Venancio
Jr
Ato
I
O
tempo de Deus
Uma
palavra bonita e que a ouvimos em diversos cânticos e pregações. Restaurar é
fazer novo algo já existente, porém, desgastado. Mas, o que implica uma
verdadeira restauração? Quando chegamos na condição de pedir à Deus por
restauração é porque julgamo-nos indignos de estar na tua presença. Isto
demonstra a condição de um coração contrito. Um versículo interessante que fala
sobre restauração está em Jeremias 29:11,12,13 quando foi escrita uma carta aos
cativos da Babilônia: "Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós,
diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança.
Então me invocareis, e ireis e orareis a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis,
e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração". Apesar de na visão
humana aparentemente estar tudo perdido, Deus está sempre atento às nossas
necessidades, creia você ou não, e disposto a nos trazer um novo viver. Esta
situação não significa necessariamente pessoas novas, ambiente novo ou qualquer
outra coisa “palpável” ou pode ser isto também para tornar tudo novo. No
caso, pode ser que seja uma nova perspectiva de vida sem que precise sair do
lugar com um novo sentimento gerando uma nova motivação. Lembrando que esta
condição não é o padrão de restauração. Algo novo é o que sempre buscamos numa
restauração, pois, reacende a esperança de um novo viver. Porém, para que o
novo surja, o velho deve ser retirado porque senão fica ou com cara de velho ou
influenciado pelos velhos costumes. Agora complicou porque não adianta o
exterior ser sadio e o interior continuar doente porque sem este processo não
haverá restauração. Absolutamente nada vai mudar. Se a Igreja precisa de
restauração, os conceitos, as doutrinas e os dogmas envelhecidos pelos
costumes, deverão sofrer este processo de expurgação. Muitas vezes isto dói
muito porque remexe um passado mal cicatrizado e a ferida é novamente aberta e
precisará de um novo tempo para remover as infecções e muita paciência no
processo de cicatrização. Superando este processo, os conceitos valorizados
precisarão ser revistos e renunciar a eles é difícil. Muitos são tratados com
carinho e até predileção julgando que sejam importantes. E as vontades, o que
faria com elas? O que resultou de positivo em fazer a própria vontade? É
importante continuar insistindo em supervalorizar o que se sente e dar vazão a
elas? O processo de restauração exige renúncia. Não há outro caminho quando o
que se precisa é renunciar às coisas velhas e ter tudo novo de novo. O processo
é de dentro para fora e não o inverso. No processo de restauração as coisas
velhas não convivem com as novas. Mas Deus incomoda mostrando que devesse ser
restaurado de acordo com os princípios da sua palavra. Não conheço alguém que
tenha passado por uma restauração sem sacrifícios e sem lágrimas porque é
preciso retirar as infecções emocionais para que a ferida sare. Isto dói muito.
O desejo deve estar sempre diante de Deus porque a vontade dEle para a nossa
vida é perfeita e agradável e se deve permitir que seja colocada no coração.
Aceitar a vontade de Deus é algo difícil quando se está sofrendo em busca de
uma solução urgente. Muitos traumas são gerados porque busca-se a própria
solução. Primeira ação válida para um início eficaz de restauração é ter
atitudes de sabedoria. O temor ao Senhor é o princípio da sabedoria. Meditar na
sua palavra e confiar a Deus suas ações e emoções sejam os anseios, as dúvidas,
as tristezas, as angústias, a alegria, o prazer e a esperança para que tudo
seja restaurado. A restauração não é um processo de magia. A cicatrização
acontece após a cura das feridas que leva tempo e sofrerá um processo contínuo
quando serão curadas. O processo de restauração exige tempo, o tempo de Deus.
Ato
II
O
“Eu”
Palavra
tão pequena, mas, quando “explode”, toma as rédeas e pode causar
estragos irreparáveis. Porém, mesmo eclodindo, existe uma força quando potencializada,
a sua capacidade de construir e a envergadura em reunir interesses que
beneficiam o meio vivente, propiciará grandes benefícios. Seria ótimo se esta
condição fosse permanente. Mas, o “eu” está sempre disposto, seja para o
bem, seja para o mal. Sem perceber, ele sobressai e começa a ditar as regras,
define o caminho e pode nos colocar em várias enrascadas que nos deixam
aviltados. O “eu” quase nunca é submisso. Quem pode dominá-lo ou
domá-lo? A Bíblia refere-se ao “eu” como algo perigoso. O “eu” nunca
pode estar sozinho com autonomia para decidir. Ele deve ser controlado. Quem
pode controlar o “eu” que é composto de personalidade e caráter?
Qualquer um deles pode controlar o “eu”. Toda a problemática do “eu”
começa quando foi expulso da presença de Deus. Lemos isto em Romanos 3:23,
Todos pecaram e destituídos da glória de Deus. O termo “destituído” é
interessante porque significa que nos foi retirada a glória que estava em nós,
melhor dizendo, estava no “eu” que era submisso. Nesta "nova"
condição o “eu” foi desfigurado e perdeu a característica celestial. Deu
rumo à sua própria vida. Decidiu seguir o seu próprio caminho e ignorou as consequências
para o qual ficou sujeito. Quando o “eu” decide, desconsidera totalmente
as implicações desta decisão. Mas como podemos domar o “eu”?
Simplesmente, não é possível. O “eu” é incontrolável. A personalidade
reage frente ao imprevisto e faz mau uso dele. Assim como o caráter, que age e
foi, obviamente, descaracterizado, também faz mau uso dele. O que nos resta fazer
para que as decisões do “eu” não destruam o que nos envolve como o próprio “eu”?
O apóstolo Paulo exemplificou com a sua própria vida. Paulo era oficial do
exército romano. Nesta condição, fazia o que mandavam. Cumpria, a rigor, ordens
superiores. Porém, os métodos e as formas como fazia, era ele, ou melhor, o
“eu” dele que decidia, porque imprimia o seu próprio ritmo a níveis de
crueldades absurdas. Era uma pessoa nefasta e com várias pessoas que o odiavam
e eram os seus potenciais inimigos. Na verdade, odiavam o “eu” dele.
Quando fazemos o que queremos, o “eu” é quem está dominando todo o ser composto
pela personalidade e o caráter. O apóstolo Paulo quando teve um encontro
pessoal com Cristo, ouviu o porquê O perseguia. O “eu” de Paulo
retrucou: quem és tu? A partir deste momento iniciou-se o confronto interior do
“eu” de Paulo. E esta batalha o acompanhou até o fim da sua vida. O que nos
coloca em maus lençóis é a personalidade que reage com os impulsos. Já, o
caráter, tem a capacidade de nos levar à condenação eterna, caso, não seja
transformado pelo poder de Deus. Caráter e personalidade, repito, formam o
“eu”. Ambos precisam ser domados e anulados em suas decisões. Mas, como assim,
anulados? Então eu deixo de existir? Exatamente! Não decidimos mais pela nossa
vida porque fomos comprados e temos um novo dono. Leiamos o texto de Romanos
8:10 “Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa
do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça”. É exatamente isto, o
“eu” deve estar morto, crucificado com Cristo e reviver justificado pela
sua graça. Como sofremos quando deixamos o nosso “eu” tomar a direção da nossa
vida. O “eu” deverá seguir o mesmo caminho de submissão. Não adianta
insistir em corrigir o “eu”. Ele foi desfigurado e descaracterizado.
Somente Cristo é capaz de anular as más intenções do “eu”. Não pense que
é tarefa fácil submeter o nosso “eu” a Cristo. É algo muito difícil que exige
renúncia. Uma luta constante. A carne luta com o espírito. São adversários,
Gálatas 5:17. E uma das grandes atitudes é anular as tendências da carne.
Cristo usou um termo bem “cruel”, porém, necessário para que o “eu”
fosse dominado, “Negue-se a si mesmo” (Mateus 16:24) quando deu a opção,
quem quiser seguir, o “eu” tem de ser submisso a Cristo porque é
impossível segui-lo fazendo o que bem entende. Não se trata de uma
despersonalização, mas, de descaracterização. Deus muda o caráter e não a
personalidade. A chatice é uma questão de personalidade. Se você é chato,
continuará chato, caso não administre a sua personalidade. Deus não nos tira a
capacidade de raciocinar porque a sabedoria e o bom senso, amplamente
discorrido em provérbios são capacidades da razão. Quando a intenção é má, a
razão desperta para uma decisão sábia e sensata. Este é o processo de submissão
do “eu”. Basta seguir com rigor o que a Bíblia nos diz. Um “eu” submisso
não é garantia de ausência de problemas. “...no mundo tereis aflições, mas
tende bom ânimo, eu venci o mundo” João 16:3. A capacidade de superação
numa condição de submissão não pertence mais ao “eu”. Tornando-nos
submissos, não ficamos abandonados porque o Senhor peleja por nós. Deuteronômio
3:22.
Ato
III
O
coração
Na
jornada rumo aos propósitos que Deus planejou para nós, há muitos obstáculos. O
livro de Provérbios 12:25 alerta-nos: “...o coração ansioso deprime o ser
humano”. Somos sujeitos a toda e qualquer tipo de dificuldades físicas e
emocionais. De qualquer forma, não devemos permitir que sejamos debilitados.
Cabe à nós evitar que permaneçamos caídos e isto depende fundamentalmente das
ações e intenções do coração de onde provem o bem e o mal. Não falo somente das
nossas práticas devocionais, tais como oração diária, leitura e meditação da
palavra que são disciplinas de fortalecimento e que nos mantém em pé, mas, de
atitudes que refletem o nosso relacionamento com as pessoas com quem convivemos
e, principalmente, com Deus. Podemos esconder das pessoas o que fazemos, mas,
não de Deus. Em Jeremias 17 no versículo 10, Deus mostra que nada está
encoberto: “Eu, o Senhor, esquadrinho a mente, eu provo o coração; e isso
para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.”
O final do texto fala sobre o caminho que escolhemos e sobre as consequências
das nossas atitudes. Conseguiremos avançar no crescimento a partir do momento
em que as nossas ações sejam verdadeiramente condizentes com o princípio da
palavra de Deus. Seguir este princípio depende fundamentalmente de um coração
disposto a obedecer. Assim, removemos as “escamas espirituais” que nos
cegam impedindo de enxergarmos a verdade e o caminho, nos ensurdecem impedindo
de ouvir a orientação por qual caminho devemos prosseguir e bloqueiam o coração
cauterizando a nossa consciência de sentir qual é a perfeita e agradável
vontade do Senhor. Removidas as escamas, o risco em fazer a nossa vontade
diminui que, muitas vezes, segue o que há em nosso coração. Em Jeremias 17:9
Deus revela tudo sobre o nosso coração: “Enganoso é o coração, mais do que
todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?”. O que podemos dizer
de algo que a própria Bíblia diz que é enganoso? Ler a Bíblia e orar sem o
discernimento do Espírito Santo conseguiremos identificar nos versículos apenas
aquilo que nos interessam e nos manterá na nossa “velha criatura religiosa”.
Uma condição perigosíssima porque podemos ficar chocados até a qual nível
podemos chegar. A esta altura pode ser tarde demais, na melhor das hipóteses,
fica muito mais difícil em retroagir. Os legalistas religiosos crucificaram
Jesus porque o coração estava longe de Deus. Provavelmente, muitos deles se
arrependeram em apoiar esta atrocidade, mas, já era muito tarde e o único
arrependimento eficaz, a partir de então, seria dos pecados. A restauração, de
fato, começa quando seguimos o que o apóstolo Paulo diz que o “eu” não
vive mais, mas, Cristo vive em nós. Gálatas 2:20. Isto significa que a vontade
pessoal não vale mais porque tem origem no coração enganoso e devemos deixar
que Cristo potencialize as atitudes que nos reconduzirão ao caminho da verdade.
Temos de ter em mente que a nossa carne quer permanecer no pecado, consequentemente,
estaremos fora da presença de Deus. Quando a vontade de Deus em nosso coração
torna-se soberana, as nossas atitudes mudam em prol do nosso crescimento e de
todos com quem convivemos. Onde está aquilo que, de fato, tem valor? “Onde
está o tesouro, lá estará o coração.” Mateus 6:21.
Ato
IV
Ser
cheio do Espírito Santo
O
maior exemplo de uma vida cheia do Espírito Santo é Cristo. Mas, não constituem
a mesma pessoa? Sim, é a mesma pessoa. A manifestação distinta da trindade foi
necessária para que entendêssemos a missão de cada um. No caso de Jesus,
considerando que, na sua peregrinação terrena, fora lhe dado todo o poder e
autoridade, “Foi me dada toda a autoridade no céu e na terra”. Mateus
28:18. Nunca atraiu para si benefícios e nem demonstrou qualquer grau de
soberba. Então, Jesus tinha o poder, mas, preferiu humildemente se submeter a
autoridade de Deus-Pai. Ele mesmo enfatizou que não estava fazendo a vontade
dEle, mas, do Pai que está no céu. O que entendemos quando lemos no livro de
João 6:38 na própria palavra de Jesus: “Pois Eu desci do céu, não para fazer
a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Outra
afirmação de Cristo que, mesmo quando estava emocionalmente debilitado e
profundamente triste porque se aproximava a sua crucificação, revela que era
cheio do Espírito Santo, leia o texto de Lucas 22:42 “Pai, se queres, afasta
de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu
desejas!”. Se Jesus fizesse o que queria a sua natureza humana, nada
daquilo que lhe fora confiado teria acontecido, inclusive o processo de restauração
do ser humano. Ele estaria coberto de razão em fazer a tua vontade. Seria
crucificado para o perdão daqueles que o traíram, condenaram e o mataram. Quem
faria isto? Ninguém! Somente uma vida cheia do Espírito Santo é capaz de
transpor barreiras aparentemente intransponíveis. Ser cheio do Espírito Santo é
decorrente de uma vida com o foco em Cristo revelando a verdadeira submissão
que produz frutos para o engrandecimento do Reino de Deus. Quais são os frutos
do espírito? No livro aos Gálatas 5:22 ao 25, o apóstolo Paulo escreveu: “Entretanto,
o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão e domínio próprio. Domínio próprio, no caso, não é
controlar a si mesmo, mas, submeter-se ao controle do Espírito Santo que age em
nós. Contra essas virtudes não há Lei. Os que pertencem a Cristo Jesus
crucificaram a carne, com as suas paixões e os desejos do coração não
regenerado. Crucificar a carne é anular as suas obras com a presença do
Espírito Santo na vida de forma completa. Se vivemos pelo Espírito, andemos de
igual modo sob a direção do Espírito”. Ser movido pelo Espírito Santo de Deus é
depender da sua ação. Não há como produzir frutos do Espírito vivendo na carne.
É preciso crucificação da carne. As obras da carne são podridão. No mesmo texto
de Gálatas 22, a partir do verso 19 lemos: “Ora, as obras da carne são
manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatrias e
feitiçarias; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e
inveja; embriaguez, orgias e tudo quanto se pareça com essas perversidades...”.
É preciso deixar que o Espírito Santo domine sua mente e o coração para
tornar-se íntimo de Deus. Muitos confundem quando recebem o dom de línguas ou,
mais conhecida como, batizadas com o Espírito Santo e julgam que são cheias do
Espírito Santo e nunca ficam vazias. Ledo engano. Dom é uma condição permanente
de Deus e ser cheio do Espírito Santo é uma situação provocada se permanecer na
sua doutrina. Quando recebe o dom espiritual, mesmo que a pessoa produza frutos
da carne, Deus não retira o dom que pode se manifestar a qualquer momento.
Reitero que ter o dom espiritual não significa ser cheio do Espírito Santo. A
pessoa pode ter os dons, porém, as atitudes podem revelar o inverso. Quando
saímos da sua doutrina, os frutos da carne se manifestam e são providos de
destruição. Permanecendo na sua doutrina, os frutos do espírito se revelam.
Tudo que decide qual o caminho seguir é intencional, o de submissão a ação do
Espírito Santo ou o de soberba de origem na carne. Se permanecermos na vontade
da carne, com certeza, sofreremos uma contínua desfiguração do nosso caráter.
Mas, se optarmos pela ação do Espírito Santo na nossa vida, a restauração será
percebida nas nossas ações. Pelos frutos conhecereis a árvore. Jesus foi
incisivo quando disse em Mateus 7:19 a 21, “Toda árvore que não produz bons
frutos é cortada e atirada ao fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
Nem todo aquele que diz a mim: “Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas
somente o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Não há outra
opção. Não há plano B. É uma contínua busca, ser cheio do Espírito Santo para
fazer a vontade de Deus. Confusão, crises, medo e angústia podem acontecer,
mas, quando se é cheio do Espírito Santo, os frutos do espírito são revelados.
Busque incansavelmente ser cheio de Deus nas ações e nas intenções submissas ao
Espírito Santo de Deus.
Ato
V
Caráter
e Personalidade
O
caráter está ligado a alma e a personalidade ao espírito. O caráter age e reage
e a personalidade revela o que, de fato, nós somos. Basicamente é assim que
funciona aquilo com o qual nos identificamos. Somos sujeitos ao meio em que
vivemos e consequentemente sofremos as agruras impostas pela vida. Fomos condicionados
a isto enquanto vivermos por aqui. Somos os responsáveis pelo sucesso e
insucessos daquilo que decidirmos, consequentemente sofreremos as consequências
destas decisões. O que nos controla e o que nos faz viver? Somos submissos a
missão em busca de algo. Estamos em busca do quê? Daí deriva a palavra
submissão. Isto significa que algo nos controla e estamos condicionados a um
objetivo que é a busca por um ideal. Neste processo, somos plenamente convictos
de que temos liberdade exacerbada para fazer o que quiser e como quiser sem
qualquer critério que rege a nossa conduta. A maneira como agimos e reagimos na
execução destes processos é que expõe o nosso caráter e personalidade. Ambos
devem ser controlados pelo Espírito Santo porque uma vida insubmissa provoca
uma desfiguração da personalidade e, principalmente, marcas indeléveis no
caráter. Tem muitos que expõem o desvio de caráter na sua personalidade. Já,
outros, conseguem manter ocultas suas mazelas comportamentais internas. Caráter
e personalidade são coisas intrínsecas e não se pode separá-las. Quando um vai
mal, ambos sofrem. Da mesma forma, não se pode separar a vida social,
profissional e familiar da vida espiritual. A essência da vida é espiritual.
Quando sai para o trabalho, para um churrasco ou em férias com a família, não
se deixa a alma ou o espírito em casa. Em qualquer situação, o nosso todo
(caráter e personalidade) está presente. A espiritualidade está condicionada a
ação e reação do caráter. Em se tratando de caráter, infelizmente, não temos
controle sobre o nosso caráter. Quando afirmamos que uma pessoa é de bom
caráter, isto tem uma profundidade muito maior do que imaginamos na questão da
bondade. Como não temos controle sobre ele, então, quem pode controlá-lo e
modificá-lo quando necessário? Somente através de uma força sobrenatural será
possível esta mudança. O poder sobrenatural de Deus muda o caráter. A
personalidade, cada um administra a sua. Quando mal administrada, as consequências
são gravíssimas podendo até perder a herança do Reino. Muitas características
da personalidade podem ser reflexos do desvio de caráter. O que precisamos é de
descaracterização e não de despersonalização. A espiritualidade herdeira do
Reino precisa seguir e permanecer no caminho que qualifica aqueles que cumprem
a vontade de Deus. Lendo desta maneira parece que nos tornamos escravos de um
Deus cruel. Na verdade, fazer a vontade de Deus, considerando o mundo em que
vivemos que jaz no maligno, é somente para os que são livres da condenação
eterna. A verdadeira liberdade é ter um caráter e personalidade sem as máculas
de uma vida pregressa quando tínhamos o caráter forjado na conformidade deste
mundo. Quando o apóstolo Paulo escreveu no livro de Romanos 12:2 que não
devemos tomar a forma deste mundo, mas sermos transformados pela renovação dos
pensamentos, ele propôs que nos submetêssemos a ação do Espírito Santo de Deus.
A renovação proposta é porque o pecado nos envelhece como diz o salmista no
capítulo 32 verso 3, até consumir os ossos. A renovação do nosso ser não é pelo
nosso mérito, mas, esta é a nossa parte no processo. A misericórdia e a
superabundante graça de Deus nos sustentam e devemos ser submissos. A
misericórdia de Deus se renova a cada manhã, Lamentações 3:23 e a sua graça é
superabundante Romanos 5:20. Temos um caráter e personalidade livres quando
restaurados pela ação do Espírito Santo de Deus na nossa vida.
Ato
VI
Desconstrução
do ser
Ser
cristão é um processo contínuo e incessante de entrega do ser. No que implica
este processo? O que adquirimos ao longo da vida, revela muito daquilo que
realmente somos. Os anseios, os sonhos, os planos e vontades não deverão formar
a nossa característica de cristão quando não submetidos a vontade de Deus.
Podemos pensar: “Sou cristão há muito tempo e sei o que quero e o que Deus
quer para mim porque Ele mudou a minha vida!”. Certo! Sendo cristão,
julgamos de que tudo o que pedirmos esteja certo porque está de acordo com o
que sentimos e podemos pedir a Deus tranquilamente que Ele irá nos abençoar de
acordo com a nossa vontade. Errado! Isto é muito arriscado. Reconheço que seja
uma questão de honestidade. Podemos desejar e até fazer algo certo ou errado e
que esteja no nosso coração. Honestidade é, em suma, fazer o que quer ou o que
está sentindo. O problema é que honestidade nada tem a ver com certo ou errado.
Nesta condição apresentamos uma oração ilegítima quando apresentamos a Deus que
ele faça da forma como queremos e perdemos totalmente a legitimidade das nossas
petições. Não basta simplesmente ter na mente e sentir no coração. Tudo deverá
ser submetido à vontade de Deus porque não sabemos orar. É preciso desapego do
ter e uma integral e profunda desconstrução do ser. O apóstolo Paulo em Romanos
8:26 nos exorta de que “não sabemos o que havemos de pedir como convém”.
Somente Deus nos conhece intimamente e sabe o que fazemos, Provérbios 15:03 “Os
olhos do Senhor estão em todo lugar, vigiando os maus e os bons”. Deus nunca
fará a nossa vontade a partir de nós, mas, fará o que nos convém pedir em
conformidade a tua soberana vontade. No livro de Tiago 4:3 o texto é bem
radical: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos
deleites. Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus?
Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”.
Isto é muito forte. Mas, por que fala da amizade do mundo? Exatamente pela
ilegitimidade da oração. O sentimento está adulterado, foi construído sobre uma
base disforme do propósito de Deus em total sintonia com os “sentimentos
mundanos” e fora de sintonia daquilo que a Bíblia nos apresenta. Por
exemplo, se você tem algo contra alguém e ao invés de orar por ela conforme a
Bíblia ensina, ora a Deus que a faça ser prejudicada. Outra situação bem comum
é quando toma uma decisão errada em algum negócio, mesmo assim ora a Deus para
abençoar tentando atrair a vontade de Deus para a sua vontade pessoal e, desta
forma, tentar consertar o erro. Totalmente ilegítimo. O melhor em qualquer
situação certa ou errada é submeter aquilo que está na mente e no coração a
vontade de Deus. Desconstruir a sua vontade e reconstruí-la na confiança em
Deus. Acreditar em Deus é saber da sua existência. Crer em Deus é saber que
pode todas as coisas. Confiar, além de saber da sua existência e de que pode
todas as coisas, é entregar tudo a Ele, submeter toda a sua vontade e
pensamento a Deus. Mente e coração submissos. Uma total desconstrução do “ter”
para que Deus nos dê o que precisamos e desconstrução do “ser” para que
Deus nos faça como Ele quer que sejamos.
Ato
VII
A
velha criatura
A
vida pregressa do cristão é estar fora da presença de Deus porque fomos
expulsos da tua gloriosa presença e tornamo-nos velhas criaturas perdendo a
forma celestial. Não importa o que faça por mais bem-intencionado que esteja,
nada fará mudar em relação a condição espiritual. Neste estágio, não se tem
olhos para enxergar a luz de Deus, não se tem ouvidos para ouvir a voz de Deus
e muito menos boca para glorificar a Deus, pois, não há motivos para isto.
Olhos para enxergar, enxergar o quê? Enxergar a luz de Deus que nos conduz no
caminho correto e evitar olhar para a direita e para a esquerda aquilo que faça
tropeçar e se desviar. Olhos para enxergar a nova criatura agora restaurada
pelo seu poder. Olhos para enxergar o quão bondoso Ele é e enxergar as suas
obras e maravilhas. Ouvidos para ouvir, ouvir o quê? Ouvir a voz de Deus,
através da tua palavra numa orientação e exortação. Quando estamos com os
ouvidos atentos isto desperta um alerta e ignoram-se os maus conselhos e
permanece no caminho da sabedoria. Ouvidos para ouvir o chamado para a grande
comissão de Deus. Ouvidos para ouvir a voz do clamor dos que precisam de
salvação. Boca para glorificar e exaltar ao Deus supremo. Boca para anunciar as
boas novas de salvação a todos os povos. Boca para exortar, orientar e corrigir
o que está perdido e precisa ouvir uma mensagem de alento. Boca para dizer não
ao pecado. Boca para dizer não aos principados e potestades. Boca para dizer
não aos maus conselhos vindos até de familiares. Boca para dizer não aos frutos
da carne. Este é o comportamento do cristão. Uma vez cristão sempre cristão!
Não é verdade! Enquanto estivermos no mundo sofreremos aflições e perseguições
e poderemos cair e tornarmos novamente uma velha criatura sem se aperceber
disto. Estamos envoltos em imoralidade, roubo, homicídios, lascívia e mentiras.
Os principados e potestades do mal nos perseguem e agem para que caiamos. Uma
vida de mentiras torna-se insensível a presença de Deus. No menor descuido produzimos
estes frutos da carne revelando que caímos numa armadilha. Em Provérbios 14:12
lemos que “há um caminho que nos parece direito, mas, no final conduz a morte”.
Este caminho é uma armadilha, é o caminho percorrido pela velha criatura.
Morremos espiritualmente porque os nossos olhos não enxergam mais o caminho
tortuoso e de destruição que estamos prosseguindo. Morremos porque os nossos
ouvidos não ouvem mais a voz de Deus nos exortando. Morremos porque não
conseguimos dizer não aos principados e potestades do mal. Morremos porque não
conseguimos dizer não a mentira e ao diabo que é o pai da mentira. Quando
acordamos deste pesadelo, já é tarde, os olhos estão vedados, os ouvidos
tapados e a boca amordaçada, ou seja, mortos. Uma vez morto, deixa-se de orar
como convém. Um morto não sente mais a vida que há na presença de Deus. Não que
Deus esteja longe, mas, nós quem distanciamos de Deus. Morremos para Deus. Não
conseguimos, sequer, orar porque não conseguimos mais sentir a presença do
Espírito Santo. Oramos, mas, Deus não nos ouve mais. Nós também não conseguimos
mais ouvir a voz de Deus. De tão longe, que Deus não nos enxerga mais e saímos
do seu campo de visão. Lembrando que não existe a condição de "estar
longe de Deus". Na verdade, estamos ou não estamos na sua presença. o
termo "longe de Deus" é apenas para mostrar que estamos longe de
qualquer possibilidade. Desta forma, nem conseguimos enxergar o caminho
sobremodo excelente de Deus. Quanto mais o tempo passa, mais distante destas
possibilidades estaremos e a nossa voz não será mais ouvida. Na verdade, mesmo
não querendo, nos “libertamos de Deus” e nos tornamos escravos do diabo.
Então, decidimos fazer do nosso jeito. Atropelamos o que seria melhor para nós,
perdendo a razão e o bom senso. Aparentemente estamos bem, tal como o sepulcro
caiado, por dentro a podridão se intensifica a cada decisão errada. O Espírito
Santo não age mais em nós porque estamos mortos. Para sair deste estado de
putrefação é preciso retirar a pedra do túmulo. Como um morto poderá retirar a
pedra? A situação é crítica porque a pedra precisa ser retirada. Neste caso, o
próprio morto é quem deverá retirar a pedra do seu túmulo, retirar as escamas
dos olhos para enxergar a sua própria podridão, retirar os tampões dos ouvidos
para ouvir a voz de Jesus dizendo: “Saia para fora!”, porque você está
apodrecendo e retirar a mordaça da boca para pedir que Deus tenha misericórdia
e ser ressuscitado daquela morte espiritual. Caso não reaja para retirar a
pedra, não haverá ressurreição. Lázaro já estava morto a 4 dias e Jesus pediu
que retirassem a pedra. Jesus queria ressuscitar o morto, então, por que não
retirou a pedra? O milagre é Jesus quem faz, porém, a pedra somos nós quem a
retiramos. Se não retirarmos a pedra do túmulo onde estamos mortos o milagre da
nossa ressurreição não acontece e continuaremos a ser uma velha e desgastada
criatura. A ressurreição só é possível em Cristo que nos faz uma nova criatura
à sua imagem e semelhança.
Ato
VIII
Mudança
de perspectiva
Um
dos mais graves problemas da atualidade é a crise existencial. Esta situação é
identificada no cotidiano do trabalho, por exemplo, onde passamos a maior parte
do nosso tempo e as vontades são tolhidas e cerceadas por uma personalidade
mais forte. No ambiente familiar não é diferente, considerando que a relação é
ainda mais estreita. Geralmente a pessoa em crise se acomoda pelo virtual
conforto de não ter a preocupação em tomar quase nenhuma decisão. Desta forma,
o referencial é perdido e não se tem mais qualquer identificação em que possa
se firmar. A crise se manifesta quando a pessoa percebe que não há mais prazer
no ambiente e nem com aqueles com as quais convive. Uma sucessão de situações
de mágoas e frustrações desencadeia uma instabilidade emocional sem precedentes
onde ocorre o início de uma depressão. É preciso fazer algo para mudar antes
que se agrave mais ainda. Mas, neste estágio da crise, a pessoa não tem
condições de raciocinar e nem mapear o ambiente a qual está inserida e muito
menos identificá-la. A eclosão emocional aconteceu e causou estragos por toda a
parte. O problema é exatamente este, estar combalido, pulverizado, em
frangalhos e incapaz de se autoanalisar e encontrar o caminho que deseja. Qual
o caminho seria menos doloroso, considerando que a esta altura qualquer decisão
compromete relacionamentos e valores até, então, intocáveis? Um acúmulo de
emoções e de sentimentos confusos que precisam ser extravasados para que não se
torne uma bomba atômica pronta para explodir a qualquer momento. É como o problema dos
acumuladores. Só que, neste caso, o acúmulo é emocional. Há uma sobrecarga que
está escondendo o que, de fato, é essencial e confortável para se viver. A
explosão provocada pelo excedente emocional é que deflagra a crise existencial.
As pessoas que sofrem de crise existencial, na verdade, são vítimas de si
mesmas sufocadas pela incapacidade de reagir adequadamente ao cotidiano de cada
ambiente. Quando percebem que é hora de decidir, optam, de forma atropelada,
pelo pior caminho e uma sucessão de erros tornarão a situação gravíssima com consequências
quase irreversíveis. Ser vítima de si mesmo não há mudança de ambiente ou de
pessoas que resolvam. Mudar os relacionamentos também não adiantará porque o
problema está dentro de si. É impossível fugir de si mesmo. No auge da crise,
tudo é joio e tudo é descartado. O melhor caminho é mudar a perspectiva. Esta é
a hora de separar o trigo do joio. Nesta opção enxerga-se as pessoas e o
ambiente de forma diferente sem sair do lugar e as consequências ruins são
mínimas, quase imperceptíveis. Mágoas e frustrações serão descartadas e
evitadas. É necessário que haja consciência de que há pessoas envolvidas que
nada tem a ver e a boa relação precisa ser preservada. É preciso
desapaixonar-se do lado ruim da rotina e assimilar o que há de bom. É preciso
imprimir outro ritmo menos intenso. É preciso exigir menos, mas, bem menos de
si mesma. Mudar a perspectiva é a forma eficaz e menos traumática, evitando sequelas
causadas por decisões impensadas. Mudar a perspectiva é, em suma, mudar a si
mesmo.
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