Venancio Junior
A bíblia, provavelmente, teve a primeira menção do
termo jugo desigual e que se refere a princípios diferentes porque, conforme
neste mesmo trecho de Mateus 19 o próprio Jesus fala que o objetivo do
casamento é tornar-se uma só carne. Na bíblia também tem outra aplicação do
jugo que é a opressão que o povo hebreu sofreu no Egito o jugo da escravidão.
Os cristãos no começo da igreja sofreram o jugo dos romanos por recusarem a
imposição do império. Até mesmo Jesus utilizou esta metáfora afirmando que
"...o meu jugo é suave e o meu fardo é leve" Mateus 11:30. Jesus
estava se referindo exatamente ao carro de boi. Leia o contexto: "Vinde a
mim todos os que estão cansados de carregar suas pesadas cargas, e Eu darei
descanso. Tomai seu lugar em minha canga (carro de boi) e aprendei de
mim (alinhamento), porque sou amável e humilde de coração, e assim
achareis descanso para as vossas almas. Pois meu jugo é bom e minha
carga é leve”. Em qualquer um dos casos conceituais do jugo, cada pessoa
ou grupo tem a sua sobrecarga, porém, têm-se a opção em aceitar o melhor
caminho ou não. No relacionamento conjugal tem os dois sentidos de
jugo, tanto como uma peça que mantém os dois na mesma direção como também o
peso da responsabilidade da vida a dois.
Então, vamos as vias de fato. De repente, duas
pessoas se encontram, aspiram seus anseios e começam a fazer planos. Será que
já se amam? Será que ambos já têm consciência do que está porvir ou o que este
compromisso significa? A maioria das pessoas já nascem num contexto familiar em
que o exemplo dos pais no tocante a estabilidade financeira e conjugal é o
suficiente para uma vida a dois perfeita e que logo é idealizado na prática
para os planos futuros. Crescer e amadurecer eram antecipados pelo desejo do
convívio a dois. Primeira coisa é encontrar alguém que assimile as mesmas
ideias. O convívio social favorece este encontro de pessoas que pensam iguais.
Na teoria, o padrão de uma vida ideal não tem segredo. Basta juntar dinheiro e
o resto se pensa depois ou a dois. Este era o pensamento normal, por sinal,
muito simplista. Até a década de 60, principalmente as mulheres, não tinham
opções quanto ao futuro, crescer e casar era o padrão preestabelecido. Lógico
que as mulheres no seu íntimo, muitas vezes, tinham outros planos e desejos.
Para o universo feminino, os planos pessoais ficavam apenas nos sonhos
acordados porque no contexto social era secundário até ser descartado pela sua
inviabilidade. As mulheres eram "formatadas" e pensar fora do que
planejavam seria um erro com retaliações gravíssimas da própria sociedade.
Quando ainda na fase pré-adolescente, com certeza naquelas conversas de
cochichos no quarto, os pais jamais imaginavam que as meninas tinham os seus
próprios desejos. Na verdade, as meninas nem cresciam direito com suas
silhuetas ainda em formação e já estavam com o enxoval pronto. Nem isto elas
escolhiam. Literalmente subjugadas a um sistema que não permitia liberdade de
escolha.
Para os homens era um pouco diferente. Mesmo com
certa liberdade para fazer o que queriam, eram também submetidos ao sistema
social porque, como dizem atualmente "pensar fora da caixa" os
deixavam à margem da sociedade e seriam tratados como "pessoas sem
respeito". A única similaridade com as mulheres é que mal estavam em
formação com a voz ainda engrossando e os pais já "empurravam" para a
filha de alguém como se casar fosse a decisão mais importante do mundo. O jugo
se tornava quase uma opressão propriamente dita por causa do peso da
responsabilidade em prover a moradia e o sustento e para a mulher era a limpeza
da casa, feitura da comida, gerar e cuidar dos filhos. Este era o padrão do
relacionamento conjugal que as pessoas julgavam perfeito. Por incrível que
pareça, a maioria dos casais eram felizes, mesmo que o começo não fosse como e
com quem gostariam. É aquela sina de se adaptar e fazer o melhor para que tudo
dê certo. A maioria dava certo enquanto outros casais, um suportava o outro.
Não em dar suporte, mas, em ter muita paciência mesmo.
Quando abaixava a poeira e o inesperado agora
presente no dia a dia, fechava-se a porta principal (muitas vezes era a única),
a vida a dois começava de fato.
Estamos agora no tempo contemporâneo. O que mudou
na vida a dois? Muita coisa em que poucas décadas atrás era inimaginável que
fosse mudar desta forma. A vida a dois avançou no mínimo uns 15 anos na idade
para homem e mulher tomar esta decisão da vida a dois. Agora a mulher tem direitos
iguais, pensamentos iguais e poder de decisões iguais. A vida a dois não é mais
exclusividade de sexos opostos, mas, ainda é maioria, porém, deixou de ser
absoluta. No caso do jugo, não importa, independentemente do sexo, devem adotar
os mesmos princípios na convivência a dois.
Mesmo com todas estas mudanças, inclusive com o
tipo de parceiros, os problemas no relacionamento continuam a todo o vapor e
ninguém, com raras exceções, se arrisca a ficar sozinho e quer muito encontrar
alguém que faça a sua vida positivamente diferente. Por falar em "diferentes",
quem não se lembra da frase utilizada exclusivamente na relação conjugal em que
"os opostos se atraem...? e mais tarde foi acrescentada "...e se
traem". Este "complemento" é uma brincadeira de coisa séria que
surgiu devido ao alto índice de traição nos relacionamentos. Dentre os
principais motivos estão a insatisfação e insegurança quanto ao futuro e
acrescento o ciúme e estes principais e prováveis motivos podem assumir o
controle da relação sem que se perceba. Um exemplo recente aconteceu entre
"a dama e o mendigo", ocorrido no distrito federal quando a esposa de
um personal trainer fez sexo dentro do carro com o primeiro
cara que encontrou na rua, no caso, o mendigo. Porque ela teve este comportamento
absurdo onde, não somente o seu casamento estava em jogo, mas, principalmente a
sua dignidade? Insatisfação ou ciúme? O mais provável é que tenha sido um
ataque de vingança. Nos dias atuais todos os casais correm este risco. Esta
insatisfação é porque a pessoa tornou-se muito diferente da expectativa e a
traição foi uma atitude isolada e involuntária? Difícil responder. Será que há
mesmo uma atração maior entre aqueles que são diferentes? Será que o mendigo,
de repente, tornou-se um fetiche? Faz muito sentido ser atraído por alguém
diferente, mas, jamais deve ser considerado como uma regra. Uma pessoa
diferente, mas, que pensa igual é até normal. Acho que depois de muito tempo
convivendo juntos, o casal parece que se torna um igual ao outro e, alguns
dizem que se tornam iguais até na fisionomia. A rotina diária de casa é quase
preenchida com as mesmas atividades. Onde está um, o outro está também. Acho
que ambos eram diferentes e a convivência foi moldando até que ficaram bem
parecidos. O inverso também é possível quando a convivência os torna mais
diferentes. De repente, parece que se tornar iguais seja a melhor receita para
que tudo dê certo na relação.
A vida, mesmo só, não é perfeita. Agora imagine
conciliar no mesmo teto e na mesma cama as diferenças naturais de cada pessoa.
Absolutamente ninguém é igual ao outro por mais que a convivência desenvolva um
alto grau de assimilação. Melhor que seja assim. Dependendo do ponto de vista,
talvez seja fascinante observar as diferenças das pessoas, principalmente
daquelas com quem se tem de caminhar juntos. Qualquer relacionamento em todos
os níveis é passível de desgaste. Isto é normal. Ter consciência dos defeitos e
limitações de cada um é fundamental para evitar o desgaste nas palavras mal
colocadas e na falta de ação positiva para evitar decisões equivocadas.
Até agora ainda estávamos na lua de mel onde o
"romantismo" teoricamente supera qualquer dificuldade e o tratamento
ainda é de "amorzinho" ou "benzinho".
Creio que um dos grandes segredos da vida a dois é
não se distanciar. Muitas coisas ajudam neste distanciamento, agenda, rotina
que diminui o tempo a dois e as pessoas envolvidas na vida social e até
familiar, dentre outras, são os principais fatores que ajudam no esfriamento da
relação. Nesta situação, o necessário abraço não será tão caloroso, sequer vai
acontecer nos reencontros diários. O que leva um ou os dois a se distanciarem
entre si? Eu acho que já mencionei que não existe receita eficaz na vida a
dois. O que deve existir sempre é o respeito, sendo este, talvez, a única base
sólida que resiste a crises e ajuda muito a superá-las. O respeito não é um
mérito e nem deve ser exigido e também não se impõe. Só faz uso do respeito
quem é educado e tem como princípio valorizar a si mesmo a partir do outro. E
não pode ser o contrário, valorizar o outro a partir de si mesmo não faz
sentido, isto é egocentrismo. É um princípio que vale para todos os tipos de
relacionamento e faz uma diferença muito grande no convívio com as pessoas.
Preservar um ao outro também é um dos princípios do respeito. Imagine na vida
onde duas pessoas convivem intimamente e as fragilidades e "defeitos"
são expostos? Esta exposição tem limites dentro dos parâmetros consensuais.
Mesmo neste nível de liberdade, o respeito é também peça-chave e deve ser
aplicado constantemente na relação conjugal, com a família, na vida
profissional e com todas as pessoas do convívio social.
Um comportamento que também "esfarela" o
relacionamento é o de subestimar o parceiro(a). Pessoalmente, mesmo que a
pessoa não valha alguma coisa, o respeito exige que ela seja considerada nos
limites da educação. O silêncio ou não emitir opinião sobre a pessoa pode ser
também uma forma de a respeitar. Não se manifestar reconhecendo as suas
qualidades também pode ser um agravante que fragiliza a conta-gotas a
consideração ao outro. A vida de ambos deve ser preservada mesmo que a decisão
seja em não continuar juntos. Faz parte da vida e ninguém é obrigado a conviver
com quem perdeu a sintonia. Pode até continuar a ter afinidades, mas, a
relação perdeu o fôlego. Isto deve ser aceito sem traumas e sem reações que
causem transtornos. Amar é também respeitar a decisão mútua ou parcial.
Mas, continuando juntos, também deve ser vivida intensamente sem limites,
porém, com respeito e consenso. Em I Coríntios 7:5 o apóstolo Paulo recomenda:
"Não se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante
certo tempo...".
Relação duradoura não significa que durou muito tempo, mas, que é ou foi uma relação sólida, mesmo assim, não é sinônimo de que foi utilizada uma "receita infalível". Da mesma forma não se pode adotar um autoflagelo se sentindo culpado e se perguntando "...onde foi que eu errei?" ou culpando o outro. Quem está fora sempre terá uma visão míope e não pode se intrometer incentivando ou não as decisões. Com exceção, nos casos extremos em que a integridade física e psicológica esteja em situação de risco. Muitas coisas deverão ser consideradas. Na maioria dos casos, muitos consideram de que o que foi construído deva ser preservado, principalmente a segurança emocional dos filhos (caso os tenha) e a relação deva passar por um processo de reavaliação. Noutros casos, o desgaste é tão grande que não compensa reconstruir. Deve ser "demolido" e construído sobre uma nova estrutura. Recomeçar é fundamental na vida para que haja o realinhamento futuro. É a famosa "roda viva" e começa tudo de novo porque o jugo desigual é o risco a ser evitado e o jugo conjugal deve ser sempre o ideal a ser perseguido.
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