Venancio Junior
A reforma protestante promovida por
Martinho Lutero em 1517 completa em outubro seus 500 anos. Ressalto que este termo não foi cunhado neste período, pois, surgiu 100 anos após este levante de Lutero.
Considerando que somos uma religião
monoteísta, porque precisou de uma reforma? Será que foi em função de que
mudaram as doutrinas e impuseram outras novas e deixamos de seguir a doutrina
de Deus? No livro de Marcos 7:8, o próprio Jesus, durante o seu ministério na
terra, advertiu os mestres da lei e os fariseus dizendo: “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições
dos homens”. Percebemos que a reforma se fez necessária muito antes de
Lutero e se faz necessária até nos dias de hoje.
Pelo que consta na história, Martinho
Lutero não teve a intenção em trazer uma nova doutrina ou promover uma reforma, mas, relevar à
consciência da igreja a doutrina original. A proposta de qualquer reforma no
contexto bíblico tem o objetivo em voltar a atenção às doutrinas originais. Podemos
afirmar, então, que Moisés, Noé, Abraão e tantos outros também foram
reformadores no sentido de trazer à luz o povo que se perdia em meio às
doutrinas estranhas e suas práticas abomináveis.
A questão doutrinária, qualquer que seja,
é polêmica, controversa e extremamente complexa e, devido a extensa margem de
interpretação, não sofre o processo de ilação. Gostaria muito de ter usado o
aforismo e resolver tudo rapidamente sem dar chances a qualquer questionamento,
mas, optei em ser o mais sucinto possível para não tornar a leitura extenuante
e enfadonha procurando ser o mais inteligível possível. Os recursos na busca de respostas não foram exauridos para não denotar
de que esteja insistindo numa linha de interpretação. Para qualquer regra,
existe a disciplina, caso contrário, o objetivo pela qual foi criada não será
atingido. Contrariamente ao que aprendemos, a doutrina bíblica não é um campo murado
e veio para nos libertar das nossas tradições.
Em qualquer processo regulatório,
incluindo as doutrinas bíblicas, o objetivo é chegar a um determinado fim de
forma coesa sem o atropelo das práticas de origem duvidosa. Para evitar isto,
adota-se uma linha de conduta com regras e
costumes que identificam pessoas individualmente ou em grupos. Desde os tempos
antigos até os dias atuais, qualquer pessoa ou instituição instintivamente
cria a sua característica peculiar pelos costumes, regras e manias desenvolvendo,
assim, a sua tradição. Cria-se com isto uma cultura assimilada por todos
aqueles em que haja algum tipo de envolvimento. Isto é muito valorizado
definindo, com isto, os diversos grupos rotulados. Em qualquer um deles que
seja intencionalmente ou não organizado, isto acontece naturalmente e não há
meios em fugir destes “rótulos”. Uma família, por exemplo, tem os seus costumes
e manias que são adotados pelas gerações seguintes. É normal e, de certa
forma, salutar no sentido de preservar as raízes e o histórico de como foram
formados. Um povo sem memória é um povo sem história. O nosso jeito de ser, nossos
costumes, manias e nossas características são reconhecidos pelas ações
identificadas. As instituições seguem o mesmo princípio e são conhecidas por seguir as regras gerando uma marca de referência. Quem nunca ouviu falar,
“somos uma empresa de princípios” ou “sou uma pessoa de princípio”. Isto é para
demonstrar a qualidade, pois, os princípios identificam a origem.
No caso das doutrinas bíblicas e costumes
religiosos que caracterizam as denominações, há o problema de que cada um é convicto
de que esteja certo na sua interpretação, daí, surge um grave problema em que
se tenta convencer o outro que está errado ao invés de se permitir
antes de qualquer embate uma
autocrítica e, principalmente, o discernimento espiritual. Como resolver isto?
A fonte é a mesma, porém, as doutrinas são diferentes na aplicabilidade. Nas
relações, sejam pessoais ou institucionais, os conflitos devido a estes
costumes, são inevitáveis, intensos e muitas vezes tensos. O termo invasão de
privacidade geralmente acontece quando o costume do outro sofre violação. Deve
haver o respeito mútuo para que a convivência seja a mais pacífica possível
porque estamos imersos num mundo cheio de doutrinas. Imagine conviver com mais
de 33.000 religiões? Somente na Índia, dentro da religião predominante, o
Hinduísmo, existem mais de 330 milhões de deuses. Dentro deste imbróglio religioso,
onde acontecem ações extremas de intolerância, o respeito à doutrina de cada
religião é a única forma eficaz de evitar conflitos desnecessários.
Desde que nascemos, ouvimos falar de Deus
e das regras que precisamos seguir para sermos “bonzinhos” e merecermos o céu.
Quem nunca ouviu, quando era criança, que o “papai do céu” está sempre com a
gente para espantar os nossos medos? Nesta fase da vida, nunca questionamos se
precisávamos também estar perto de Deus. Todo o esforço e obrigação no
estreitamento desta relação eram de Deus e não cabia a nós qualquer iniciativa.
Crescemos e trazemos na bagagem tudo o que nos foi ensinado em relação a sermos
bons porque Deus “gosta somente das pessoas boazinhas”.
Tornamo-nos maduros e com autonomia de
pensamento e começamos a criar a nosso modo, as maneiras em que ficaríamos
perto de Deus. Ainda não nos sentíamos na obrigação em buscar a sua presença.
Gostamos da ideia do livre pensamento em fazer o que bem entender e como
quiser, assim, criamos o nosso jeito próprio em manter Deus próximo de nós,
principalmente nas horas difíceis. Como seres independentes no pensar,
relutamos em nos condescender a outras ideias e criamos a nossa própria
“sentença”. Conhecemos o ditado de que cada cabeça tem a sua. Por isto surgiram
tantas interpretações ao longo dos séculos na tentativa de se criar rituais
para tornar Deus “disponível” sem se aperceber de que nós quem precisamos
retornar a sua presença. Deus voluntariamente já se dispôs na pessoa de Cristo.
A intenção de qualquer doutrina cristã ou não, é regular e convergir ações
para se manter de alguma forma ligados a um ser superior. A única certeza para
se chegar a Deus é Jesus que é o caminho, a verdade e a vida. Tenho plena
convicção de que tudo o que se faz e vale à pena é para promoção do Reino de
Deus.
Após a queda do homem e a consequente
expulsão do paraíso (Romanos 3:23), surgiu um vazio espiritual do “tamanho
exato” de Deus. O desejo em preenchê-lo leva o homem a esta busca incessante e
cada um, à sua maneira, o faz e repassa. Lembramos daquela historinha de alguém
que conta algo e vai passando adiante e no final, a historinha mudou
completamente, sobraram somente as centenas de milhares de versões. Verdade só
existe uma, as demais, são versões, nada mais que palavras em formato de ideias sem raízes jogadas ao vento. Esta busca frustrada torna o vazio ainda maior e as pessoas
acabam se apegando a várias doutrinas estranhas. Eu questiono porque muitas das
versões doutrinárias beiram o absurdo. De tempos em tempos surgem “novos reformadores”
que a bíblia os classifica como usurpadores, cuja intenção é dar uma "nova
cara" as doutrinas bíblicas e também a de se criar outras. O que ouvimos
hoje? Muitas pregações induzem as pessoas ao erro que é o caminho da doutrina
dos homens. A minha intenção não é polemizar e nem desmerecer os que se dedicam
a obra do evangelho de forma honesta, mas, ser um contraponto que incentive a
uma reflexão doutrinária. Aqueles que surgiram como “reformadores” depois de
Lutero, creio que, apenas expuseram suas opiniões e interpretações, muitas
delas sendo consideradas como doutrinas, daí, surgindo no protestantismo várias
linhas denominacionais. Pessoalmente creio que não haja necessidade de uma “reforma
da reforma” que é o grande “alimentador” do ecumenismo, uma filosofia herege,
que aceita todas as linhas religiosas cristãs ou não cristãs, que nada mais é
que um sincretismo religioso adotado por alguns líderes que, aproveitando este
“espírito permissivo”, criaram suas próprias denominações com interpretações esdrúxulas,
muita criancice e nenhum compromisso com a doutrina bíblica. Posso dizer que
utilizam o evangelho da conveniência. Este evangelho de “salada doutrinária”
mantem o foco somente naquilo que convém para encher os templos e não provocar
o sentimento a partir do arrependimento de pecado. São os chamados falsos
mestres, algo muito antigo e amplamente discorrido na bíblia. Falso é aquilo
que parece muito com o original que até seduz, mas, é somente aparência, nada
acrescenta que provoque alguma mudança. Muitos destes líderes, simplesmente não
existiriam se tivéssemos um pouquinho mais de discernimento. Estes líderes são
frutos da ignorância do povo.
Se você é membro comungante de uma linha
religiosa cristã reformada, pentecostal, neopentecostal, carismática, ortodoxa
ou qualquer outra ramificação e julga que está tudo certo, não posso tirar-lhe
a razão sabendo que toda a referência de esclarecimento deve ter como base a
bíblia sagrada. O que não se pode é fugir daquilo que a bíblia diz com o
discernimento do Espírito Santo. Podemos afirmar que a carne não discerne o
espiritual (I Coríntios 2:14) porque a razão obscurece a compreensão pela fé. A
palavra de Deus quando lida com a mente, nos fará apenas “convencido”. O
apóstolo Paulo em I Coríntios 3:6 atentou que as cartas que escrevia às igrejas
seriam letras mortas se não fossem vivificadas pelo espírito. A letra da
doutrina pode indicar o caminho, mas, torna-se morta quando não exprime o
processo de salvação. Findando o caminho das letras, tudo se converge na
dependência da graça de Deus que é algo inexplicável. Aqui não se trata de um
conhecimento intelectual, mas, principalmente, de ratificar a nossa fé naquele
que é a razão de ser da existência, Deus encarnado em Jesus, tornando-se homem
para que a sua mensagem de salvação fosse acessível a todos. Quando há o
discernimento do Espírito Santo, somos, então, convertidos, muda-se o caráter e
a perspectiva porque atinge não só a mente, como também, o coração que é o
propósito único no processo de resgate do ser humano para uma nova vida e não
para uma nova religião.
Eu defino a religião dos homens da
seguinte forma, criaram uma caixinha e colocaram Deus dentro dela e deixaram
especificados no manual do usuário de que Deus só agiria dentro dos limites e
conforme aquela caixinha. O problema é que cada pessoa tem a sua caixinha,
aqueles que não a tem, se conformam na caixinha de outrem e acabam adotando a
mesma visão, podemos dizer do “dono” daquela caixinha. Esta “caixinha”, no
caso, pode ser o templo feito por mãos humanas. No livro de Atos 17:24, o
apóstolo Paulo quando falava, inclusive para alguns filósofos gregos no
areópago afirmou que Deus não habita em templos feito por mãos humanas. Isto
foi uma reação de Paulo frente à devoção exacerbada dos atenienses aos ídolos
espalhados pela cidade. No livro de Jeremias 31:34 o próprio Deus atentou-nos
de que “...seria conhecido no interior de
cada um de nós, desde os mais jovens até os velhos e dos mais pobres até os
ricos”. Creio que estes textos demonstram que, na concepção divina, a
doutrina da verdadeira religião é amar a Deus acima de todas as coisas e na disposição
em servi-lo, fazer discípulos e proclamar a vinda do seu Reino.
Como o assunto aqui trata especificamente
de doutrinas da religião, costumes e manias, vamos seguir em frente consultando
a nossa fonte de referência que é a bíblia. Primeiramente, vamos definir o que
é a religião e qual é a certa. Algo que devemos esclarecer é que religião não é
igreja. A religião conhecida por nós foi criada pelos homens. Encontramos na
bíblia (I Timóteo 5:4) trechos que definem a religião como atitude de amor e
dedicação no amparo aos necessitados. Deus não criou nenhuma religião. Deus
tornou-se homem em Jesus para criar uma só igreja dotada de missão. Quando
deixa de cumpri-la, consequentemente deixa de ser igreja. Jesus abriu mão da
sua condição de Deus para estabelecer parâmetros e, assim, cumprir a sua missão
na terra. No livro de Tiago 1:26, 27 há um questionamento sobre a verdadeira
religião e o texto, particularmente acho, que desmistifica a religião
identificada dentre quatro paredes e mostra que a missão da igreja é o cuidado
às pessoas. Deus delegou esta missão nobre à igreja que é reconduzir as pessoas
à sua presença pela sua doutrina e não pela religião. “Jesus disse: Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura“
(Marcos 16:15). Todos são necessitados e devem ser alcançados pela verdadeira
religião que é atitude de amparo e amor. Interessante que até o exemplo da
leviandade foi utilizado como lemos no livro de Tiago 1:26, “...se alguém cuida ser religioso e não
refreia a sua língua, a sua religião é vã”. Muitos fatos discorridos na
bíblia foram consoantes a situações vividas. Provavelmente havia muita gente
“linguaruda”. Será que hoje ainda temos este problema? Na sequência do texto
lemos a definição da religião pura e imaculada que é cuidar das viúvas e dos
órfãos nas suas necessidades e se guardar da corrupção do mundo. Aqui novamente
uma situação exemplificada nas necessidades da época. Estas ações de apoio às
viúvas e aos órfãos não é o sentido literal do que seja a religião. Devemos
atentar-nos na disposição em doar-se a uma causa profundamente justa e não ter
o mesmo sentimento do mundo. Apesar de ser muito associada a dinheiro, mas, a
corrupção é, em suma, quebra de princípio. Lembramos do texto de Romanos 12:2 "...não
vos conformeis com este mundo". Não se conformar é não desprezar os princípios da palavra de
Deus e ter uma vida coerente com estes princípios. É exatamente isto que lemos em
Romanos 2:16 “O crente deve ser fiel a
Palavra”. A religião é o que você sente (fé) e faz (obras). Ambas completam
a ação. A ausência de uma anula a autenticidade da outra.
Pois bem, rituais, doutrinas, costumes, idolatria,
mandinga, amuletos e tantas outras formas de culto ou de crença são práticas
que foram repassadas e acompanham o ser humano há muito tempo. Caim e Abel
faziam os seus rituais de oferenda a Deus (Gênesis 4:3,4) em cumprimento ao que
lhes foram determinados para se manter na sua presença. Outro caso bem típico
também que envolve a devoção aconteceu com Moisés quando teve uma tremenda “dor
de cabeça” com aqueles que o seguiam e acreditavam na terra prometida. Na sua
ausência, o povo se perdia e criava, à sua própria maneira, os seus métodos e
costumes. O mais famoso deles foi o bezerro de ouro (Êxodo 32:1,4) em que o
povo construiu e começou a adorar a Deus através desta estátua. Este é um
grande exemplo de heresia e idolatria, pois, criaram algo abominável a Deus para adorá-lo. Lembramos
também da estátua de ouro construída pelo rei da babilônia, Nabucodonosor
(Daniel 3:1). O rei determinou que fossem jogados na fornalha quem não se
curvasse perante a estátua. Mesaque, Sadraque e Abede-Nego se recusaram a se
ajoelhar diante daquela enorme estátua e foram lançados na fornalha. Não se
queimaram porque a presença sobrenatural de um anjo os livrou daquele costume
idólatra do rei e que foi assimilada pelo povo que preferia o caminho errado,
nem tanto pela religiosidade, mas, creio que um misto de ignorância, coação e também
o medo do sofrimento e consequente morte. Após este maravilhoso episódio de
livramento, o rei determinou que o Deus verdadeiro fosse, a partir de então,
adorado e quem contrariasse, a casa se tornaria entulho queimado. Deus não
mandou o rei aplicar esta disciplina, mas, era o seu jeito peculiar de reinar.
Um perfeito exemplo de extremismo religioso.
Muitas
das práticas dos homens são desvios de caráter ou até mesmo manias que nada tem a ver com as verdades bíblicas.
Muitos a confundem com os bons costumes relatado por Paulo no livro de I
Coríntios 15:33 em que as más companhias
corrompem os bons costumes e, completando com as minhas palavras, estas más
companhias, além de corrompê-las, impõem os seus maus costumes. Os bons costumes devem ser preservados como lemos no novo testamento, mas,
mesmo sendo salutar, não são doutrinas. Um costume muito difundido é a ideia de
que não importam os meios, mas, sim o propósito. A integridade cristã exige
práticas corretas com propósito correto. Paulo foi um reformador no sentido de
dar o direcionamento correto conforme a doutrina original. Em nenhum momento
ele quis criar sua própria doutrina. Este é o papel do reformador e não a de
criar uma nova doutrina. O apóstolo Paulo na carta de I Coríntios 1:12 sofreu este problema
quando questionou de quem era o evangelho que ele pregava, de Paulo, de Apolo,
de Cefas ou de Cristo? Ainda na carta de I Coríntios 2:4 também se
defrontou com o dilema de quem estava certo e corrigiu as pessoas que andavam
segundo os padrões dos homens dizendo que as suas palavras não eram persuasivas
de sabedoria, mas, demonstravam espírito de poder. No capítulo 3 da mesma
carta, no versículo 11, ele afirma que ninguém pode colocar outro fundamento
além do que já está posto. O fundamento da doutrina é Jesus Cristo. Inclusive,
as próprias palavras de Jesus foram mal interpretadas quando falou a Pedro de
que sobre esta pedra edificaria a sua igreja. Que pedra é esta? Pedro havia
afirmado de que Cristo é o filho do Deus vivo. Esta é a doutrina onde Jesus
edificaria a igreja verdadeira, fundamentada na palavra viva de Cristo e não
dos homens. Com isto inventaram que Jesus estava se referindo à pessoa de
Pedro, desde então, os papas são sucessores de Pedro na condução da igreja
católica. Jesus é o principal e grande reformador, vindo em “carne e osso” para
fazer uma nova reforma, porém, nas bem-aventuranças (Mateus 5:16), enfatizou de
que não veio mudar as leis, mas, cumpri-las. A proposta da reforma é exatamente
trazer as pessoas de volta à luz da palavra de Deus.
Os costumes na bíblia são amplamente
discorridos e adequados à cada época e a cada tribo. No antigo testamento,
especificamente no livro de Levítico no capítulo 18, Deus se referiu aos
costumes dos homens como abomináveis e no capítulo 20, Deus falou com Moisés
destes maus costumes e a prática deles era algo muito grave que mandava até
matar quem os praticasse. Ainda no antigo testamento no livro de Jeremias 10,
Deus falando a Israel, citou outro mau costume que é o da idolatria afirmando
que os costumes dos homens são vaidade. Por mais justo e nobre que sejam, mesmo
sendo bons costumes, o cuidado a família, ao trabalho, a saúde ou qualquer
outra coisa “boa” que se faça não podem ser adotados como algo que ratifique um
caminho legitimo de aparente bondade como meio de se aproximar de Deus. Muitas
outras práticas que têm sido adotadas como doutrinas em várias religiões
cristãs ou não, falam de aproximação, intimidade com Deus ou mesmo salvação,
porém, demonstram equívocos e desconhecimento da escritura sagrada onde se
encontram os fundamentos da nossa relação com Deus.
Não sou mais um que impõe considerações.
Minha intenção não é fechar questão sobre a minha opinião que deve ser
desconsiderada. O meu esforço é trazer de forma simples, a perspectiva bíblica do
assunto. Sabendo que o Espírito Santo é quem nos dá o discernimento das
escrituras, devemos ler a bíblia com a mente e o coração e questionar todas as
explanações bíblicas e ao mesmo tempo ser humilde em receber a exortação da
palavra, bem como, a repreensão e orientação quando necessárias.
O propósito da doutrina de Deus é
exatamente trazer de volta o homem à sua presença. Para isto, existe um
processo em como alcançar esta dádiva e isto foi concedido graciosamente pelo
próprio Deus. O mais importante é a legitimidade do que se faz e como se
faz. O ser humano, devido à
personalidade que, obviamente, é individual, tende a dar a sua interpretação
das palavras e dos textos e contextos. Apesar de ser um erro a forma como é
feita, cada religião faz a sua leitura, interpreta e a adota como doutrina. É
uma situação delicada, pois, todos que a interpretam estão em iguais condições,
ou seja, seres humanos dotados de inteligência que expõem à sua maneira a
consideração do assunto. Os “líderes espirituais”, sejam eles quaisquer, faz as suas considerações e
impõem as suas avaliações e reavaliações e no final a doutrina
original é totalmente descaracterizada. Devido a isto, surgem de tempos em
tempos os reformadores trazendo, não uma nova doutrina, mas, trazendo o povo de
volta à luz da palavra.
Após algumas centenas de anos deste tempo,
como dizem, bíblico, lembramos da indignação de Martinho Lutero, um fundamental
reformador da igreja, quando, em 1517, apresentou 95 teses doutrinárias que ele
julgava corretas
demonstrando que muita coisa estava errada em relação aos fundamentos da
doutrina bíblica, principalmente na questão da salvação que se adquiria pela
compra de indulgência. Popularmente dizem que pregou no portão da igreja do castelo de Wittenberg, porém, parece que historicamente ele as enviou diretamente ao arcebispo e ao bispo diocesano. De qualquer, forma foi uma decisão extremamente ousada que lhe causou uma
excomunhão e retaliações pela liderança da igreja católica que, até então, era
a única igreja cristã. Lembramos que ainda não existia a chamada igreja
evangélica. Após a indignação de Lutero, houve cisão na igreja cristã que se
dividiu entre católicos e "luteranos". As aspas significa que esta terminologia denominacional ainda não existia oficialmente. O termo "protestante" surgiu após o Reichstag (assembleia dos príncipes) decidir em 1529 restaurar o catolicismo romano na Alemanha e conter os luteranos que protestaram contra esta decisão. Atualmente existem várias ramificações
desta cisma no cristianismo. Isto gerou uma confusão sem precedentes o que
dificulta demasiadamente a compreensão da palavra de Deus. O absurdo é tamanho
que até a própria palavra descrita na bíblia sofre esta distorção. A bíblia é o
melhor livro do mundo, porém, quando mal interpretada, torna-se doutrina dos homens que é maldita. O apóstolo Paulo afirmou
isto na carta aos Gálatas 1:8 e repete isto
no verso seguinte de que qualquer evangelho fora daquele descrito na bíblia que
foi pregado é anátema, ou seja, maldito. Paulo foi extremamente severo porque
se trata de algo muito sério. Tão sério que o próprio Jesus, numa de suas
peregrinações em cumprimento à sua missão, enfatizou dizendo, ...quem não é por ele, é contra ele. Quem não ajunta, espalha. Mateus 12:30. Jesus Cristo também
nos alerta, quando respondeu aos saduceus que era um grupo social e
economicamente influente de que erravam por não conhecerem as escrituras, Mateus 22:29. Conhecer não é ter as letras na mente e nem saber quantos livros tem a
bíblia ou os detalhes históricos. Jesus quis dizer que a palavra deve estar não
só na mente, mas, principalmente no coração, quando fará diferença nas
atitudes. Nossas atitudes revelam o que somos ou a que igreja pertencemos? Quem
nunca se perguntou ou ouviu de alguém de qual era a verdadeira igreja? Eu já me
“desmistifiquei” desta crendice de que pertenço à igreja a ou b considerando que seja
a verdadeira igreja. A denominação que se reune nos templos tem a
função de convergir as ações em cumprimento a doutrina de Deus porque a igreja,
de fato, fundada por Jesus Cristo, funciona em cada um de nós e a missão é a de
levar as pessoas a Cristo. Quando Jesus se revoltou com os vendilhões no
templo, foi um gesto para demonstrar que o templo construído não deve ter outra
finalidade que não seja casa de oração para todos os povos (Mateus 21:12).
Poderia aproveitar este tema e relacionar
alguns exemplos de pontos doutrinários que sempre me incomodaram. Como a
intenção não é fazer mais uma reforma, não fui a esmiúça dos assuntos para não
provocar um julgamento de que esteja sendo insistente ou que seja algo
conclusivo. Algumas explanações de doutrinas cristãs, dentre centenas, carecem
de embasamento bíblico e que devem ser questionadas à luz da bíblia porque a má
interpretação induz a pessoa ao caminho errado. Algumas não encontramos na
bíblia, enquanto outras encontramos, porém, são aplicadas equivocadamente. O
que é bíblico não foi inventado pelo homem, mas, foi direcionado aos homens,
inspirado pelo Espírito Santo. Toda liderança eclesiástica deve incentivar o
povo a ler e meditar na palavra de Deus tendo o discernimento do Espírito Santo
e não se restringir a interpretação dos homens. Algumas práticas de várias
outras igrejas que se julgam cristãs são indubitáveis heresias que, de tão
absurdas, não precisaria mais que meia dúzia de palavras para comprovar que
estão erradas.
Não sou o dono da verdade, mas, sigo a
verdade que é Cristo. Não posso afirmar que uma determinada igreja cristã seja
a certa ou errada. Da mesma forma não posso aceitar que todas as religiões
estejam certas, isto seria ecumenismo, já exemplificado, quando considera que
todas as igrejas levam a Deus. Não existe a igreja certa. Existe o caminho
certo. A igreja concreta é dos homens. A igreja sobrenatural é de Cristo porque
o reino de Deus está dentro de nós. A igreja de Cristo é o indivíduo que crê e
segue a sua doutrina. Deus trata e cuida da igreja na intimidade de cada um de
nós. Os fundamentos da doutrina de Cristo devem estar no coração. A doutrina bíblica deve ser assimilada na nossa
vida em todos os lugares e em qualquer situação para que sejamos igreja e haja
integridade na devoção. De certa forma, não importa a igreja-instituição que
frequente, diferente nos costumes, mas, a doutrina fundamentada em Cristo deve
ser comum a todos. Fazer discípulo à luz da doutrina de Deus é o papel do
reformador. Cada um de nós alcançados por esta doutrina genuína de Deus é um
reformador em potencial.
A verdade na doutrina bíblica é Jesus
Cristo, que é o princípio e o fim de todas as coisas: “Porque o fim da Lei é Cristo, para justificação de
todo o que crê. Romanos 10:4”
Campinas, SP, julho de 2017
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