Venancio
Junior
Quem
são estes evangélicos politicamente engajados? Não muito antigamente, o
único envolvimento dos evangélicos, principalmente das igrejas
pentecostais, no cenário público urbano era a concentração nas praças
para falar do amor de Deus. Quantos desfiles pelas ruas acompanhados de uma
banda (fanfarra) enquanto se distribuíam folhetos evangelísticos?
Eu, pessoalmente era um destes que distribuía estes folhetos. Ainda garoto com
os meus 11 anos estava lá todos os domingos oferecendo o folheto para cada um
que estava observando o desfile dos crentes que era o termo
usado pelos incrédulos para identificar aquele povo que vivia
à margem da política, pois, confiava somente em Deus para suprir todas das
muitas necessidades que sentiam porque a maioria dos crentes pertencia a uma
classe social mais pobre. O contexto social e religioso era que o rico era
católico e o pobre era crente. Nem todo católico era rico e nem todo crente era
pobre. O interessante é que este tipo de evento foi inspirado nos populares
carnavais de rua dos anos 50 quando alguns músicos voluntários saiam pelas ruas
tocando marchinhas e acompanhados por uma multidão. Os evangélicos históricos
ficavam escandalizados com este tipo de evangelismo e evitavam serem chamados
de crentes e se identificavam como "cristãos reformados", inclusive
até mesmo para não serem confundidos com a classe pobre. O carnaval de rua
surgiu porque a elite pulava carnaval nos clubes privados em que os pobres não
tinham acesso e a opção era pular carnaval nas ruas. Não muito tempo depois o
carnaval de rua foi democratizado e todos, sejam ricos ou pobres, pulam e
brincam no mesmo bloco.
E
os desfiles dos crentes, o que aconteceu? Não se vê mais nas ruas nos finais de
semana. Onde estão eles? Será que são os mesmos que atualmente vão às ruas
vestidos de verde e amarelo defendendo os princípios da moralidade? Qual a
similaridade do grupo de ontem com o grupo de hoje? Já me adianto que este
grupo religioso politicamente engajado já existia mesmo antes de Jesus nascer e
quando se apresentou como o Messias veio a sofrer muito com os chamados
legalistas religiosos. Neste tempo, este grupo religioso denominado de
legalistas formado principalmente pelos líderes religiosos da época, os
sacerdotes, já defendiam os princípios da lei que aprenderam e acreditavam
e incitavam a multidão para ficar na linha de frente e reforçar o coro em favor
dos seus interesses. Este grupo ainda existe e ainda continua sendo radical e
não aceita ingerência de qualquer natureza, nem mesmo de Jesus.
Saibam
que nem todos aqueles que saem às ruas de verde e amarelo em defesa da
moralidade são, de fato, evangélicos. Na verdade, a maioria professa a religião
católica e se juntou ao grupo de crentes pentecostais e também aos cristãos
históricos que nunca saiu às ruas, mas, agora empunham a mesma bandeira contra
o comunismo, contra o aborto e contra o homossexualismo principalmente. Para os
mais novos e aos desinformados, crentes e católicos já foram inimigos
históricos. Nos anos 40 e 50 os crentes eram perseguidos pelos padres que
protegiam o seu rebanho dos pastores que distribuíam bíblias nas praças. Meu
pai sofreu perseguição dos padres. A rixa era tão grande que
nos hospitais, os médicos na sua maioria esmagadora eram católicos e não
atendiam quem era crente. Minha mãe teve dois filhos que morreram ainda
bebês e não poderiam ser sepultados no cemitério da cidade. Meu pai
carregou o caixãozinho de um deles no ônibus e teve de sepultar bem longe
da cidade porque era crente.
O
que uniu este povo que antes era inimigo? O que mudou para que se unissem numa
só causa e o que tem em comum estes dois principais grupos? Ninguém está
preocupado com salvação, perdão de pecados, arrependimento e o reino de Deus
que deveria ser as principais pautas de reivindicação. A maioria, mesmo os
evangélicos, não conseguiria discorrer sobre estes fundamentos da doutrina do
evangelho. A política e a religião é o campo comum, porém, agora
tolerantes porque a doutrina tem diferenças fundamentais que geram até brigas
noutros contextos. A conclusão a que se chega é que, se a religião é tolerante
e na política não existe um debate aprofundado de ideias, então, o que
restou neste cenário se chama ignorância e preconceito. A bandeira
religiosa está esfarrapada de tanto que apanha e o campo político está
desgastado pela ganância do dinheiro e pelo poder de influência.
A
elite social brasileira tem característica de um radicalismo feudal onde se
julga como a única opção de sobrevivência financeira legítima em que todos
dependem dela. Qualquer outra ideologia que afronta este conceito egoísta que
teoricamente vá comprometer o conforto dos dominadores é passível de repúdio.
Distribuir a renda de forma que todos gerem as suas próprias riquezas é algo
impensável e está fora de qualquer questionamento. Não existe riqueza sem
a complacência do pobre assalariado que se submete ao sistema por questão de
sobrevivência sendo responsável direto pela pior parte no processo. A ideologia
que esta elite social tem repugnância é o socialismo/comunismo. É o medo de
perder tudo e ficar pobre. Até mesmo o pobre se tornou capitalista como se
bastasse acreditar cegamente que tudo vai melhorar. Já os crentes, ricos ou
pobres, nem querem ouvir falar em comunismo porque acreditam que é uma
ideologia que nega a Deus. Toda ideologia fundamentalmente é um campo aberto.
Já num regime de governo democrático se pode ser socialista e capitalista ao
mesmo tempo. Porque não ser rico e justamente generoso? Negar a Deus é uma
prerrogativa pessoal e não existe ideologia política que seja taxativa nesta
questão. Por incrível que pareça, todos aqueles que repudiam o comunismo, nunca
questionaram o ateísmo que é negar a Deus e não é nem de perto um dos temas
defendidos porque desconhecem o seu fundamento. Falam contra o comunismo, mas,
a maior preocupação é sempre com o aborto e o homossexualismo.
Mas,
e o capitalismo que defendem, deve ser abraçado sem conhecer os seus
fundamentos? No antigo testamento era proibido emprestar com juros e no novo
testamento na parábola dos talentos, o próprio Jesus expôs que o empregado que
não rendeu juros no talento é um servo ruim. Na Bíblia não existe uma
explanação política sobre ideologia, mas, sobre atitudes que vão além daquilo
que se conhece. Todo conceito humano tem princípio nas leis de Deus e Jesus
veio para cumprir estas leis (Mateus 5:17). Se atentarmos para os fundamentos
daquilo que Jesus ensinou, as atitudes que o evangelho de Jesus expôs tem mais
proximidade com o comunismo, pois, tem fundamentos socialistas e repudia o
capitalismo quando lemos que se deve servir a Deus ou ao dinheiro. No livro de
Atos 4:32 conhecemos mais sobre a igreja primitiva em que tudo o que as pessoas
possuíam, lhes eram comuns, ou seja, pertenciam a todos para que
ninguém passasse necessidades. Outro texto ainda mais forte na parábola em que
Jesus falou ao jovem rico que vendesse a sua riqueza e distribuísse o dinheiro
aos pobres (Mateus 19:21). Um evangelho radicalmente comunista de atitude que
demonstra que pertencer, neste caso, não é possuir, mas, usufruir. O jovem rico
possuía muitos bens e o seu coração estava nas suas riquezas e queria mais
possuir do que usufruir. No princípio do Gênesis se Deus falasse para Adão que
o mundo inteiro lhe pertencia, seria algo sem sentido. Ao invés disso, Deus
falou que tudo era para que ele usufruísse. Porque ser rico é poder aproveitar
aquilo que possui e deve ser uma benção de Deus e jamais deve ter como
propósito o egoísmo, a avareza e a ganância.
Deus
não está numa caixinha como se fosse de estimação conforme sua ideologia. Nem
socialista, nem comunista, nem capitalista, anarquista ou qualquer outra, pois,
o foco de Deus é atitude que faça diferença na vida das pessoas e que o
evangelho seja comum a todos. O princípio do evangelho é a vida em Deus que não
se identifica com a política e nem com a religião seja ela qual for. Este grupo
que utiliza a política para falar de princípios não chegará a lugar algum e,
devido ao radicalismo, as consequências é a discriminação de pessoas, a
incitação ao ódio e o partidarismo. Deus permite que estes extremismos
aconteçam, mas, não compactua e não designou os discípulos para falar de
política e nem de religião, mas, do evangelho de salvação para todos. O nosso compromisso
com Deus não é ter uma forma politicamente correta e nem falar de suas leis
religiosamente corretas.
Parabéns pelo texto, Jr. Política partidária e religião quando se misturam só produzem o mal para povo.
ResponderExcluirObrigado mestre!
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