Venancio Junior
Falar sobre qualquer
coisa por mais básico e simples que seja exige um conhecimento que revele uma
sólida propriedade sobre o assunto. Falar sobre um reino não é algo tão
simples, mesmo sabendo que todos os trâmites da sua constituição sejam
meramente humanos. Agora, imagine falar do Reino de Deus que requer
conhecimento teológico e perspicácia analítica devido a sua concepção e
aplicação? Pois bem, não me julgo capaz nem de uma coisa e nem outra. Então
qual é a minha intenção em iniciar estas simples palavras abordando um tema tão
complexo e ainda misterioso? Tenho como consolo de que, se as pessoas
simplesmente lerem já me darei por satisfeito e se provocar alguma reflexão,
diria que serei imensamente grato pelo privilégio de poder contribuir com o
Reino de Deus. Este é o meu principal objetivo, construir o Reino com o pouco
que possuo, mas que se torna grande nas mãos do grande Rei soberano neste
Reino.
Outro dia ouvi de uma
pessoa afirmar durante um congresso de líderes que, segundo as suas palavras, “ganhar
almas serve apenas para encher igrejas. Muito mais importante seria formar
líderes que constroem o Reino de Deus”. Confesso que até parei para pensar
sobre isto. Cheguei à conclusão de que é algo absolutamente desconexo e sem
qualquer fundamento bíblico este tipo de analogia. O Reino de Deus subsiste com
ou sem pessoas, pois, não se trata de uma formação predial ou demográfica.
Aliás, esta “nova teologia” vive fazendo comparações entre a teologia
conservadora e a dita teologia contemporânea. Este tipo de comparação é
descabido e desnecessário.
Afinal no que
consiste o Reino de Deus? Lembro que o Reino de Deus é indivisível e “só tem
uma cara”. Vamos voltar ao antigo testamento em que muitos afirmam que o
conceito de Reino de Deus ainda não existia, surgindo apenas no ministério de
Jesus. Muito antes da encarnação de Jesus, especificamente no livro de Daniel
2:44, este novo reino foi previsto e que subsistiria a todos os demais: “No
entanto, na época do governo desses reis, Elah, o Deus dos céus,
estabelecerá um novo reino que nunca será destruído e que também não será
dominado por nenhum outro povo. A soberania desse reino jamais será transferida
a nenhum outro povo. Todavia, esse novo reino destruirá e exterminará todos
esses outros reinos, e subsistirá para todo o sempre.”. Os judeus ortodoxos
tinham conhecimento da vinda deste Reino, porém, não creem no reino de forma
abstrata, mas, concreta. Para eles, o messias é um revolucionário que irá
destituir governos e reinos e implantará o “seu próprio reino”. Houve
uma tradução literal do texto de Daniel. Infelizmente para eles, Jesus os
decepcionou e a situação ficou bem estranha quando Jesus afirma que o Reino,
está dentro de nós. Veja o texto de Lucas 17:20: “Certa vez, interrogado
pelos fariseus sobre quando se daria a vinda do Reino de Deus, Jesus lhes
explicou: “Não vem o Reino de Deus com visível aparência. Nem haverá anúncios:
‘Ei-lo aqui!’ Ou: ‘Lá está!’. Pois o Reino de Deus já está entre vós!”.
Segundo a tradição, os fariseus eram os observadores das escrituras religiosas
e cuidavam da tradição oral para que todos conhecessem a lei. No momento em que
Jesus fez esta afirmação, a mente deles ficou bem confusa. Tudo o que os
fariseus conheciam estavam nas escrituras judaicas. Vamos ler o texto da carta
aos Romanos 14:17. Paulo estava falando sobre sabedoria e nada melhor que discorrer
que o “Reino de Deus não é comida e nem bebida, mas, paz, justiça e alegria
no Espírito Santo”. No texto de João 3:3 quando Jesus responde ao
questionamento de Nicodemos, declara: “Em verdade, em verdade te asseguro
que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Ainda no
livro de Mateus 12:28 Jesus respondendo aos discípulos diz: “Mas, se é pelo
Espírito de Deus que Eu expulso demônios, então, verdadeiramente, é chegado o
Reino de Deus sobre vós”.
Geralmente quando
ouvimos falar sobre algum reino nos vêm à mente um suntuoso castelo com vitrais
maravilhosos, mobiliário luxuoso, salas espaçosas e aconchegantes e uma
decoração de fino gosto. Deus não se importa com este tipo de riqueza. Isto faz
parte da criação da matéria, nada mais, além disto. Diante de tantas
explanações sobre o Reino de Deus, chego à conclusão de que o Reino de Deus
relatado na bíblia está contido na observância dos frutos do espírito.
Para uma compreensão
mais simples, vamos nos ater as principais características da composição do
Reino de Deus apresentadas por Paulo.
PAZ
Diante de um mundo
intolerantemente caótico, o que seria esta paz do Reino de Deus? O mundo busca
pela paz. Investe em viagens turísticas que inspire a paz, por exemplo, aquelas
que mantêm contato com a natureza, investe também em condomínios para morar em
paz e buscam insanamente em rituais místicos uma tentativa de encontrar a sua
paz. Numa dimensão global, as grandes potências mundiais assinam acordos de
paz. Será que paz é ausência de guerra? Será que não ter contas a pagar gera
paz? Talvez não seja exatamente esta paz que faça parte do Reino de Deus.
Quando se fala em paz, a religião é o principal foco para encontrar o caminho
da paz. Lembro que não estou apresentando uma linha mística religiosa
simplesmente. É muito difundido de que cada religião define à sua maneira de
encontrar a paz. Observo que Deus não criou nenhuma das religiões que
conhecemos, nem mesmo o cristianismo foi criado por Deus. A religião é criação
exclusivamente humana, sendo uma maneira prática de se manter conectado a Deus.
Neste caso, a religião mais confunde do que resolve. O termo cristão na bíblia
tem sentido racista. Quando conhecemos o evangelho, não o evangelho dos
religiosos e nem dos cristãos, mas, a palavra de Deus em que buscamos as
respostas das nossas inquietações sobre a paz, precisamos ser desarmados de
tudo aquilo que somos e aprendemos fora deste evangelho. Desta maneira, a
verdade sobre a paz do Reino de Deus fluirá de maneira cristalina. Primeiro,
ter paz na concepção do evangelho não é ser livre dos problemas que nos
envolve, mas, como reagimos frente a estes problemas. Toda a ação deve buscar a
conciliação dos valores do Reino de Deus e as reações ratificam esta busca.
Onde há guerra de qualquer natureza e espécie, deve-se agir com paz, isto é
muito importante e fundamental, mesmo que se tenha prejuízo. Humanamente
falando, Jesus foi amplamente prejudicado na sua vida na terra. Este foi o
principal argumento daqueles que o abandonaram e não acreditaram nEle. Na
verdade, estavam distantes do Reino de Deus proposto por Jesus. No livro de
João 14:27 ele mesmo afirma que nos deixou a paz, não como o mundo dá. Jesus
sofreu com violência na própria carne as agruras da sua missão de paz. Amar o
inimigo, dar a outra face, andar duas milhas ao invés de uma, vender tudo o que
tem e dar aos pobres são algumas das propostas apresentadas por Jesus para
efetivação da paz do Reino de Deus. No livro de Mateus 12:28 exposto no começo
ele demonstra que devemos ser sensíveis para que o Reino de Deus esteja, de
fato, em nós. Ninguém verá a Deus se não tiver a paz do Reino de Deus dentro de
si. Leia e medite nos textos abaixo: “Esforçai-vos para viver em paz com
todas as pessoas e em santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.”
Hebreus 12:14. Esta busca pela paz deve ser um processo contínuo e incessante.
“Aparta-te do mal, e pratica o bem; busca a paz e empenha-te por
conquistá-la.” Salmos 34:14.
JUSTIÇA
A segunda composição
do Reino de Deus apresentada por Paulo foi a justiça. Quando se fala em
justiça, o que vêm à mente são as injustiças praticadas pela justiça que
deveria agir com justiça. Os justos que conhecemos seguem as leis humanas que
são passíveis de falhas. Quem nunca ouviu de que a justiça de Deus tarda, mas,
não falha. Noutros casos, quando houve claramente uma injustiça, as pessoas
dizem que, no caso, se livrou da justiça humana, mas, não se livrará da justiça
divina. A justiça do Reino de Deus não é esta de forma alguma. Quando falamos
sobre as prerrogativas do Reino de Deus, na perspectiva bíblica, tudo se resume
em Jesus que veio apresentar este Reino para derrubar as muralhas da injustiça
do mundo e aplicar a sua verdadeira justiça que é Ele próprio. A justiça divina
está relacionada com o texto de Romanos 3:21;22 que resume todo o conceito de
justiça do Reino de Deus. Leia o texto: “Entretanto, nesses últimos tempos,
se manifestou uma justiça proveniente de Deus, independente da Lei, mas da qual
testemunham a Lei e os Profetas; isto é, a justiça de Deus, por intermédio da
fé em Jesus Cristo...”. Interessante é que o texto parece contraditório
quando fala que a justiça apresentada é independente da lei, porém, apresentada
pela lei. Na minha visão, a resposta está no texto de Romanos 10:4 “Porque o
fim da Lei é Cristo, para justificação de todo o que crê”. A lei falou que
viria o Reino de Deus conforme o texto de Daniel 2:44, porém, os homens deram
mais importância a lei do que ao conteúdo da lei. A lei não subsiste sem Jesus
Cristo que é a razão de ser da lei conforme o texto acima. Portanto, como já
lemos, somos justificados em Cristo pela fé para termos paz com Deus.
ALEGRIA NO ESPÍRITO SANTO
Outra característica
do Reino de Deus é a alegria no Espírito Santo. Porque “no” e não “do”?
São condições diferentes. Alegria no Espírito Santo é estar imerso, enquanto a
alegria do Espírito Santo é uma expressão. Uma vez imersos, exalamos a alegria
do Espírito Santo. Esta alegria é primariamente inspirada pela condição de vida
eterna exclusivamente para aqueles que foram justificados e tem paz com Deus.
Jesus falou que a paz que Ele dá não é como a do mundo, a justiça que
precisamos foi internalizada nele mesmo. Diante disto tudo, expressamos a
alegria no Espírito Santo de forma natural. Esta natureza foi restaurada pela
justificação em Jesus Cristo.
Não tem como conhecer
o Reino de Deus sem usufruir. Quem uma vez conhece, aspira e quer usufruir. No
texto de Mateus 6:33 lemos que devemos “Buscar em primeiro lugar o Reino de
Deus e a sua justiça e as demais coisas serão acrescentadas”. Podemos
traduzir que esta busca é um processo prioritário que deve fazer parte das
aspirações do discípulo substituindo as preocupações e a justiça, no caso, não
se refere a justificação, mas, ao que seja justo ou adequado àquilo que
precisamos, nem menos, nem mais que o necessário.
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