Venancio Junior
O
ser humano foi jogado à própria sorte. Logo no início bíblico da história em Genesis
6:5 Deus já percebeu que a coisa desandou totalmente e nos Salmos 81:12 Deus
relata esta entrega aos desejos do coração maldoso e no livro de Romanos 1:28 a
32, o apóstolo Paulo escracha esta condição depravada do ser humano. Contrariamente
à definição humana, na bíblia, sorte é um termo concomitante onde significa
possibilidades que podem ser boas ou más. Todos estão sujeitos a todas elas
porque perdeu-se a originalidade da criação em que estávamos usufruindo somente
as coisas boas.
A
origem de onde se partiu é fundamental para que não se perca a referência do
que somos. É esta referência do padrão de qualidade que alinha as ações e
pensamentos de acordo com o que foi definido por Deus o próprio criador.
Sofremos as consequências por esta queda da origem que é somente um. Já, o
destino, são dois, a salvação que é voltar a configuração original ou a
perdição que é se manter nesta situação confusa e sem a originalidade. Perdê-la
é algo que representa não ter mais a boa qualidade do início da criação. A
Bíblia discorre sobre o que éramos, o que nos tornamos e o
que podemos continuar sendo ou vir a ser. Dizem que o Antigo Testamento é a
revelação do ser humano a Deus. Já o Novo Testamento ouvi falar que é Deus se
revelando ao ser humano, convivendo em carne e osso com as agruras de uma vida
fora do contexto da vida sem a originalidade da criação.
Por
que Jesus não teve pecado sendo que nasceu no mesmo contexto de qualquer ser
humano? Jesus foi concebido pelo Espírito Santo em que não há pecado. Apesar
desta condição humana santificada, Jesus não ficou livre das tentações. Será
que Jesus foi tentado somente no deserto? Será que Jesus sofreu alguma “cantada”
para um tempo de quentes emoções das prostitutas com quem conversou? Será que
Jesus foi tentado a dar um "jeitinho" na sua própria vida para fugir
da morte que ele próprio já antevia? Lembro que em vários momentos, mesmo
sabendo que, por amor, não tinha como fugir, demonstrou claramente que nunca quis morrer
na cruz e, talvez o motivo principal fosse a dificuldade que Jesus teve em
morrer pela vida dos religiosos que tanto combateu e foram os seus principais
desafetos. Jesus tinha de demonstrar que também era humano, porém, sem pecar. Será
que o primeiro milagre de Jesus transformando a água em vinho numa festa comum
de casamento foi um deslize? Afinal, os milagres eram para fazer diferença na
vida espiritual das pessoas. Ninguém passou a crer em Jesus do ponto de vista
messiânico por causa deste milagre. Tanto os noivos, como também o
administrador da festa e a maioria dos convidados não ficaram sabendo disto.
Maria, a mãe biológica de Jesus, talvez não tenha cobrado uma intervenção miraculosa por parte do filho conforme a interpretação de alguns teólogos católicos que a superestimam, mas, não podemos negar que, em todos os episódios que a envolve, se portou como mãe, mesmo assim, Jesus se esquivou de fazer a vontade dela ou da forma como queria. Praticou o milagre, mas, sem alarde e sem
que a maioria soubesse do ocorrido.
Eu
creio em milagres e creio no poder de Deus que é, em todos os casos, extraordinário
onde geralmente esperamos as manifestações do seu poder e na festa de casamento
onde nem todos foram surpreendidos, demonstrou que se importa com o simples
cotidiano humano. Contrariamente ao que se supõe quando no texto lemos que Deus
nos abandonou e nos jogou a própria sorte nos submetendo a todas as possibilidades
das consequências do pecado sem que ele próprio interviesse no destino de cada
um, Deus se importa. Esta decisão radical em mudar o próprio rumo que foi definido ao ser humano, revela que se importa, pois,
demonstrou sua tristeza e uma certa frustração porque não era para ser assim.
Muitos julgam que Deus não tem sentimento ruim porque é perfeito. Deus é
perfeito e completo. Deus é bom e demonstrou sua plena bondade na sua infinita
misericórdia. Mas, Deus é completo demonstrando a sua absoluta soberania ficando
triste e frustrado com a sua criação. Afinal, Deus é a fonte de tudo o que se
imagina e o que se vê. Somos feituras da glória de Deus e essencialmente bons.
Deus se encantou com a sua criação "...viu que tudo era bom" Gênesis 1:31. Porém,
se desencantou posteriormente por causa do pecado que retirou a nossa
originalidade e fomos condicionados a todas as possibilidades.
O
ser humano tenta a qualquer custo se reintegrar a uma condição que lhe traga
paz interior e faça sentido nas suas crises existenciais. Fora de Deus, nada
faz sentido. Há muitos questionamentos internos e externos quando querem saber
o porquê a outra pessoa é assim ou o porquê eu sou assim. Como forma de se proteger
destes questionamentos, é mais fácil se conformar de que nasceu com estas
características e seguir o próprio caminho desconsiderando todas as
consequências desta decisão. Tem aquele velho ditado “pau que nasce torto,
morre torto”. Os conflitos internos existem em cada pessoa. Alguns comportamentos sociais e religiosos, seus conceitos são questionados pela sociedade civil que se divide entre radicais e liberais. Cada um deve
administrar suas fraquezas da melhor forma possível. De antemão afirmo que nem todo pau que
nasce torto deve morrer torto. A nossa origem diz tudo o que somos e como
devemos ser. Num contexto em que houve perda da originalidade, o melhor é
buscar a composição original que, no contexto de pecado, não será possível
utilizando os recursos humanos. Somente em Deus é possível ser uma nova
criatura em Cristo. Da mesma forma que Deus nos deixou a própria sorte, nos deu
a possibilidade em ser reconduzido a sua presença através da justificação em Cristo.
Basta decidir em ser esta nova criatura. Não existe uma terceira via opcional
em que a pessoa não decida por Deus e nem pelo diabo. A guerra entre Deus e o
diabo não existe. Deus é soberano e o diabo que é a manifestação do mal, está sob esta soberania porque
também é criação de Deus. O diabo sempre pediu permissão a Deus para agir. Se
Deus não permitir, é inútil toda investida maligna do diabo. Toda violência e
os absurdos que presenciamos na vida é porque Deus permitiu que o mal se
apoderasse de nós, pois, nos submeteu às suas consequências. O único refúgio
seguro é estar na presença de Deus onde o diabo não tem qualquer liberdade para
praticar o mal na vida das pessoas para que não esteja mais sob os seus
cuidados. Surge, então, o questionamento, se está sob o seu cuidado, então, por
que as pessoas boas que encontram refúgio em Deus também sofrem? É porque fomos
literalmente jogados a própria sorte onde bons e maus sofrem as mesmas
consequências de estar fora da sua presença.
As
principais promessas de Deus ao ser humano dos benefícios da sua bondade
constam nos 10 mandamentos e nas bem-aventuranças que são para uma nova vida em Cristo. Mesmo em meio
as turbulências da vida e sendo ainda pecadores, continuaremos pecadores, cada
qual com o seu "pecado de estimação". Devemos crer nestas promessas
para que o pecado não seja a única influência do nosso destino. Aquele que
rouba que não roube mais, aquele que mente que não minta mais, aquele que julga,
que não julgue mais e não dê vazão a todas as suas fraquezas. Todos nascem
sujeitos a todas as possibilidades. Isto é por causa do pecado que está em nós
e Deus nos submeteu a todas as consequências deste pecado. É uma tendência
procurar motivos para os nossos erros e colocar a culpa nos outros. O inimigo não é o próximo, mesmo que seja o nosso virtual inimigo, mas, é aquele
que age nas pessoas que praticam o mal. Da mesma forma aqueles que sofrem de
algum tipo de incontinência, deve submeter esta propensão que se tornou
natural, a Deus que é o único capaz de nos proteger destas consequências.
Ainda bem que os que decidem viver como uma nova criatura não sofre mais porque vai a igreja onde todo mundo é perfeito. Este é um pensamento absolutamente equivocado e não deve ser motivo para criticar as igrejas. Muitos consideram que a igreja deve ser composta somente por pessoas perfeitas. Ninguém é perfeito e somente Deus é bom. A igreja que Deus considera como a sua eleita, não está entre quatro paredes e nem ostenta uma placa com nome. A igreja verdadeira é formada por pessoas cheias de defeitos e capazes de continuar praticando o mal mesmo frequentando um grupo religioso. Constantemente devemos rever a nossa condição e apresentar diante de Deus as nossas fraquezas para que a arrogância e nem a soberba não sejam armadilhas e façamos um pré-julgamento de nós mesmos como sendo merecedores da graça de Deus. A igreja, não a institucional, mas, a que funciona em cada um daqueles que se renderam a Cristo, deve ser uma clínica de almas e acolher a todos com os seus defeitos e cada um deve assumir sem medo os seus defeitos todos os dias. Para isto, a igreja deve estar preparada para receber todas as pessoas do jeito que elas se encontram e do que elas sejam.
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