Venancio
Junior
Que
saudade dos tempos em que a figura do pastor era exclusivamente sacerdotal.
Sempre procurava saber dos problemas dos fiéis para poder ajudar no que fosse
preciso. Literalmente carregava a carga e abastecia a despensa dos pobres,
visitava os doentes, visitava também aqueles que estavam presos e se envolvia
com a dor do próximo. Ultimamente, muitos pastores se tornaram celebridades,
famosos e com evidência nas principais mídias sociais. Quanto maior a
visibilidade, maior será a propensão a críticas e difamação (alguns com razão).
Muitos deles se tornaram empresários da fé, tantos outros estão envolvidos em
escândalos financeiros e sexuais e uma parcela influente destes líderes se
empenham em serem militantes políticos radicais.
Como
filho de pastor, fico muito tranquilo em relação ao trabalho do meu pai.
Conhecendo as suas histórias através de relatos daqueles que presenciaram e das
fotos antigas, vi que sua trajetória pastoral foi de muitas dificuldades,
passando até fome e, muitas vezes não possuía os recursos para o sustento da
família. Morreu sem deixar bens e recebia de aposentadoria um mísero
salário-mínimo da previdência porque nunca pensou em si mesmo e ninguém pensou
nele também no sentido de ampará-lo quando não pudesse mais exercer a nobre
missão do Ide. Ministério significa servir e serviu do começo ao fim da vida
sem reclamar e glorificando a Deus. A riqueza do seu trabalho foi servir as
centenas de famílias reestruturadas e encaminhadas para também servir a outros
com a mesma visão altruísta que sempre lhe acompanhou.
Quando
alguém decide seguir a vida ministerial eclesiástica, aqueles que são sérios em
suas ambições, não tem um propósito profissional que, muitas vezes nem há esta
associação. A mente está focada em servir a Deus ajudando as pessoas nas suas
dificuldades. Vida ministerial é o amparo as famílias, não somente na questão
do evangelho, mas, também, o fortalecimento na vida social, profissional e
psicológica. Independentemente da classe social, todos precisam de apoio de
alguém de confiança. As pessoas ainda confiam nos religiosos porque estes se
colocam como enviados de Deus. Infelizmente, alguns se aproveitam desta
confiança e abusam de forma a favorecer somente os seus interesses. Servir é
sempre a dedicação ao outro e jamais as pessoas devem servir ao pastor ou a qualquer
outro líder religioso. O sacerdote tem como prerrogativa principal servir a
todos sem distinção. Neste processo, diante de tantas dificuldades e sem o
apoio necessário, muitos desistem em prosseguir no ministério e tantos outros
até cometem suicídio. O índice tem crescido assustadoramente e não tenho visto
a disposição das principais lideranças em amparar estas pessoas e suas famílias
que sofrem da mesma forma. Os desafios são diários e de grande vultuosidade e
não consta na agenda qualquer iniciativa em discutir esta questão com seriedade
que o caso merece. Por mais urgente que seja a iniciativa, já chegará com
muitos anos de atraso. O problema não é recente. Os pastores também sofrem
privações, tem problemas financeiros, emocionais, conjugais e também com os
filhos que todos exigem que sejam exemplos.
O
que diz a bíblia sobre o exercício sacerdotal? Jesus designou atribuições aos
apóstolos que seria primeiramente lançar os fundamentos do evangelho para
composição da igreja. Estas atribuições vão muito além da simples pregação do
evangelho o que implica assistir as pessoas nas dificuldades que envolvem
qualquer família. Relacionamento, emprego, moradia, saúde e até educação
secular. Havia esta preocupação. Meu pai fundou algumas igrejas e em anexo
fundava uma escola de alfabetização. Nos anos 40 e 50 havia muitos lugares
remotos, principalmente rurais em que a educação pública não chegava e muitos
filhos chegavam na idade escolar sem aprender a ler e escrever. Os pais já
vinham de uma estrutura de trabalho braçal difícil e muitos eram analfabetos.
Este espaço de apoio às famílias era ocupado pela igreja cristã. Porém, a maioria dos pastores não tinham esta
visão e se preocupavam tão somente com o ensino religioso. As dificuldades eram
muitas e atingia todos os membros da família. O que alguns pastores faziam quando
não tinha uma solução, amenizavam com promessas de que Deus proverá e a vida
futura no céu não haveria estes sofrimentos. É uma maneira de se desvencilhar
da responsabilidade social sem se envolver com o sofrimento. Falar do evangelho
para quem tem fome é falta de conexão. Da mesma forma que falar do evangelho
para quem esteja sofrendo com dores de alguma enfermidade também não terá o
retorno esperado. O evangelho é íntegro e abrange todas as questões que
envolvem as pessoas. Leia o texto de Mateus 25:35;36 "Pois eu tive
fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui
estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram;
estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me
visitaram". Jesus falava no templo sobre a parábola das ovelhas e dos
bodes. Enquanto as ovelhas desempenhavam a atribuição pastoral, os bodes não se
moveram. Perceba que Jesus abrangeu os aspectos básicos da vida humana. Isto é o evangelho puro e simples. Atualmente a contextualização ainda se faz necessária. Existem muitos membros
pobres de igrejas ricas. Frequentam as reuniões ordinárias da igreja utilizando
transporte público pagando do próprio bolso. Muitas famílias não têm os
recursos para uma refeição adequada. Estas famílias possuem um número de filhos
fora do normal e vivem com muito sacrifício, inclusive, o esforço em manter a
frequência à igreja. O que os pastores têm feito para se atualizar sobre as
dificuldades dos seus membros? Não somente na questão social, muitos membros
não passam fome e vão de condução própria à igreja, porém, tem outras
dificuldades. O pastor deve estar próximo das pessoas, não de forma invasiva,
mas, numa posição em que elas não sintam que a liberdade esteja sendo violada.
Jesus
não se intrometia na vida das pessoas, pois, o seu envolvimento era “cirúrgico”
e intervia diretamente nas dificuldades emergentes de cada um. Jesus não se
intrometeu na vida do aleijado que foi curado próximo do poço. Jesus não se
intrometeu na vida da família de Jairo e curou a sua filha. Jesus não se
intrometeu na vida mulher adúltera e fez o diagnóstico preciso da sua vida.
Jesus não se intrometeu na vida de nenhum dos seus apóstolos, mesmo na vida de
Pedro em que curou a sua sogra. O foco de Jesus era se envolver naquilo que
seria mais difícil e até impossível que é a ressurreição de mortos.
Se
fizer uma analogia da vida de Jesus e das atividades desenvolvidas pelos
apóstolos, será facilmente perceptível que a vida atual dos pastores mais
conhecidos nada tem a ver com ministério. Brigam para não pagarem impostos,
sendo que devemos dar a César o que é de César. Afinal, os dízimos e ofertas
são oriundos de rendimentos em que os impostos foram recolhidos diretamente na
fonte. Igreja não deve ter lucro. A responsabilidade da igreja é expor o
evangelho na sua integralidade. O evangelho não serve somente para o Reino
futuro, mas, deve acompanhar a vida cotidiana das pessoas e ir de encontro às
suas necessidades. A perspectiva destes pastores destas mega igrejas é que as
pessoas devem servir a igreja. Já a perspectiva dos pastores sérios e
comprometidos com o Reino de Deus é de que a igreja deve servir às pessoas,
pois, elas compõem a igreja. Sem as pessoas, não existe igreja. Não se trata
dos templos luxuosos, a igreja é formada pelas pessoas e a elas deverão ser
dedicadas todas as atribuições que a elas foram incumbidas. Lembrei de um caso
em que uma incorporadora comprou um quarteirão inteiro para construir duas
torres de condomínios e um dos imóveis era exatamente uma igreja evangélica.
Todos os moradores venderam as suas casas que um dia fora um sonho e a vida seguiu
seu rumo para cada um destes moradores que venderam as suas casas, com exceção
da igreja que não foi adquirida porque o pastor não quis vende-la. Como era
minha rotina pedalar naquela região, um dia vi o pastor em frente a “sua”
igreja e perguntei se não venderia para a incorporadora, de pronto me respondeu
que não venderia a propriedade da igreja. Daí, veio à mente de que o pastor
estava preocupado com o patrimônio físico da igreja que poderia sofrer uma
grande valorização ou a igreja poderia encher com os futuros vizinhos. Os
condomínios estão sendo construídos e a igreja ficou literalmente espremida em
meio as duas imensas torres. A igreja não é o prédio e nunca foi as quatro
paredes que a abriga. Deus nunca habitou no prédio. O templo é o nosso corpo
onde Deus habita. Quem deseja buscar e encontrar Deus deve olhar
introspectivamente para si e permitir que Deus o habite. O pastor perdeu a
visão ministerial em servir as pessoas daquela incorporadora e dos futuros
moradores do condomínio. O templo atrapalhando a configuração do condomínio
tornou-se uma pedra de tropeço e os olhares não serão de simpatia aquela
decisão egoísta e dificilmente alguém terá interesse em adquirir o templo se
houver uma mudança de planos para venda ou se tiver que ampliar a capacidade da
igreja. Faltou-lhe a visão ministerial em servir e se limitou a agir conforme a
sua visão pseudo-empresarial.
Infelizmente também, muitos dos pastores atuais não sabemos onde foram consagrados e como aconteceu o chamado ministerial. Alguns mais soberbos se autointitulam Bispo primaz e apóstolos como se ordenança ministerial fosse uma hierarquização de títulos. Não basta ser pastor que consideram como algo muito pequeno para as suas aspirações, tem de ter um título nobre que reflita a sua vaidade em se posicionar acima de todos. As redes sociais facilitaram a proliferação destes empresários da fé. Muitos nem tem igreja física e se limitam a conquistar seguidores pelas redes sociais. Hoje em dia a preocupação não é mais quantos membros possui a igreja, mas, quantos seguidores possui a sua igreja virtual. A maioria não tem compromisso com o Reino de Deus e expõem um evangelho para um povo com ausência de senso crítico e que gostam apenas de fazer parte da multidão. Desconhecem a palavra de Deus e a trata como “evangelho Frankenstein”, pegam um pedaço aqui e junta com outro pedaço ali e formam o seu próprio “evangeliquês” completamente desfigurado. Paulo escrevendo a sua carta a Timóteo orientou: "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade" II Timóteo 2:15. Resumindo, Paulo afirma que o pastor deve ter uma vida íntegra com um caráter exponencial e conhecimento correto da palavra de Deus para conduzir a igreja. Se procurarmos estas qualidades nos pastores atuais, com certeza, a maioria será reprovado.
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