Venancio Junior
O propósito desta reflexão não é em
absoluto confrontar costumes e valores da tradição das religiões, mas, dirimir
alguns dos mais conhecidos e polêmicos assuntos dentre as inesgotáveis
referências da doutrina bíblica. Sinto-me pequeno para tão grande missão, sendo
esta iniciativa, uma decisão pessoal que lancei como um desafio cujo propósito
é contribuir no entendimento da mensagem do evangelho. Muitos temas permitem
interpretação dúbia, porém, se não houver o discernimento espiritual que é a
principal prerrogativa na interpretação bíblica, não fará sentido algum no
entendimento das escrituras. Costumo dizer que devemos ter em mente a
"teologia pé no chão". Este termo eu criei como um desafio para a
minha visão de Deus e comecei a retirar as "gordurinhas" que dão um
sabor especial no evangelho e que mantem sempre um paladar agradável. O
evangelho nem sempre é "romântico" quando o Senhor é o Pastor e nada
faltará. Davi quando escreveu este Salmo encontrava-se angustiado e se sentia
desamparado. Ler e meditar com o propósito em aprender e assimilar é a melhor
decisão. Devemos ter sempre em mente o que diz no Salmo 19:8 "Os
mandamentos do Senhor são cristalinos e iluminam o entendimento".
Subjetivo é um termo
aplicado a interpretação pessoal de um princípio. Muitas vezes é confundido com
o seu “parente” próximo, ambíguo, em que uma palavra pode ter, no
mínimo, dois significados. A filosofia é um exemplo da subjetividade, sendo
passível de diversas interpretações porque não tem a lógica como princípio. Nas
disciplinas de exatas isto não seria possível porque tem exatamente como
princípio a lógica. Sou também um profissional de desenho civil e interpretação
de projetos e afirmo que no cálculo estrutural de uma construção não tem como
ter vários pontos de interpretação no seu dimensionamento. A lógica define que
o cálculo da estrutura deve ser de acordo com o porte do edifício. O máximo que
pode acontecer é um profissional da área questionar um superdimensionamento no
cálculo estrutural. Por exemplo, não há necessidade em aplicar um
dimensionamento de vigas e colunas para um edifício de 10 andares numa
construção de apenas dois andares. O subdimensionamento também
é cabível neste exemplo quando há a inversão do cálculo estrutural. É uma
questão lógica porque os números são estáticos nos seus valores.
O mundo jurídico,
talvez seja, onde aconteça com mais frequência a lei da subjetividade. As leis
podem mudar a interpretação por causa de uma acentuação ou ponto de vista.
Dentro do contexto do crime a lei pode ser meramente interpretativa. Por
incrível que pareça, é possível que numa interpretação, algumas leis favoreçam
em parte os infratores ao invés de incriminá-los. Os advogados de defesa conseguem
utilizá-la em benefício do réu por causa da sua subjetividade. Num julgamento,
raramente alguma das partes afirma que o outro está mentindo. O mais casual é
acusar de que o outro não esteja falando a verdade. Pela lógica é a mesma
coisa, mas, se utilizar a subjetividade, não é a mesma coisa. Talvez, neste
caso, a lei da relatividade seja bem propícia para estabelecer um parâmetro de
interpretação.
O tema tem como foco
o evangelho, então, o mundo místico/religioso que é vasto, amplo, profundo e
recheado de subjetividade doutrinária será o cenário nestas avaliações.
As centenas de
milhares de religiões são frutos de interpretações diversas até mesmo da bíblia
que é a principal referência da existência de um ser supremo e criador. Por
incrível que pareça, outras tantas religiões surgiram de uma revelação pessoal,
onde alguém "iluminado" e que tenha recebido algo de uma
divindade qualquer se sentiu na obrigação de repassar as pessoas e, daí,
formou-se uma nova religião. O objetivo não é analisar os conceitos religiosos
fora da bíblia. Então, vou utiliza-la como referência que não pode ser
considerada apenas como uma “cartilha dos cristãos”, mas, pode ser
um "manual de sobrevivência da espiritualidade" onde
indica o caminho e constam os princípios elementares da vida cristã (Hebreus
5:12). Todas os esclarecimentos das eventuais dúvidas sobre
espiritualidade poderão ser buscados na bíblia com o necessário
discernimento do Espírito Santo.
Dividi a bíblia
em narrativa histórica e narrativa doutrinária. Mesmo sendo
história, não significa que a lógica estivesse presente. Se tivermos o olhar
racional tanto da história, quanto da doutrina, quase nada fará sentido. O
mundo acadêmico preza prioritariamente pela lógica onde é baseada os seus
estudos. Não os recrimino, mas, nunca se deve ter um olhar unilateral,
considerando que a essência dos escritos tem um propósito também espiritual.
Neste caso, não tem lógica menosprezar esta essência porque nem a lógica
alcançaria um resultado satisfatório. Observo também que o autor dos escritos,
muitas vezes, seguia o padrão cultural e não necessariamente o pensamento de
Deus.
Procurei ao máximo
não fazer uma leitura dos textos a partir de uma linha teológica conhecida para
não ter influência na interpretação. A maioria das pessoas ouvem falar sobre
Deus, quando na maturidade adota uma linha teológica e acaba seguindo suas
regras sem questionar e muitos se sentem confortáveis nesta condição. Mas, é
muito arriscado ignorar as dúvidas que sempre farão parte do
consciente e, conforme surgem, principalmente sobre espiritualidade, chega um
momento em que é preciso saber mais sobre a vida com Deus lendo e meditando na
sua palavra com o discernimento do Espírito Santo. Particularmente, não me
identifico integralmente com nenhuma linha teológica das principais
denominações evangélicas/cristãs, porque não existem duas ou mais teologias,
considerando que a bíblia afirma que há somente um Deus, então, há somente uma
teologia. No céu não há três deuses e também não existe uma pombinha voando como
sendo o Espírito Santo, como também não encontraremos Jesus ao lado direito de
Deus no trono vestido de branco e com cabelos e barbas longas e pretas tal como
o conhecemos na história. A questão de Jesus estar sentado à direita do Pai é
um sentido figurado demonstrando a submissão à vontade do Pai e a equivalência
de poderes de uma mesma pessoa. Observe os textos de João 10:30 "Eu
e o Pai somos um" e João 12:45 "...e quem me
vê, vê aquele que me enviou". Mas, isto é referência de Deus e Jesus,
e o Espírito Santo? Paulo fez esta "amarração" da trindade. Leia o
texto de Romanos 8:9 "Vós, porém, não estais sujeitos à carne, mas
ao Espírito (Espírito Santo), se realmente o Espírito
de Deus (Deus) habita em vós. Mas se alguém não tem
o Espírito de Cristo (Jesus), esse não é dele".
Tudo o que sabemos sobre Deus foi exposto numa dimensão terrena para
conseguirmos identificar as ações trinitárias distintas de uma mesma
pessoa. Uma curiosidade, quando Jesus nasceu, a notícia chegou até a distante
China que, nesta época, já tinha 200 milhões de habitantes e Jesus se
manteve como ser humano estando presente fisicamente na Judéia. Mesmo com tanta
gente, não há relato na história que Jesus esteve na China, pois, cumpria uma
missão na condição de ser humano direcionada ao povo judeu. Porque Deus se
manteve no céu? Fazia parte do processo e Ele poderia estar (e estava) em
qualquer lugar ao mesmo tempo, mas, isto era função do Espírito Santo que
é onisciente, onipresente e onipotente. A única preocupação que devemos
ter é o relacionamento pessoal com Deus que fará muita diferença na comunhão
com outras pessoas que professam a mesma fé. A maturidade depende muito do
tipo de relacionamento que se tem com Deus porque somos diferentes e
vivendo vidas diferentes em contextos sociais e culturais também diferentes.
Deus se relacionando com o indivíduo e inter-relacionando com as pessoas. O
apóstolo Paulo fez esta abordagem sobre o amadurecimento quando precisamos
parar de tomar leitinho e ingerir alimentos sólidos para ajudar no crescimento
(Hebreus 5:13). Obviamente que transparece que já estou colocando o meu ponto
de vista, mas, não. Deixo claro que sou membro do corpo de Cristo (I Coríntios
12:27) que não tem parede e nem letreiro nominal servindo numa comunidade local
em comunhão com outros que professam a mesma fé. Quanto à interpretação
bíblica, ela deve ser acompanhada de uma “descauterização
denominacional” até então, usual para não sofrer influência daquilo
que já tenha ouvido ou lido.
Vou começar a abordar
o tema principal apresentando como exemplo de subjetividade bíblica, dois
princípios que foram citados no Antigo Testamento como prática comum sem
qualquer observação relevante na questão de princípios que é a prostituição e a
mentira. Ambos violam os princípios morais condenados no primeiro livro do
Novo Testamento e são apresentados no mesmo texto no evangelho de Mateus
15:19 “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios,
adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias”. Mas, se lermos sobre a prostituição no Antigo Testamento, em
alguns episódios parece que Deus não se importava com a condição vivida pelas
mulheres em situação de prostituição. No livro de Josué 2:1, Raabe era uma
prostituta e foi uma mulher que não falou a verdade quando protegeu dois
espiões de Josué que estavam visitando a cidade de Jericó antes de ser
conquistada. Observo que a prostituição no Antigo Testamento muitas vezes é no
sentido figurativo revelando a decadência de algumas cidades, por exemplo,
Samaria e Jerusalém que viviam cada vez mais distantes de Deus e os termos
utilizados pelo profeta é de baixíssimo nível (Ezequiel 23:20-21). Tanto no
texto, como também no contexto, a vida de prostituição e a mentira são, de
certa forma, irrelevantes e o destaque é para a atitude de obediência o que foi
de extrema importância na estratégia de conquista de Jericó. Esta é uma das
muitas histórias famosas dos heróis bíblicos. Leia os trechos bíblicos: “Foram,
pois, e entraram na casa duma prostituta, que se chamava Raabe, e pousaram
ali”. E depois quando perguntaram sobre os dois homens, ela
falou “...e aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já
escuro, aqueles homens saíram. Não sei para onde foram; ide após eles depressa,
porque os alcançareis”. O escritor na sequência do texto, então,
relata: “Ela, porém, os tinha feito subir ao eirado (terraço), e
os tinha escondido entre as canas do linho que pusera em ordem sobre o
eirado". Não há qualquer comentário sobre a prostituição em si ou
sobre a mentira aplicada. Será que algum destes dois homens teve relação com
ela? Isto seria uma suposição pelo fato de ela ser prostituta, mas, a bíblia
não relata isto, só fala que passaram a noite. Esta é uma narrativa histórica
circunstancial que consta na bíblia e não pode ser utilizada como doutrina.
Aconteceu desta forma por mera conveniência e foi uma decisão dos espias de
Josué num momento em que não havia muito tempo para pensar. Não se pode afirmar
que foi uma direção divina. Talvez até tenha sido, mas, não se pode confirmar
isto. Na vida acontece muito destas situações constrangedoras e que,
aparentemente comprometeria a integridade espiritual dos espiões de Josué,
porém, não se pode medir ou julgar deste ponto de vista. Outro fato chocante
para os nossos dias é a destruição das cidades a mando de Deus no Antigo
Testamento. Josué foi o escolhido para substituir Moisés na condução do povo e
nas conquistas até a terra prometida. Numa das inúmeras batalhas na conquista
de uma das cidades que estavam pelo caminho houve um claro mandamento de
Deus "Nesse dia tomou Josué a Maquedá, ferindo-a à espada, bem
como ao seu rei; totalmente os destruiu juntamente com todos os que nela
estavam, sem deixar ali nem sequer um. Fez ao rei de Maquedá, como fizera ao
rei de Jericó" (Josué 10:28). Porque Deus determinou que se
destruísse toda a cidade? Todas estas cidades destruídas eram inimigas de
Israel que era o povo escolhido. Era composta por pessoas cruéis e inimigas de
Deus e não mediam esforços para blasfemar e praticavam imoralidades sem
limites. Um detalhe importante é que devemos ter uma perspectiva de leitura no
contexto de conquistas através de guerras, isto era normal e muitas das cidades
destruídas, os seus habitantes não eram inocentes e conheciam a Deus, porém, eram
desobedientes e distantes de Deus. Se imaginarmos seguir o que diz a bíblia,
este exemplo deve se limitar a história específica naquele contexto. Outro
texto polêmico, agora no Novo Testamento (Mateus 21:24), aconteceu logo após
Jesus entrar em Jerusalém no jumentinho e expulsar os vendilhões do templo.
Como de costume, os principais sacerdotes acompanhados dos anciãos do povo
questionaram Jesus sobre a sua autoridade e Jesus logo fez uma pergunta se o
batismo de João era divino ou dos homens? Em seguida fez uma analogia através
de parábolas sobre os que viram, mas, não creram. Como não souberam responder,
então, Jesus afirmou que “os cobradores de impostos e as prostitutas
entrarão no Reino do céu antes de vocês porque creram”. Como assim,
prostituta e ladrões entrando no Reino de Deus? Em I Coríntios 6:9 lemos que
estes não herdarão o Reino de Deus! Reafirmo que é isto mesmo. Explico, no
livro de Atos 10:43 Pedro afirmou que “Todos os profetas testemunham
sobre Ele, afirmando que qualquer pessoa que nele crê recebe o perdão de todos
os pecados, mediante o seu Nome”. Este texto vem de encontro ao que Jesus
afirmou que entrariam no Reino de Deus porque creram e Jesus está pouco se
importando quem seja e quais as condições que se encontra porque o importante é
crer no evangelho que ouviram quando acontece a verdadeira libertação da vida
de pecado. Qualquer texto bíblico precisa estar conectado para que ratifique
coerência e veracidade dos fatos na completude do evangelho. Estes foram apenas
dois exemplos de subjetividade e mostra que jamais se deve utilizar um texto
fora do seu contexto.
A bíblia é a
revelação da pessoa de Deus para o ser humano ou a revelação do ser humano a
Deus? Eu diria que o Antigo Testamento é a revelação do ser humano a Deus onde
aconteceu o relato da queda no Éden e onde também a lei nos condenava (...onde
não há lei, não há pecado Romanos 4:15) e no Novo Testamento é a
revelação de Deus ao ser humano onde aconteceu o processo de resgate em Jesus
Cristo pela graça que nos liberta da condenação do pecado (...nenhuma
condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus Romanos 8:1).
Quanto tempo passou
no Antigo Testamento até surgir as primeiras escritas? Agora imagine que
confusão era, uma verdadeira terra sem lei com barbáries, genocídio, guerras
sem fim e idolatria onde ninguém tinha qualquer direcionamento. Tanto os maus
como os bons sabiam quem era Deus e o único a ser adorado. Mesmo assim, faziam
suas próprias escolhas e seus próprios deuses. Israel, mesmo sendo o povo
escolhido, quando ficava sem rei ou outra liderança, se perdia com idolatria e
feitiçaria principalmente e se distanciava de Deus. Muitas vezes foi abandonada
à própria sorte (sorte no contexto bíblico significa possibilidades) e as
consequências eram gravíssimas. Deus (como sempre) se compadecia e permitia uma
nova chance de reconciliação. Os reinos de Judá e de Israel se valiam da
promessa que Deus fez a Davi e quase todos os que o sucederam se perdiam em
idolatria e Deus ficava muito triste. Mas, Deus sempre lembrava que abençoaria
porque havia prometido a Davi abençoar as gerações futuras. O próprio rei
Salomão no final do seu reinado entristeceu a Deus mesmo tendo sido advertido
para não tomar algumas decisões comprometedoras e Deus manteve o seu reino por
amor a Davi "Mesmo assim, não lhe tomarei o reino todo, mas
deixarei ao teu filho uma tribo, por amor e consideração a Davi, meu servo, e
por amor a Jerusalém, a Cidade que escolhi!” (I Reis 11:13). Numa
analogia com a vida contemporânea, mesmo com todas as leis amplamente
conhecidas que contempla e protege todas as estruturas da sociedade, mesmo
assim, ainda é muito confusa e requer especialistas na interpretação. Imagine
no tempo do Antigo Testamento quando era tudo desconhecido e precisava passar
por um processo de amadurecimento na relação dos homens com Deus? Este
amadurecimento começou a se delinear na revelação dos dez mandamentos a Moisés.
Agora sim, algumas coisas começavam a ficar mais claras e fazer sentido. Será?
Sinceramente, se aplicassem na vida somente os dez mandamentos, seria o
suficiente para termos uma sociedade justa.
Vamos voltar um pouco
na história para conectar alguns fatos que farão sentido aos demais. Alguns
perguntam se no Antigo Testamento surgiu alguma outra religião além do
judaísmo. Não se pode confundir uma tribo com religião. Na história consta que
a primeira dissidência do judaísmo foram os Essênios que eram responsáveis
pelos escritos do Mar Morto. Segundo consta, os Essênios surgiram no segundo
século antes de Cristo. Na bíblia não há uma citação direta deste povo. Não se
pode afirmar se era uma tribo ou uma religião. Eles eram judeus
apocalípticos messiânicos e, talvez por isto, tenham sido dizimados no
ano de 68 com a destruição de seus assentamentos em Qumran. Há citação na
bíblia sobre os gentios que muitos confundem com uma tribo. Eles não eram
considerados como herdeiros de Deus pelos judeus porque não foram circuncidados
e eram considerados como hereges e não poderiam adotar o judaísmo como sua
religião porque não eram judeus. Quem não era judeu era chamado de gentio.
Provavelmente eram descendentes de Ismael porque o Judaísmo se formou com os
descendentes de Isaque (Gênesis 21:2) filho de Abrão e Sarai e o Islamismo
surgiu no século sete e descende de Ismael (Gênesis 16:15) também filho de
Abrão, porém, com a serva de Sarai, Hagar. Quando Deus firmou aliança com Abrão
mudou os nomes para Abraão e sua mulher para Sara (Gênesis 17:5 e 15). É uma
história muito complicada e alguns fatos comprovam onde surgiu a briga entre
judeus e palestinos. Engraçado foi que Abrão quando recebeu de Deus o sinal da
aliança que seria a circuncisão e a promessa de que teria um filho, prostrou-se
e começou a rir porque já tinha cem anos e Sara noventa anos (Gênesis
17:17). Ismael nasceu primeiro e tinha 14 anos quando Isaque nasceu. Quero
destacar dois episódios que, provavelmente sejam os motivos dos conflitos até
os dias atuais que condiz com o que o anjo falou para Hagar quando fugiu. O
primeiro episódio aconteceu quando Abraão deu uma festa pelo nascimento de
Isaque, Ismael que já era adolescente e ficou rindo, provavelmente com deboche
do seu meio-irmão Isaque porque Sara não gostou daquele comportamento e falou
para Abraão livrar-se deles "Ora, Sara percebeu que o filho
nascido a Abraão, por intermédio da egípcia Hagar, estava rindo de seu filho
Isaque, e pediu a Abraão: “Expulsa esta serva e seu filho, para que o filho
desta escrava não acabe sendo herdeiro com meu filho Isaque!” (Gênesis
21:9). O segundo episódio é que Hagar foi acusada de ridicularizar Sara da
qual era serva. Como o clima entre elas ficou muito tenso (Gênesis 16:5),
então, Hagar decidiu fugir. O anjo do Senhor encontrou Hagar e perguntou o que
aconteceu. Ela respondeu que estava fugindo de Sara, sua senhora. Daí o anjo
disse para ela voltar e se sujeitar a sua senhora. Dentre outras coisas que o
anjo falou, o que me chamou a atenção foi o que disse na segunda parte do verso
12 “...e ele (Ismael) viverá em hostilidade contra todos os seus
irmãos”. O próprio Deus afirmou que a descendência de Ismael seria também
uma grande nação "...mas do filho da serva farei também uma grande
nação, porquanto ele também é da tua raça!” (Gênesis 21:13). Dá-se a
entender que estes irmãos são os judeus da parte de Isaque.
Vamos avançar alguns
anos e chegar ao tempo do Novo Testamento onde as leis já estavam consolidadas
e até já havia algumas religiões e, aparentemente, não precisava de algo
vultuoso (vinda do Messias) para questionar se havia algo errado ou algum
processo que precisasse ser concluído. O Antigo Testamento foi regido pela lei
e não poderia ser de outra forma, afinal, era um mundo ainda em formação na
estrutura social e nos conceitos e o Novo Testamento veio revelar a graça
através do nascimento virginal de Jesus. No Antigo Testamento, a graça seria
impensável porque o comportamento das pessoas ainda era muito rústico e no Novo
Testamento a lei foi muito questionada, surgindo até uma classe de hereges do
evangelho, os legalistas e com a vinda de Jesus o Messias, a lei foi
apresentada de forma lapidada pela graça. Apesar de ser também uma época muito
antiga, os livros da revelação da graça de Jesus Cristo surgidos neste tempo
ainda permitem sofrer uma contextualização, fato é que a maioria das
controvérsias bíblicas estão contidas no Novo Testamento onde tudo convergiu em
Cristo. Vamos ler Romanos 10:4 "...porque o fim da lei é Cristo,
para justificar todo aquele que crê". Em Romanos, Paulo afirma
que “...o pecado não mais domina, porque não estamos debaixo da lei,
mas debaixo da graça”. Jesus é o fim da lei como era aplicada e a
finalidade desta mesma lei para a raça humana. Novamente se confirma a
simplicidade do evangelho, bastando somente crer. A parte de Jesus é manter a
esperança naquilo que se crê e a parte do ser humano é manter o compromisso de
fidelidade e a responsabilidade com integridade.
Apesar de toda
limitação na compreensão do evangelho por parte dos seus seguidores, Jesus
sempre procurava simplificar e ser claro utilizando metáforas do cotidiano
judaico. Jesus veio com uma missão e, como qualquer outra, precisava criar uma
estrutura que a tornasse eficaz. Todas as ordenanças no Novo Testamento é
uma continuação dos dez mandamentos da diretriz personalizada de Deus na
questão de ordem na igreja orientando e exortando a igreja ainda em formação.
Mesmo os autores tendo personalidades diferentes, nos escritos em que cada um
expõe a sua particularidade na composição do texto, não se perdeu a integridade
teológica. Paulo, autor da maioria dos livros doutrinários, foi um antigo
oficial do exército romano e um profundo conhecedor das leis judaicas e que
também sabia sobre a vinda do filho de Deus. O que faltava exatamente a
Paulo era o encontro pessoal com Cristo o que aconteceu no episódio
da estrada de Damasco. Paulo, mesmo após convertido, como diria, levou consigo
a sua marca pessoal incrustada com um radicalismo componente da sua forte
personalidade. Foi uma surpresa geral esta escolha, pois, todos conheciam a
fama da brutalidade de Paulo. Mesmo após convertido, talvez ele tenha sido o
mais controverso dos apóstolos na proclamação do evangelho. As suas cartas
foram destinadas a grupos intelectualmente distintos. O evangelho simples de
Jesus tinha de atingir os intelectuais da época na mente para compreensão e no
coração para crer. As cartas de Paulo são as que ainda mais causam êxtase aos
teólogos e até mesmo ao seu colega de apostolado, Pedro, que na sua segunda
carta afirmou que Paulo escrevia algumas coisas complicadas. Ele escreveu algo
bem interessante: "Ele (Paulo) escreve do mesmo modo em todas as
suas epístolas, discorrendo nelas sobre esses assuntos, nas quais existem
trechos difíceis de entender, os quais são distorcidos pelos ignorantes e
insensatos, como fazem também com as demais Escrituras para a própria
destruição deles” II Pedro 3:16. Distorcer o evangelho é a maior causa
de dissensões na religião. Os motivos são diversos, falta de conhecimento e
insensatez que Pedro chama de ignorantes ou mal-intencionados com o objetivo de
chamar a atenção para outros fins, por exemplo, orgulho e vaidade. O próprio
Jesus exortou o povo referente a ignorância. Em Mateus 22:29 Jesus respondendo
à multidão afirmou que “...vocês erram porque não conhecem as
escrituras e nem o poder de Deus”. O apóstolo Paulo também já exortava na
carta de I Coríntios 3:11 “Porque ninguém pode colocar outro alicerce
além do que já está posto, que é Jesus Cristo”.
A igreja de Jesus
Cristo como corpo teve o seu início na escolha dos apóstolos e na
ressureição de Jesus. O livro de Atos retrata o início da igreja em
ação e da pregação dos apóstolos. Em Antioquia os discípulos foram pela
primeira vez chamados de cristãos (Atos 26b). Pedro e alguns dos apóstolos que
não foram citados nominalmente, foram presos por pregarem o evangelho e no
verso 42 de Atos 5 diz: "Todos os dias, no templo e de casa em
casa, não deixavam de ensinar e proclamar que Jesus é o Cristo” em
consonância com o texto de Romanos 10:17 em que diz que “A fé vem pelo
ouvir”, mas, “o crescimento vem pelo conhecimento da palavra” (II
Pedro 3:18).
Abaixo relacionei
alguns dos principais fundamentos do evangelho. O critério de escolha destes
subtemas é porque são questionadas por algumas das principais denominações
cristãs/evangélicas.
Oração e a quem orar
Vou iniciar mostrando
o texto de Isaias 59:1 “Eis que a mão do Senhor não está encolhida,
para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir;”.
O contexto de Isaias é de restauração através da confissão de pecados. Orar é
manter contato contínuo e incessante com Deus.
Quando e como devemos
orar? I Tessalonicenses 5:17 lemos que devemos "Orar sem cessar”.
Este mandamento não é um sentido literal em que se ajoelha e fica orando até
esfolar os joelhos. Não se trata também de uma oração regular e nem da forma de
orar, mas, em manter a sintonia e a comunhão com Deus continuamente. Orar
significa contato com Deus, então, adorar é uma forma de oração, cantar é uma
forma de oração, refletir na palavra é também uma forma de oração, discipular é
uma forma de oração, ler a bíblia é uma forma de oração e, desta forma, estará
sempre em contato com Deus. Tudo o que se fizer deverá ter a inspiração divina
para que o objetivo de crescimento espiritual faça sentido e o contato contínuo
através da oração é o elo com Deus. Fazer tudo para a glória de Deus é um bom
exemplo de oração contínua "Tudo quanto fizerdes, quer de palavras
quer de obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
Pai" (Colossenses 3:17). A partir do momento que nos rendemos ao
evangelho e entregamos a vida a Deus, não podemos perder o contato um segundo
sequer. Este “insignificante” tempo de um segundo é o suficiente para que o
inimigo de nossas almas nos devore "Sede sóbrios, vigiai. O vosso
adversário, o Diabo, anda ao redor de vós, como leão rugindo, buscando a quem
possa devorar;" I Pedro 5:8).
Não existe uma forma
correta de orar. A postura de oração que mais se pratica é fechar os olhos em
pé ou ajoelhados e falar com Deus. Fechar os olhos é apenas um costume para que
nada desvie a atenção nada mais que isto. De olhos abertos, deitado, ajoelhado
ou em movimento, não importa, o importante é orar. Muitas vezes não sabemos o
que orar, mas, o Espírito Santo intercede por nós quando isto acontece "Do
mesmo modo também o Espírito ajuda a nossa fraqueza; porque não sabemos o que
havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com
gemidos inexprimíveis;". Imagine uma corporação divina dedicada a
causa humana. Melhor ainda, exclusivamente para cada um. É desta forma que a
ação de Deus intervém por nós.
E quanto a
recomendação de Jesus no modo correto de orar e a quem devemos orar? Algo que
se tornou costume que a igreja adotou como devoção é orar diante da cruz. Não
há relato bíblico, sequer suspeita porque a cruz é um objeto inanimado e não
foi dotada de poder. Então se deve orar diretamente a Deus, a Jesus ou ao
Espírito Santo ou tanto faz? Jesus nos ensinou a orar e creio que este é o modo
correto. Não foi uma sugestão de tipo de oração, mas, como devemos orar e a
quem devemos orar. Não me refiro especificamente às palavras, mas, o
direcionamento a quem e em nome de quem. Não há dúvidas de que a oração
sempre deve ter o direcionamento a Deus em nome de Jesus seu filho. Pelo menos
é o que a bíblia enfatiza como forma eficaz no sentido de Deus ouvir e
responder. Não há mais dúvidas de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo
constituem-se a mesma pessoa. Quando se ora, a mesma pessoa ouve. Jesus colocou
desta forma de orar ao Pai em nome dEle em cumprimento a sua missão que era em
tudo glorificar o Pai. Jesus demonstrou a diferença entre intercessor e
atravessador. Jesus intercede por nós a Deus (Romanos 8:34), este é a sua
principal missão que condiz com a justificação. Tudo tem de passar por Ele que
eleva ao Pai. Enquanto o atravessador se antecipa corrompendo um processo
natural para outros fins em benefício próprio ou, no caso do diabo, para
destruir mesmo.
Vamos as referências.
Orar é a única forma de se chegar e conversar com Deus que está sempre pronto a
ouvir. A oração do Pai nosso é o exemplo inconteste para sabermos como e a quem
devemos dirigir a oração. “Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que
estás nos céus, santificado seja o teu nome;” (Mateus 6:9). Esta
oração feita por Jesus requer cuidado para não falar o que não se pode viver ou
cumprir. Outro texto bem conhecido encontra-se em João 14:14 "Se
me pedirdes qualquer coisa em meu nome, eu a farei". Este trecho dá-se
a entender que é somente pedir que a resposta vem como se queira. É preciso
meditar em todo o contexto e o porquê Jesus colocou desta forma simplista. No
verso 15 Jesus exorta “Se vocês me amam, obedecerão aos meus
mandamentos”. Amar e obedecer faz toda a diferença na vida do discípulo no
seu relacionamento com Deus o que implica compromisso e responsabilidade.
Há muitos relatos dos
personagens bíblicos mesmo tendo compromisso e responsabilidade com Deus que,
muitas vezes estavam em situação difícil e clamaram a Deus que é uma forma mais
intensa de oração. Geralmente o clamor é numa situação de dificuldades e até
mesmo de desespero e pode ser um pedido de socorro a Deus por si mesmo ou
intercedendo por um povo ou uma cidade. Um destes personagens, o profeta
Jeremias, estava preso na babilônia e Deus estava restaurando o seu povo e a
momentânea derrota seria o caminho que precisava ser percorrido, Deus falou com
Jeremias "Clama a mim, e responder-te-ei; anunciar-te-ei coisas
grandes e difíceis, que não sabes". Mas, tem situações em que Deus
simplesmente afirmou que mesmo o povo orando não ouviria. Israel tinha se
envolvido em muita idolatria e Deus mostrou isto a Ezequiel 8 e no verso 18
Deus diz "Ainda que me gritem aos ouvidos em alta voz, contudo não
os ouvirei". Orar a Deus tem de haver coerência quando diz que
ama a Deus e não obedece aos seus mandamentos.
Jesus também orava
continuamente. No jardim do Getsemani que ficava no sopé do monte das
oliveiras, Jesus orou ao Pai pedindo que o livrasse daquele sacrifício, mas,
que não se fizesse a vontade dele, mas, sim, a de Deus Pai "...e,
ajoelhando-se, orou, dizendo: Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este
cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas sim a tua" (Lucas
22:41). Jesus demonstrou sua humanidade e dignidade divina concomitantemente se
entregando à vontade do Pai. Quando já estava na cruz quase desfalecido Jesus
intercedeu por aqueles que o crucificaram "Disse Jesus: Pai,
perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem" (Mateus 23:34). Enfim,
as últimas palavras de Jesus findando a missão aconteceram na cruz através de
uma oração de entrega de si mesmo a Deus "Jesus, clamando em alta
voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. Tendo dito isto,
expirou" (Mateus 23:46).
A oração e súplicas
são fundamentais no relacionamento com Deus que se permitiu acesso através da
oração. No livro de Tiago 4:7 a 9 há uma orientação de submissão através da
oração "Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele
fugirá de vós. Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Lavai,
pecadores, as mãos, e, vós de espírito vacilante, purificai os corações.
Afligi-vos, pranteai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa
alegria em tristeza". Este texto demonstra também que todos têm
livre acesso a Deus através da oração para restauração de si mesmo ou de outros
através da intercessão, cuja eficácia depende muito do compromisso com Deus.
Também no livro de Tiago 5:16 observo que “Muito pode a oração dos
justos”. Neste caso, não se trata de pessoas perfeitas, mas, daqueles
que foram justificados em Cristo e que tenham o nome escrito no livro da vida.
Todas as orações dos justificados estão sendo contabilizadas na eternidade
conforme o texto de Apocalipse 5:8 “E veio e tomou o livro da destra do
que estava assentado sobre o trono. Logo que tomou o livro, os quatro seres viventes
e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um
deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos
santos”. Esta é uma visão de João sobre o porvir apocalíptico.
Contrariamente ao que conhecemos, apocalipse não é somente sinônimo de guerra,
destruição e fim dos tempos, mas, de recomeço de uma nova e restaurada vida
para aqueles que perseveraram em oração.
Negar Jesus como o
Messias
Algumas referências falam por si só. O
que poderia ser acrescentado?
O anjo anunciou (Lucas 1:31)
"Conceberás no
teu ventre, e darás à luz um filho, a quem chamarás JESUS".
Os discípulos reconheceram (Mateus
14:33)
"Os que estavam
na barca, adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus".
As autoridades reconheceram (Marcos
15:39)
"O centurião,
que estava em frente de Jesus, vendo-o assim expirar, disse: Verdadeiramente
este homem era Filho de Deus".
Os demônios reconheceram (Mateus 8:29)
"Eles gritaram:
Que temos nós contigo, Filho de Deus? vieste aqui atormentar-nos antes do
tempo?"
Com esta farta
representatividade no reconhecimento, fica difícil não se convencer da messianidade de
Jesus. Diante de Jesus até os demônios falam a verdade. Porém, a pessoa de
Jesus não foi unânime e, mesmo sendo o Messias reconhecido pela maioria, os
judeus ortodoxos não aceitaram e não aceitam Jesus como o Messias que seria o
enviado escrito no Antigo e no Novo Testamento como mandamento de Deus. Chega a
ser hilário, os demônios reconhecem Jesus, mas, os religiosos não o reconhecem.
E no Pentateuco que compreende os primeiros cinco livros do Antigo Testamento e
que são os livros sagrados dos judeus há alguma referência do Messias?
Especificamente, no livro de Gênesis 3:15 o próprio Deus já prediz a vinda do
Messias que seria aquele que feriria a cabeça da serpente e ele apenas o
calcanhar como alusão a sua crucificação. No livro de Isaías 7:14 temos a
profecia contra Israel e a Síria e Deus falando com o rei Acaz de Judá e o
Senhor fala para ele pedir um sinal e o rei responde que não tentará ao Senhor
e Isaías profetiza "Pois o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a
jovem que está grávida dará à luz um filho e porá nele o nome de Emanuel" predizendo
sobre a vinda do Messias. Ainda no livro de Isaias 9:6, o mais famoso texto
sobre o advento do Messias que foi profetizado "Porque a nós nos é
nascido um menino, e a nós nos é dado um filho: o governo está sobre os seus
ombros, e ele tem por nome Maravilhoso, Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai,
Príncipe da Paz".
Jesus veio e todos
precisavam, crendo ou não, saber que ele era o Messias. Talvez o único texto em
que Jesus assume nominalmente aconteceu no diálogo que teve no poço de Jacó com
a mulher samaritana indagando-lhe se sabia que viria o Messias, Jesus confirmou
respondendo: “Eu o sou, eu que falo contigo”. João 4:25,26. A
profecia da vinda do Messias e o próprio Jesus assumindo sua divindade não há o
que se discutir. Ele não poderia negar-se a si mesmo, afinal, para que sua
mensagem tivesse credibilidade, precisava que fosse conhecido e reconhecido. Há
outro texto em que ele quer saber o que dizem que ele é. Está escrito no livro
de Mateus 16:15 quando ele próprio pergunta aos discípulos “...o que
dizem que eu sou por aí?” Pedro se antecipa e responde que “...Tu
és o Cristo, o filho do Deus vivo!” Jesus enfatiza que é sobre esta
declaração que edificaria a sua igreja e não em Pedro. Jesus é a pedra angular
e o principal fundamento da igreja. Mas, logo depois, Jesus orientou os
discípulos para que não falassem que ele era o Messias. Em seguida completou
dizendo: "É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas e
seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, que
seja morto e ao terceiro dia seja ressuscitado". Este sentimento de
Jesus reflete o texto já referido no começo em Gênesis 3:15 "...esta
te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" em que o
Messias viria do ventre de mulher e morreria, mas, ressuscitaria no terceiro
dia. O profeta Isaías em diversos trechos proféticos cita a vinda do Messias e
no capítulo 11 profetizando o reino de paz vindouro, muito antes do que
conhecemos hoje predisse de qual linhagem e já desfazendo a distinção de raças
muito preconizada pelos judeus "Virá um descendente do rei Davi,
filho de Jessé, que será como um ramo que brota de um toco, como um broto que
surge das raízes. O Espírito do SENHOR estará sobre ele e lhe dará sabedoria e
conhecimento, capacidade e poder. Ele temerá o SENHOR, conhecerá a sua
vontade e terá prazer em obedecer-lhe. Ele não julgará pela aparência, nem
decidirá somente por ouvir dizer".
Daniel após
interceder por Jerusalém, o anjo Gabriel o visitou e disse que o povo teria
setenta semanas para acabar com as transgressões e dar fim aos pecados antes da
vinda do Ungido (Messias), o Príncipe, uma referência a Jesus Cristo "Saiba
e entenda isto: desde que foi dada a ordem para restaurar e para edificar
Jerusalém até a vinda do Ungido, o Príncipe, haverá sete semanas e sessenta e
duas semanas. As ruas e as muralhas serão reconstruídas, mas será um tempo de
muita angústia" (Daniel 9:25).
A vinda do Messias foi profetizada e era do conhecimento de todos,
inclusive dos judeus que não pensavam num Messias que trouxesse paz através do
amor, mas, através de guerras que eles conheciam muito bem.
Não reconhecer que
Jesus é Deus
Aquele que nega o Pai
e o Filho a bíblia afirma que é mentiroso e anticristo (I João 2:22). No meu
blog tem uma reflexão falando sobre o anticristo e reitero que não se trata de uma
pessoa com poderes especiais em oposição a Deus. Anticristo é um sentimento
maligno e qualquer pessoa está sujeita a tê-lo, caso não tenha a proteção
divina que é a única força capaz de deter o mal. Todo aquele que é contra
Cristo, obviamente é o anticristo "...e todo o espírito que não
confessa a Jesus, não é de Deus. Este é o espírito do anticristo, de cuja vinda
tendes ouvido falar, o qual agora já está no mundo" (I João 4:3).
No primeiro capítulo
de João diz que no "princípio era o verbo, e o verbo era Deus e o
verbo estava com Deus" e no verso 14 lemos a afirmação de
que "o verbo se fez carne e habitou entre nós". Ainda no
livro de João 10:30 Jesus afirma: “Eu e o Pai somos um”. Algo que
devemos ter em mente e crer no coração é de que a trindade divina é a
manifestação trinitária de uma só pessoa. Isto foi provocado para revelar a
diversidade nas ações de Deus para a compreensão humana na nossa dimensão. Deus
é pai. Jesus é Deus agindo em carne para cumprir a missão de restauração. O
Espírito Santo é Deus agindo onipresente e intimamente em nós. A obra de
restauração da vida é uma obra distinta nas ações de uma só
pessoa. Observe o texto de João 14:11 "Crede-me que eu estou
no Pai, e o Pai em mim; ou senão, crede ao menos por causa das mesmas
obras". Jesus falava com os seus discípulos pouco antes da sua
condenação e respondia a uma indagação de Filipe pedindo a que lhes mostrasse o
Pai. Este texto reflete muito a conexão trinitária através do Espírito Santo
agindo no Pai ao mesmo tempo que no Filho. O que está no Pai é o Espírito Santo
e quem está no Filho é o mesmo Espírito Santo. Conclui-se que se trata da mesma
pessoa. Muitos supõem que o Espírito Santo surgiu somente no Novo Testamento
durante o pentecostes, mas, o Espírito Santo está no pentateuco no
processo da criação "No princípio criou Deus o céu e a terra. A
terra, porém, era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, mas o
espírito de Deus pairava por cima das águas" (Gênesis 1:1-2).
Onisciência, onipotência e onipresença são atributos do Espírito de Deus ou
Espírito Santo. Deus é chamado de Pai somente no Novo Testamento para definir a
relação com o seu filho Jesus. Alguns afirmam que no Antigo Testamento o termo
Criador e Chefe das tribos é o mesmo que Pai, mas, é uma definição equivocada
exatamente por causa da composição trinitária com o Espírito Santo que o une ao
seu filho Jesus Cristo. Interessante que no Antigo Testamento quando ainda
Jesus ainda não tinha vindo à terra em forma humana no episódio em que
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego haviam sido jogados na fornalha por
não se prostrarem diante da estátua de ouro, o rei Nabucodonozor viu uma quarta
pessoa e afirmou que parecia um filho dos deuses "Mas o rei disse:
— Eu, porém, estou vendo quatro homens soltos, andando no meio do fogo! Não
sofreram nenhum dano! E o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos
deuses" Daniel 3:25. Pode ser uma referência a Jesus já cumprindo
a sua missão de salvação.
O pecado e
o inferno não existem
A redenção proposta
pessoalmente por Jesus é por causa do pecado que é a única coisa que nos mantem
fora da presença de Deus, consequentemente, todos pecaram e foram condenados ao
inferno. É o que lemos em Romanos 3:23 que por causa do pecado é que fomos expulsos
da presença de Deus. No livro de I João 3:8 lemos que quem comete pecado é do
diabo porque peca desde o princípio. Portanto, o pecado é fato.
Já o inferno não
foi feito para o ser humano. Como pode Deus mandar para o inferno uma criatura
sua? No livro de Mateus 25:41 Jesus falando em parábolas diz que o inferno foi
preparado exclusivamente para o diabo e seus anjos. Ainda no livro de Mateus
7:13 Jesus define que o inferno, mesmo utilizando um sentido figurado, é um
lugar com porta, provavelmente, de entrada somente. Jesus ainda nos exorta no
livro de Marcos 9:43 afirmando que o inferno é um lugar cujo fogo nunca se
apaga.
Pecado e inferno é
uma relação de causa e consequência.
Salvação e fé pelas
obras
Alguns devem
estranhar, mas, o espiritismo é uma religião cristã. É uma linha religiosa que
basicamente desenvolve sua espiritualidade exclusivamente pela caridade através
das obras sociais. A bíblia não se refere a obras somente no aspecto social. A
questão das obras é muito mais abrangente e inclui também as áreas de
discipulado, aconselhamento, evangelismo e tudo que se fizer necessário no
atendimento às pessoas. A questão das obras é muito delicada porque a fé sem
obras é morta Tiago 2:26. Se tivesse somente este texto, com certeza a salvação
daria a entender que é pelas obras. Mas, no texto de Efésios 2:8,9 diz que a
salvação é pela graça, por meio da fé e não das obras para que ninguém se
glorie. Isto derruba qualquer possibilidade de se garantir a salvação pelas
obras. Fé e obras promovem a legitimidade da causa um complementando o
outro.
Purgatório para
purificar os pecados e reencarnação
Na carta de Paulo aos
Hebreus 9:27 diz que "Porquanto é ordenado aos homens que morram
uma só vez (e depois disto vem o juízo),...". A morte não é o fim,
mas, é o recomeço de outra vida, não na terra, mas, noutra dimensão, porém,
espiritual. Os que não aceitaram pela fé a justificação em Cristo e
morreram, infelizmente perecerão na condenação eterna e os justificados em
Cristo viverão eternamente. João 8:36 diz que se o filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres. Não há a necessidade de uma “antessala do céu”
de reavaliação dos pecados para purificação. Se Jesus libertou, verdadeiramente
estarão perdoados os pecados e justificados em Cristo pela sua graça.
Salvação é morte para
o mundo
Quando ainda criança entrando na fase da adolescência, despertou-me uma
curiosidade. Se Adão e Eva pecaram, então, porque sofremos as consequências
pelo pecado dos outros? Esta dúvida não é exclusividade minha. Milhões de
pessoas tem este questionamento e torce para que haja uma resposta
"oficial" bíblica que nos desvencilhe desta culpa. Afinal, faço tudo
direitinho, sequer, "palavrão" eu falo e não desejo o mal para as
pessoas, pelo contrário, só desejo o bem. Eu acho que sou uma boa pessoa e
tenho plena convicção de que o céu é destino certo. Certo!? Errado! A vida
não é tão simples como se imagina. Depois eu compreendi que uma vez a raça
humana fora do Paraíso, tudo o que surgiu depois disto está no contexto do
pecado. As crianças nascem em pecado, mesmo não tendo pecado. A partir do
momento que a alma (a mente) começa a ter consciência do pecado, então, é
necessário decidir pelo caminho do bem ou do mal. Para retornar a presença de
Deus, não basta rejeitar o mal, é preciso compreender e aceitar a Deus e
compreender o evangelho de salvação.
Explico. Primeiro que
o pecado original foi cometido pela raça humana representada por Adão e Eva que
estavam no Paraíso e gozavam de todos os benefícios, além de ter a convivência
com o próprio Deus que de vez em quando passeava e verificava se tudo estava
bem.
Enfim, chegou o dia
fatídico que tudo literalmente veio a perder. O pecado entrou na história da
criação e seduziu a raça humana que foi expulsa do Paraíso e o corpo imortal
foi transformado na sua essência em corpo mortal. Houve uma grande comoção
no céu por causa disto. Deus ficou muito furioso e condenou a raça humana. Sair
da presença de Deus é o mesmo que ser destinado ao inferno. Não existe
neutralidade ou um destino alternativo.
Tornamo-nos seres
humanos com início e fim. Só que este fim, não é exatamente o fim absoluto.
Temos uma vida eterna ou morte eterna pós vida na terra. Diante disto, Deus
usando de misericórdia, precisou se empenhar pessoalmente e se encarnar em
Cristo para restaurar a sua obra primária que é toda a criação. Quem moveu Deus
para tal missão foi o seu próprio amor "Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que ofereceu o seu único filho para que todo aquele que nEle crê não
pereça no inferno, mas, tenha a vida eterna" (João 3:16).
Como seria este
processo de resgate? O ser humano estava morto e condenado à perdição eterna.
Precisava que alguém sem pecado morresse pelos nossos pecados. Estávamos mortos
para Deus e precisava que alguém resgatasse a nossa vida. Não existe perdão sem
pecado. Somente através do perdão é que os pecados adquiridos seriam limpos da
nossa vida e nasceríamos de novo justificados em Cristo. Jesus é aquele que foi
enviado para cumprir esta missão de resgate para nos dar vida novamente. O
pequeno trecho do texto de Romanos 8:10-11 retrata a nossa condição
e nos traz integralmente o antes e o depois da conversão em Cristo
Jesus. "Mas, se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa
do pecado, mas, o espírito está vivo por causa da justiça. E, se o Espírito
daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que
ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais,
por meio do seu Espírito que habita em vocês". É exatamente isto e não
precisa acrescentar mais nenhuma explicação. Completo com outro texto também de
Paulo aos Gálatas 2:20 que diz: "Fui crucificado com Cristo.
Assim, já não sou quem vive, mas, Cristo vive em mim". Todas as
atitudes, comportamento e pensamentos fazem parte da nova criatura em Cristo.
Tudo o que fizer, pensar ou falar deve refletir esta condição vivificada em
Cristo.
Tradição e mandamento Mateus 15:3
A tradição judaica, talvez seja a mais antiga da
história. Esta tradição tem raiz nos mandamentos do Senhor quando ainda não
haviam atribuições organizadas e definidas. Era um povo nômade e fiel a Deus.
No desenrolar da história, muitos costumes se tornaram tradições que foram
sendo adotadas nas tribos que era como se identificava cada família. Neste
tempo, parece que nem mesmo Deus não se importava com muitas das barbáries
ocorridas entre os reinos. Era normal as conquistas através das guerras e Deus
mandava destruir uma cidade inteira porque eram desobedientes. Haviam muitas
guerras e prostituição principalmente, mas, o que Deus declaradamente não
tolerava era a idolatria e infidelidade ao seu nome. Neste tempo não existia
"estado laico". Os governos eram declaradamente religiosos onde os
reis eram assessorados pelos sacerdotes e orientados pelos profetas que, antes
de qualquer decisão difícil, eram consultados. Mesmo com esta característica,
muitos reinos foram literalmente abandonados por Deus porque os reis,
principalmente, o abandonaram primeiro se voltando para a idolatria. O contexto
era muito diferente e algumas coisas ainda não haviam sido definidas. Diante de
um mundo ainda em formação nas suas bases organizacionais, o povo criava seus
próprios costumes que, posteriormente tornaram-se tradições da religião. Havia
inúmeros mandamentos de Deus com o objetivo de orientar nas decisões e nos
sentimentos também. O povo precisava sempre mostrar a quem serviam e o
amor a Deus tinha de ser demonstrado claramente e se tornou estranho e confuso
por causa da inserção de alguns outros deuses em formas diversas e a prática e
devoção a quem criou o céu e a terra e também o ser humano estavam sendo
abandonados. Somente através da obediência aos mandamentos de Deus que se fazia
presente e atuante na vida do seu povo é que seria possível retornar à condição
de povo escolhido.
Jesus veio cumprir os mandamentos antigos e trazer um novo
mandamento "Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros" (João
13:34). Contrariamente ao que os sacerdotes julgavam, Jesus não veio substituir
os antigos mandamentos. No início do seu ministério viu que muitas práticas
eram absurdas. Jesus conhecia a todos, inclusive os sacerdotes, os fariseus e
os escribas que eram os principais representantes da religião que falava e agia
em nome de Deus. O que falavam e como se comportavam era estranho para Jesus.
Por isto que ele afirmou que não veio mudar, mas, cumprir a lei de Moisés, como
resposta ao abandono do evangelho valorizando mais a tradição dos homens que
veio desde o Antigo Testamento.
Alguém já observou na vestimenta das autoridades religiosas? Nada tem a ver com
mandamento ou visão sobrenatural. A roupa utilizada pelas autoridades de muitos
segmentos religiosos é típica dos países de origem. Apropriaram-se de um fator
cultural e introduziram como doutrina. Caso não utilize, é considerado quase
pecado. Muitos outros elementos culturais foram introduzidos e assimilados,
inclusive nas cerimônias oficiais das religiões.
Aconteceu um embate muito interessante exatamente sobre este problema dos
costumes e da tradição entre Jesus e os fariseus e escribas. Leia o texto de
Mateus 15:2-3 Questionou os fariseus e escribas: "Por que
transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos
quando comem pão". Respondeu-lhes Jesus: "E vós, por que
transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?". E na
sequência no verso 6 Jesus "joga na cara" dos fariseus e
escribas "Assim abandonam a palavra de Deus por causa da vossa
tradição". Jesus não estava reescrevendo os mandamentos de Moisés,
mas, estava dando a conotação correta. Os sacerdotes, os fariseus e os judeus
que conheciam os mandamentos amavam, porém, do jeito errado conforme a justiça
dos homens. Todos que não eram judeus cumpridores da lei eram considerados
inferiores. Jesus entrou na história para resgatar o significado dos
mandamentos. Leia o texto logo depois que falou sobre as
bem-aventuranças, "Não penseis que vim revogar a lei ou os
profetas; não vim revogar, mas cumprir" e depois
complementou "Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a
dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" (Mateus
5:17 e 20).
Devemos ter muito cuidado em viver em sintonia com o evangelho de Deus.
Não basta cantar ou frequentar uma igreja. É preciso ter coerência e
integridade do evangelho agradando-lhe em tudo conforme o apóstolo Paulo escreveu
aso Colossenses 1:10 "...de sorte que andeis de uma maneira digna
do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra e crescendo
no pleno conhecimento de Deus...".
Igreja, templo,
religião e adoração
O corpo é o Templo -
João 2:21
O nosso corpo é o
templo do Espírito Santo - I Coríntios 6:19
No Antigo Testamento
a dúvida era a qual povo "pertencia" o verdadeiro Deus. Como se Deus
pertencesse a alguém. O correto é seguir o que bíblia diz sobre o povo
escolhido. Quem escolhe é porque tem direito adquirido. Deus se permitiu
adquirir o direito de possuir o seu povo escolhido. Afinal, era sua própria
criatura e Deus estava empenhado pessoalmente em resgatar corações desiludidos
e que perderam a condição de adoradores. No Antigo Testamento aconteceu desta
forma, Deus escolhendo o seu povo e dando a direção correta. Muitas coisas
aconteceram e, na nossa visão atual, seriam consideradas absurdas. Imagine um
mundo pós-pecado com todas as suas implicações e complicações tentando ser
viável? Os absurdos aconteceram porque o contexto era igualmente absurdo.
Violência aconteceu porque o mundo era extremamente violento. O que ainda
permanece é a insistência do ser humano em adorar alguém ou alguma coisa.
Forjavam ídolos de metal, de madeira ou qualquer material para se sentirem
perto de Deus.
O povo de Deus era nômade em busca de sua identidade e de suas terras,
mas, Deus sempre estava presente cuidando do seu povo escolhido. Este povo
ansiava pela terra prometida e desejavam um lugar exclusivo onde poderiam
adorar a Deus com liberdade.
Após 480 anos da libertação do povo hebreu da escravidão do Egito, o rei
Salomão construiu o mais famoso dos templos que media pouco menos de 300 m².
Mesmo com toda pompa e metais preciosos aplicados no ornamento e construção,
Deus exortou a Salomão dizendo: "Quanto ao templo que tu estás
edificando, se andares nos meus estatutos, e executares os meus juízos, e
guardares todos os meus mandamentos, andando neles; estabelecerei contigo a
minha palavra que falei a Davi, teu pai. Habitarei no meio dos filhos de
Israel, e não abandonarei o meu povo de Israel" (I Reis 6:12).
Lendo o texto, parece que Deus frustrou a expectativa que Salomão tinha quando
Deus soubesse do templo. Provavelmente ele esperava que Deus ficasse admirado.
Mas, não foi isto o que aconteceu. O mais importante para Deus não era e nunca
foi a imponência do edifício, mas, a obediência aos mandamentos. Deus prometeu
estar presente, não no templo, mas, na promessa que fez ao seu antecessor, o
seu pai e rei Davi. O templo deveria ser respeitado, mas, jamais adorado.
E assim, o povo
escolhido agora tinha o seu templo de adoração. E o judaísmo tornou-se a
religião oficial liderada pelos sacerdotes e sumo sacerdotes. Esta tradição se
tornou muito forte e absoluta com muita influência até nos governos. Devido a
isto, perdeu um pouco do sentimento genuíno de adoração. Esta situação
incomodava a Deus e se manteve por milênios até a vinda do Messias prometido.
No Novo Testamento
com a vinda do Messias, a igreja oficial dos sacerdotes foi questionada e
desmascarada por Jesus. Então, surgiu a dúvida de qual é a igreja verdadeira ou
religião? Esta dúvida é muito antiga e vem desde os tempos das
"históricas batalhas bíblicas". Ainda não havia a concepção de igreja
instituição e nem Igreja como povo escolhido. O povo de Deus era reconhecido
pela obediência aos mandamentos e submissão aos profetas. Muitos deles foram
rejeitados e suas mensagens foram desqualificadas pelo próprio povo. Nos textos
do Antigo Testamento percebe-se que, quando não há um deus de fato, qualquer um
serve. Daí, forjavam os seus próprios deuses porque o importante era crer numa
divindade palpável, mesmo que fictícia e seguir por qualquer caminho. Israel
como povo escolhido e sabido de quem era o Deus verdadeiro, muitas vezes
demonstrava estar perdido nas suas idolatrias e em muitos casos o próprio Deus
os abandonava deixando-os a própria sorte. Muitas batalhas foram perdidas
porque Deus os abandonou. Com a advento da graça oferecida por Jesus, alguns
fundamentos precisavam ser esclarecidos.
Ninguém tem mais
dúvidas de quem seja o verdadeiro Deus. Então, onde devemos adorá-lo?
Antigamente o adorava nas tendas no deserto e, posteriormente, nos templos
dedicados exclusivamente para este fim. Jesus redefiniu o conceito de templo e
com a justificação pela graça, o corpo tornou-se o templo do Espírito Santo.
Agora o corpo de Cristo é a Igreja agindo com seus membros e obedecendo aos
mandamentos de Atos e no nome de Jesus curarão enfermos e expulsarão
demônios. Templo, corpo e Igreja se fundem nos seus significados conforme
a bíblia. A única dúvida que ainda persiste é qual é a verdadeira denominação
ou simplesmente igreja. Jesus foi enfático de que a verdadeira religião é
atender as viúvas e os órfãos e não se corromper com o mundo (Tiago 1:27). Esta
classe social é desamparada desde a muito tempo, cujo problema social de
desamparo às viúvas e os órfãos é muito antigo. O rei Davi já havia
levantado um clamor à Deus denunciando estas ações dos opressores: "Massacram
o teu povo, Senhor, e oprimem a tua herança; matam as viúvas e os estrangeiros,
assassinam os órfãos..." Salmos 94:5-6. O profeta Isaías
profetizando contra Israel sobre quem decreta leis injustas e que oprimem o
pobre exemplificado nas viúvas e nos órfãos "Vocês não defendem os
direitos dos pobres nem as causas dos necessitados e exploram as viúvas e os
órfãos". Era uma classe representativa da classe mais carente da
sociedade muito desassistida na época. Jesus com muita sabedoria relembrou e
desafiou novamente a Igreja demonstrando o genuíno amor ao próximo. Com estas
palavras ele simplesmente desconstruiu os templos suntuosos dos homens que
abrigam suas religiões estritamente orgânicas e lançou o desafio que serve para
a igreja contemporânea no cumprimento da missão integral.
O corpo é a Igreja em
Cristo agindo e fazendo discípulos. Lembrando que a igreja instituição é
constituída de pessoas imperfeitas, machucadas, desiludidas, infelizes, mas,
também há pessoas bem resolvidas emocional e socialmente e um dando suporte ao
outro convergindo todas as ações para o bem comum. As diferenças são
equalizadas na justificação em Cristo, sendo que ele mesmo definiu que a igreja
instituição é casa de oração para todos e um lugar adequado para todas as
pessoas de todos os tipos sem distinção de opções de vida. Enquanto, o templo é
o corpo restaurado e justificado pela graça em Cristo Jesus onde habita o
Espírito Santo. Mas, se somos o templo, então, como devemos adorar a Deus?
Primeiramente, o que
é adoração? Podemos dizer que é a ação de adorar. E não é somente aquele tempo
de cânticos de louvor que provocam arrepios e onde são ditas palavras bonitas e
frases de efeito que, muitas vezes, são comprometedoras e que, de fato,
deveriam gerar compromisso. É exatamente neste ponto que existe a controvérsia.
Qual o compromisso da adoração? Como a nossa regra de fé é a Bíblia, vamos ler
o que ela nos diz. O apóstolo Paulo escreveu em I Coríntios 10:31 “Portanto,
quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para
glória de Deus”. Acho que Paulo não deixou nenhuma opção do que seja
exatamente adorar à Deus, senão, em tudo aquilo que fizermos devemos
adorá-lo. Quando estamos cantando em louvor à Deus estamos na verdade
afirmando a nossa adoração e declarando com a nossa boca que adoramos somente à
Deus, poderíamos colocar, como algo abstrato. Paulo, no texto de Coríntios se
referiu a algo concreto e Deus é por aquilo que Ele faz, desta forma Ele se
torna conhecido. Quando falamos que amamos à Deus, isto é algo abstrato, mas
quando o demonstramos na prática e concretizamos ou damos forma a nossa fé
através do nosso amor por Ele, demonstramos isto em atitudes. Quando cantamos
que adoramos à Deus estamos reafirmando algo que já aconteceu que é o estado
concreto que pode ser transformação de vida, cura, libertação, salvação e
tantas outras maravilhas que somente quem merece adoração pode realizar que é
Deus. Uma vida consagrada à Deus converge intencionalmente todas as suas
atitudes a adoração. Estas atitudes nada mais é que realizar a obra do Senhor a
quem adoramos, afinal, se adoramos, então demonstramos na prática esta
adoração. Adorar à Deus somente quando se vai à igreja é pura hipocrisia.
Portanto, adorar à Deus deve ser em qualquer lugar e em qualquer coisa que
estiver fazendo. Se demonstrarmos que adoramos à Deus não somente de palavras,
mas de fato, então, seremos o sal da terra e íntegros na adoração. Na carta de
Paulo aos Colossenses 01:10 aprendemos que "...para que possais
andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda
boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus,...".
Digo que adoração não
é um momento e muito menos tem uma "cara", mas é uma postura
contínua. É o reconhecimento da soberania de Deus. Dentro da casa de oração a
adoração é uma devoção intencional explícita. Fora dela é submissão implícita.
A quem devemos
adorar?
"Respondeu-lhe Jesus: Está escrito: Ao Senhor teu Deus
adorarás..." Lucas 04:08.
Esta postura de
adoração é um reflexo da nossa comunhão com Deus que nos oferece a
misericórdia. Jonas quando ainda estava dentro do grande peixe, lembrou de
quando adorava a Deus e orou perguntando a Deus se voltaria ao templo para
adorar. Leia os textos de Jonas 2:4-7 "E eu disse: Lançado estou
de diante dos teus olhos; como tornarei a olhar para o teu santo templo?" e
o verso 7 "Eis que quando minha vida já se ia apagando, eu me
lembrei de ti, Yahweh, e a minha oração subiu à tua presença, ao teu santo
Templo". Não tem como chegar-se a presença de Deus sem a postura
de adorador. Deus precisa saber quem está falando com ele. Jonas adorou a Deus
ali naquele lugar absolutamente inusitado e clamou por misericórdia.
O Deus criador do
céu, da terra e de tudo o que nela há. Somente Ele é merecedor de toda a honra,
de toda a Glória e de todo o Louvor.
Onde e quando
devemos adorar a Deus?
"Bendirei
ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha
boca". Salmos 34:01.
Jesus estava indo em
direção a Galileia e parou para descansar e beber água em Samaria.
Uma mulher perguntou-lhe se era para adorar a Deus no monte que sua
família costumava frequentar ou em Jerusalém conforme os judeus falavam? "Declarou
Jesus a ela: Mulher, podes crer-me, está próxima a hora quando nem neste monte,
nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos
o que conhecemos..." João 4:21-22. Uma observação, esta mulher
era samaritana e adúltera que são três condições numa pessoa que os judeus
evitavam se relacionar, mulher, samaritana e adúltera. Jesus também tinha a
missão de quebrar estes muros culturais e do preconceito. Todos nós,
independentemente da situação, estamos em pé de igualdade.
Na Bíblia tem
relatos de adoração em circunstâncias e lugares estranhos, no entanto, foram
atos genuínos e espontâneos de adoração. Quando Jesus nasceu os pastores vieram
e o adoraram Mateus 02:11. No barco em alto mar os pescadores o adoraram Mateus
14:33. Imagine em meio à turbulência do mar e os pescadores ignoraram
totalmente a situação e reconheceram que só o Senhor é Deus e o deveriam
adorá-lo. Percebemos que em qualquer lugar e a qualquer hora do dia ou da noite
devemos ser adoradores porque nós somos o Santuário de Deus "Não
sabeis que sois santuário de Deus e que o seu Espírito habita em vós?" I
Coríntios 03:17. Sendo Santuário de Deus e o "habitat" do Espírito
Santo, então, em qualquer lugar e a qualquer momento devemos adorar a Deus.
Como reconhecer
os verdadeiros adoradores?
"Mas a
hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem".
João 04:23
O que Jesus
quis dizer é que muitos o adoram com a boca, porém, o coração onde existe a
intenção e a disposição está longe, ou seja, os objetivos das ações estão
distantes do propósito. Adorar em espírito e em verdade é a mente e o coração
dedicados no mesmo propósito de adoração.
Adoração a Deus
é algo sublime, porém:
Adoração sem
reconhecimento que Jesus é Salvador não é adoração. I Timóteo 01:15
Adoração sem
arrependimento de pecados não é adoração. Lucas 15:10
Adoração sem
conhecimento da Palavra de Deus não é adoração. Colossenses 03:16
Adoração sem
propósito em servir não é adoração. Lucas 04:08
Adoração sem
integridade no comportamento não é adoração. Provérbios 02:06,08
Adoração sem
meditar na palavra não é adoração. Mateus 23:25,26 II Corintios 04:16
Adoração sem
coração quebrantado não é adoração. Salmo 51:17
Adoração sem
proclamação do evangelho não é adoração Isaias 61:01
Adoração sem
frutos do espírito não é adoração Gálatas 5:22
Qualquer ação deverá
ser em adoração ao Senhor Deus. Tudo o que se faz aqui na terra deve ser para
adoração por isto é que o nosso alvo não deve ser pessoas ou posições, senão a
Deus. Tudo o que se fizer, faça para Deus.
"Rogo-vos,
pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional".
Romanos 12:01. Adoração intencional reconhecendo que Deus é soberano!
Apóstolos
Esta é uma dúvida que
persiste e alguns para alimentar suas aspirações seja por desconhecimento ou
interpretação equivocada das escrituras se auto declararam apóstolos. Será que
ainda existe ou foi parte do processo inicial nos fundamentos da igreja?
Onde tudo começou?
Lucas 6:13 nos trouxe a contento "Logo ao nascer do dia, Jesus convocou
seus discípulos e escolheu dentre eles, doze, a quem também designou como
apóstolos:...". Os apóstolos foram designados como sendo os
primeiros a proclamar o evangelho e lançar os fundamentos da igreja. Paulo foi
também chamado posteriormente para exercer esta missão, inclusive, sendo um dos
mais influentes. Na sua primeira carta aos Romanos 1:1 ele se apresenta como
sendo chamado para ser apóstolo. Jesus quem o chamou na estrada de Damasco.
Conforme ele foi exercendo o seu apostolado com grande inserção dos seus
escritos nas principais igrejas e outras tantas fundadas por ele mesmo em
cidades influentes da época, devido a isto, as pessoas começaram a superestimá-lo.
Em dois episódios envolvendo Paulo, ele cita a consideração de super
apóstolos à sua pessoa. Nos textos de II Coríntios 11:5 e 12:11 eu
acho que os ouvintes de Paulo o consideravam como um dos super
apóstolos como ele mesmo diz, mas, ressalva que não se considera
inferior a nenhum deles, frisa que isto não é relevante assumindo que, de fato,
nada é. Não seria uma autocomiseração, mas, o orgulho e a vaidade são campos
perigosos. Paulo não foi designado nominalmente por Jesus juntamente com os
demais, mas, foi designado para lançar também os fundamentos da
igreja. Este foi o último episódio sobre o chamado apostólico, não há outra
citação doutrinária e nem histórica para o apostolado. A referência que Paulo
faz consta no livro de Efésios 4:11 “Ele designou alguns para
apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para
pastores e mestres”. Este último chamado necessariamente o pastor que cuida
da igreja não precisa ser mestre que ensina a igreja e nem o mestre precisa ser
pastor, mas pode ser ambos, caso a pessoa tenha, além do chamado, a capacidade
em exercer ambas as funções. Alguns perguntarão sobre a referência de bispo na
bíblia onde se encaixa. No livro de atos, Paulo quando se despede dos
companheiros antes de prosseguir viagem até Jerusalém onde queria chegar antes
do pentecoste, ele coloca bispo e pastor como sendo a mesma função. O termo
pastor é uma alusão a rebanho e onde os crentes são as ovelhas. Acho que uma
das primeiras menções do próprio Deus se referindo a pastores que cuidam da
igreja ou do seu povo foi a profecia de Jeremias que falou exatamente sobre os
maus pastores "Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas
do meu pasto, diz o Senhor" Jeremias 23:1. O nome
"técnico" do responsável da igreja é o bispo que é um termo derivado
do latim "episcopus" que significa literalmente
"supervisor". Leia o texto: "Cuidem de vocês mesmos e de todo
o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os designou
como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele
comprou com o seu próprio sangue". Atos 20:28
Quanto a Matias que
foi chamado para substituir Judas Iscariotes, creio que tenha sido um grande
equívoco dos outros onze. Apesar de buscarem orientação de Deus através da
oração a este respeito, lançaram sorte sobre José (Barsabás) e Matias. O único
critério para a escolha teria de ser alguém que estava junto com os apóstolos
desde o começo e que também tenha convivido com Jesus. A sorte recaiu sobre
Matias que foi o escolhido. Considerando também que isto é uma atribuição
direta de Deus que, talvez quisesse mesmo que fossem doze, então, o décimo
segundo apóstolo foi Paulo.
O chamado apostólico
de Jesus a pessoas comuns e pecadoras, eu acho que seja o que tenha alimentado
ainda mais o furor dos sacerdotes porque foram preteridos por Jesus na escolha
dos doze discípulos e que, posteriormente os denominou apóstolos. Imagine a
mente dos sacerdotes e anciãos quando Jesus se apresentou como o Messias e
souberam que escolheria os seus discípulos para caminhar com ele? Afinal, eles
se colocavam como representantes diretos de Deus. Como assim, não escolheram os
sacerdotes como apóstolos? Eles eram doutores e mestres da lei e conheciam tudo
sobre Deus! Até ajudariam Jesus em alguns questionamentos e nem precisaria
utilizar de tantas parábolas. Seria uma escolha óbvia porque eram candidatos
naturais ao apostolado. Os sacerdotes sempre perseguiam Jesus em tudo o
que ele fazia. Viviam numa relação com Jesus de estratégia em desqualificá-lo,
pois, não aceitavam este desaforo. Pode ser que eles até aceitariam a escolha
como apóstolos como forma de estar perto de Jesus e saber o que ele faria para
desconstruir o seu "evangelho fascista". Mas, como sempre, Jesus
surpreendeu e decepcionou os seus desafetos. Eu acho que quando Jesus escolheu doze
pessoas comuns, simples e imperfeitas, os sacerdotes sentiram o orgulho ferido
o que brotou uma semente de vingança.
Um grande
questionamento, mas, que passa despercebido é o fato de Jesus não ter chamado o
seu próprio irmão por parte de mãe, Tiago. Seria uma escolha óbvia, não somente
por ser irmão de Jesus, mas, pela capacidade de liderança. Tiago foi líder da
igreja de Jerusalém e um dos grandes influentes quando se redigiu a carta do
concílio de Jerusalém onde estavam presentes, dentre outros, Pedro e Paulo. Percebe-se
no desenrolar daquela grande reunião que todos se submeteram as palavras finais
de Tiago a qual foi baseada a carta conciliar. Alguns relatos de notoriedade de
Tiago foram apresentados nas cartas aos Gálatas 2:9 quando Paulo o apresenta
juntamente com João como colunas da igreja. Aliás, Paulo quando chega a
Jerusalém, a primeira coisa foi se encontrar com Tiago (Atos 21:18). Para
finalizar, Paulo no texto de I Coríntios 15 no verso 7 diz que Jesus apareceu
para o seu irmão Tiago e aos apóstolos. Aqui claramente Paulo distingue Tiago
dos apóstolos. Não há menção de que o fato de não ter sido escolhido apóstolo o
incomodasse, mas, os relatos confirmam que foi um dos grandes líderes nos
fundamentos da igreja que os apóstolos implantaram.
Nos dias atuais tem
alguns que equivocadamente se autodenominam apóstolos e se esquecem da história
de vida deles. No livro de Mateus 10:17 o próprio Jesus alertou os
apóstolos: “Tenham cuidado, pois os homens entregarão vocês aos
tribunais e os açoitarão nas sinagogas”. E foi exatamente o destino de 10
deles. Estes homens a quem Jesus se referiu, provavelmente sejam os sacerdotes
porque o açoite seria na sinagoga que era o templo do judaísmo. Será que eles
não tomaram cuidado, por isto que tiveram um fim trágico? Com exceção de João
(apóstolo) que morreu idoso na ilha de Patmos e de Judas que se suicidou, os
demais foram literalmente torturados e mortos por exercerem o apostolado. Uma
curiosidade, João Batista, mesmo tendo batizado Jesus, não foi designado
como apóstolo, mas, foi considerado por Jesus como o maior dentre os nascidos
de mulher (Mateus 11:11), porém, isto foi uma alusão a hierarquia do Reino dos
céus em que qualquer um é maior que todos os nascidos de mulher. João Batista
teve uma morte trágica por mero capricho da filha de Herodes, sendo decapitado
e a cabeça foi dada num prato como um presente de aniversário. Vamos
a história que se encontra em Marcos 6:17:27. João era muito estimado pelo rei
Herodes Antipas que o reconhecia como profeta de Deus e tinha uma filha com
Herodias, mas, que era esposa do seu irmão Filipe. João sempre exortava o rei
dizendo que não era certo conviver com a mulher do seu irmão e todos da corte
sabiam disto. Herodias ficou furiosa com João. No dia do aniversário da filha,
o rei Herodes falou que poderia pedir qualquer coisa que ele daria. A filha
pediu a cabeça de João Batista num prato, por influência da sua mãe Herodias
que o detestava por falar a verdade na frente de todos. Estes são os heróis
apostólicos. Todos conviveram com Jesus e isto não os seduziram porque a missão
era lançar os fundamentos da igreja e exortar aqueles que pregassem outro
fundamento se não fosse Cristo. Em Efésios 2:19-20 o apóstolo Paulo já definiu
a função do apostolado: "...sois concidadãos dos santos e membros
da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas,
sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra angular desse alicerce".
DESTINO (PROVÁVEIS) DOS APÓSTOLOS
PAULO Foi decapitado em Roma por ordem
de Nero.
MATIAS, que ficou no lugar de Judas
Iscariotes, foi martirizado na Etiópia.
SIMÃO, o zelote, foi crucificado.
JUDAS TADEU morreu como mártir pregando
o evangelho na Síria e na Pérsia.
TIAGO (o mais jovem), pregou na
Palestina e no Egito, sendo ali crucificado.
MATEUS morreu como mártir na Etiópia.
TOMÉ pregou na Pérsia e na Índia, sendo
martirizado perto de Madras no monte de São Tomé.
BARTOLOMEU serviu como missionário na
Armênia, sendo golpeado até a morte.
FILIPE pregou na Frígia e morreu como
mártir em Hierápolis.
ANDRÉ pregou na Grécia e Ásia Menor.
Foi crucificado.
TIAGO (o mais velho) pregou em
Jerusalém e na Judéia. Foi decapitado por Herodes.
SIMÃO PEDRO pregou entre os judeus chegando
até a Babilônia, esteve em Roma, onde foi crucificado com a cabeça para baixo.
JOÃO morreu de causas naturais com
aproximadamente 100 anos.
Submissão da mulher e
ministério pastoral feminino
Este é
um tema polêmico porque envolvem culturas milenares que regem a sociedade. No
tópico anterior falei sobre tradição e costumes que ainda são muito valorizados
pelos religiosos. Este é o principal problema que gerou esta barreira à
inclusão e consideração do ministério feminino. Os costumes ainda favorecem a
construção de barreiras.
Vamos
lá do início de tudo. Biblicamente, a mulher é ajudadora do homem. Devido a
isto foi considerada equivocadamente como inferior ou subalterna. Em todo o
Antigo Testamento a mulher é considerada quase como um “produto”. Leia o texto
de II Crônicas 11:23 quando Roboão havia sucedido Salomão no reinado de Israel
e o relato bíblico afirma que Roboão procedeu com sabedoria “Roboão
também teve muita sabedoria em espalhar os seus outros filhos pelas
cidades-fortaleza de Judá e de Benjamim. Deu-lhes grandes quantidades de
alimentos e também arranjou muitas mulheres para eles”. Em outros
relatos, muitas vezes o pai oferecia uma de suas filhas para alguém como
compensação e a pessoa poderia escolher uma delas. Um caso de estupro bem
famoso na bíblia aconteceu com Diná, filha de Jacó. Ela foi visitar algumas
amigas e Siquém que morava na região estuprou Diná e se apaixonou por ela e foi
falar com Jacó “Peçam os presentes que quiserem e digam quanto querem
que eu pague pela moça, mas deixem que ela case comigo”. Como assim,
estuprou e ainda a trata como objeto de compra? Estes são apenas dois dos
absurdos ocorridos no mundo do Antigo Testamento no trato com as mulheres.
Vamos aos textos de onde tudo começou e houve a má interpretação para
esclarecer este equívoco absurdo Gênesis 2:18, 23-24.
"Disse mais
Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja
idônea.
Então disse o homem:
Esta agora é osso dos meus ossos e carne da minha carne; ela será chamada
varoa, porque do varão foi tomada.
Portanto deixa o
homem a seu pai e a sua mãe, e se une à sua mulher; e são uma só carne"
Conforme estes textos, não há homem superior ou mulher inferior.
Tornaram-se uma só carne. Isto significa absolutamente iguais varão e varoa.
Porém, após a queda e consequente expulsão do paraíso, tudo foi desconfigurado
e não houve uma nova tratativa, mas, uma nova configuração em que tudo mudou.
Dois tipos de punições foram impingidos. Agora todo o esforço era para sobrevivência.
Ao homem determinou o esforço e o suor do rosto para poder comer (Gênesis
2:17 e 19):
"...em fadiga
tirarás dela o sustento todos os dias da tua vida"
"No suor do teu
rosto comerás o teu pão..."
Para a mulher ficou a dor de parto e a submissão ao marido (Gênesis
2:16).
"...o teu desejo
será para teu marido, e ele te dominará".
Tudo mudou e sofreu um revés no relacionamento. Creio que, mesmo com
toda esta mudança, sem entrar no mérito porque o objetivo não é exatamente
este, mas, considero que as circunstâncias devam ser avaliadas na questão da
submissão sem generalizar. Deus não estendeu a sua determinação conjugal a
outros níveis de relacionamento entre homem e mulher. Primeiro que precisa
esclarecer é que a submissão é da mulher ao marido. De forma alguma é da mulher
ao homem. Noutras palavras, houve uma generalização que favoreceu os
oportunistas, no caso, o homem. Esta questão não pode ser colocada desta forma.
Infelizmente, esta submissão determinada por Deus tornou-se cultural e foi
considerada em todas as camadas sociais e em todos os níveis de relacionamento.
No início, quando havia pouca gente, praticamente todas as mulheres eram
casadas ou com compromisso conjugal firmado com o homem. Obviamente que todas
as mulheres teoricamente eram submissas ao marido, mas, não ao homem. A mulher
solteira, era muito mal vista, tipo, ninguém quer casar com ela como se a
decisão fosse do homem em escolher. Considerando também que a mulher não é um
objeto que fica exposto na prateleira para alguém interessado. Para se ter
uma ideia do machismo predominante, leia esta história de Abimeleque rei de
Israel e que era filho da concubina de Gideão "Depois Abimeleque
foi a Tebes, cercou a cidade e a conquistou. Em Tebes havia uma forte
torre. Todos os homens e mulheres e os líderes da cidade correram e entraram
nela. Fecharam as portas e foram para o terraço. Abimeleque avançou,
atacou a torre e chegou até a porta, para pôr fogo nela. Mas uma mulher
jogou uma pedra de moinho na cabeça dele e quebrou o seu crânio. Aí ele
chamou depressa o moço que carregava as suas armas e disse: — Tire a sua espada
e me mate. Não quero que digam que fui morto por uma mulher. Então o rapaz
tirou a espada e o matou". Era vexatório ser morto por uma
mulher. Porque? Puro machismo. Isto perdurou por milênios. Até pouco
tempo, a mulher ainda tinha que se submeter ao homem independentemente se era
marido ou não. A emancipação feminina na década de 60 trouxe um avanço
considerável e as mulheres começaram a ocupar os seus lugares na sociedade por
pleno direito iguais aos homens. Ainda existem estruturas machistas,
principalmente nos países totalitários com regime fechado em que as mulheres
são submetidas aos caprichos do homem. Esta cultura é milenar, por exemplo, no
livro de Ester 1:10 a 22 o rei Assuero (Xerxes I - nome grego) foi desafiado
pela rainha Vasti que se recusou em comparecer ao banquete oferecido a muitas
autoridades. O rei ficou furioso e, sem saber o que fazer, foi aconselhado por
um dos seus príncipes que baixasse um decreto de que toda mulher deveria ser
submissa ao marido, caso a mulher tivesse voz ativa, "haveria muito
desprezo e indignação ao homem", obviamente. O decreto terminava assim:
"...que cada homem fosse senhor em sua casa e que a última palavra sempre
fosse dele". O homem sempre se comportou como oportunista e, a maioria
mesmo tendo boas intenções, interpretou o mandamento de forma equivocada.
E na bíblia, quais as
referências de liderança da mulher? Temos diversas grandes mulheres e
profetisas. Miriã, Ana, Hulda e Débora que era também juíza de Israel. Apesar
de terem sido poucas vezes citadas, estas duas últimas tiveram um trabalho
fundamental e direcionados pelo próprio Deus. A primeira delas é a profetisa
Hulda que durante a reforma religiosa do rei Josias profetizou o declínio de
Jerusalém e de Judá por causa da profanação do templo do Senhor (II Reis
22:14). Observo que o rei Josias não pediu diretamente que consultasse a
profetisa. Neste tempo havia os profetas contemporâneo a Hulda, Jeremias e Sofonias
e, talvez a escolha de Hilquias, que foi encarregado de procurar os profetas,
se deva porque Hulda era esposa do costureiro das vestimentas do templo. Mas,
sabemos que Deus usa quem ele quer e, com certeza foi direção de Deus para que
Hulda profetizasse. O rei Josias sabia que a situação era muito grave e já
esperava o pior como foi profetizado e não se incomodou pelo fato de ter sido
uma mulher que profetizou e, mesmo sendo rei, aceitou com muita humildade.
Outro personagem do sexo feminino atuando numa área predominantemente
masculina foi a juíza Débora de Israel. Inclusive foi considerada como a “mãe
de Israel” "Nas cidades de Israel não havia ninguém; elas ficaram
vazias até que você, Débora, veio, para ser mãe de Israel" (Juizes
5:7). Israel vivia numa época em que os juízes governavam antes da implantação
da monarquia e os sacerdotes estavam espiritualmente desacreditados. Por
exemplo, Sansão foi um destes juízes. Débora era também profetisa “Débora,
mulher de Lapidote, era profetisa. Era também juíza dos israelitas naquele
tempo”. Os dois episódios mais relevantes foram o reagrupamento das tribos
de Israel e na batalha contra os cananeus. Baraque que era outro juiz falou que
iria para a guerra se Débora fosse também. Débora, não somente aceitou mediante
uma condição de que ele não levaria nenhum crédito na vitória “— Está
bem! Eu vou com você. Mas você não ficará com as honras da vitória, pois o
SENHOR Deus entregará Sísera nas mãos de uma mulher. E Débora foi com Baraque
para Quedes”. Não somente Israel ganhou a batalha, como o foi de forma
arrasadora. Débora foi a líder espiritual desta batalha. Mulher ir para a
guerra era algo muito raro. Débora quebrou este paradigma porque Deus a usou da
forma como queria. O cântico de Débora relatando esta grande vitória é uma das
literaturas mais antigas do Antigo Testamento (Juízes 5:2 a 31). Deus se
importa com as pessoas e usa quem ele quer (homem ou mulher) e como quer, está
comprovado na bíblia.
Como sociedade, somos
absolutamente iguais com plenos direitos e condições absolutamente iguais. Este
avanço nas conquistas de espaço das mulheres na sociedade precisa ser trazido
para a igreja atual. Vamos refletir sobre os escritos de Paulo que foi muito
injustiçado por algumas posições radicais em relação a mulher. Ele tinha um
ponto contra, era solteiro e recomendou quem não era casado, seria melhor
permanecer solteiro caso consiga controlar suas emoções sexuais “Digo
aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim como também eu” (I
Coríntios 7:8). Alguns trechos são mandamentos, enquanto outros é
apenas recomendação pessoal. Inclusive ele mesmo fala sobre as mulheres virgens
que não tem mandamento e recomendou que se cuidassem.
Vamos ao contexto cultural em que Paulo vivia. Era uma sociedade rígida e
religiosa com costumes e tradições incrustradas a milênios. As pessoas eram
tementes a Deus mesmo se perdendo em alguns procedimentos que não refletia
compromisso com Deus e as confundia e permaneciam arraigadas a tradição. As
mulheres ainda eram vistas como submissas ao homem. Em outras palavras, eram
inferiores, tanto é que Paulo afirmou que as mulheres devem ficar caladas
porque é vergonhoso e que, se tivesse dúvidas, deveriam esclarecer em casa com
os seus maridos e sejam submissas conforme a lei “Como em todas as
igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é
permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E,
se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios
maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja”. Isto
confirma que o conceito é que cada mulher tinha o seu marido e ainda seguiam a
lei determinada por Deus. Interpretaram errado a lei, como havia dito, a
submissão é para com o marido e não para o homem. O contexto cultural era muito
difícil e Paulo precisava ser ouvido nas questões, diria, mais importantes para
aquele momento, pois, os valores daquela sociedade foram confrontados por
Jesus.
Vendo por outra
perspectiva, nem tudo foi “condenável” nas avaliações de Paulo. Paulo enviou
carta para diversas igrejas da Ásia e cada uma tinha seus problemas locais,
porém, todas viviam sob a lei que, além de condenar pelo pecado, tinha a sub
judice nas mãos dos sacerdotes que eram fiéis à tradição. Paulo
insistia que não se submetiam mais a lei e agora viviam sob a graça e
justificados em Cristo e poderiam ser, de fato, libertos. Este é um dos novos
significados que Jesus trouxe para a lei. Esta libertação atingia diretamente
os costumes e as tradições, por exemplo, o conceito de que mulher é inferior
estava sendo questionado, pois, em Cristo nos tornamos iguais perante Deus.
Observe o que diz o texto de Paulo aos Gálatas 3:28: "Não pode
haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver
homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus".
Interessante é que neste texto ele utilizou o gênero homem e mulher e
não marido e mulher o que pela lei seria
diferente.
Para
esta época e naquela tradição cultural esta carta aos Gálatas é uma afronta e
uma ousada e severa crítica aos valores daquela sociedade em que a mulher era
considerada inferior. Então, tinha de ter muita sabedoria para que o evangelho
não fosse mal visto. A tradição cultural judaica vigente era milenar e, muito
tempo depois ainda era muito forte e ainda era considerado como mandamentos de
Deus. Jesus chegou neste contexto cultural e confrontou estes valores. E este
foi um dos principais motivos nas acusações a Jesus que se aproximou das
mulheres sem qualquer distinção. Por sinal, Jesus foi aquele que quebrou
diversos paradigmas contra as mulheres incluindo as mulheres na sua vida.
Ele já sabia como as mulheres eram preteridas, inclusive pela religião e se
algumas delas fossem mal vistas no seu comportamento, eram marginalizadas. As
mulheres casadas se mantinham reclusas e submissas ao lar. Talvez, por este
motivo, Jesus tenha escolhido somente homens para ser discípulos e depois
apóstolos por respeito a família o que evitou também complicar a missão.
Imagine, o homem trabalhava fora e a mulher ficava em casa. A mulher que
saísse de casa sem o seu marido para ir atrás de um homem, mesmo
sendo Jesus que ninguém ainda conhecia, era difamada e poderia comprometer o
propósito inicial de Jesus.
Jesus buscou outras mulheres menosprezadas. Vamos
falar sobre dois episódios de aproximação de Jesus as mulheres.
Jesus parou para
descansar próximo ao poço em Samaria vindo da Galileia. “Uma mulher da
Samaria veio tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber”. A mulher se
surpreendeu com o pedido “Disse-lhe, então, a mulher samaritana: Como,
sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? Os judeus não
conversam com samaritanos!” (João 4:7 e 9). Ela poderia apenas dizer
“uma samaritana”, mas, frisou “mulher samaritana” o que prediz que houve uma
quebra de dois paradigmas em falar com “uma mulher” e falar com alguém de
Samaria o que era proibido a um judeu. Era uma mulher com uma vida complicada,
mas, com o devido valor dado por Jesus, o incrível aconteceu e ela tornou-se,
mesmo não tendo a consciência daquela atitude, uma mensageira do evangelho. Em
outras palavras, foi uma autêntica evangelista. Veja todo o contexto depois da
conversa "A mulher deixou o cântaro, foi à cidade e disse ao povo:
Vinde ver um homem que me contou tudo o que fiz. Será este, porventura, o
Cristo?". Quando os discípulos chegaram e se admiraram por estar
conversando com uma mulher, leia o que Jesus disse sobre o comportamento da
mulher samaritana "Pois nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que
semeia, e outro o que ceifa. Eu vos enviei a colher aquilo em que não tendes
trabalhado, outros trabalharam, e vós tendes entrado no seu trabalho. Muitos
samaritanos daquela cidade creram nele por causa das palavras da mulher, que
testificara: Ele disse-me tudo o que fiz". Quem semeou? A mulher
samaritana da mesma forma que qualquer pastor ou obreiro. Quem vai colher será
os discípulos. Uma mulher naquela condição e Jesus a usou como instrumento de
poder para aqueles que ouviram o testemunho do evangelho.
Outro episódio que
demonstra a total consideração de Jesus às mulheres foi quando foi ressuscitado
e apareceu primeiramente a uma mulher que estava acompanhada por outras mulheres.
Maria Madalena era aquela em que, dizem, Jesus tinha um carinho especial e
havia expulso sete demônios. Vamos ao texto deste encontro muito
interessante: “Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia
da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual
havia expelido sete demônios” (Marcos 16:9). Como assim, primeiramente!?
A ressurreição foi o evento que mudou a história da humanidade. Não bastava
Jesus morrer, tinha de ser ressuscitado também para concluir o processo de
salvação da humanidade e a primeira pessoa a quem se apresenta é uma mulher.
Pois é, Jesus não era só mestre do sobrenatural, mas, também em valorizar
pessoas discriminadas. Muitos diriam que Jesus foi crucificado e mesmo assim
não aprendeu a lição de que deveria seguir as tradições. Jesus criticou as
tradições e costumes dos homens e da falsa religião. Ditou um novo mandamento
que não era para substituir os antigos mandamentos, mas, deu o significado
correto e acrescentou outros novos mandamentos.
Estes exemplos de Jesus
e a consideração de Paulo demonstram que a mulher tem direitos iguais,
inclusive no exercício ministerial. Não há relatos bíblicos de mulheres
exercendo algum tipo de ministério e nem sendo consagrada sacerdotisa ou
pastora. Com certeza isto não aconteceu devido o contexto cultural vivido sob
uma equivocada interpretação bíblica. Mas, também não há comprovação de que
haja proibição. Isto não desqualifica a mulher para que exerça o ministério
pastoral. Se alguém ainda reprime a mulher e proíbe o exercício ministerial é
por causa do preconceito e discriminação da lei. O chamado para ser discípulos
é para todos. O Ide de Jesus é para todos.
Pentecostes
Pentecostes significa quinquagésimo que seria
cinquenta dias após a páscoa e quando haveria a comemoração (Levítico 23:16). A
contagem não é tão simples, pois, alguns historiadores não afirmam que seria
como a contagem atual porque no capítulo 25 do mesmo livro de Levítico no verso
8 há uma aplicação diferente que diz sete semanas de anos que corresponde a
quarente e nove anos. Enfim, originalmente nada a ver com as manifestações
espirituais, mas, como a polêmica é referente ao pentecostes do
Novo Testamento, então, vamos direto ao assunto. O termo pentecostes,
principalmente para as igrejas históricas/reformadas, popularmente chamada de
tradicionais, tornou-se algo pejorativo. Na década de 70 publicaram um livro
chamado: Cuidado! Aí vem os pentecostais! Ao contrário do que
diz o título, a intenção do autor não era denegrir a imagem daqueles que crêem
nos sinais do pentecostes, mas, demonstrar que a crença e
conseqüente busca pelas evidências é algo legítimo. As manifestações
do pentecostes não é privilégio de nenhum grupo evangélico.
Isto é uma falácia. Adotar uma postura de que seja mais espiritual do que
outro porque possui dons espirituais é pura soberba. Ser identificado como
pentecostal ou como tradicional significa ater-se a superficialidade da
religião. A controvérsia do pentecostes é que no
entendimento dos cessasionistas os sinais aconteceram somente naqueles dias e
não mais acontecem.
O pentecostes pode ser considerado como uma
manifestação multiforme e trinitária na pessoa do Espírito Santo. Quando somos
cheios do Espírito Santo demonstramos muito entusiasmo que significa cheio da
presença de Deus. A mais conhecida foi a manifestação vivenciada por uma
multidão conforme lemos em Atos 2. Foi uma grande festa de poder espiritual.
Reitero que estas evidências não é privilégio da doutrina pentecostal. Esta
manifestação pertence ao povo de Deus como corpo de Cristo, ou seja, a Igreja.
Repito que estas manifestações não são para vaidade pessoal demonstrando que
uma pessoa seja mais “poderosa espiritualmente” do que outra. Na carta
aos Romanos 12:3, Paulo orienta "Porque pela graça que me foi
dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do
que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus,
repartiu a cada um". Paulo definiu a ordem destas manifestações. O capítulo
14 discorre sobre a ordem e o objetivo das manifestações espirituais. Na
conclusão do texto (verso 39) em duas das evidências ele afirma que se
deve “buscar com dedicação o profetizar e não proibir o falar em
línguas. Mas, tudo deve ser feito com decência e ordem”. Uma dúvida que
permeia as evidências do pentecostes é, as manifestações é
somente o falar em línguas dos anjos (glossolalia)? O pentecostes é
muito mais abrangente e não é restrito ao falar em línguas dos anjos ou
popularmente, línguas estranhas. Diga-se de passagem, no dia de pentecostes,
muitos falaram em línguas estrangeiras conhecidas o que para muitos eram
estranhas. Leia o texto de Atos 2 na íntegra e observe a partir do verso 14 no
aparte da pregação maravilhosa de Pedro, inclusive, falou com muita
propriedade porque estava cheio do Espírito Santo e discorreu sobre as
manifestações espirituais e que todos deveriam saber o que estava acontecendo e
que era parte de todo processo de redenção. Ele conclui falando sobre o
arrependimento, batismo em Jesus para perdão dos pecados, daí, receberão o dom
do Espírito Santo conforme a vontade soberana de Deus. Paulo também falou sobre
a redenção, observe o texto de Efésios 1:7-9 em que Paulo escreve: "Nele,
temos a redenção, o perdão dos nossos pecados pelo seu sangue, segundo as
riquezas da graça de Deus, e que Ele fez derramar sobre nós com toda a
sabedoria e entendimento. E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo
com o seu bom propósito que Ele estabeleceu em Cristo...". No
texto também de Paulo de I Coríntios 12 ele fala com muita propriedade sobre os
dons espirituais. Atente para o verso 7 “A cada um, porém, é
dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” e o verso
11 “Todas estas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo Espírito, e
ele as distribui individualmente, a cada um, como quer”. Ele
também afirma que as manifestações espirituais só serão legítimas se
houver objetivo e compreensão. O Espírito Santo também batiza com língua
estranha para exaltar a Deus numa relação muito íntima com a pessoa convertida.
Isto acontece com Pedro na visita que fez ao centurião Cornélio onde
circuncisos e incircuncisos receberam o poder do Espírito Santo (Atos
10:46). "E aconteceu que enquanto Pedro ainda pronunciava estas
palavras, o Espírito Santo desceu de repente sobre todos os que ouviam a
mensagem. Aqueles crentes judeus que vieram com Pedro ficaram admirados de que
o dom do Espírito Santo estivesse sendo derramado inclusive sobre os gentios,
porquanto, os ouviam se expressando em línguas estranhas e exaltando a
Deus". O que aconteceu foi uma quebra de paradigma espiritual
porque até mesmo entre os apóstolos havia dúvida se a manifestação espiritual
era somente para os judeus ou também era para os gentios que eram
incircuncisos. Isto era difícil de engolir para os judeus que desde o tempo do
Antigo Testamento em que Deus firmou aliança com o seu povo através da
circuncisão, quem não era circuncidado não pertencia a Deus. O rei Saul, numa
das batalhas contra os filisteus em que foi perseguido pelos flecheiros que o
atingiram, pediu ao seu escudeiro que o matasse para estes incircuncisos não
zombassem dele “Então disse Saul: Arranca a tua espada, e atravessa-me
com ela, para que não venham estes incircuncisos e escarneçam de mim. Mas o seu
escudeiro não quis, porque temia muito; então tomou Saul a sua espada, e se
lançou sobre ela” I Crônicas 10:4,5,6. Ele acabou se matando porque o
escudeiro não fez o que pediu. Isto é somente para saber como eram mal
considerados os incircuncisos. Jesus derrubou esta enorme barreira cultural e
religiosa demonstrando que os sinais do pentecostes é para
todos.
Profecia, falar em
línguas, interpretação, revelação, cura divina, expulsão de demônios e outras
evidências bíblicas que caracterizam o pentecostes, ainda são tabus
para algumas linhas evangélicas. Uma parte dos católicos (carismáticos) aceitam
e buscam estas evidências. João advertiu sobre espíritos estranhos "Amados,
não creiais a todo o espírito, mas provai os espíritos, se vêm eles de Deus;
porque muitos falsos profetas têm aparecido no mundo" (I João
4:1). O evangelho é íntegro e jamais contraditório e não pode ser aceito
de forma conveniente. Não adianta crer nas evidências da ação do Espírito Santo
e se manter na tradição e costumes que agridem os princípios do
evangelho. Não tem como contra argumentar uma afirmação daquele que é o
principal agente do pentecostes que age como, quando, onde e
em quem quiser. Receber estes sinais não é, de forma alguma para diferenciar
dos demais, mas, para cumprir uma missão. Leia a exortação e recomendação de
Jesus em Marcos 15:15 "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a
toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não
crer, será condenado. Estes sinais hão de acompanhar àqueles que crêem:...". Não
existe um dom mais importante que outro porque todos fazem parte do mesmo corpo
para o crescimento da igreja em glorificação a Deus. Ainda em I
Coríntios 12:24b lemos que, "Todavia, Deus estruturou o corpo
atribuindo maior honra aos membros que dele tinham necessidade, a fim de que
não haja divisão no corpo, mas sim que todos os membros tenham igual dedicação
uns pelos outros".
Ídolos e idolatria
Idolatria é um dos
temas mais falados na bíblia e uma das maiores afrontas a Deus. Ele próprio
afirmou que é uma abominação. Nos dez mandamentos que foi pessoalmente
designado por Deus a Moisés, começa falando sobre a idolatria:
“Não terás outros
deuses diante de mim.
Não farás para ti
imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na
terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás
diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus
zeloso,...” (Êxodo 20:3)
Somente o verso 3 já
é mais do que o suficiente para compreender que a idolatria é algo abominável a
Deus. O que se entende por “Não terás outros deuses”? E Deus
complementa discorrendo detalhadamente o que seria adotado como ídolos. Deus
conhece a intenção do coração e não deu brechas que permitissem outra
interpretação.
Mas, o que Deus quis
dizer com “imagem de escultura” e “nem figura alguma” e
“Não te encurvarás diante delas”?
Adorar ídolos ou
qualquer outra coisa é algo muito antigo, inclusive, na libertação dos judeus
da escravidão do Egito, o povo vivia fazendo imagens de esculturas e o mais famoso
deles é o bezerro de ouro "...ele os recebeu de suas mãos, e com
um buril deu forma ao ouro, e dele fez um bezerro de fundição”. Neste
tempo, Deus já havia escrito a Moisés os dez mandamentos e o povo permaneceu
desobediente e fez o bezerro de ouro. Moisés tinha recebido de Deus as tábuas
do testemunho escrita pelo dedo de Deus (Êxodo 31:18) e as trouxe novamente.
Mas, Deus o alertou de que o povo novamente havia feito ídolo porque Moisés
estava demorando a descer do monte. Quando chegou e viu o absurdo que fizeram,
ficou muito irado e quebrou as tábuas (Êxodo 32:19). Deus como sempre
misericordioso, reconsiderou e novamente perdoou os pecados do povo e ordenou
novos mandamentos e um deles era exatamente referente aos ídolos “Não
faça ídolos de metal para você” (Êxodo 34:17).
Este foi um dos
diversos desvirtuamentos da história do povo de Deus. Não há dúvidas de que
imagem de escultura se tornou uma obsessão, além de um grande negócio. Têm
centenas de imagens e ídolos espalhados pelo mundo, não somente no mundo
cristão, mas, em quase todas as religiões e de todos os tamanhos e tipo, de
madeira, metal, gesso, de todas as cores e valores. Pelo que entendo, Deus
especificou que imagem é qualquer coisa esculpida e não se ajoelhar diante
dela, não sendo necessariamente a figura de uma pessoa ou “divindade”. Então,
curvar-se diante da cruz pode ser considerada uma idolatria? Afinal, trata-se
de uma figura. A cruz é uma imagem de escultura e, geralmente, se curva diante
dela. A bíblia não afirma que a cruz deva ser venerada. Não há, sequer indício
de que a cruz a partir da crucificação seria um objeto acrescido na veneração.
Pelo contrário, a cruz foi motivo de vergonha para Jesus. No Antigo Testamento
quem cometia pecado de morte era pendurado no madeiro e morto “...pois
aquele que é pendurado, é maldito de Deus” (Deuteronômio 21:32). O
apóstolo Paulo ratificou este mandamento da lei "Cristo nos remiu
da maldição da Lei, tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito
todo aquele que é pendurado no madeiro...". Então, o mesmo termo madeiro aplicado
no Antigo e no Novo Testamento se refere a cruz. Como venerar algo que torna
alguém maldito?
Há outras referências
sobre a cruz e nenhuma fala positivamente. A cruz tornou-se um fardo pesado.
Jesus sempre que lembrava da cruz era tomado de tristeza e temor "Agora
está perturbada a minha alma, e que direi? Pai, livra-me desta hora. Mas para
isto foi que vim a esta hora" (João 12:27). Que hora Jesus
estava se referindo? A hora da morte na cruz. Outro texto que
fala sobre a humanidade de Jesus diante da morte na cruz foi escrito por
Paulo "Ele nos dias da sua carne, tendo oferecido preces e
súplicas com forte clamor e lágrimas ao que podia salvá-lo da morte..." (Hebreus
5:7). O próprio Paulo quando falou sobre os religiosos que se orgulhavam com a
circuncisão declarou, "Mas longe de mim esteja o gloriar-me, a não
ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo..." (Gálatas 6:14).
Paulo foi, de certa forma, irônico submetendo todo tipo de vaidade da religião
ao feito de Jesus na cruz que não era motivo algum de orgulho.
Diante do que foi
exposto até agora, acho que nem precisaria acrescentar mais alguma coisa sobre
a idolatria. Mas, o que a bíblia diz sobre este assunto é exatamente para ter
conhecimento e amadurecimento no compromisso com Deus. Até aqui ficamos sabendo
de tudo sobre a visão de Deus concernente a idolatria, ou quase tudo. O ser
humano é teimoso e desobediente. Deus usou os profetas também para falar
alertando o povo sobre a idolatria. Isaías, talvez, tenha sido o mais direto e
claro:“...chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que
conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam
a um deus que não pode salvar” (Isaias 45:20). Ele foi incisivo e
menosprezou as divindades literalmente construídas artesanalmente pelos homens.
Outro personagem
bíblico que teve intimidade com Deus foi Jonas. Por causa da desobediência em
não cumprir o que Deus havia determinado, passou por uma situação em que chegou
a desejar a morte. Jonas era uma pessoa comum e Deus o chamou para uma missão
bem complicada. A sua recusa em aceitar o chamado de Deus foi bem pior que ir
até Nínive e falar das maldades que aquela grande cidade para a época estava cometendo.
Uma delas era a idolatria e Jonas, ainda dentro do grande peixe e após um
diálogo com Deus reconheceu: "Os que se apegam aos vãos ídolos
afastam de si a misericórdia". (Jonas 4:8). Jonas entendeu a situação
de Nínive e desejava que esta cidade fosse subtraída do mapa e não que fosse
salva das suas transgressões. Deus queria sentir misericórdia novamente por
Nínive, mas, estavam distantes por causa da idolatria. O propósito de Deus é
sempre reconstruir. Caso necessário, ele derruba os velhos altares de idolatria
e reconstrói um novo.
Um episódio bem
conhecido referente a idolatria foi quando Paulo chegou a Atenas e, enquanto
aguardava Silas e Timóteo, ficou chocado com tantos ídolos espalhados pela
cidade “Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito
revoltava-se dentro de si mesmo, vendo a cidade cheia de ídolos” (Atos
17:16). Mesmo incomodado e perseguido por alguns judeus, Paulo continuou a dar
o direcionamento correto e falou “Sendo, pois, geração de Deus, não devemos
pensar que a divindade é semelhante ao ouro ou à prata ou à pedra, lavrada por
arte e gênio do homem” (Atos 17:29).
A idolatria é uma
forma de manipulação da fé. Utilizam da fé das pessoas para construírem os seus
ídolos. Em alguns casos, o objetivo não era concretizar a espiritualidade, mas,
foi fraqueza e insegurança mesmo. Por exemplo, Jeroboão que era filho de um
servo de Salomão, foi designado por Deus para assumir o trono de Israel, pois,
Deus ficou triste com Salomão por ter se tornado idólatra. Depois de um certo
tempo, Jeroboão ficou com medo de perder o apoio das pessoas e foi aconselhado
a forjar dois bezerros de ouro (de novo), desta forma, as pessoas não
precisariam se deslocar até Jerusalém para adorar o senhor de Roboão seu
adversário do trono. Jeroboão falou que aquelas imagens eram os deuses que
haviam livrado Israel da escravidão do Egito e o povo acreditou. Esta história
se encontra no livro de I Reis 12:26. Pessoas com este perfil frágil, covarde e
idólatra como o de Jeroboão ainda existem e utilizam de outras formas para se
manterem no controle das pessoas. Felizmente, a bíblia nos dá o suporte
necessário para conhecer a Deus e saber que é o único a ser adorado. Concluo
deixando o texto de I João 5:21 "Filhinhos, guardai-vos dos
ídolos".
Maria, mãe de Jesus e
outros considerados santos não eram divinos
Um
segmento da religião cristã e, talvez também algumas outras desconhecidas,
adotam Maria como sendo uma das divindades com poderes equivalentes a trindade.
Mas, é preciso saber, de fato, onde se confirma esta crença. Pelo fato de
alguém ter sido importante e até fundamental na religiosidade, não significa
que "automaticamente" foi dotada de poderes divinos. Num ponto todas
as religiões concordam sobre o fato de Maria ter sido agraciada, inclusive o anjo
que anunciou que Maria foi a escolhida a saudou como agraciada "E
o anjo aproximando-se dela, disse: Salve! Altamente agraciada, o Senhor é
contigo". Deus encontrou nela alguma virtude de humildade e
compromisso. Enfim, quando o anjo falou com Maria sobre o nascimento virginal
de Jesus ela respondeu que era serva do Senhor e que faria conforme a tua
palavra (Lucas 1:38). Já no verso 46 consta o famoso cântico de Maria em que
ela reconhece a sua condição de pecadora e que precisa um Salvador "Disse
Maria: A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito alegrou-se em Deus
meu Salvador..." (Lucas 146-47). Ela ficou reconhecida “apenas”
como bem-aventurada entre as mulheres. Não há qualquer referência em que tenha
se tornado uma divindade com poderes sobrenaturais ou que interceda pelos seres
humanos. A bíblia afirma em I Timóteo 2:5 que "há um só Deus
e um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem". Além
de não existir outro quem interceda, a divindade de Jesus não é, em absoluto,
hereditária.
Adorar Maria é uma das centenas de equívocos movidos pela compaixão
religiosa e também pela falta de conhecimento e o devido discernimento por
parte de algumas linhas doutrinárias do cristianismo. Nem Maria, nem Pedro, nem
Paulo, nem Agostinho e nenhum outro personagem bíblico se tornou santo e não
existe qualquer referência que algum líder religioso tenha poderes para
beatificar pessoas a se tornarem divindades. Maria era mãe biológica de Jesus
somente, mas, não é e nunca foi mãe de Deus. Deus não tem mãe porque é espírito
(João 4:24). Obviamente que precisaria ter nascido naturalmente de uma virgem
sem qualquer conexão divina com a sua mãe. Jesus é Deus encarnado e veio
cumprir a missão de resgate do ser humano e o próprio Jesus afirmou que "...todo
poder me foi dado no céu e na terra" (Mateus 28:18). Jesus fez
esta declaração logo após ser ressuscitado. Não há qualquer menção de que
alguém especial teria recebido poderes. Os milagres acontecem por intervenção
somente e exclusivamente pelo nome de Jesus e este poder foi concedido a
qualquer um que crer. Novamente os mandamentos de Jesus após a
ressurreição: "...e estes sinais seguirão aos que crerem" (Marcos
16:17). Todos eram igualmente pecadores, inclusive Maria, Pedro, Paulo,
Agostinho juntamente com a humanidade decaída em pecado e todos precisam de um
Salvador. Milênios O rei Salomão na oração de dedicação do templo ao Senhor
onde foi colocada a arca da aliança frisou que "...não há ninguém
que não peque". I Reis 8:46.
Na bíblia constam algumas referências na relação de Jesus com a sua mãe.
João 2:3-4
“Tendo acabado o
vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles não têm mais vinho”.
“Respondeu-lhe
Jesus: Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora”.
Parece que Maria até tentou se impor como mãe, mas, Jesus sempre a
colocou no lugar dela em condições de igualdade com os demais. Se um filho
falasse desta forma com a sua mãe, com certeza seria repreendido e sofreria um
castigo e nesta época, a relação pai-mãe-filho era muito rígido. Maria sabia
muito bem o que estava acontecendo e permaneceu calada e obediente. No verso 5
ela orienta que façam tudo o que ele mandar. Alguns atribui esta postura de
Maria como dando ordens a Jesus. Um grande erro de interpretação porque Jesus (não
o filho de Maria, mas, o Cristo) já tinha se manifestado e disse que ainda não
havia chegado a sua hora.
Outro episódio em que Jesus é citado com a sua mãe, desta vez também com
seus irmãos, foi quando fugiu da sinagoga porque (para variar) os fariseus
procuravam uma forma de matá-lo e, provavelmente entrou em alguma casa e tinha
uma multidão ouvindo o que dizia e foi avisado de que sua mãe e irmãos estariam
do lado de fora e gostariam de falar com ele. Leia os textos de Mateus
12:46-50:
"Enquanto ele
ainda falava à multidão, achavam-se da parte de fora sua mãe e seus irmãos,
procurando falar-lhe.
Alguém lhe disse: Tua
mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te.
Mas ele respondeu ao
que lhe falava: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?
Estendendo a mão para
seus discípulos, exclamou: Eis minha mãe e meus irmãos!
Pois aquele que fizer
a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe".
Aparentemente, mais uma vez, Jesus demonstrou uma certa grosseria, mas,
na verdade foi uma reação para demonstrar que todos são iguais perante Deus
quando fazem a sua vontade. Vamos analisar o contexto e colocar o provável
motivo desta reação. Jesus conhecia a intenção do coração de cada um da sua
família biológica, portanto, naquela situação onde havia muita gente ele estava
inacessível, então, a mãe e os irmãos de Jesus, talvez estivessem se sentindo
no direito de ficar próximos de Jesus, afinal era a família dele, pelo menos
foi assim que anunciaram as pessoas que o procuravam.
Repito
que não há relato ou mandamento de que Maria tornou-se uma divindade. Este é
mais uma das centenas de suposições da religião que mais confunde do que
instrui. No livro de Mateus 28:18 após Jesus ser ressuscitado Ele mesmo afirma
que todo o poder lhe foi dado tanto no céu como também na terra.
Em relação aos
denominados "santos", os mais conhecidos são os apóstolos, alguns
personagens bíblicos e o pai adotivo de Jesus, José. Igualmente ao que falei
sobre Maria, não há qualquer fundamento bíblico na divindade de qualquer
personagem que possa ser reconhecido como detentor de poder para fazer
milagres. Nem o papa, nem qualquer outro santo ou pastor, curandeiro,
absolutamente ninguém possui alguma divindade herdada ou beatificada sem que o
próprio Jesus o fizesse nominalmente. Não existe relato bíblico ou qualquer
evidência que se confirme esta ação divina. Jesus quando designou a missão para
os apóstolos repassarem a outros, era para todos os que crêem e ainda disse que
fariam milagres maiores que os que ele fez sem que isto transformasse a pessoa
numa divindade. O propósito não é este, pois, é um mandamento para qualquer
pessoa que crê e reconhece Deus como sendo único. Há relatos de milagres feitos
por alguns deles. Por exemplo, Moisés, orou a Deus e o mar vermelho
literalmente se abriu (Êxodo 14:21). Não somente isto, mas, Moisés dialogou com
Deus que se apresentou a ele como sendo o “Eu sou”. Um episódio muito
interessante entre Deus e Moisés foi quando pediu que Moisés redigisse os novos
mandamentos “Então Moisés lavrou duas tábuas de pedra, como as
primeiras; e, levantando-se de madrugada, subiu ao monte Sinai, como o Senhor
lhe tinha ordenado, levando na mão as duas tábuas de pedra. O Senhor desceu
numa nuvem e, pondo-se ali junto a ele, proclamou o nome Jeová” (Êxodo
34:4-5). Moisés tinha muita intimidade com Deus e poderia tranquilamente ser
canonizado. Quem tem poder é Deus que se aproxima e tem intimidade com quem
quiser sem designar poder miraculoso a ninguém, a não ser pelo seu nome.
Tal como o “feito” de
Moisés, Josué fez o mesmo quando o povo carregava a Arca da Aliança e o
rio Jordão se abriu para atravessarem (Josué 3:16). Elias também praticou
esta "proeza" milagrosa e bateu o manto no rio Jordão que se dividiu
e atravessaram em seco junto com Eliseu e, logo depois de caminhar com Eliseu,
foi arrebatado (II Reis 2:8 e 11). Elias prevendo que subiria logo, pediu a
Eliseu o que gostaria e falou que quer por herança porção dobrada do espírito
de Elias. Eliseu recebeu um outro episódio que poderia ser motivo de
canonização de Eliseu foi após a sua morte. Depois de sepultado quando já tinha
somente ossos, os moabitas, como fazia todos os anos, invadiram a terra de
Israel e, neste momento os israelitas estavam sepultando alguém e, quando viram
a invasão, jogaram o morto no mesmo túmulo de Eliseu e saíram
correndo e quando o morto teve contato com os ossos de Eliseu ele reviveu
e se levantou. Leia o texto: "Então Eliseu morreu e foi sepultado.
Todos os anos bandos de moabitas costumavam invadir a terra de
Israel. Certa vez, alguns israelitas que estavam fazendo um enterro viram
um desses bandos. Então os israelitas jogaram o defunto na sepultura de Eliseu
e fugiram. Assim que o corpo tocou nos ossos de Eliseu, o homem ficou vivo de
novo e se levantou". Algo humanamente inacreditável. Mesmo com
todos estes feitos, eles não foram considerados como semideuses.
Abraão é considerado
o pai da fé e da nação de Israel e poderia tornar-se também um dos santos
canonizados, pois, até negociou com Deus de tanta intimidade que tinha “Disse
Abraão: Não se ire o Senhor, e ainda falarei somente esta vez; porventura
achar-se-ão ali dez. Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos dez.
Foi-se Jeová, logo que acabou de falar com Abraão; e Abraão voltou para o seu
lugar” (Gênesis 23:32).
No Novo Testamento
também tem alguns relatos de milagres dos apóstolos. No livro de Atos 5:12 diz
que "Faziam-se muitos milagres e prodígios entre o povo pelas mãos
dos apóstolos". E no verso 16 os milagres aconteceram através dos
apóstolos "Também das cidades circunvizinhas de Jerusalém afluía
uma multidão, trazendo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais
eram todos curados". Além dos apóstolos, não há qualquer referência de
milagres feitos por qualquer outro denominado santo. Em relação aos apóstolos,
com tantas evidências, porque, então, não devem ser considerados santos? Primeiro
que somente Deus é absolutamente santo (I Samuel 2:2 e Apocalipse 15:4). Estes
milagres foram oferecidos a qualquer um que cresse e se tornasse discípulo de
Jesus e ele mesmo quem designou "Estes sinais hão de acompanhar
àqueles que crêem..." (João 14:12) e complementou
dizendo "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em
mim, esse fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores, porque eu vou
para o Pai;" (Marcos 16:17). Em momento algum Jesus especificou
nominalmente alguém ou grupo de pessoas. Ele foi muito claro quando disse "aquele
que crê" e "àqueles que crêem". Jesus não
"beatificou" ou "canonizou" ninguém e determinou o Ide e
fazei discípulos para qualquer um que cresse. O contexto de santo na bíblia é
de separado do mundo e somos santificados em Cristo que vive em nós através do
teu Santo Espírito o que é privilégio para todos os que crerem.
Diante
disto, concluímos que o chamado para servir e fazer a obra de Deus é
para todos. Isto não pode ser considerado como um motivo de orgulho ou vaidade
se julgando melhor que outros. Deus escolhe quem ele quer e deseja. Todos são
igualmente pecadores perante Deus.
Predestinação
Deus predestinou os
escolhidos porque são fiéis ou são fiéis porque Deus os predestinou?
O apóstolo Paulo é o
autor de um dos principais textos utilizados na defesa doutrinária da
predestinação. Efésios 1:11 “Nele fomos também escolhidos e
predestinados conforme o plano e a sua vontade”. Isto é coerente com o
que ele escreveu aos Efésios 1:4 "Porquanto, Deus nos escolheu
nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua
presença. E, em seu amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos, por
intermédio de Jesus Cristo,". Deus criou o ser humano à sua
imagem e semelhança e não foi para a perdição, mas, para a sua honra e glória.
Na seqüência do texto no verso 12 Paulo conclui "...com o objetivo
de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua
glória". Então, conforme o texto de Efésios no verso 4, o ser
humano já fazia parte dos planos de Deus na criação? Sim! Será que no
plano de Deus continha o pecado, ou o pecado foi um acidente de percurso? Será
que Deus já tinha um plano B? Estas duas últimas indagações não têm base
bíblica para fazer uma avaliação exata.
Vamos tranquilamente
analisar os textos dentro do contexto que foi colocado. Com a queda do homem,
os planos foram rearranjados e a configuração original da criação foi
totalmente desfigurada. O projeto "operação resgate" entrou em ação e
definiu-se alguns critérios para gerar esperança de salvação. Por exemplo, o
caminho já existia e precisou apenas fazer o "marketing" de que
bastaria crer para que se tornasse predestinado novamente. Conforme o texto de
Paulo acima citado, antes do pecado, a predestinação já existia,
porém, tinha o sentido de participante. No contexto pós-queda do ser humano, o
termo predestinado tomou outra conotação sendo algo que ainda não chegou ao seu
destino porque o projeto original foi violado pelo pecado. Mais um item foi
acrescentado à condição de predestinado, fé e perseverança. Como o ser humano
foi expulso do jardim, então, agora tem uma jornada de retorno que precisa ser
trilhada e tem alguns processos que foram implantados e agora
precisam ser aplicados os termos deste processo. Neste novo conceito, o prefixo
“pre” diz que nada está definido ainda, mas, está em vias. Quem escolher
o caminho das drogas, ainda não está viciado, mas, estará predestinado ao
vício. Quem se enveredar pelo caminho da glutonaria, ainda não estará obeso,
mas, estará predestinado à obesidade. Quem optar pelo caminho das contas sem
controle, ainda não está falido, mas, estará predestinado à falência.
Predestinação na bíblia não é referente a pessoas, mas, ao caminho com destino
certo. Quem for pelo caminho predestinado chegará ao céu e Tomé questionou de
qual era o caminho e Jesus respondeu: "Eu sou o caminho, a verdade
e a vida!". Este é o caminho predestinado, mas, precisa estar
para ser pre e permanecer para ser destinado. Jesus
falando exclusivamente aos discípulos como últimos mandamentos
explicou "Aquele que permanece em mim, e no qual eu permaneço, dá
muito fruto,... Se alguém não permanecer em mim, é lançado fora como a
vara, e seca-se;..." (João 15:5-6). Permanecer nEle é estar no
caminho. Alguns utilizam o texto no verso 16 deste mesmo capítulo em que Jesus
afirma que Ele não foi escolhido por nós, mas, Ele quem nos escolheu. Se
observarmos o contexto, será que não está se referindo ao chamado apostólico
aos que estavam ali presente? "Vós (apóstolos) não me
escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós (apóstolos), e vos
designei (apóstolos) para que vades e deis fruto...". (o
grifo é meu). Compare com o texto de Lucas 6:13 na escolha dos doze
apóstolos: "...convocou seus discípulos e escolheu dentre eles,
doze, a quem também designou como apóstolos:" É importante ler a
partir do capítulo 13:19 em que Jesus discorre sobre os principais fundamentos
do discipulado e que os apóstolos precisavam saber. Isto foi na última ceia e
alguns trechos a fala é bem pessoal e objetiva. Por exemplo, quando ele falou
que um dos discípulos o trairia capítulo 13:21, foi bem direto e objetivo. Foi
numa reunião onde Jesus estava dando as coordenadas aos discípulos e o discurso
foi uma mescla de exortação pessoal e mandamento a se cumprir justificando o
porquê foram chamados e designados como apóstolos.
O segundo passo é a
perseverança conforme o texto de Jesus no Monte das Oliveiras em que fala
aos seus discípulos, “...quem perseverar até o fim será salvo”, Mateus
24:13. Os escolhidos são os que perseveram. É possível perder a condição de
escolhidos? Mateus 22:14 Jesus fala sobre a parábola das bodas de casamento e
finaliza que “...muitos são chamados, mas poucos os escolhidos” uma
referência aos que ouviram, creram, mas, o amor esfriou conforme o texto de
Mateus 24:12 "...e por se multiplicar a iniquidade, o amor
esfriará da maior parte dos homens". Todos são chamados e os
escolhidos são os que creram. Os que não serão escolhidos, mesmo tendo sido
chamados perderam a condição de serem salvos. Uma dúvida, será que todos
os escolhidos que já morreram estão no céu? Talvez ninguém ainda esteja no
céu. Com exceção de Enoque (Hebreus 11:5) e Elias (II Reis 2:11) que foram
arrebatados e do ladrão na cruz em que Jesus confirmou que estaria com ele no
paraíso naquele mesmo dia, não há qualquer relato de que alguém que morreu em
Cristo já esteja no céu. Pelo menos é o que lemos em João 3:13 "Ninguém
jamais subiu ao céu, a não ser Aquele que veio do céu: o Filho do homem que
está no céu". Estevão pouco antes de ser apedrejado e morto teve
uma previsão de como é o céu, mas, ainda em vida. Deus recebeu o seu espírito
como de tantos outros que já morreram firmados na fé em Jesus e ressuscitarão
com Cristo na sua vinda. Em I Tessalonicenses 4:16 diz que "...os
mortos em Cristo ressuscitarão primeiro". No livro de Daniel 12:2
lemos “...que todos os que foram sepultados acordarão, uns para a vida
eterna e outros para a vergonha da morte eterna”. Se os mortos em Cristo já
estivessem na glória, então, por qual motivo ressuscitariam no último dia?
Paulo também foi abordado sobre os predestinados porque estavam no
caminho e declinaram do caminho perdendo, assim, a condição de predestinados.
Observe sua resposta no texto aos Hebreus 6:4 "Ora, para
aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial,
tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram
a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, mas caíram,
é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento...". Perceba
(grifado meu) o nível daqueles que se perderam. Paulo está se referindo a
pessoas (qualquer pessoa, não citando nome) que creram e estavam no caminho e,
nesta condição, são também predestinadas porque estavam no caminho da salvação
e que é quase impossível de uma pessoa que se perdeu retornar a vida com
Cristo. No contexto bíblico, a única predestinação não é somente para a
salvação, mas, para a perdição também. Deus condenou (predestinou) o gênero humano
ao fogo eterno porque todos pecaram e foram destituídos da
glória de Deus (Romanos 3:23). Para isto, nada precisa ser feito para ser
predestinado ao fogo eterno. Contrariamente ao que muitos julgam que Deus não é
amoroso porque envia pessoas ao inferno, digo que, esta não é a sua vontade
porque o inferno foi feito para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41). O inferno
não foi feito para o ser humano. O problema é que, se não vai para o céu,
deve-se ir para algum lugar. Da mesma forma que o céu, ninguém ainda está no
inferno. Em I Timóteo 2:4 lemos que o desejo de Deus é que todos sejam salvos.
O inferno é uma das opções. No livro de Marcos 16:16 o próprio Jesus deu a
opção afirmando: “...quem crer será salvo e quem não crer será
condenado”. O verbo ou advérbio “será” define que estamos
em vias no processo e existe a opção de salvação ou condenação. O processo de
salvação está concluído com a morte e ressurreição de Jesus e permanece até a
consumação dos séculos como o próprio Jesus afirmou logo após a ressurreição
que estaria conosco até o fim. Se inconseqüentemente fomos predestinados,
porque Jesus ficaria conosco? Estes textos demonstram que Deus nunca fez
predileção nominal. Chamou a todos porque a salvação é para todos. Será salvo
quem permanecer fiel até o fim. Obviamente que nem todos os que são chamados
serão escolhidos, porque depende do critério de aprovação de Deus. O caminho é
predestinado (Jesus) e quem seguir por Ele estará predestinado à glória eterna.
A predestinação é condição para quem crer e a certeza de que vamos para o céu.
No mesmo capítulo 16 de Mateus que já lemos, no verso 24, o próprio Jesus deu a
opção, “...quem quiser, toma a sua cruz e siga-me”. A escolha
dentre aqueles que foram chamados por Deus acontece após a escolha por parte de
qualquer pessoa por Ele. Deus não vai escolher quem nada quer com Ele mesmo
sendo chamados para servir. Será que conhecemos pessoas nesta condição? Paulo
na carta de II Timóteo 2:17-18 falou de dois personagens que se desviaram do
caminho “Deste número são Himeneu e Fileto, os quais se desviaram da
verdade,...”. um claro exemplo de quem estava envolvido com a obra de
Deus, mas, suas atitudes não revelam conversão falando inverdades que pervertem
a fé de outros. Eles escolheram prosseguir por outro caminho mesmo continuando
a freqüentar a igreja local. Caso não houvesse escolha, o processo de salvação
contido na bíblia seria nulo. Obviamente que esbarramos na questão do crer e
efetuar das quais não se tem qualquer controle. A ação do Espírito Santo e o
seu potencial efeito em nós acontece (Romanos 8:11) somente após a nossa
decisão por Deus em que Ele assume o controle da nossa vida. Muitos se esquecem
da pré-condição para se manterem predestinados. A velha criatura morre e o
corpo é vivificado em Cristo (Romanos 8:10).
Livre arbítrio
O que seria o
livre arbítrio? Conforme os dicionários é a liberdade em decidir quando há duas
ou mais opções. Na bíblia, o livre arbítrio é muito questionado da sua
existência por causa da soberana vontade de Deus que rege sobre tudo e sobre
todos quando e como conforme o seu desejo. A vida é repleta de escolhas. Quem
quiser ser bem-sucedido deve escolher estudar e se atualizar. Quem quiser ter
boa saúde deve escolher alimentar-se bem e praticar exercícios físicos. São
critérios de escolhas que definem os rumos da vida para o bem ou para o mal.
Será que o livre arbítrio não existe mesmo?
Agora, trazendo
para o contexto da salvação, quem efetivamente pode mudar a concepção da
história é somente quem definiu os critérios desta história que é o próprio
Deus. Então, considerando que "...para Deus nada é
impossível" (Lucas 1:37), somente Ele pode mudar os desígnios
preconcebidos. Na criação do ser humano, Deus definiu tudo o que compõe a sua
estrutura, suas escolhas, suas vontades e os seus desejos. Logo no segundo
capítulo de Genesis 2:16 Deus expôs algo bem parecido com o livre
arbítrio: "Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore
do jardim podes comer livremente; mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em
que dela comeres, certamente morrerás.". O texto de Gênesis
mostra duas opções, comer livremente e não comerás. Observe que isto
aconteceu literalmente bem no princípio da criação do ser humano quando ainda
no contexto da vida não havia o pecado. O que Deus quis definir ao dizer “livremente”?
Livre arbítrio, como já disse anteriormente, só é aplicado quando há duas ou
mais opções. Quando não se tem escolha, como dizem, é o que tem para hoje,
então, neste caso, a liberdade de escolha é nula. Mas, não é este o caso, pois,
Deus mostrou literalmente duas opções de livre escolha, comer livremente e não
comer. Isto aconteceu antes mesmo do próprio pecado fazer parte da
história da existência quando provocou a expulsão do ser humano do paraíso. O pecado
já existia desde a manifestação do mal na pessoa do diabo "...porque
o Diabo peca desde o princípio" (I João 3:8). É um assunto amplo,
porém, neste episódio específico, não se aplica uma livre interpretação porque
o texto é bem claro. Este é só o começo da jornada do livre arbítrio.
E sobre a
salvação, será que Deus é quem nos escolhe ou nós é que escolhemos
Deus? Vamos por esta ordem. Em Efésios 1:4 o apóstolo Paulo já escreveu: "...assim
como nos escolheu nele antes da fundação do mundo para sermos santos e sem
defeito perante ele,...". Escolheu quem? A quem Paulo está se
referindo? Paulo está se referindo ao ser humano no contexto do paraíso sem
pecado. "Santos" (separado do pecado) e "sem defeito"
(sem pecado). Deus já tinha planos para a criação. Quanto à escolha em si,
claramente não foi uma escolha nominal, então, subentende-se que esta escolha
foi para todos, pois, a vontade de Deus é que todos sejam salvos "...que
deseja que todos os homens sejam salvos" (I Timóteo 2:3). Se
o desejo é que absolutamente todos sejam salvos, isto não há o que discutir. Se
Deus escolhe um e o outro não, então, estaria fazendo acepção de
pessoas. Deus nos escolheu para sermos santos e, por causa do pecado,
perdemos a santidade e nos tornamos defeituosos e o desejo de salvar a todos é
porque "Deus não faz acepção de pessoas" (Romanos 2:11) e
sejamos resgatados para sermos novamente santos e sem defeito em Cristo.
Agora é preciso
esclarecer que, mesmo Deus escolhendo a todos não significa que está tudo certo
com a salvação. Então, precisamos escolher Deus? Salvação e perdição significam
que existem dois caminhos. Jesus no sermão da montanha, dentre dezenas de
mandamentos, inclusive ensinando a orar, falou sobre os dois caminhos, um
difícil e outro fácil. Leia o texto de Mateus 7:13-14 "Entrai pela
porta estreita (larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e
muitos são os que entram por ela), e apertada a estrada que conduz à vida,
e poucos são os que acertam com ela". O próprio Jesus quando
foi reconhecido como sendo o Cristo, o filho do Deus vivo avisou que "Se
alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e
siga-me." (Lucas 9:23). Uma clara opção de escolha. Jesus
demonstrou em palavras que há duas opções, o caminho da salvação ou o caminho
da perdição. Dois caminhos, sendo duas opções a critério de escolha. Quem não
acredita que haja livre arbítrio alega que tanto o querer como o efetuar é ação
do Espírito Santo em nós. Mas, se atentarmos para o texto de Romanos onde Paulo
fala que após a conversão a nossa vida ressuscita em Cristo que passa a viver
em nós, percebemos que nos tornamos integralmente dependentes de Deus em relação
ao pecado "Se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto
por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da justiça" (Romanos
8:10). Em Efésios há outra confirmação desta condição "Ele vos deu
a vida quando estáveis mortos pelos vossos delitos e pecados..." (Efésios
2:1). Nesta condição, não temos poder sobre o querer e o efetuar relatado em
Filipenses 2:13 “...pois é Deus o que opera eficazmente em vós tanto o
querer como o efetuar segundo a sua boa vontade" porque, como
estávamos mortos no pecado, a tendência era somente pecar sem a justificação em
Cristo, só que o livre arbítrio em si foi definido por Deus antes do pecado no
jardim do Éden antes da queda do ser humano como mencionado no começo desta
reflexão, ou seja, nada tem a ver com o pecado.
Batismo Aspersão ou
Imersão
Na bíblia há relato
de três batismos contidos no mesmo texto de Mateus 3:11, com água que é de
arrependimento, com o Espírito Santo que é o batismo da promessa, tipo, selo de
salvação e com fogo que é o dom do Espírito Santo. João Batista foi o que
recebeu a incumbência de iniciar o batismo de arrependimento. Jesus, mesmo
sendo judeu, demonstrou humildade ao ser batizado nas águas do rio Jordão dando
um claro exemplo de submissão, pois não tinha do que arrepender-se. O judaísmo
nunca aceitou o batismo de arrependimento. Julgavam que não tinham do que
arrepender-se porque seguiam as leis a rigor e preferiram manter-se na linha
legalista conforme as tradições da circuncisão da lei de Moisés (Gênesis
17:10). Do judaísmo surgiram outras 16 ramificações ou mais, inclusive o
judaísmo cristão e cada qual com os seus costumes e dogmas. O batismo com água
não é uma mera tradição, mas, um mandamento. O batismo em si é algo aceito por
todas as linhas religiosas com formas diversas em praticá-lo. A tradição cristã
tem duas formas de fazê-lo. Imersão e Aspersão. Os relatos do batismo de João
Batista indicam que o procedimento usual era somente nos rios. Suspeita-se que
o batismo praticado no tempo de Cristo era por imersão porque tem o sentido
figurado de sepultamento da velha criatura. A forma de batismo é uma opção?
Esta pergunta vem de encontro à antiga polêmica se o batismo deve ser por
imersão ou aspersão. Não justificaria se deslocar até um rio, que era algo
muito difícil na época, para batizar por aspersão considerando que havia poços
espalhados pela cidade e se podia muito bem encher uma vasilha com água e
batizar por aspersão em qualquer lugar até dentro de casa. Por outro lado, nas
regiões áridas onde os rios são distantes, a dificuldade para o batismo por
imersão seria extremamente difícil, por exemplo, a uma pessoa doente e como
iria se locomover? Porque se ater a este detalhe se o mais importante é o
propósito do batismo e não a forma de praticá-lo? Então, de onde surgiu o
batismo por aspersão? Não há qualquer relato bíblico sobre a forma de batismo
correta, se é que exista. O batismo de Paulo há fortes indícios de que tenha
sido por aspersão dentro de uma casa onde ele estava temporariamente cego e sem
forças “Logo que as escamas lhe caíram dos olhos, levantou-se e foi
batizado”. Atos 9:18. Citamos também uma suspeita de batismo, agora por
imersão, quando o eunuco disse a Filipe que encontraram água (Atos 8:38) e nada
impedia de que fosse batizado. Com certeza tinham água para beber que era o
suficiente para o batismo por aspersão. Lembramos também do carcereiro que
mantinha Paulo e Silas preso quando milagrosamente foram soltos e machucados, o
próprio carcereiro lavou as feridas e, logo em seguida, foi batizado, provavelmente
por aspersão. Atos 16:33. O batismo por imersão é uma suspeita porque a maioria
dos batismos relatados acontecia sempre nos rios e significa, como já disse
anteriormente, “sepultamento” no sentido figurado em que morremos com Cristo e
a velha criatura é sepultada pelo batismo (Romanos 6:4), por isto a imersão. Em
minha opinião, o batismo por aspersão seria uma conveniência sem perder a
legitimidade.
Batismo de criança
Jesus foi circuncidado aos oito dias de nascido como regia a lei de
Moisés na aliança firmada com Deus "Esta é a aliança, que
guardareis, entre mim e vós e a tua semente depois de ti: todo o macho dentre
vós será circuncidado" (Gênesis 17:10) e batizado como
mandamento, aos 30 anos por João Batista no início do seu ministério "Batizado
que foi Jesus, saiu logo da água; eis que se abriram os céus, e veio o Espírito
de Deus descer como pomba e vir sobre ele..." (Mateus 3:16).
Jesus não foi batizado quando criança, mas, apresentado no templo por Simeão,
homem justo, temente a Deus e cheio do Espírito Santo que ouviu do próprio Deus
que não morreria antes de ver o Cristo do Senhor e o apresentou no templo
louvando a Deus "Quando se completaram os dias da purificação
segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor..." (Lucas
2:22). Esta prática é mandamento do Senhor conforme o texto de Êxodo 13:2 "Consagre
a mim todos os primogênitos entre os filhos de Israel...". O costume
era somente com o filho mais velho. Outro episódio na apresentação de criança
ao Senhor como um costume da tradição judaica está no Antigo Testamento quando
o sacerdote Samuel filho de Ana logo que desmamou foi apresentado ao Senhor e
faziam esta prática nos eventos anuais de adoração ao Senhor no templo (Samuel
1:22). Tanto no Novo Testamento como no Antigo Testamento se manteve o
mandamento do Senhor. Um detalhe, mesmo a doutrina do batismo ter sido iniciada
com João Batista e após a vinda do Messias, Jesus não foi o primeiro a ser
batizado conforme o texto de Lucas 3:21. Quando ele chegou para ser batizado,
João já estava batizando uma multidão. Então, se não há referência bíblica e
havendo somente suposições, porque se batiza criança? Algumas linhas teológicas
afirmam que o batismo veio substituir a circuncisão. Porém, a circuncisão foi
um mandamento de Deus como forma de preservar a aliança e identificar o povo
judeu. Quem não era circuncidado não pertencia ao judaísmo, conseqüentemente,
não era reconhecido como sendo de Deus. Havia também o preconceito a quem não
era circuncidado e tem vários relatos bíblicos em que o termo incircunciso foi
aplicado pelos judeus de forma pejorativa. A questão é que a circuncisão era
somente nos homens por causa da herança e da linha étnica das tribos. Com a
salvação pela graça através de Jesus, a circuncisão ou incircuncisão de nada
valem mais (I Coríntios 7:19). Já o batismo apresentado por João era de
arrependimento. Vou analisar dentro dos termos de suspeita quando há indícios e
de suposição quando não há indícios.
O objetivo é elucidar
a doutrina à luz da bíblia e jamais confrontar os valores da tradição. Porém, a
tradição não deve substituir a doutrina bíblica. Como Jesus reagiu as crianças
que eram circuncidadas e não eram batizadas? No episódio em que Jesus estava em
meio à multidão que levavam as crianças para impor as mãos e orar por elas
(Mateus 19:13,14) afirmou que deveriam permitir a aproximação dos pequeninos
porque delas era o Reino dos céus sem fazer qualquer menção ao batismo ou a
circuncisão. Caso fosse um mandamento conhecido e declarado como a circuncisão
e a apresentação ao Senhor no templo, a multidão não pediria somente que Jesus
orasse por elas. Se Jesus disse que as crianças já pertenciam ao Reino de Deus,
então, não faria qualquer sentido, porque o batismo, não importando a forma, é
de arrependimento para se tornar co-herdeiros com Cristo do Reino de Deus. A
principal alegação de legitimidade do batismo infantil é porque há muitas
declarações de que todos os da casa foram batizados, por exemplo, a vendedora
de tecidos de Tiatira, Lídia, depois que ela compreendeu a mensagem "Ela
e as pessoas da sua casa foram batizadas". A família de Estéfanas
onde se supunha que houvesse criança porque não é explícito para que haja
confirmação (I Coríntios 1:16) "É certo que batizei também os da
casa de Estéfanas;...". Será que não seria o batismo do selo da
promessa por ouvirem e crerem? "...tendo ouvido a Palavra da
verdade, o Evangelho da vossa salvação, e nele também crido, fostes selados com
o Espírito Santo da Promessa..." (Efésios 1:13). Dizem que também
a família do centurião Cornélio também tenha sido batizada (Atos 10:44-48).
Nesta referência na casa de Cornélio, aconteceram algumas coisas a mais. Pedro,
nesta afirmação do batismo, referiu-se aos gentios que haviam recebido o dom do
Espírito Santo e falavam línguas estranhas e, como cumprimento ao mandamento,
batizou-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas, não há referência
se os da sua casa foram também batizados. No caso do carcereiro (Atos 16:33)
quando Paulo e Silas estavam presos, dá-se a entender que a referência "os
da sua casa foram batizados" considerando que ainda estavam na prisão e
depois que há a referência ao batismo é que eles vão para casa do carcereiro.
Este episódio do carcereiro reforça a tese da referência de Efésios 1:13 porque
ouviram o evangelho através do carcereiro.
Alguns relatos
bíblicos, o contexto do batismo não é exatamente com água, mas, na crença da
promessa de salvação após crer. O que não se pode é forçar uma interpretação
apenas para ratificar uma tradição. Deve-se tomar muito cuidado para não
incorrer no que Jesus falou em Marcos 7:13 sobre a tradição vigente na época, o
judaísmo, quando exortou que "anulam a palavra de Deus, por meio
da tradição que os próprios homens transmitiram".
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