Venancio
Junior
Não
sei como iniciar esta reflexão abordando um tema tão polêmico, forte e que faz
parte da vida. Já estou com este assunto em banho-maria a alguns
meses, mas, nunca tive um motivo razoável ou pessoal para discorrer palavras
que fizesse algum sentido. É um tema que causa pânico em quase todas as
pessoas, exceto aos suicidas. Falar com propriedade da morte supliciada é algo
que somente os que já morreram desta forma específica poderiam fazê-lo. Sabemos
que nesta dimensão isto não é possível.
Mas,
não era para ser assim. Então, já que é assim, vou começar por um evento que me
ocorreu esta semana. Dias atrás aconteceu algo muito estranho e o título desta
reflexão descrito acima veio neste momento profundo de tristeza que me abateu e
logo veio à mente de como seria pensar na morte do ponto de vista do suicida.
Isto durou entre 2 ou 3 minutos. Engraçado que estava sentindo uma brisa suave
e apreciando algumas árvores e, aparentemente não tinha (e não tenho) motivo
relevante para me encontrar nesta situação, mas, esta tristeza me veio de uma
forma envolvente e comecei a refletir sobre isto e logo este título veio à
minha mente. Não sei explicar o porquê isto aconteceu. A única certeza naquele
momento é que estava absolutamente vazio de emoção. Parece que alguém me
esvaziou e tirou-me o medo da morte. Talvez precisasse deste ponto de vista
para escrever.
Primeiramente,
reconheço que há controvérsias, mas, uma das coisas que imagino é que o suicida
não quer exatamente morrer. O suicídio é um último recurso para fugir da
tristeza profunda e extrema. Podemos dizer que o suicida é um depressivo
compulsivo quando sua maior luta é fugir de si mesmo. Ele em si é o seu maior
inimigo porque o problema está no seu “córtex emocional”. No caso, a pessoa
depressiva tenta de todos os meios livrar-se da angústia que o domina. Imagine
estar submerso. Da mesma forma é o estado de depressão que fica completamente
imerso na tristeza profunda e submerso na agonia e a pessoa “mergulhada”
procura de alguma forma livrar-se daquela condição. Tenta respirar, mas, não
consegue e a entrega ao inevitável acontece e suicidar-se tornou-se a única
forma, não de morrer, mas, de livrar-se da dor e do peso da tristeza. O
suicídio é, em suma, uma fuga e não um castigo a si mesmo, tipo, demérito da vida.
O
índice de suicídio no Brasil e no mundo é assustador. Segundo fontes
especializadas, entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por
suicídio, com um aumento de 43% no número anual de mortes. Enquanto no mundo a
taxa gira em torno de 10 pessoas para cada 100.000 habitantes. Não pense que a
maioria deste número de pessoas está entre os doentes terminais ou os idosos
limitados que não encontram motivação para continuar vivendo. Os maiores
números estão na classe média e entre adolescentes/jovens. Nas classes menos
favorecidas o índice é incrivelmente menor. Lembrei do caso de um dos homens
mais bonitos do cinema até a década de 80, Alain Delon. Nos seus 86 anos,
morando na Suíça e, apesar de ter sofrido um AVC recente, não tinha outras
doenças que o limitasse. Simplesmente perdeu a alegria e o prazer em viver e
decidiu semana passada pelo suicídio assistido que é legalmente permitido
naquele país. O que aconteceu com ele é que toda a sua emoção foi depositada na
sua fama que se foi juntamente com a sua alegria e prazer da vida. Sempre
declarava que "nunca gostou de envelhecer". Sua emoção se encontra
atualmente junto com as ruinas da fama. Infelizmente, muitos depositam sua
confiança e investem suas emoções nos bens adquiridos que são passageiros. Os
fatores externos são apenas um cenário onde se está inserido. A vida não é
igual para todos. Cada pessoa tem suas dificuldades, seus medos, suas
limitações que geram seus "fantasmas emocionais". Deve-se
aprender a viver e aproveitar cada momento da vida. Não tem como ser de outra
forma. Por exemplo, durante esta pandemia mundial, administrar
simultaneamente a subsistência da vida e das emoções foi um desafio que
exigiu muito de todos. Muitas pessoas não achavam que teriam tanta
força para suportar. Mesmo não ficando doentes, houve muitas perdas
familiares e de amigos, desemprego e fome. Como se não bastasse, uma parte da
administração pública, principalmente nas áreas da saúde e da economia
demonstrou inaptidão para desenvolver ações que minimizasse o sofrimento das
pessoas. Para quem sofria de ataques de pânico e depressão, o cenário da
pandemia foi avassalador para as suas emoções. Nesta fase triste da história da
humanidade, infelizmente houve um recrudescimento do suicídio. Acredite, houve
suicídio até por medo de ficar doente. As pessoas que tomaram a decisão do
suicídio na pandemia provavelmente já estavam em vias neste processo e a
pandemia “deu um empurrãozinho”. Alguns com maior grau se anteciparam, enquanto
outros em menor grau pensaram melhor no que fazer, mesmo assim decidiram pelo
pior. Não é uma regra em que a pessoa sob pressão pense na maneira mais brutal
para se livrar da insegurança iminente. Alguns casos pode ser uma reação o que
não diminui a gravidade da situação.
O
que motiva uma pessoa a ceifar a própria vida? Diria que viver é um risco.
Dizem que a única certeza da vida é a morte. Outra certeza é que todos que
nascem tem um destino continuado noutra dimensão. A vida natural tem o seu
começo, meio e finalidade. Devemos pensar desta forma. Cada pessoa nasce com
sua personalidade. O contexto da vida é como um balcão de oportunidades onde
vai se adquirindo o que cada um quer ser. Neste balcão existem as boas
oportunidades e também as ruins que influenciam diretamente as contrariedades. Neste
ponto que surge o estado de depressão que muitos têm em menor ou maior grau. O
depressivo vive na miríade da angústia e não consegue ter uma visão racional da
realidade fora da caixa porque o processo de fluidez das emoções está em
processo de introspecção. A depressão na mente é um balaio de incertezas e vida
sem sentido. Seria como um buraco na rua, caso não haja manutenção que tape
aquele buraco, a via se tornará intransitável causando muitos males. Da mesma
forma é a tristeza, fruto dos infortúnios, caso não haja o tratamento
necessário, logo se tornará uma concavidade profunda que esmagará o estado
emocional da pessoa. O primeiro passo é conhecer-te a si mesmo. Jamais deve se
ignorar o conhecimento de si. Cada pessoa tem a sua forma de reagir frente as
contrariedades e saber como é a principal iniciativa que antevê o problema
antes que se perca o controle da situação. Muitas vezes a causa é, de certa
forma, desconhecida. Conheço pessoas que são depressivas sem qualquer trauma de
infância. É um mal composto no seu jeito de ser. A vantagem de se conhecer é
ter a possibilidade de se evitar virtuais dependências químicas com
antidepressivos. A melhor forma de viver e ser feliz é quando não se depende de
fatores externos e nem de medicamentos. Viver para ser feliz!? Soa estranho
isto porque já ouvi muitos dizerem, geralmente após alguns revezes, “...eu
preciso voltar a viver a minha vida para ser feliz”. Apoio incondicionalmente
esta determinação. Óbvio que quando tudo vai bem a tendência é ser feliz. Peço
licença para colocar a felicidade noutro contexto. Ser feliz é diferente de
estar alegre. Não existe o antônimo de felicidade. Muitos podem dizer que é a
tristeza. Digo que a tristeza é o antônimo de alegria. A felicidade é uma
dimensão. Mesmo em meio a tristeza podemos ser felizes enquanto a alegria é
momento da mesma forma que a tristeza. Será que a depressão é o antônimo de
felicidade? Acho que a depressão é um conjunto de tristeza que destrói o
bem-estar. Acho que a melhor definição antagônica é depressão versus bem-estar.
Este termo depressão é figurativo que significa côncavo ou para dentro. A vala
nas vias é denominada de depressão.
Como
conviver com a depressão ou flertando com a morte? Eu já tive meus momentos de
depressão. Teve alguns anos que convivi com a depressão circunstancial. Muita
coisa havia mudado na minha vida repentinamente e não consegui administrar as
emoções. Cheguei a odiar feriados que eram os piores dias da minha vida. Estava
no final da minha adolescência. Imagine como eu enxergava um mundo que queria
me “engolir”, mas, nunca tive desejo de acabar com a própria vida. Amo viver e
me reinventar. Ainda faço muitas das coisas que fazia na adolescência e mais
alguns outros, frutos de uma certa reinvenção pessoal sem necessariamente mudar
de atividades. Diria que agreguei novas atividades que antes não fazia. Talvez
uma das grandes armas contra a depressão é se reinventar. Não necessariamente
se contextualizar para se sentir útil para os outros. A maturidade não é um
privilégio dos “maduros”. Desculpe-me o pleonasmo. A maturidade é uma das
coisas que nos acompanha desde o nascimento, caso contrário, ainda estaríamos
usando chupeta e fazendo xixi na fralda. Voltando, a maturidade nos oferece
ricas oportunidades de construir valores emocionais e que nos traz satisfação
independentemente da idade. Estes valores serão o nosso escudo contra as
frivolidades da vida. Reconheço que algumas limitações estarão presentes. Neste
ponto que a maturidade fará o seu papel de agente catalisador de emoção. Um dos
pilares da maturidade é a independência. Socialmente interligados, porém,
independentes. Cada um individualmente deve construir a sua independência,
principalmente emocional. Isto não significa deixar de amar as pessoas. Pelo
contrário, nesta condição independente, o amor será muito mais profundo porque
não será um sentimento poluído de egoísmo e indiferença. Uma pessoa
independente se entrega a alguém para construir relacionamentos sadios. Isto é
fundamental no amadurecimento emocional. No meu livro “PALAVRA TEMPERADA” (disponível
na amazon.com) tem uma poesia que diz que a emoção é o tempero da vida.
Discorro nesta poesia atitudes altruístas que é a melhor forma de diluir o
amargor consumista e de quebrar a morosidade da rotina que, por melhor que seja,
gera energia emocional insalubre. Talvez uma atividade mais intensa e cansativa
seja menos insalubre que aquela rotina tranquila. Depende muito de como reagir
a cada situação. Tive de me reinventar e mudar o foco, ou seja, amadurecer as
emoções. Reconheço que vivemos sob uma estrutura com “pés de barro” e nesta
condição, o acúmulo de frustrações é intenso e, muitas vezes, não se tem para
onde correr. Conviver com a “mesmice” é um aprendizado importante para diluir
as emoções nocivas à saúde emocional. Diante disto, o melhor é aprender a
enfrentar os solavancos da tristeza para ter no máximo apenas alguns
chamuscados das cinzas emocionais.
Enfim,
a sociedade atual erra no sentido de tentar acertar consumindo sem critérios e
desprovidos de senso crítico tudo o que lhe é oferecido. Isto cria uma
excessiva dependência que gera ansiedade e a torna fragilizada e de fácil
manipulação. A vulgarização da vida é o maior perigo que enfrentamos e não
adianta promover palestras motivacionais se na vida real não houver atitudes
que mudem o núcleo da sua convivência social. Não devemos ter pressa em viver
ou ser feliz. Dedique mais tempo em ser feliz se oferecendo a fazer alguém
feliz. Isto constrói laços de uma sociedade genuinamente saudável.
Lembro que o passado e o futuro se encontram no presente. Jamais tente mudar esta ordem.
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