sábado, 28 de agosto de 2021

ANTROPOLOGIA DO EVANGELHO

Venancio Junior

Quando se fala em antropologia ou existência, vêm à mente a questão do princípio de todas as coisas, até da própria existência. Há três teorias em evidência no meio acadêmico: Teoria do criacionismo – Teoria do Big Bang – Teoria da Evolução. Este último tem mais afinidades com a segunda teoria, a do Big Bang. Cientificamente ainda não se chegou a um denominador comum de qual o conceito realmente válido. A teoria do Bing Bang ainda não conseguiu explicar o princípio de tudo o que já existia. O princípio de tudo, segundo os cientistas, foi causado por uma explosão apelidada de “Big Bang” ou tudo foi intencionalmente criado conforme defende os criacionistas? O que vai mudar se um ou outro conceito for comprovado? Nada vai mudar porque a existência é autônoma e subsiste independentemente de qualquer comprovação. A existência como matéria tem um princípio. É uma questão, de certa forma, lógica. Qualquer uma das teorias deverá haver a sua crítica para que não tenha algum indício de fraude nas análises. A existência tem as suas considerações e implicações. A evolução pertence aos dois principais conceitos. Imagine comigo, tudo o que existe tem um princípio. Isto é bem lógico. Então, neste caso, Deus não existe, pois, não tem princípio e não tem fim. Deus simplesmente é. No texto de Êxodo 3:14, há uma estimativa de 1390 anos antes de Jesus, quando Moisés perguntou como deveria apresentá-lo aos israelitas, Deus respondeu apenas como “Eu Sou”. Deus foi de certa forma, econômico nas palavras porque, como Moisés entenderia Deus explicando a si mesmo? Isto significa que Deus não se limita à nossa dimensão. Deus se apresentou e nos permitiu uma “conexão”. A única forma de se ligar a Deus e compreender o seu valor, segundo a bíblia, é através da fé. Não tente entender pela fé o que é e nem quem é Deus, a não ser que Ele se revele. A fé não explica Deus. Se conseguisse, então, seria um Deus lógico, consequentemente limitado, o que não é o caso. Vamos analisar seguindo a linha do evangelho que nos foi revelado.

Quando Deus criou a existência, especificamente o universo onde se encontra um “pontinho” denominado planeta terra, definiu que o ser humano e os animais eram para cuidar e manter o funcionamento tal como foram criados e usufruir de todos os benefícios e não há qualquer menção em possuir os “produtos” da criação. Para felicidade dos veganos, no princípio todo mundo só se alimentava de plantas e frutos (Gênesis 1:29) e os animais se alimentavam de vegetais (Gênesis 1:30). O ser humano parece que não entendeu o recado e, além de desobedecer e perder o privilégio do jardim, com muita obstinação, confundiu e deseja ardentemente “possuir” o quanto mais e tudo o que seja melhor para alimentar o ego e a vaidade. O mundo é para usufruir e não para possuir.

Desde este princípio (que ninguém sabe ao certo quando aconteceu) muita coisa mudou e tomou formas que, a princípio, não era para ser deste jeito. Reconheço que, como um simples observador da vida que se aventura e tenta aproximar o máximo possível de uma compreensão lógica do que seja, de fato a existência, esteja sendo extremamente ousado em abordar a sua antropologia. Imagine a junção destas duas complexas estruturas discorridas em poucas linhas e por alguém, de fato, limitado? A minha motivação e propósito é aprender um pouco mais sobre a lógica (se é que tenha alguma) do conceito que aprendi sobre estes dois assuntos. O conceito de antropologia é o estudo da existência. Neste caso, até o inimaginável faz parte da estrutura metafísica. Daí, pensei, o porquê não fazer esta “brincadeira literária intelectual” que irá desobstruir o raciocínio da lógica abrangendo também o contexto espiritual. Espiritual!? Pois é, não tem como falar sobre a vida e tudo o que a envolve sem falar da espiritualidade. Tudo o que pensamos e sentimos é espiritual. Tudo o que acontece na dimensão física tem reação na dimensão espiritual. A espiritualidade não é uma parte de nós, mas, o todo composto é espiritual.

O conhecimento vem através dos cinco sentidos, visão, audição, olfato, paladar e tato. Os acontecimentos na vida são simultâneos. Os eventos se acontecem. Mesmo com o amplo avanço da comunicação, não conhecemos tudo o que há na vida mesmo que algo esteja acontecendo simultaneamente. Imagine quando se assiste a um programa de televisão ao vivo? Não imaginamos e nem enxergamos o que está acontecendo atrás do palco. Vamos avançar no raciocínio e reconhecer que atrás das paredes dos bastidores do palco também tem muita coisa acontecendo e se prosseguir neste raciocínio, lembraremos que indiretamente participamos de tudo o que acontece no mundo. Numa transmissão ao vivo, estamos presentes porque fazemos parte da mesma dimensão. Não conseguimos ver devido a visão limitada, mas, as coisas não deixam de acontecer porque não enxergamos. Compartilhamos o mesmo espaço. Não existe lá fora. Fora do mundo tem o universo infinito. O nosso conhecimento é mais amplo na dimensão espiritual, pois, na dimensão física nos limitamos a um pontinho quase insignificante no universo infinito. Esta afirmação se refere apenas ao ambiente atmosférico. O espaço espiritual também é infinito. Alguém conhece o “fundo do poço da alma”? O meu propósito é discorrer sobre a perspectiva da antropologia conhecida e fazer uma analogia de um dos principais conceitos da existência. Tomo a liberdade em partir do princípio de que a lógica e o raciocínio são também integrantes, obviamente, da existência, da mesma forma, que o sentimento, as emoções e, praticamente, todos os sentidos são também seus componentes, porém, da dimensão “abstrata”.

Vamos analisar do ponto de vista da teoria criacionista. No princípio Deus criou tudo, inclusive o ser humano. Sem entrar no mérito da questão, este “princípio” era do que exatamente? Na verdade, para melhor compreender e evitar discussões infindáveis e discorrer textualmente os fatos revelados foi usada a lógica de forma simplificada. Para não ser simplório, este princípio refere-se ao próprio processo da criação. O autor de Gênesis enfatizou que no começo, tudo foi criado querendo dizer que a matéria tem um início e não foi “obra do acaso”. Com exceção da matéria vegetal e animal, o ser humano foi essencialmente dotado de raciocínio com vontade e escolha. Será que Deus quis que o ser humano tivesse livre arbítrio sobre suas vontades e seus destinos e também sobre toda a existência? Um dos grandes pontos polêmicos defendida por uma das principais linhas teológicas cristãs, a tradição reformada, defende que o ser humano não tem livre arbítrio. Ela crê que a soberania de Deus é absoluta. Nisto eu concordo, porém, quem definiu este livre arbítrio foi exatamente a soberania de Deus. Vou considerar como um grande equívoco afirmar que não nos foram concedidas opções. Lembro que o livre arbítrio vem desde antes da formação da mulher e da queda. Vamos considerar sim e não como os fatores determinantes da livre arbitrariedade. Esta afirmação encontramos no evangelho, especificamente no livro de Gênesis 02:16: “E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente morrerá”. O que significa “O Senhor ordenou”? O que significa “livremente”? E o que significa “não coma da árvore do bem e do mal”? Livremente significa ter opção de escolha e, neste caso, nas variedades de frutos e entre o bem e o mal. Quem determina o que, absolutamente, acontece na existência é o seu autor, Deus com a sua soberania. Se Deus determinou que o ser humano teria opção, então, não há mortal na face da terra e nem no universo que contrarie esta decisão. A árvore do bem e do mal mesmo que nunca viesse a existir, o livre arbítrio estaria presente porque foi concedida a opção de liberdade para o homem decidir, inclusive, o nome dos animais e das plantas. O ser humano optou em desobedecer, primeiramente a mulher e depois o homem. O porquê desta ordem, sinceramente, não há uma resposta razoável. Talvez se fosse o homem sendo seduzido pela serpente houvesse uma certa relutância. Não quero dizer que a mulher seja mais fácil de se convencer. Será que a serpente já conhecia a personalidade de Eva? A serpente é astuta e sabia muito bem o que estava fazendo. Será que a serpente teve autonomia para fazer isto? Houve a permissão de Deus, isto é fato, caso contrário, seria questionável a onisciência em não saber o que estava acontecendo e onipotência de Deus em impedir este ato de desobediência.

De qualquer forma, o “estrago” estava feito e tudo foi, tipo, desconfigurado e precisava de um novo plano para que o fluxo do processo fosse revertido. As condições foram expostas e o próprio Deus precisava se envolver pessoalmente nesta questão. Voltando no início do texto em Gênesis, Deus se revelou em três para que houvesse uma melhor compreensão das ações distintas Pai, Filho, Espírito Santo. Não existem três deuses e não encontraremos três deuses no Reino. No Gênesis houve a primeira manifestação da trindade demonstrando que se tratava de uma mesma essência. Logo no capítulo 1:1 Deus se manifestou onde lemos “Deus criou” e no mesmo capítulo, porém, no versículo 26 Deus demonstra a essência da sua divindade “Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Deus é único, porém, com ações distintas no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Até aqui percebemos a essência de Deus se envolvendo pessoalmente na criação e no resgate do ser humano através da encarnação de Deus em Jesus Cristo. A primeira menção de Cristo como o Messias que viria encarnado foi em Isaias 9:6, “Porque um menino nos nasceu...”. isto foi profetizado 700 anos antes do nascimento de Jesus. Os dados históricos não são importantes no processo de resgate do ser humano. O importante é saber qual o papel desempenhado por cada profeta que anunciou a salvação e por Jesus, autor da salvação.

Ainda criança, sempre me vinha à mente o questionamento, se foi Adão e Eva que pecaram, então, por que eu sou penalizado também? Grosso modo, o que eu tenho a ver com isto? A resposta é simples. Quando Deus expulsou Adão e Eva do paraíso é como se a raça humana fosse expulsa da presença de Deus. Isto lemos em Romanos 3:23. Nesta condição, nascemos em pecado. Seria como viver num ambiente poluído pelo pecado e respiraremos a poluição e seremos sujos pela poluição. Não tem escapatória. No caso do pecado, tem, sim. Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou. Foi isto que Deus nos ofereceu. Algo que devemos ter sempre em mente é que Jesus, mesmo sendo divino, foi humano e precisava se comportar como tal para que ratificasse a mensagem do sacrifício pelos pecados. Que sentido seria Deus sofrer sem as fragilidades humanas? Deus não sofre, porém, se permite sofrer por nós através de seu filho que é Ele mesmo encarnado. Tudo o que existe tem como fonte em Deus, tanto o bem como também o mal. Ele sabe o que precisa ser feito para que as coisas voltem à funcionalidade original. Esta é a proposta do Reino e tudo o que está sendo feito na dimensão espiritual é para a vida eterna ou morte eterna da raça humana.

Desde o Antigo Testamento até a primeira vinda Cristo pulamos muitos fatos. Na verdade, o foco é expor de forma sucinta o processo do início da história até chegarmos na conclusão desta história que é a salvação da raça humana. Prosseguindo, já sabemos que a existência teve um início. No decorrer da história houve uma ruptura com a dimensão original e precisava que houvesse outra ruptura, só que agora com a dimensão do pecado que nos mantêm fora da presença de Deus. Exatamente neste ponto que Jesus, Deus encarnado entra na nossa história para refazer a nossa vida. Há uma controversa sobre o como funciona este processo de salvação. Devido a isto, surgiram diversas doutrinas e suas ramificações que mais confundem do que esclarecem que é o foco principal do discernimento bíblico. Não pretendo ser mais um que expõe a sua versão. O ideal é não apenas crer com o coração na palavra, mas, confirmar com a mente. A bíblia é para o coração, porém, a porta de entrada é a mente. Temos vários exemplos disto. “A fé vem pelo ouvir” (Romanos 10:17) e a mensagem vai para o coração. Devemos entender que “coração” é um sentido figurado porque fisicamente é o que bombeia o sangue e não permanecemos vivos sem ele. O real sentido do coração é a nossa alma (consciência) onde sentimos, cremos e decidimos o rumo da nossa vida. Deus não quer pessoas “inconscientes” que não sabe o que esteja fazendo. A decisão em seguir a Deus é absolutamente intencional. Fé não é um amuleto e nem pode ser depositada em objetos de devoção e muito menos em pessoas consideradas “santas”. Os apóstolos não foram santos e ninguém pode ser santo no sentido de empoderamento de força sobrenatural. A não ser que Deus use uma pessoa e a condicione para cumprir uma missão. Mesmo assim, esta pessoa não é santa por mais boa, mansa e humilde que seja. A única condição que a bíblia nos classifica é como pecadores. Todos pecaram, inclusive Maria é pecadora, Pedro é pecador, Paulo é pecador, o Papa é pecador, o Pastor é pecador, Agostinho é pecador e “todos indistintamente pecaram e foram expulsos da presença de Deus” (Romanos 3:23) e precisam de salvação. Ninguém é santo. A bíblia afirma que somente Deus é santo. Santo significa separado. Noutras palavras, somente Ele é totalmente separado do pecado. A palavra santificação na bíblia é referente a ação de Jesus em nossa vida. Morremos por causa do pecado e Jesus, tipo, nos separou do pecado, ou seja, santificou através dEle e se permanecemos nEle, continuaremos santificados. Isto não significa que fomos dotados de poder e nos tornamos “seres superiores”, nada disto. Todo este processo acontece por causa da graça que nos foi concedida. Em Efésios 2:8 está muito claro que “somos salvos pela graça e isto não vem de nós, mas, é um dom gratuito de Deus”.

Outro ponto polêmico que abordarei é com referência aos dons espirituais. De antemão digo os dons não são garantias de salvação. A única coisa que nos garante a fé é reconhecer que somos pecadores e totalmente dependentes do amor de Deus. O apóstolo Paulo em I Coríntios 12 discorre sobre os dons com muita propriedade atentando para o corpo de Cristo que é a igreja. São vários membros diferentes uns dos outros, porém, bebem da mesma fonte. No último verso (31) exorta para que se busque com zelo os melhores dons. Porque “melhores”? Excetuando a questão da tradução, creio que a intenção de Paulo foi orientar para que busque o dom adequado ou aquele que Deus entregar para um determinado fim. Creio também que nos chamou para que busquemos os dons com sabedoria sem vaidade ou arrogância como vemos por aí quando as pessoas se comportam como “santarrões” devido a julgar que possuem muitos dons. Os dons não pertencem a uma determinada linha cristã ou tornará mais espiritual determinado grupo. Isto é menosprezar o corpo que é somente um em Cristo. Os dons não podem se caracterizar como “termômetro” que ratifique espiritualidade. Os dons, conforme o verso 07, são concedidos pelo Espírito Santo para beneficiar a todos e não a si próprio exclusivamente. Outrossim, é possível que a pessoa julgue que não tenha algum destes dons listados por Paulo. Particularmente creio que os dons não se restringem a somente estes. Os dons, talvez sejam infindáveis, pois Deus é quem definiu a diversidade dos dons, porém, com unidade no mesmo Espírito. Este é o mesmo Espírito presente na criação da existência e do ser humano.

Outro questionamento a respeito da salvação é sobre a eleição. De cara já exponho o texto de Romanos 2:11 onde lemos que “...em Deus não há acepção de pessoas”. Será que existe mais alguma referência neste sentido? Alguns dizem que Deus escolheu somente algumas pessoas para serem salvas. Concordo em parte na questão dos escolhidos. O próprio Jesus afirmou isto em Mateus 22:14 de que “...muitos são chamados, mas, poucos são os escolhidos”. Muitos aceitam a mensagem e seguem, porém, se perdem pelo caminho e são, podemos dizer reprovados porque não seguiram conforme o evangelho e preferiram seguir os ventos de doutrinas que a bíblia se refere no livro de Efésios 4:14 e que induz as pessoas ao erro. Outro ponto a ser esclarecido é que esta eleição não é pessoal, tipo, fulano será salvo e beltrano não será salvo. Tem vários textos que falam sobre quem crê e quem não crê. Julgo adequado para esta reflexão o texto de João 3:18 que diz “...quem nEle crê não é condenado e quem não crê já está condenado”. Os outros textos afirmam que quem não crê será condenado. Vemos que não há pessoalidade nesta afirmação. Há uma clara opção em crer ou não crer. Na verdade, o texto de Romanos 3:23 exposto anteriormente diz que estamos fora da presença de Deus e o texto de João afirma que o que não crer já está condenado. Se manter fora e não crer é opção. Mesmo aquela pessoa que a vida toda cumpriu com as suas obrigações na questão moral e ética praticando obras de relevância para a sociedade, caso não tenha crido no unigênito filho de Deus, está condenado. Da mesma forma que a fé sem obras é morta, a fé não é pelas obras para que ninguém se julgue merecedor da salvação. Algumas linhas cristãs adotam esta doutrina como fator preponderante de salvação. Os dois exemplos estão em Tiago 2:26 “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”. e Efésios 2:8;9 “Porquanto, pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras, para que ninguém se glorie”. Faço questão de mostrar as referências bíblicas de todos os questionamentos. Outro texto que desconstrói a doutrina da eleição nominal encontra-se em I Timóteo 2:4 onde lemos que “a vontade de Deus é que todos sejam salvos”. Jesus morreu por todos para que todos sejam salvos II Coríntios 5:15 “E Ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos”. Isto define que os eleitos são os que creem independentemente de quem seja.

Outro questionamento é a respeito da garantia da salvação. Uma vez salvo, salvo para sempre. Não funciona desta forma. Na verdade, ainda estamos em via de sermos salvos. Enquanto estivermos vivendo na dimensão do pecado, a salvação só é garantida em Jesus Cristo. “Se alguém está em Cristo, é nova criatura” II Coríntios 5:17. Estar é condicional.  Em I Timóteo 4:1 observo um texto muito forte sobre o abandono da fé: "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé...".  As pessoas a que se refere são aquelas que ouviram e creram no evangelho. É possível a pessoa desistir da caminhada. Apostatar é abandonar o que já havia garantido. Podemos afirmar com todas as letras que se tratava de pessoas que já haviam “conquistado” a fé. A jornada de fé é um caminho longo e que exige renúncia da vida pregressa ainda sem a justificação em Cristo. Não faz qualquer sentido ter um Deus que se importou com todos e praticar a incoerência da injustiça quando privilegia quem não esforça para se manter firme por mera escolha sem critério plausível. Neste caso, o próprio Deus é quem arranca fora aqueles que deixaram de crer. Observe o texto de Romanos 11:22;23 “Considera, portanto, a bondade e a severidade de Deus: severidade para com aqueles que caíram, mas bondade para contigo, desde que permaneças firme na bondade dele; do contrário, também tu serás excluído. E quanto a eles, caso não permaneçam na incredulidade, serão reconduzidos, porquanto Deus é poderoso para enxertá-los novamente".

Outro tema muito difícil é sobre a blasfêmia contra o Espírito Santo. O meu objetivo é que não haja mais dúvidas sobre isto. Este assunto é pesado e se torna ainda mais complexo porque foi abordado pelo próprio Jesus que afirmou que é um pecado sem perdão. Antes de entrar no assunto, vamos relembrar todo o contexto desta situação. No texto de Marcos 3 a partir do verso primeiro há todo um cenário bastante interessante, porém, muito confuso onde Jesus foi confrontado até pelos próprios familiares. Imagine um judeu que se diz enviado por Deus entrar numa sinagoga e curar no sábado? Pois é, Jesus fez exatamente isto. Primeiro Jesus confronta a tradição religiosa. Depois cura uma multidão de pessoas que passam a segui-lo e os fariseus a persegui-lo tentando encontrar uma justificativa para condená-lo. Uma grande multidão de todas as partes da região o seguiam. Os endemoniados se atiravam aos seus pés declarando Ele ser o filho de Deus e Jesus expulsava a todos os demônios. Logo, em seguida, Jesus subiu ao monte e escolhe os doze e os chama de apóstolos. Segundo algumas traduções originais, Jesus, logo que os chamou, não denominou como apóstolos estes doze. Isto agora não importa. Em seguida Jesus foi para casa e a multidão era tão grande que sequer conseguia comer o pão com os discípulos. O igualmente absurdo e que deixou Jesus tenso é que os seus próprios familiares também afirmavam que Ele havia perdido o juízo. Os mestres da lei diziam que Ele estava possuído por Belzebu e expulsava os demônios em nome do príncipe dos demônios. Exatamente neste episódio que houve a blasfêmia contra o Espírito Santo. Durante todo o seu ministério de cura, libertação, expulsão de demônios e exposição da palavra, Jesus sempre estava possuído pelo Espírito Santo que se manifestava em suas ações. Não fazia sentido a acusação que os mestres da lei que, na verdade, eram os líderes religiosos, apresentavam. Chamar o Espírito Santo de demônio é uma blasfêmia absurda e sem perdão. Jesus até deu exemplo de que como satanás expulsaria satanás? Outro exemplo é que se um reino estiver dividido contra si mesmo não subsistirá. A esta altura, o ânimo de Jesus estava a "flor da pele" e, em meio a multidão, chegou os seus familiares que o chamaram para conversar. Jesus simplesmente ignorou e falou que os familiares dEle são aqueles que fazem a vontade de Deus. Não quero achar um jeitinho de amenizar esta afirmação muito séria de Jesus. Como se todas as outras não a fossem, porém, esta é uma das mais polêmicas. Parece que todos querem encontrar uma brecha ou uma vírgula que mude o significado do pecado sem perdão. Como pode um pecado sem perdão? Mas, é isto mesmo que Jesus falou. Lembrando que o que provocou esta afirmação foi a grave acusação inculta dos mestres da lei.

Jesus se envolveu pessoalmente com os problemas das pessoas e deve ter ouvido muita besteira, principalmente dos religiosos, cujo cuidado era somente com a tradição da religião. Mas, a única preocupação que Jesus tinha era encontrar corações quebrantados pela mensagem do Espírito Santo de forma íntegra e contextualizada. Ele sabia que todos eram pecadores. Deus sempre está disposto a se relacionar com a sua criação e faz de tudo para que isto se intensifique. É projeto vital reconstruir uma relação ilibada e reconstruir tudo como era antes na época da criação. O ser humano é projeto pessoal de Deus e jamais teve a intenção em descartar esta relação. Infelizmente, a causa e consequência é um fato que ainda precisa ser considerado nesta relação. Se a causa é o pecado, então, a condenação é justa. Mas, se a causa é a fé, somos justificados em Jesus Cristo que estava presente na criação e se envolveu pessoalmente nesta expropriação pelo pecado.

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