sábado, 29 de junho de 2024

EPISCOPISA E SACERDOTISA

Venancio Junior

Episcopisa é o feminino de Bispo. Sacerdotisa é o feminino de Sacerdote. Historicamente ou eclesiasticamente são muito semelhantes no desempenho das funções. O nome sacerdote é de origem judaica e, pela tradição, foi mantido até os dias atuais sendo a função do principal líder religioso dos judeus. Bispo é um desígnio que consta na bíblia, sendo o mesmo que pastor e até presbítero que é uma palavra grega que significa ancião e utilizado somente nas religiões cristãs. Na verdade, pastor é um sentido figurado porque os seguidores do cristianismo são considerados como ovelhas e o rebanho é a igreja e cada uma tem o seu pastor. Até bem pouco tempo, não era necessário ter diploma teológico para se tornar pastor. Bastava ter uma boa oratória e compreensível ao público ouvinte que estaria "aprovado". Porém, as atribuições que são conferidas à função exigirão um bom conhecimento das escrituras. No livro de II Timoteo 2:15 lemos “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Manejar bem a palavra é ter conhecimento para explicar e exortar sem distorcer o sentido a que foi proposto. Qualquer pessoa independentemente de gênero pode almejar esta função. Na bíblia não consta que deve ser exercido somente por homens. As denominações religiosas, cristãs e não cristãs, que predominantemente defendem o exercício somente pelos homens justificam que foi delegado aos homens exercer as funções de liderança. O fato de a maioria daqueles que exercem esta função ser composta por homens não lhes confere o direito exclusivo aos homens. Algumas denominações justificam a questão da escolha por Jesus dos apóstolos serem somente de homens. Eu creio que Jesus não quis contrariar a própria cultura judaica e, principalmente também, criar um embaraço pelo fato de no meio dos homens terem mulheres. Imagine os apóstolos reunidos em local fechado e no meio deles terem duas mulheres? Coloquei duas, mas, poderia ser pior, apenas uma mulher entre 11 homens. Causaria um mal-estar e para eles ficaria muito difícil convencer alguém quando falassem de moralidade. Jesus não foi machista, mas, prudente. As mulheres "disponíveis" naquela época eram mal vistas perante a sociedade. A maioria tinha compromisso conjugal e as tarefas de casa. Se faltasse a mulher, o homem teria de assumir os afazeres e quem sustentaria a casa?

Esta questão do homem ser cabeça da mulher é desígnio de Deus restrito ao contexto conjugal. A relação social homem e mulher nada tem a ver com a submissão da mulher que é exclusiva ao marido e jamais ao homem. No crescimento e evolução das comunidades, toda mulher teria o seu homem. A mulher que não tivesse seria mal-vista e difamada. O contexto familiar era o homem ser responsável pelo trabalho externo que era braçal e a mulher cuidaria dos trabalhos do lar. Cada um desempenharia o seu trabalho de acordo com a composição macho e fêmea. A igualdade entre homens e mulheres não se aplica nesta situação, pois ambos (graças a Deus) são diferentes no gênero. E assim, cada espécie cuida daquilo que lhe é adequado.

E nas funções eclesiásticas? Não existe trabalho braçal que limite o desempenho tanto do homem como da mulher. As atribuições são de conhecimento e algum tipo de amparo delegando as atividades a cada um dos seus fiéis. Qualquer pessoa pode fazer este trabalho desde que tenha o chamado para cumprir a missão. Aprimorar o conhecimento é um esforço intelectual e não braçal. Precisa ter uma vida, além de manejar bem a palavra, que não tenha algo com que se envergonhar.

Outra questão que precisa ser esclarecida é que filho de pastor não é “pastorzinho”, esposa de bispo não é “bispa” ou episcopisa e nem esposa de sacerdote é sacerdotisa. Isto se chama oportunismo. Estas funções são muito sérias para fazer parte de um pacote de conveniência conjugal. Para não ser injusto, é possível que haja uma “divina coincidência” quando a esposa ou o esposo recebem o mesmo chamado. De qualquer forma, tanto um como outro não é regra. O chamado é para todos, homem ou mulher.

Algumas linhas religiosas não aceitam o exercício sacerdotal feminino. Não há uma explicação plausível para esta postura machista. Consideram a igreja como se fosse a casa deles e submetem a mulher ao serviço doméstico, tal como, promoção de chás beneficentes, arrecadação de fundos para a caridade, organizar cursos artesanais e outros serviços diaconais não menos relevante, porém, aos olhos da liderança seria "serviço de mulher". Será que é medo em perder o protagonismo sacerdotal? Ninguém tem o direito de submeter alguém a um trabalho subalterno. A submissão é espontânea e de uma grande importância na estrutura de toda organização. A comunhão é a principal liga de união da igreja. Sem a comunhão todas as atividades perdem a sua importância no crescimento do corpo. Submissão é a iniciativa que ratifica a comunhão. Sem submissão não há comunhão. A submissão não é uma obrigação, mas é uma atribuição do servo. 

Por que algumas religiões cristãs e não cristãs ainda não aceitam a ordenação ministerial da mulher? A única explicação razoável é que a liderança se aproveita de uma brecha na interpretação bíblica da submissão da mulher ao marido. A partir desta determinação de Deus, o homem se aproveita e condiciona a mulher aos seus caprichos. Homem e mulher são iguais nos direitos e responsabilidades onde, naquela época, cada um exercia a sua atividade adequada a sua estrutura física. A submissão nunca foi da mulher ao homem. Na vida ministerial não existe esta submissão e a mulher pode exercer sem medo de contrariar os mandamentos relativos ao ministério pastoral. Paulo foi um dos principais expositores das ordenanças ministeriais. Quando falava sobre mulher, era referente a esposa no ambiente conjugal e nunca ao gênero feminino. Observe o texto de I Coríntios 14:34,35 “As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos”. Este texto é bem explícito na questão da submissão determinada por Deus. Não permitir é um costume imposto pelo homem e a lei a que se refere é relativa a estar sujeita ao marido e não a proibição em falar na igreja.

Há muitos fatos relatados na bíblia sobre a liderança feminina. Mas, também há relatos de que a intervenção da mulher que subjugasse o homem era algo considerado vergonhoso. No texto de Juízes 9:52,53,54 “Abimeleque aproximou-se da torre e a atacou. Ao chegar próximo da porta da torre para lhe atear fogo, uma mulher jogou sobre ele uma pedra de moinho que o atingiu na cabeça, rachando-lhe o crânio. No mesmo momento ele chamou seu escudeiro e lhe ordenou: “Toma a tua espada e mata-me, para que não se divulgue que uma mulher conseguiu me abater!”. O rei Abimeleque estava morrendo com o crânio rachado e se esforçou para dizer ao escudeiro que o matasse com a espada para que ninguém soubesse que foi uma mulher que o matou. O orgulho estava incrustado na essência do brio masculino. A mulher era tratada como um gênero inferior. Tem o episódio de Débora. Era uma profetisa e juíza de Israel. Ela chamou Baraque para reunir 10 mil soldados para lutar contra o exército de Jabim. Porém, Baraque disse que só iria se ela fosse junto e Débora afirmou que iria e as honras da vitória seriam dela conforme Deus prometera (Juízes 4:9).

Na história bíblica contextualizada num ambiente machista, constam tantas outras que se destacaram, mas, não por serem mulheres. Eram pessoas imperfeitas como qualquer homem, porém, tementes a Deus. No contexto do Reino de Deus não há diferença de pessoas, não há homem ou mulher, nem escravo e nem livre, nem rico ou pobre ou de qualquer etnia ou classe social (Gálatas 3:28). Perante Deus todos são absolutamente iguais. A melhor forma de combater o preconceito é não considerar o gênero primariamente e a competência deve ser o principal balizador.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

SURPREENDENDO DEUS

Venancio Junior

É possível surpreender a Deus? Digo que é plenamente possível. Não se trata de alguma manobra de nossa parte para conseguir este feito. Deus é soberano e tudo depende de Ele próprio se permitir. Na bíblia há várias ocasiões em que se permitiu surpreender com alegria e com tristeza. Deus é surpreendente e surpreendeu a todos com a sua criação. Tudo bem que ainda não existia alguém para ser surpreendido. Deus é onisciente e sabe de todas as coisas, mas, se surpreendeu com a sua própria criação. “Viu que tudo era bom” Gênesis 1:31. Ele não sabia que tudo aquilo que estava fazendo era bom? Porque, então, ficou surpreso de que tudo que havia criado era bom? Deus em pleno processo da criação alimentou uma expectativa e foi surpreendido pela alegria em perceber que tudo era bom. Outra evidência de que Deus se deixa surpreender é quando expressa sentimento de tristeza ou de alegria relatados nos escritos bíblicos. Deus se revelou através da sua escritura. A expressão de um sentimento só acontece mediante uma expectativa de forma impetuosa. Quando alguém fica triste ou alegre é porque foi surpreendido. Deus ficou triste quando viu que o ser humano que Ele próprio criou era mau. Gênesis 6:5. Deus foi surpreendido pela maldade e se entristeceu. Ação e reação. O ser humano age com maldade, Deus reage com tristeza. Quando o ser humano age reconhecendo Deus como Senhor, Deus surpreendentemente reage com alegria.

Deus se alegra também e de forma surpreendente. No livro de Neemias 8:10 lemos “...porque a alegria do Senhor é a nossa força”. Deus também expressa alegria. Jesus sendo Deus encarnado era onisciente e conhecia o coração do ser humano relatado em diversos episódios da sua vida ministerial, porém, foi também surpreendido pela alegria. “Naquela mesma hora, se alegrou Jesus no Espírito Santo”. Lucas 10:21. O contexto desta alegria é que Jesus glorificou ao Pai por se revelar as pessoas humildes que reconheceram as suas ações e não aos sábios que não conseguiam enxergar a glória de Deus. Outro texto que revela que mesmo na glória de Deus há expressões surpreendentes de alegria quando um pecador se arrepende e se converte. Deus revelou a Lucas o que acontece quando um pecador se arrepende. “Eu digo que, da mesma forma, haverá mais alegria no céu por um pecador que se arrepende” Lucas 15:7. Quem se alegrará no céu? Os anjos e o próprio Deus que expressarão alegria. Todos foram surpreendidos porque alguém decidiu seguir pelo caminho do bem e expressaram alegria.

Os tempos atuais não têm trazido motivos para que Deus se alegre. Sendo mais específico, o que exatamente fará com que Deus se alegrasse? Como e quando é possível surpreender a Deus? Quem conseguirá alegrar o coração de Deus? Os escolhidos, em tese, são aqueles que alegram o coração de Deus, pois, foram escolhidos mediante algo que o surpreendeu. A igreja que Deus designou é formada pelos escolhidos. Temos diversos textos que revelam que Deus se deixa surpreender. O texto de Mateus 22:37 e 39 revela a chave que surpreenderá a Deus “Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento” e “Ame o seu próximo como a si mesmo”. No maior mandamento que Jesus afirmou percebemos sentimento do coração, expressão da alma e a razão do entendimento. No amor ao próximo há a pré-disposição e a intenção em amar. Amor é incondicional. Não existe motivos aparentes para amar, caso contrário seria um amor meramente útil. Deus não nos amou mediante uma condição. O amor de Deus é a chave de acesso ao seu coração que nos permitiu surpreendê-lo com alegria de júbilo e gratidão. Em tudo dai graças (I Tessalonicenses 5:18) e celebrem jubilosos ao Senhor (Salmos 98:4) são mandamentos para alegrar o coração de Deus porque viu que tudo era bom.

Sei que quando lemos estes textos parece que o contexto é somente de alegria e prazer. A realidade da vida humana muitas vezes é cruel e não há motivos aparentes para se regozijar, cantar júbilos ou demonstrar gratidão por alguma coisa positiva que tenha ocorrido. Nesta situação, como alegrar o coração de Deus? Obviamente que expressamos alegria somente quando estamos alegres e o contrário também é verdadeiro quando expressamos tristeza somente quando estamos tristes. A honestidade em expressar e a sinceridade em admitir a tristeza, de certa forma, provoca alegria no coração de Deus. Quer maior surpresa em expressar a Deus o que acontece no coração? Surpreendemos a Deus quando se espera que fiquemos revoltados com as dificuldades e demonstramos devoção a sua soberania e mantemos a nossa fidelidade. Quer surpreender a Deus? Mantenha-se fiel. Os escolhidos são aqueles que se mantiveram fiéis. O critério de escolha de Deus é exatamente surpreendê-lo. Nada tem a ver com aqueles que não se converteram e não creram. Deus não se surpreende com os legalistas que usam a interpretação a partir da lei para justificar o evangelho. Deus também não se surpreende com os idólatras, com os ladrões, com os mentirosos e muito menos com os religiosos. Surpreender a Deus é ouvir o que o Espírito diz as igrejas, compreender o evangelho e aceitar a rendição através do seu amor. O céu se alegra quando alguém é escolhido. Não se sinta privilegiado por ser um dos escolhidos pela graça. Isto não deve ser motivo de orgulho. O critério nunca foi a de pessoa perfeita. A principal característica em ser alguém escolhido é a fidelidade.

No livro de Neemias 8:10 no texto descrito no início diz que a alegria do Senhor é a nossa força. Esta alegria vem direto da fonte de todos os sentimentos que é o próprio Deus. Imagine a força desta energia que compõe esta alegria? Somos criaturas feitas à imagem e semelhança de Deus. Não é o inverso. Formato, expressão, desejos, sensibilidade e toda expressão do ser humano vieram de Deus. A alegria é um dos componentes do Reino de Deus além da Paz e a Justiça. Observe a riqueza do que é extrair a alegria de Deus? Cada criatura é capaz de surpreender a Deus com alegria. Não é, em hipótese, ser alguém perfeito. As pessoas que conhecemos e tiveram intimidade com Deus foram imperfeitas e, mesmo assim, andaram com Deus demonstrado na fidelidade e isto foi retribuído de forma sempre surpreendente com alegria pelo criador.