão somente com o ensino religioso. As dificuldades eram muitas e atingia todos os membros da família. O que alguns pastores faziam quando não tinha uma solução, amenizavam com promessas de que Deus proverá e a vida futura no céu não haveria estes sofrimentos. É uma maneira de se desvencilhar da responsabilidade social sem se envolver com o sofrimento. Falar do evangelho para quem tem fome é falta de conexão. Da mesma forma que falar do evangelho para quem esteja sofrendo com dores de alguma enfermidade também não terá o retorno esperado. O evangelho é íntegro e abrange todas as questões que envolvem as pessoas. Leia o texto de Mateus 25:35;36 "Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram". Jesus falava no templo sobre a parábola das ovelhas e dos bodes. Enquanto as ovelhas desempenhavam a atribuição pastoral, os bodes não se moveram. Perceba que Jesus abrangeu os aspectos básicos da vida humana. Isto é o evangelho puro e simples. Atualmente a contextualização ainda se faz necessária. Existem muitos membros pobres de igrejas ricas. Frequentam as reuniões ordinárias da igreja utilizando transporte público pagando do próprio bolso. Muitas famílias não têm os recursos para uma refeição adequada. Estas famílias possuem um número de filhos fora do normal e vivem com muito sacrifício, inclusive, o esforço em manter a frequência à igreja. O que os pastores têm feito para se atualizar sobre as dificuldades dos seus membros? Não somente na questão social, muitos membros não passam fome e vão de condução própria à igreja, porém, tem outras dificuldades. O pastor deve estar próximo das pessoas, não de forma invasiva, mas, numa posição em que elas não sintam que a liberdade esteja sendo violada.

Jesus não se intrometia na vida das pessoas, pois, o seu envolvimento era “cirúrgico” e intervia diretamente nas dificuldades emergentes de cada um. Jesus não se intrometeu na vida do aleijado que foi curado próximo do poço. Jesus não se intrometeu na vida da família de Jairo e curou a sua filha. Jesus não se intrometeu na vida mulher adúltera e fez o diagnóstico preciso da sua vida. Jesus não se intrometeu na vida de nenhum dos seus apóstolos, mesmo na vida de Pedro em que curou a sua sogra. O foco de Jesus era se envolver naquilo que seria mais difícil e até impossível que é a ressurreição de mortos.

Se fizer uma analogia da vida de Jesus e das atividades desenvolvidas pelos apóstolos, será facilmente perceptível que a vida atual dos pastores mais conhecidos nada tem a ver com ministério. Brigam para não pagarem impostos, sendo que devemos dar a César o que é de César. Afinal, os dízimos e ofertas são oriundos de rendimentos em que os impostos foram recolhidos diretamente na fonte. Igreja não deve ter lucro. A responsabilidade da igreja é expor o evangelho na sua integralidade. O evangelho não serve somente para o Reino futuro, mas, deve acompanhar a vida cotidiana das pessoas e ir de encontro às suas necessidades. A perspectiva destes pastores destas mega igrejas é que as pessoas devem servir a igreja. Já a perspectiva dos pastores sérios e comprometidos com o Reino de Deus é de que a igreja deve servir às pessoas, pois, elas compõem a igreja. Sem as pessoas, não existe igreja. Não se trata dos templos luxuosos, a igreja é formada pelas pessoas e a elas deverão ser dedicadas todas as atribuições que a elas foram incumbidas. Lembrei de um caso em que uma incorporadora comprou um quarteirão inteiro para construir duas torres de condomínios e um dos imóveis era exatamente uma igreja evangélica. Todos os moradores venderam as suas casas que um dia fora um sonho e a vida seguiu seu rumo para cada um destes moradores que venderam as suas casas, com exceção da igreja que não foi adquirida porque o pastor não quis vende-la. Como era minha rotina pedalar naquela região, um dia vi o pastor em frente a “sua” igreja e perguntei se não venderia para a incorporadora, de pronto me respondeu que não venderia a propriedade da igreja. Daí, veio à mente de que o pastor estava preocupado com o patrimônio físico da igreja que poderia sofrer uma grande valorização ou a igreja poderia encher com os futuros vizinhos. Os condomínios estão sendo construídos e a igreja ficou literalmente espremida em meio as duas imensas torres. A igreja não é o prédio e nunca foi as quatro paredes que a abriga. Deus nunca habitou no prédio. O templo é o nosso corpo onde Deus habita. Quem deseja buscar e encontrar Deus deve olhar introspectivamente para si e permitir que Deus o habite. O pastor perdeu a visão ministerial em servir as pessoas daquela incorporadora e dos futuros moradores do condomínio. O templo atrapalhando a configuração do condomínio tornou-se uma pedra de tropeço e os olhares não serão de simpatia aquela decisão egoísta e dificilmente alguém terá interesse em adquirir o templo se houver uma mudança de planos para venda ou se tiver que ampliar a capacidade da igreja. Faltou-lhe a visão ministerial em servir e se limitou a agir conforme a sua visão pseudo-empresarial.

Infelizmente também, muitos dos pastores atuais não sabemos onde foram consagrados e como aconteceu o chamado ministerial. Alguns mais soberbos se autointitulam Bispo primaz e apóstolos como se ordenança ministerial fosse uma hierarquização de títulos. Não basta ser pastor que consideram como algo muito pequeno para as suas aspirações, tem de ter um título nobre que reflita a sua vaidade em se posicionar acima de todos. As redes sociais facilitaram a proliferação destes empresários da fé. Muitos nem tem igreja física e se limitam a conquistar seguidores pelas redes sociais. Hoje em dia a preocupação não é mais quantos membros possui a igreja, mas, quantos seguidores possui a sua igreja virtual. A maioria não tem compromisso com o Reino de Deus e expõem um evangelho para um povo com ausência de senso crítico e que gostam apenas de fazer parte da multidão. Desconhecem a palavra de Deus e a trata como “evangelho Frankenstein”, pegam um pedaço aqui e junta com outro pedaço ali e formam o seu próprio “evangeliquês” completamente desfigurado. Paulo escrevendo a sua carta a Timóteo orientou: "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade" II Timóteo 2:15. Resumindo, Paulo afirma que o pastor deve ter uma vida íntegra com um caráter exponencial e conhecimento correto da palavra de Deus para conduzir a igreja. Se procurarmos estas qualidades nos pastores atuais, com certeza, a maioria será reprovado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário