Venancio Junior
Quando comecei a escrever esta reflexão, não tinha
a mínima ideia de que estaríamos enfrentando uma pandemia mundial em que
seriamos submetidos a um isolamento social e a obrigatoriedade no uso da máscara.
Então, aproveitei para fazer algumas adaptações visando contextualizar melhor a
compreensão.
Pois bem, nesta pandemia onde fomos obrigados aos
pormenores cuidados de higiene, (como se nunca precisássemos destes cuidados)
temos duas situações na utilização da máscara de proteção. Proteger a si mesmo
que é não se contaminar quando ainda não foi contaminado e proteger outros,
caso tenha sido contaminado. A máscara tem outras utilidades também para
esconder um semblante triste ou alguma cicatriz inconveniente. Podemos
utilizá-la também como uma metáfora esta prática que, talvez, por um bom tempo
teremos que manter no nosso cotidiano. No caso das pessoas, a máscara serviria
para esconder o rosto envergonhado e até mesmo, para praticar ilícitos e que
não queira ser identificado. No mundo das HQs, tanto os super-heróis como os
vilões, utilizam da máscara para não serem identificados. A igreja não fica
ilesa desta metáfora quando utiliza a religião como máscara fingindo ser uma
instituição de valor. Muitas delas são sérias e cumprem bem o papel de bom
samaritano e não precisam da máscara, pois, tem o propósito de contagiar com
atitudes que faz a diferença na vida de muita gente. Infelizmente, para outros
grupos organizados, a máscara esconde a face oculta quando o aliciamento
espiritual é a prática mais comum das principais lideranças influentes da
igreja. Alguns não querem ser confundidos com o “mundo” e colocam a máscara da
ortodoxia ou do puritanismo, pois, entende que não é para se ter qualquer
envolvimento com o mundo lá fora e quem quiser salvação que venha sem qualquer
iniciativa da igreja. Já, os cristãos progressistas afirmam que sem
envolvimento não tem como conscientizar outros do evangelho que defendem tipo,
caminhar juntos. Não tem como ficar com a máscara quando o objetivo é “se
alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram”, Romanos 12:15.
Aqueles que não são nem progressistas e nem ortodoxos até se envolvem com as “coisas
do mundo”, mas, mantêm suas práticas de acordo com a doutrina que seguem. Este
último grupo se limita a atrair somente aqueles que se alinham com esta
doutrina que, muitas vezes é “preceito de homens”, Colossenses 2:22. Eu diria
que, enquanto proteção de valores, este artefato seria um escudo que defende o
que seja lícito e não uma máscara que esconde o que é ilícito. Podemos, então,
afirmar que algumas igrejas têm a máscara da religião, quando retira,
revela a cara da hipocrisia. Outras têm a máscara do evangelho que
é utilizada como “escudo” para se proteger das inverdades fora do evangelho. O
apóstolo Paulo no livro de Tiago 1:27 falou sobre a verdadeira igreja que
deve guardar-se incontaminada do mundo. Sem a máscara contaminada do
mundo e protegido com o escudo da fé, tal como lemos em Efésios 6:16.
A característica da máscara depende muito da situação, quando pode ser
utilizada para ocultar ou para se proteger.
Diante de uma igreja plural onde os conceitos são
diversificados, e conforme a tradição ortodoxa, pentecostal, tradicional,
reformada, histórica, carismática e renovada que são características de cada
denominação, não se pode julgar como legitimidade espiritual qualquer uma
destas “máscaras”, pois, uma se contrapõe a outra. Que cara há por trás destas
máscaras? Lendo o texto de Marcos 7:8 percebe-se que a tradição dos
homens nada mais é que um invólucro de proteção de valores estritamente
pessoais. “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às
tradições dos homens”. O que Jesus quis dizer é que conhecemos o
evangelho, porém, insistimos em nos manter nesta redoma protetora usando
a máscara da denominação. Enquanto a igreja segue o evangelho de Cristo, a
denominação insiste em utilizar a máscara da tradição dos homens. A igreja está
perdendo a sua submissão porque perdeu a visão de que o propósito da igreja é
servir e não ser servida ou idolatrada. Já ouvi muitos afirmarem "eu amo a
minha igreja". Isto é idolatria! A igreja não pode estar acima de Deus
porque serviremos à igreja ao invés de Deus. Quando servimos a igreja, deixamos
de ser submissos e tornamo-nos omissos, consequentemente deixamos de ser
discípulos. Jesus quando chamou os apóstolos, estes mudaram o foco daquilo que
estavam fazendo retirando a máscara da religião judaica e o seguiram para serem
os seus discípulos. Ao assumir este compromisso de mudança, não precisa largar
o emprego para seguir a Jesus. Este exemplo serve para que o nosso trabalho e
tudo aquilo que julgamos essencial, inclusive a família, tenha a sua prioridade
conforme os planos de Deus. Ser discípulo significa uma total e absoluta
entrega à causa do mestre. Não existe aquela ordem de prioridade, família,
igreja, trabalho ou o inverso. Primeiro o Reino e aquilo que seja justo na
perspectiva de Deus e as demais coisas, cada qual no seu grau de prioridade
terá o seu devido amparo. Investir no Reino de Deus que é eterno, é a nossa
prioridade como discípulo, ao invés de nos desgastarmos com uma vida, sem
demérito, que a própria Bíblia diz que é passageira. A função do discípulo não
é somente desejar as benesses do porvir, mas, trazer outros para que componham
a mesa da comunhão e não sejam consumidos pela vaidade e sedução do mundo. Não
se conformar com o mundo é um processo esotérico que acontece de dentro para
fora sem a máscara da igreja ou da sua religião. Quando julgamos nossa espiritualidade
apenas pela nossa intensa frequência as programações religiosas ou pelo dízimo
que oferecemos, estamos enganando a nós mesmos. A única atitude que Deus
considera na devoção é a disposição em servir, principalmente fora da igreja.
Devemos ser Igreja além da igreja.
Diante deste isolamento social, as reuniões
ordinárias dentro das quatro paredes tornaram-se irrelevantes frente ao grande
desafio que a igreja tem fora delas. O mundo não cansa de se perder em causas
sem valor para a eternidade. As pessoas não cansam de se martirizarem pela
carga emocional. O ser humano está sendo consumido. O alívio que precisa não
encontrará na máscara das quatro paredes da denominação, mas, sim, no evangelho
sem máscara que a igreja proclama. As quatro paredes é a “casa de oração
para todos os povos” conforme Jesus afirma em Marcos 11:17. Use máscara,
mas, somente aquela que é utilizada para se proteger do vírus.
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