quarta-feira, 18 de maio de 2022

EVANGELHO SUBJETIVO

Venancio Junior

O propósito desta reflexão não é em absoluto confrontar costumes e valores da tradição das religiões, mas, dirimir alguns dos mais conhecidos e polêmicos assuntos dentre as inesgotáveis referências da doutrina bíblica. Sinto-me pequeno para tão grande missão, sendo esta iniciativa, uma decisão pessoal que lancei como um desafio cujo propósito é contribuir no entendimento da mensagem do evangelho. Muitos temas permitem interpretação dúbia, porém, se não houver o discernimento espiritual que é a principal prerrogativa na interpretação bíblica, não fará sentido algum no entendimento das escrituras. Costumo dizer que devemos ter em mente a "teologia pé no chão". Este termo eu criei como um desafio para a minha visão de Deus e comecei a retirar as "gordurinhas" que dão um sabor especial no evangelho e que mantem sempre um paladar agradável. O evangelho nem sempre é "romântico" quando o Senhor é o Pastor e nada faltará. Davi quando escreveu este Salmo encontrava-se angustiado e se sentia desamparado. Ler e meditar com o propósito em aprender e assimilar é a melhor decisão. Devemos ter sempre em mente o que diz no Salmo 19:8 "Os mandamentos do Senhor são cristalinos e iluminam o entendimento".

Subjetivo é um termo aplicado a interpretação pessoal de um princípio. Muitas vezes é confundido com o seu “parente” próximo, ambíguo, em que uma palavra pode ter, no mínimo, dois significados. A filosofia é um exemplo da subjetividade, sendo passível de diversas interpretações porque não tem a lógica como princípio. Nas disciplinas de exatas isto não seria possível porque tem exatamente como princípio a lógica. Sou também um profissional de desenho civil e interpretação de projetos e afirmo que no cálculo estrutural de uma construção não tem como ter vários pontos de interpretação no seu dimensionamento. A lógica define que o cálculo da estrutura deve ser de acordo com o porte do edifício. O máximo que pode acontecer é um profissional da área questionar um superdimensionamento no cálculo estrutural. Por exemplo, não há necessidade em aplicar um dimensionamento de vigas e colunas para um edifício de 10 andares numa construção de apenas dois andares. O subdimensionamento também é cabível neste exemplo quando há a inversão do cálculo estrutural. É uma questão lógica porque os números são estáticos nos seus valores.

O mundo jurídico, talvez seja, onde aconteça com mais frequência a lei da subjetividade. As leis podem mudar a interpretação por causa de uma acentuação ou ponto de vista. Dentro do contexto do crime a lei pode ser meramente interpretativa. Por incrível que pareça, é possível que numa interpretação, algumas leis favoreçam em parte os infratores ao invés de incriminá-los. Os advogados de defesa conseguem utilizá-la em benefício do réu por causa da sua subjetividade. Num julgamento, raramente alguma das partes afirma que o outro está mentindo. O mais casual é acusar de que o outro não esteja falando a verdade. Pela lógica é a mesma coisa, mas, se utilizar a subjetividade, não é a mesma coisa. Talvez, neste caso, a lei da relatividade seja bem propícia para estabelecer um parâmetro de interpretação.

O tema tem como foco o evangelho, então, o mundo místico/religioso que é vasto, amplo, profundo e recheado de subjetividade doutrinária será o cenário nestas avaliações.    

As centenas de milhares de religiões são frutos de interpretações diversas até mesmo da bíblia que é a principal referência da existência de um ser supremo e criador. Por incrível que pareça, outras tantas religiões surgiram de uma revelação pessoal, onde alguém "iluminado" e que tenha recebido algo de uma divindade qualquer se sentiu na obrigação de repassar as pessoas e, daí, formou-se uma nova religião. O objetivo não é analisar os conceitos religiosos fora da bíblia. Então, vou utiliza-la como referência que não pode ser considerada apenas como uma “cartilha dos cristãos”, mas, pode ser um "manual de sobrevivência da espiritualidade" onde indica o caminho e constam os princípios elementares da vida cristã (Hebreus 5:12). Todas os esclarecimentos das eventuais dúvidas sobre espiritualidade poderão ser buscados na bíblia com o necessário discernimento do Espírito Santo. 

Dividi a bíblia em narrativa histórica e narrativa doutrinária. Mesmo sendo história, não significa que a lógica estivesse presente. Se tivermos o olhar racional tanto da história, quanto da doutrina, quase nada fará sentido. O mundo acadêmico preza prioritariamente pela lógica onde é baseada os seus estudos. Não os recrimino, mas, nunca se deve ter um olhar unilateral, considerando que a essência dos escritos tem um propósito também espiritual. Neste caso, não tem lógica menosprezar esta essência porque nem a lógica alcançaria um resultado satisfatório. Observo também que o autor dos escritos, muitas vezes, seguia o padrão cultural e não necessariamente o pensamento de Deus.

Procurei ao máximo não fazer uma leitura dos textos a partir de uma linha teológica conhecida para não ter influência na interpretação. A maioria das pessoas ouvem falar sobre Deus, quando na maturidade adota uma linha teológica e acaba seguindo suas regras sem questionar e muitos se sentem confortáveis nesta condição. Mas, é muito arriscado ignorar as dúvidas que sempre farão parte do consciente e, conforme surgem, principalmente sobre espiritualidade, chega um momento em que é preciso saber mais sobre a vida com Deus lendo e meditando na sua palavra com o discernimento do Espírito Santo. Particularmente, não me identifico integralmente com nenhuma linha teológica das principais denominações evangélicas/cristãs, porque não existem duas ou mais teologias, considerando que a bíblia afirma que há somente um Deus, então, há somente uma teologia. No céu não há três deuses e também não existe uma pombinha voando como sendo o Espírito Santo, como também não encontraremos Jesus ao lado direito de Deus no trono vestido de branco e com cabelos e barbas longas e pretas tal como o conhecemos na história. A questão de Jesus estar sentado à direita do Pai é um sentido figurado demonstrando a submissão à vontade do Pai e a equivalência de poderes de uma mesma pessoa. Observe os textos de João 10:30 "Eu e o Pai somos um" e João 12:45 "...e quem me vê, vê aquele que me enviou". Mas, isto é referência de Deus e Jesus, e o Espírito Santo? Paulo fez esta "amarração" da trindade. Leia o texto de Romanos 8:9 "Vós, porém, não estais sujeitos à carne, mas ao Espírito (Espírito Santo), se realmente o Espírito de Deus (Deus) habita em vós. Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo (Jesus), esse não é dele". Tudo o que sabemos sobre Deus foi exposto numa dimensão terrena para conseguirmos identificar as ações trinitárias distintas de uma mesma pessoa. Uma curiosidade, quando Jesus nasceu, a notícia chegou até a distante China que, nesta época, já tinha 200 milhões de habitantes e Jesus se manteve como ser humano estando presente fisicamente na Judéia. Mesmo com tanta gente, não há relato na história que Jesus esteve na China, pois, cumpria uma missão na condição de ser humano direcionada ao povo judeu. Porque Deus se manteve no céu? Fazia parte do processo e Ele poderia estar (e estava) em qualquer lugar ao mesmo tempo, mas, isto era função do Espírito Santo que é onisciente, onipresente e onipotente. A única preocupação que devemos ter é o relacionamento pessoal com Deus que fará muita diferença na comunhão com outras pessoas que professam a mesma fé. A maturidade depende muito do tipo de relacionamento que se tem com Deus porque somos diferentes e vivendo vidas diferentes em contextos sociais e culturais também diferentes. Deus se relacionando com o indivíduo e inter-relacionando com as pessoas. O apóstolo Paulo fez esta abordagem sobre o amadurecimento quando precisamos parar de tomar leitinho e ingerir alimentos sólidos para ajudar no crescimento (Hebreus 5:13). Obviamente que transparece que já estou colocando o meu ponto de vista, mas, não. Deixo claro que sou membro do corpo de Cristo (I Coríntios 12:27) que não tem parede e nem letreiro nominal servindo numa comunidade local em comunhão com outros que professam a mesma fé. Quanto à interpretação bíblica, ela deve ser acompanhada de uma “descauterização denominacional” até então, usual para não sofrer influência daquilo que já tenha ouvido ou lido. 

Vou começar a abordar o tema principal apresentando como exemplo de subjetividade bíblica, dois princípios que foram citados no Antigo Testamento como prática comum sem qualquer observação relevante na questão de princípios que é a prostituição e a mentira. Ambos violam os princípios morais condenados no primeiro livro do Novo Testamento e são apresentados no mesmo texto no evangelho de Mateus 15:19 “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias”. Mas, se lermos sobre a prostituição no Antigo Testamento, em alguns episódios parece que Deus não se importava com a condição vivida pelas mulheres em situação de prostituição. No livro de Josué 2:1, Raabe era uma prostituta e foi uma mulher que não falou a verdade quando protegeu dois espiões de Josué que estavam visitando a cidade de Jericó antes de ser conquistada. Observo que a prostituição no Antigo Testamento muitas vezes é no sentido figurativo revelando a decadência de algumas cidades, por exemplo, Samaria e Jerusalém que viviam cada vez mais distantes de Deus e os termos utilizados pelo profeta é de baixíssimo nível (Ezequiel 23:20-21). Tanto no texto, como também no contexto, a vida de prostituição e a mentira são, de certa forma, irrelevantes e o destaque é para a atitude de obediência o que foi de extrema importância na estratégia de conquista de Jericó. Esta é uma das muitas histórias famosas dos heróis bíblicos. Leia os trechos bíblicos: “Foram, pois, e entraram na casa duma prostituta, que se chamava Raabe, e pousaram ali”. E depois quando perguntaram sobre os dois homens, ela falou “...e aconteceu que, havendo-se de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram. Não sei para onde foram; ide após eles depressa, porque os alcançareis”. O escritor na sequência do texto, então, relata: “Ela, porém, os tinha feito subir ao eirado (terraço), e os tinha escondido entre as canas do linho que pusera em ordem sobre o eirado". Não há qualquer comentário sobre a prostituição em si ou sobre a mentira aplicada. Será que algum destes dois homens teve relação com ela? Isto seria uma suposição pelo fato de ela ser prostituta, mas, a bíblia não relata isto, só fala que passaram a noite. Esta é uma narrativa histórica circunstancial que consta na bíblia e não pode ser utilizada como doutrina. Aconteceu desta forma por mera conveniência e foi uma decisão dos espias de Josué num momento em que não havia muito tempo para pensar. Não se pode afirmar que foi uma direção divina. Talvez até tenha sido, mas, não se pode confirmar isto. Na vida acontece muito destas situações constrangedoras e que, aparentemente comprometeria a integridade espiritual dos espiões de Josué, porém, não se pode medir ou julgar deste ponto de vista. Outro fato chocante para os nossos dias é a destruição das cidades a mando de Deus no Antigo Testamento. Josué foi o escolhido para substituir Moisés na condução do povo e nas conquistas até a terra prometida. Numa das inúmeras batalhas na conquista de uma das cidades que estavam pelo caminho houve um claro mandamento de Deus "Nesse dia tomou Josué a Maquedá, ferindo-a à espada, bem como ao seu rei; totalmente os destruiu juntamente com todos os que nela estavam, sem deixar ali nem sequer um. Fez ao rei de Maquedá, como fizera ao rei de Jericó" (Josué 10:28). Porque Deus determinou que se destruísse toda a cidade? Todas estas cidades destruídas eram inimigas de Israel que era o povo escolhido. Era composta por pessoas cruéis e inimigas de Deus e não mediam esforços para blasfemar e praticavam imoralidades sem limites. Um detalhe importante é que devemos ter uma perspectiva de leitura no contexto de conquistas através de guerras, isto era normal e muitas das cidades destruídas, os seus habitantes não eram inocentes e conheciam a Deus, porém, eram desobedientes e distantes de Deus. Se imaginarmos seguir o que diz a bíblia, este exemplo deve se limitar a história específica naquele contexto. Outro texto polêmico, agora no Novo Testamento (Mateus 21:24), aconteceu logo após Jesus entrar em Jerusalém no jumentinho e expulsar os vendilhões do templo. Como de costume, os principais sacerdotes acompanhados dos anciãos do povo questionaram Jesus sobre a sua autoridade e Jesus logo fez uma pergunta se o batismo de João era divino ou dos homens? Em seguida fez uma analogia através de parábolas sobre os que viram, mas, não creram. Como não souberam responder, então, Jesus afirmou que “os cobradores de impostos e as prostitutas entrarão no Reino do céu antes de vocês porque creram”. Como assim, prostituta e ladrões entrando no Reino de Deus? Em I Coríntios 6:9 lemos que estes não herdarão o Reino de Deus! Reafirmo que é isto mesmo. Explico, no livro de Atos 10:43 Pedro afirmou que “Todos os profetas testemunham sobre Ele, afirmando que qualquer pessoa que nele crê recebe o perdão de todos os pecados, mediante o seu Nome”. Este texto vem de encontro ao que Jesus afirmou que entrariam no Reino de Deus porque creram e Jesus está pouco se importando quem seja e quais as condições que se encontra porque o importante é crer no evangelho que ouviram quando acontece a verdadeira libertação da vida de pecado. Qualquer texto bíblico precisa estar conectado para que ratifique coerência e veracidade dos fatos na completude do evangelho. Estes foram apenas dois exemplos de subjetividade e mostra que jamais se deve utilizar um texto fora do seu contexto.

A bíblia é a revelação da pessoa de Deus para o ser humano ou a revelação do ser humano a Deus? Eu diria que o Antigo Testamento é a revelação do ser humano a Deus onde aconteceu o relato da queda no Éden e onde também a lei nos condenava (...onde não há lei, não há pecado Romanos 4:15) e no Novo Testamento é a revelação de Deus ao ser humano onde aconteceu o processo de resgate em Jesus Cristo pela graça que nos liberta da condenação do pecado (...nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus Romanos 8:1).

Quanto tempo passou no Antigo Testamento até surgir as primeiras escritas? Agora imagine que confusão era, uma verdadeira terra sem lei com barbáries, genocídio, guerras sem fim e idolatria onde ninguém tinha qualquer direcionamento. Tanto os maus como os bons sabiam quem era Deus e o único a ser adorado. Mesmo assim, faziam suas próprias escolhas e seus próprios deuses. Israel, mesmo sendo o povo escolhido, quando ficava sem rei ou outra liderança, se perdia com idolatria e feitiçaria principalmente e se distanciava de Deus. Muitas vezes foi abandonada à própria sorte (sorte no contexto bíblico significa possibilidades) e as consequências eram gravíssimas. Deus (como sempre) se compadecia e permitia uma nova chance de reconciliação. Os reinos de Judá e de Israel se valiam da promessa que Deus fez a Davi e quase todos os que o sucederam se perdiam em idolatria e Deus ficava muito triste. Mas, Deus sempre lembrava que abençoaria porque havia prometido a Davi abençoar as gerações futuras. O próprio rei Salomão no final do seu reinado entristeceu a Deus mesmo tendo sido advertido para não tomar algumas decisões comprometedoras e Deus manteve o seu reino por amor a Davi "Mesmo assim, não lhe tomarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho uma tribo, por amor e consideração a Davi, meu servo, e por amor a Jerusalém, a Cidade que escolhi!” (I Reis 11:13). Numa analogia com a vida contemporânea, mesmo com todas as leis amplamente conhecidas que contempla e protege todas as estruturas da sociedade, mesmo assim, ainda é muito confusa e requer especialistas na interpretação. Imagine no tempo do Antigo Testamento quando era tudo desconhecido e precisava passar por um processo de amadurecimento na relação dos homens com Deus? Este amadurecimento começou a se delinear na revelação dos dez mandamentos a Moisés. Agora sim, algumas coisas começavam a ficar mais claras e fazer sentido. Será? Sinceramente, se aplicassem na vida somente os dez mandamentos, seria o suficiente para termos uma sociedade justa. 

Vamos voltar um pouco na história para conectar alguns fatos que farão sentido aos demais. Alguns perguntam se no Antigo Testamento surgiu alguma outra religião além do judaísmo. Não se pode confundir uma tribo com religião. Na história consta que a primeira dissidência do judaísmo foram os Essênios que eram responsáveis pelos escritos do Mar Morto. Segundo consta, os Essênios surgiram no segundo século antes de Cristo. Na bíblia não há uma citação direta deste povo. Não se pode afirmar se era uma tribo ou uma religião. Eles eram judeus apocalípticos messiânicos e, talvez por isto, tenham sido dizimados no ano de 68 com a destruição de seus assentamentos em Qumran. Há citação na bíblia sobre os gentios que muitos confundem com uma tribo. Eles não eram considerados como herdeiros de Deus pelos judeus porque não foram circuncidados e eram considerados como hereges e não poderiam adotar o judaísmo como sua religião porque não eram judeus. Quem não era judeu era chamado de gentio. Provavelmente eram descendentes de Ismael porque o Judaísmo se formou com os descendentes de Isaque (Gênesis 21:2) filho de Abrão e Sarai e o Islamismo surgiu no século sete e descende de Ismael (Gênesis 16:15) também filho de Abrão, porém, com a serva de Sarai, Hagar. Quando Deus firmou aliança com Abrão mudou os nomes para Abraão e sua mulher para Sara (Gênesis 17:5 e 15). É uma história muito complicada e alguns fatos comprovam onde surgiu a briga entre judeus e palestinos. Engraçado foi que Abrão quando recebeu de Deus o sinal da aliança que seria a circuncisão e a promessa de que teria um filho, prostrou-se e começou a rir porque já tinha cem anos e Sara noventa anos (Gênesis 17:17). Ismael nasceu primeiro e tinha 14 anos quando Isaque nasceu. Quero destacar dois episódios que, provavelmente sejam os motivos dos conflitos até os dias atuais que condiz com o que o anjo falou para Hagar quando fugiu. O primeiro episódio aconteceu quando Abraão deu uma festa pelo nascimento de Isaque, Ismael que já era adolescente e ficou rindo, provavelmente com deboche do seu meio-irmão Isaque porque Sara não gostou daquele comportamento e falou para Abraão livrar-se deles "Ora, Sara percebeu que o filho nascido a Abraão, por intermédio da egípcia Hagar, estava rindo de seu filho Isaque, e pediu a Abraão: “Expulsa esta serva e seu filho, para que o filho desta escrava não acabe sendo herdeiro com meu filho Isaque!” (Gênesis 21:9). O segundo episódio é que Hagar foi acusada de ridicularizar Sara da qual era serva. Como o clima entre elas ficou muito tenso (Gênesis 16:5), então, Hagar decidiu fugir. O anjo do Senhor encontrou Hagar e perguntou o que aconteceu. Ela respondeu que estava fugindo de Sara, sua senhora. Daí o anjo disse para ela voltar e se sujeitar a sua senhora. Dentre outras coisas que o anjo falou, o que me chamou a atenção foi o que disse na segunda parte do verso 12 “...e ele (Ismael) viverá em hostilidade contra todos os seus irmãos”. O próprio Deus afirmou que a descendência de Ismael seria também uma grande nação "...mas do filho da serva farei também uma grande nação, porquanto ele também é da tua raça!” (Gênesis 21:13). Dá-se a entender que estes irmãos são os judeus da parte de Isaque.

Vamos avançar alguns anos e chegar ao tempo do Novo Testamento onde as leis já estavam consolidadas e até já havia algumas religiões e, aparentemente, não precisava de algo vultuoso (vinda do Messias) para questionar se havia algo errado ou algum processo que precisasse ser concluído. O Antigo Testamento foi regido pela lei e não poderia ser de outra forma, afinal, era um mundo ainda em formação na estrutura social e nos conceitos e o Novo Testamento veio revelar a graça através do nascimento virginal de Jesus. No Antigo Testamento, a graça seria impensável porque o comportamento das pessoas ainda era muito rústico e no Novo Testamento a lei foi muito questionada, surgindo até uma classe de hereges do evangelho, os legalistas e com a vinda de Jesus o Messias, a lei foi apresentada de forma lapidada pela graça. Apesar de ser também uma época muito antiga, os livros da revelação da graça de Jesus Cristo surgidos neste tempo ainda permitem sofrer uma contextualização, fato é que a maioria das controvérsias bíblicas estão contidas no Novo Testamento onde tudo convergiu em Cristo. Vamos ler Romanos 10:4 "...porque o fim da lei é Cristo, para justificar todo aquele que crê". Em Romanos, Paulo afirma que “...o pecado não mais domina, porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça”. Jesus é o fim da lei como era aplicada e a finalidade desta mesma lei para a raça humana. Novamente se confirma a simplicidade do evangelho, bastando somente crer. A parte de Jesus é manter a esperança naquilo que se crê e a parte do ser humano é manter o compromisso de fidelidade e a responsabilidade com integridade.

Apesar de toda limitação na compreensão do evangelho por parte dos seus seguidores, Jesus sempre procurava simplificar e ser claro utilizando metáforas do cotidiano judaico. Jesus veio com uma missão e, como qualquer outra, precisava criar uma estrutura que a tornasse eficaz. Todas as ordenanças no Novo Testamento é uma continuação dos dez mandamentos da diretriz personalizada de Deus na questão de ordem na igreja orientando e exortando a igreja ainda em formação. Mesmo os autores tendo personalidades diferentes, nos escritos em que cada um expõe a sua particularidade na composição do texto, não se perdeu a integridade teológica. Paulo, autor da maioria dos livros doutrinários, foi um antigo oficial do exército romano e um profundo conhecedor das leis judaicas e que também sabia sobre a vinda do filho de Deus. O que faltava exatamente a Paulo era o encontro pessoal com Cristo o que aconteceu no episódio da estrada de Damasco. Paulo, mesmo após convertido, como diria, levou consigo a sua marca pessoal incrustada com um radicalismo componente da sua forte personalidade. Foi uma surpresa geral esta escolha, pois, todos conheciam a fama da brutalidade de Paulo. Mesmo após convertido, talvez ele tenha sido o mais controverso dos apóstolos na proclamação do evangelho. As suas cartas foram destinadas a grupos intelectualmente distintos. O evangelho simples de Jesus tinha de atingir os intelectuais da época na mente para compreensão e no coração para crer. As cartas de Paulo são as que ainda mais causam êxtase aos teólogos e até mesmo ao seu colega de apostolado, Pedro, que na sua segunda carta afirmou que Paulo escrevia algumas coisas complicadas. Ele escreveu algo bem interessante: "Ele (Paulo) escreve do mesmo modo em todas as suas epístolas, discorrendo nelas sobre esses assuntos, nas quais existem trechos difíceis de entender, os quais são distorcidos pelos ignorantes e insensatos, como fazem também com as demais Escrituras para a própria destruição deles” II Pedro 3:16. Distorcer o evangelho é a maior causa de dissensões na religião. Os motivos são diversos, falta de conhecimento e insensatez que Pedro chama de ignorantes ou mal-intencionados com o objetivo de chamar a atenção para outros fins, por exemplo, orgulho e vaidade. O próprio Jesus exortou o povo referente a ignorância. Em Mateus 22:29 Jesus respondendo à multidão afirmou que “...vocês erram porque não conhecem as escrituras e nem o poder de Deus”. O apóstolo Paulo também já exortava na carta de I Coríntios 3:11 “Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo”.

A igreja de Jesus Cristo como corpo teve o seu início na escolha dos apóstolos e na ressureição de Jesus. O livro de Atos retrata o início da igreja em ação e da pregação dos apóstolos. Em Antioquia os discípulos foram pela primeira vez chamados de cristãos (Atos 26b). Pedro e alguns dos apóstolos que não foram citados nominalmente, foram presos por pregarem o evangelho e no verso 42 de Atos 5 diz: "Todos os dias, no templo e de casa em casa, não deixavam de ensinar e proclamar que Jesus é o Cristo” em consonância com o texto de Romanos 10:17 em que diz que “A fé vem pelo ouvir”, mas, “o crescimento vem pelo conhecimento da palavra” (II Pedro 3:18).

Abaixo relacionei alguns dos principais fundamentos do evangelho. O critério de escolha destes subtemas é porque são questionadas por algumas das principais denominações cristãs/evangélicas.

 

Oração e a quem orar

Vou iniciar mostrando o texto de Isaias 59:1 “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir;”. O contexto de Isaias é de restauração através da confissão de pecados. Orar é manter contato contínuo e incessante com Deus.

Quando e como devemos orar? I Tessalonicenses 5:17 lemos que devemos "Orar sem cessar”. Este mandamento não é um sentido literal em que se ajoelha e fica orando até esfolar os joelhos. Não se trata também de uma oração regular e nem da forma de orar, mas, em manter a sintonia e a comunhão com Deus continuamente. Orar significa contato com Deus, então, adorar é uma forma de oração, cantar é uma forma de oração, refletir na palavra é também uma forma de oração, discipular é uma forma de oração, ler a bíblia é uma forma de oração e, desta forma, estará sempre em contato com Deus. Tudo o que se fizer deverá ter a inspiração divina para que o objetivo de crescimento espiritual faça sentido e o contato contínuo através da oração é o elo com Deus. Fazer tudo para a glória de Deus é um bom exemplo de oração contínua "Tudo quanto fizerdes, quer de palavras quer de obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai" (Colossenses 3:17). A partir do momento que nos rendemos ao evangelho e entregamos a vida a Deus, não podemos perder o contato um segundo sequer. Este “insignificante” tempo de um segundo é o suficiente para que o inimigo de nossas almas nos devore "Sede sóbrios, vigiai. O vosso adversário, o Diabo, anda ao redor de vós, como leão rugindo, buscando a quem possa devorar;" I Pedro 5:8).

Não existe uma forma correta de orar. A postura de oração que mais se pratica é fechar os olhos em pé ou ajoelhados e falar com Deus. Fechar os olhos é apenas um costume para que nada desvie a atenção nada mais que isto. De olhos abertos, deitado, ajoelhado ou em movimento, não importa, o importante é orar. Muitas vezes não sabemos o que orar, mas, o Espírito Santo intercede por nós quando isto acontece "Do mesmo modo também o Espírito ajuda a nossa fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis;". Imagine uma corporação divina dedicada a causa humana. Melhor ainda, exclusivamente para cada um. É desta forma que a ação de Deus intervém por nós.

E quanto a recomendação de Jesus no modo correto de orar e a quem devemos orar? Algo que se tornou costume que a igreja adotou como devoção é orar diante da cruz. Não há relato bíblico, sequer suspeita porque a cruz é um objeto inanimado e não foi dotada de poder. Então se deve orar diretamente a Deus, a Jesus ou ao Espírito Santo ou tanto faz? Jesus nos ensinou a orar e creio que este é o modo correto. Não foi uma sugestão de tipo de oração, mas, como devemos orar e a quem devemos orar. Não me refiro especificamente às palavras, mas, o direcionamento a quem e em nome de quem. Não há dúvidas de que a oração sempre deve ter o direcionamento a Deus em nome de Jesus seu filho. Pelo menos é o que a bíblia enfatiza como forma eficaz no sentido de Deus ouvir e responder. Não há mais dúvidas de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo constituem-se a mesma pessoa. Quando se ora, a mesma pessoa ouve. Jesus colocou desta forma de orar ao Pai em nome dEle em cumprimento a sua missão que era em tudo glorificar o Pai. Jesus demonstrou a diferença entre intercessor e atravessador. Jesus intercede por nós a Deus (Romanos 8:34), este é a sua principal missão que condiz com a justificação. Tudo tem de passar por Ele que eleva ao Pai. Enquanto o atravessador se antecipa corrompendo um processo natural para outros fins em benefício próprio ou, no caso do diabo, para destruir mesmo.

Vamos as referências. Orar é a única forma de se chegar e conversar com Deus que está sempre pronto a ouvir. A oração do Pai nosso é o exemplo inconteste para sabermos como e a quem devemos dirigir a oração. “Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;” (Mateus 6:9). Esta oração feita por Jesus requer cuidado para não falar o que não se pode viver ou cumprir. Outro texto bem conhecido encontra-se em João 14:14 "Se me pedirdes qualquer coisa em meu nome, eu a farei". Este trecho dá-se a entender que é somente pedir que a resposta vem como se queira. É preciso meditar em todo o contexto e o porquê Jesus colocou desta forma simplista. No verso 15 Jesus exorta “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos”. Amar e obedecer faz toda a diferença na vida do discípulo no seu relacionamento com Deus o que implica compromisso e responsabilidade.

Há muitos relatos dos personagens bíblicos mesmo tendo compromisso e responsabilidade com Deus que, muitas vezes estavam em situação difícil e clamaram a Deus que é uma forma mais intensa de oração. Geralmente o clamor é numa situação de dificuldades e até mesmo de desespero e pode ser um pedido de socorro a Deus por si mesmo ou intercedendo por um povo ou uma cidade. Um destes personagens, o profeta Jeremias, estava preso na babilônia e Deus estava restaurando o seu povo e a momentânea derrota seria o caminho que precisava ser percorrido, Deus falou com Jeremias "Clama a mim, e responder-te-ei; anunciar-te-ei coisas grandes e difíceis, que não sabes". Mas, tem situações em que Deus simplesmente afirmou que mesmo o povo orando não ouviria. Israel tinha se envolvido em muita idolatria e Deus mostrou isto a Ezequiel 8 e no verso 18 Deus diz "Ainda que me gritem aos ouvidos em alta voz, contudo não os ouvirei". Orar a Deus tem de haver coerência quando diz que ama a Deus e não obedece aos seus mandamentos.

Jesus também orava continuamente. No jardim do Getsemani que ficava no sopé do monte das oliveiras, Jesus orou ao Pai pedindo que o livrasse daquele sacrifício, mas, que não se fizesse a vontade dele, mas, sim, a de Deus Pai "...e, ajoelhando-se, orou, dizendo: Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas sim a tua" (Lucas 22:41). Jesus demonstrou sua humanidade e dignidade divina concomitantemente se entregando à vontade do Pai. Quando já estava na cruz quase desfalecido Jesus intercedeu por aqueles que o crucificaram "Disse Jesus: Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem" (Mateus 23:34). Enfim, as últimas palavras de Jesus findando a missão aconteceram na cruz através de uma oração de entrega de si mesmo a Deus "Jesus, clamando em alta voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. Tendo dito isto, expirou" (Mateus 23:46).

A oração e súplicas são fundamentais no relacionamento com Deus que se permitiu acesso através da oração. No livro de Tiago 4:7 a 9 há uma orientação de submissão através da oração "Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Lavai, pecadores, as mãos, e, vós de espírito vacilante, purificai os corações. Afligi-vos, pranteai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza". Este texto demonstra também que todos têm livre acesso a Deus através da oração para restauração de si mesmo ou de outros através da intercessão, cuja eficácia depende muito do compromisso com Deus. Também no livro de Tiago 5:16 observo que “Muito pode a oração dos justos”. Neste caso, não se trata de pessoas perfeitas, mas, daqueles que foram justificados em Cristo e que tenham o nome escrito no livro da vida. Todas as orações dos justificados estão sendo contabilizadas na eternidade conforme o texto de Apocalipse 5:8 “E veio e tomou o livro da destra do que estava assentado sobre o trono. Logo que tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos”. Esta é uma visão de João sobre o porvir apocalíptico. Contrariamente ao que conhecemos, apocalipse não é somente sinônimo de guerra, destruição e fim dos tempos, mas, de recomeço de uma nova e restaurada vida para aqueles que perseveraram em oração.

 

Negar Jesus como o Messias

Algumas referências falam por si só. O que poderia ser acrescentado?

O anjo anunciou (Lucas 1:31)

"Conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, a quem chamarás JESUS".

Os discípulos reconheceram (Mateus 14:33)

"Os que estavam na barca, adoraram-no, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus".

As autoridades reconheceram (Marcos 15:39)

"O centurião, que estava em frente de Jesus, vendo-o assim expirar, disse: Verdadeiramente este homem era Filho de Deus".

Os demônios reconheceram (Mateus 8:29)

"Eles gritaram: Que temos nós contigo, Filho de Deus? vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?"

Com esta farta representatividade no reconhecimento, fica difícil não se convencer da messianidade de Jesus. Diante de Jesus até os demônios falam a verdade. Porém, a pessoa de Jesus não foi unânime e, mesmo sendo o Messias reconhecido pela maioria, os judeus ortodoxos não aceitaram e não aceitam Jesus como o Messias que seria o enviado escrito no Antigo e no Novo Testamento como mandamento de Deus. Chega a ser hilário, os demônios reconhecem Jesus, mas, os religiosos não o reconhecem. E no Pentateuco que compreende os primeiros cinco livros do Antigo Testamento e que são os livros sagrados dos judeus há alguma referência do Messias? Especificamente, no livro de Gênesis 3:15 o próprio Deus já prediz a vinda do Messias que seria aquele que feriria a cabeça da serpente e ele apenas o calcanhar como alusão a sua crucificação. No livro de Isaías 7:14 temos a profecia contra Israel e a Síria e Deus falando com o rei Acaz de Judá e o Senhor fala para ele pedir um sinal e o rei responde que não tentará ao Senhor e Isaías profetiza "Pois o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a jovem que está grávida dará à luz um filho e porá nele o nome de Emanuel" predizendo sobre a vinda do Messias. Ainda no livro de Isaias 9:6, o mais famoso texto sobre o advento do Messias que foi profetizado "Porque a nós nos é nascido um menino, e a nós nos é dado um filho: o governo está sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso, Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai, Príncipe da Paz".

Jesus veio e todos precisavam, crendo ou não, saber que ele era o Messias. Talvez o único texto em que Jesus assume nominalmente aconteceu no diálogo que teve no poço de Jacó com a mulher samaritana indagando-lhe se sabia que viria o Messias, Jesus confirmou respondendo: “Eu o sou, eu que falo contigo”. João 4:25,26. A profecia da vinda do Messias e o próprio Jesus assumindo sua divindade não há o que se discutir. Ele não poderia negar-se a si mesmo, afinal, para que sua mensagem tivesse credibilidade, precisava que fosse conhecido e reconhecido. Há outro texto em que ele quer saber o que dizem que ele é. Está escrito no livro de Mateus 16:15 quando ele próprio pergunta aos discípulos “...o que dizem que eu sou por aí?” Pedro se antecipa e responde que “...Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo!” Jesus enfatiza que é sobre esta declaração que edificaria a sua igreja e não em Pedro. Jesus é a pedra angular e o principal fundamento da igreja. Mas, logo depois, Jesus orientou os discípulos para que não falassem que ele era o Messias. Em seguida completou dizendo: "É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas e seja rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, que seja morto e ao terceiro dia seja ressuscitado". Este sentimento de Jesus reflete o texto já referido no começo em Gênesis 3:15 "...esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" em que o Messias viria do ventre de mulher e morreria, mas, ressuscitaria no terceiro dia. O profeta Isaías em diversos trechos proféticos cita a vinda do Messias e no capítulo 11 profetizando o reino de paz vindouro, muito antes do que conhecemos hoje predisse de qual linhagem e já desfazendo a distinção de raças muito preconizada pelos judeus "Virá um descendente do rei Davi, filho de Jessé, que será como um ramo que brota de um toco, como um broto que surge das raízes. O Espírito do SENHOR estará sobre ele e lhe dará sabedoria e conhecimento, capacidade e poder. Ele temerá o SENHOR, conhecerá a sua vontade e terá prazer em obedecer-lhe. Ele não julgará pela aparência, nem decidirá somente por ouvir dizer"

        Daniel após interceder por Jerusalém, o anjo Gabriel o visitou e disse que o povo teria setenta semanas para acabar com as transgressões e dar fim aos pecados antes da vinda do Ungido (Messias), o Príncipe, uma referência a Jesus Cristo "Saiba e entenda isto: desde que foi dada a ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até a vinda do Ungido, o Príncipe, haverá sete semanas e sessenta e duas semanas. As ruas e as muralhas serão reconstruídas, mas será um tempo de muita angústia" (Daniel 9:25).

         A vinda do Messias foi profetizada e era do conhecimento de todos, inclusive dos judeus que não pensavam num Messias que trouxesse paz através do amor, mas, através de guerras que eles conheciam muito bem.

 

Não reconhecer que Jesus é Deus

Aquele que nega o Pai e o Filho a bíblia afirma que é mentiroso e anticristo (I João 2:22). No meu blog tem uma reflexão falando sobre o anticristo e reitero que não se trata de uma pessoa com poderes especiais em oposição a Deus. Anticristo é um sentimento maligno e qualquer pessoa está sujeita a tê-lo, caso não tenha a proteção divina que é a única força capaz de deter o mal. Todo aquele que é contra Cristo, obviamente é o anticristo "...e todo o espírito que não confessa a Jesus, não é de Deus. Este é o espírito do anticristo, de cuja vinda tendes ouvido falar, o qual agora já está no mundo" (I João 4:3).

No primeiro capítulo de João diz que no "princípio era o verbo, e o verbo era Deus e o verbo estava com Deus" e no verso 14 lemos a afirmação de que "o verbo se fez carne e habitou entre nós". Ainda no livro de João 10:30 Jesus afirma: “Eu e o Pai somos um”. Algo que devemos ter em mente e crer no coração é de que a trindade divina é a manifestação trinitária de uma só pessoa. Isto foi provocado para revelar a diversidade nas ações de Deus para a compreensão humana na nossa dimensão. Deus é pai. Jesus é Deus agindo em carne para cumprir a missão de restauração. O Espírito Santo é Deus agindo onipresente e intimamente em nós. A obra de restauração da vida é uma obra distinta nas ações de uma só pessoa. Observe o texto de João 14:11 "Crede-me que eu estou no Pai, e o Pai em mim; ou senão, crede ao menos por causa das mesmas obras". Jesus falava com os seus discípulos pouco antes da sua condenação e respondia a uma indagação de Filipe pedindo a que lhes mostrasse o Pai. Este texto reflete muito a conexão trinitária através do Espírito Santo agindo no Pai ao mesmo tempo que no Filho. O que está no Pai é o Espírito Santo e quem está no Filho é o mesmo Espírito Santo. Conclui-se que se trata da mesma pessoa. Muitos supõem que o Espírito Santo surgiu somente no Novo Testamento durante o pentecostes, mas, o Espírito Santo está no pentateuco no processo da criação "No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém, era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, mas o espírito de Deus pairava por cima das águas" (Gênesis 1:1-2). Onisciência, onipotência e onipresença são atributos do Espírito de Deus ou Espírito Santo. Deus é chamado de Pai somente no Novo Testamento para definir a relação com o seu filho Jesus. Alguns afirmam que no Antigo Testamento o termo Criador e Chefe das tribos é o mesmo que Pai, mas, é uma definição equivocada exatamente por causa da composição trinitária com o Espírito Santo que o une ao seu filho Jesus Cristo. Interessante que no Antigo Testamento quando ainda Jesus ainda não tinha vindo à terra em forma humana no episódio em que Sadraque, Mesaque e Abede-Nego haviam sido jogados na fornalha  por não se prostrarem diante da estátua de ouro, o rei Nabucodonozor viu uma quarta pessoa e afirmou que parecia um filho dos deuses "Mas o rei disse: — Eu, porém, estou vendo quatro homens soltos, andando no meio do fogo! Não sofreram nenhum dano! E o aspecto do quarto é semelhante a um filho dos deuses" Daniel 3:25. Pode ser uma referência a Jesus já cumprindo a sua missão de salvação.

 

O pecado e o inferno não existem

A redenção proposta pessoalmente por Jesus é por causa do pecado que é a única coisa que nos mantem fora da presença de Deus, consequentemente, todos pecaram e foram condenados ao inferno. É o que lemos em Romanos 3:23 que por causa do pecado é que fomos expulsos da presença de Deus. No livro de I João 3:8 lemos que quem comete pecado é do diabo porque peca desde o princípio. Portanto, o pecado é fato.

Já o inferno não foi feito para o ser humano. Como pode Deus mandar para o inferno uma criatura sua? No livro de Mateus 25:41 Jesus falando em parábolas diz que o inferno foi preparado exclusivamente para o diabo e seus anjos. Ainda no livro de Mateus 7:13 Jesus define que o inferno, mesmo utilizando um sentido figurado, é um lugar com porta, provavelmente, de entrada somente. Jesus ainda nos exorta no livro de Marcos 9:43 afirmando que o inferno é um lugar cujo fogo nunca se apaga.

Pecado e inferno é uma relação de causa e consequência.

 

Salvação e fé pelas obras

Alguns devem estranhar, mas, o espiritismo é uma religião cristã. É uma linha religiosa que basicamente desenvolve sua espiritualidade exclusivamente pela caridade através das obras sociais. A bíblia não se refere a obras somente no aspecto social. A questão das obras é muito mais abrangente e inclui também as áreas de discipulado, aconselhamento, evangelismo e tudo que se fizer necessário no atendimento às pessoas. A questão das obras é muito delicada porque a fé sem obras é morta Tiago 2:26. Se tivesse somente este texto, com certeza a salvação daria a entender que é pelas obras. Mas, no texto de Efésios 2:8,9 diz que a salvação é pela graça, por meio da fé e não das obras para que ninguém se glorie. Isto derruba qualquer possibilidade de se garantir a salvação pelas obras. Fé e obras promovem a legitimidade da causa um complementando o outro. 

 

Purgatório para purificar os pecados e reencarnação

Na carta de Paulo aos Hebreus 9:27 diz que "Porquanto é ordenado aos homens que morram uma só vez (e depois disto vem o juízo),...". A morte não é o fim, mas, é o recomeço de outra vida, não na terra, mas, noutra dimensão, porém, espiritual. Os que não aceitaram pela fé a justificação em Cristo e morreram, infelizmente perecerão na condenação eterna e os justificados em Cristo viverão eternamente. João 8:36 diz que se o filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Não há a necessidade de uma “antessala do céu” de reavaliação dos pecados para purificação. Se Jesus libertou, verdadeiramente estarão perdoados os pecados e justificados em Cristo pela sua graça.

 

Salvação é morte para o mundo

Quando ainda criança entrando na fase da adolescência, despertou-me uma curiosidade. Se Adão e Eva pecaram, então, porque sofremos as consequências pelo pecado dos outros? Esta dúvida não é exclusividade minha. Milhões de pessoas tem este questionamento e torce para que haja uma resposta "oficial" bíblica que nos desvencilhe desta culpa. Afinal, faço tudo direitinho, sequer, "palavrão" eu falo e não desejo o mal para as pessoas, pelo contrário, só desejo o bem. Eu acho que sou uma boa pessoa e tenho plena convicção de que o céu é destino certo. Certo!? Errado! A vida não é tão simples como se imagina. Depois eu compreendi que uma vez a raça humana fora do Paraíso, tudo o que surgiu depois disto está no contexto do pecado. As crianças nascem em pecado, mesmo não tendo pecado. A partir do momento que a alma (a mente) começa a ter consciência do pecado, então, é necessário decidir pelo caminho do bem ou do mal. Para retornar a presença de Deus, não basta rejeitar o mal, é preciso compreender e aceitar a Deus e compreender o evangelho de salvação.

Explico. Primeiro que o pecado original foi cometido pela raça humana representada por Adão e Eva que estavam no Paraíso e gozavam de todos os benefícios, além de ter a convivência com o próprio Deus que de vez em quando passeava e verificava se tudo estava bem.

Enfim, chegou o dia fatídico que tudo literalmente veio a perder. O pecado entrou na história da criação e seduziu a raça humana que foi expulsa do Paraíso e o corpo imortal foi transformado na sua essência em corpo mortal. Houve uma grande comoção no céu por causa disto. Deus ficou muito furioso e condenou a raça humana. Sair da presença de Deus é o mesmo que ser destinado ao inferno. Não existe neutralidade ou um destino alternativo.

Tornamo-nos seres humanos com início e fim. Só que este fim, não é exatamente o fim absoluto. Temos uma vida eterna ou morte eterna pós vida na terra. Diante disto, Deus usando de misericórdia, precisou se empenhar pessoalmente e se encarnar em Cristo para restaurar a sua obra primária que é toda a criação. Quem moveu Deus para tal missão foi o seu próprio amor "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que ofereceu o seu único filho para que todo aquele que nEle crê não pereça no inferno, mas, tenha a vida eterna" (João 3:16).

Como seria este processo de resgate? O ser humano estava morto e condenado à perdição eterna. Precisava que alguém sem pecado morresse pelos nossos pecados. Estávamos mortos para Deus e precisava que alguém resgatasse a nossa vida. Não existe perdão sem pecado. Somente através do perdão é que os pecados adquiridos seriam limpos da nossa vida e nasceríamos de novo justificados em Cristo. Jesus é aquele que foi enviado para cumprir esta missão de resgate para nos dar vida novamente. O pequeno trecho do texto de Romanos 8:10-11 retrata a nossa condição e nos traz integralmente o antes e o depois da conversão em Cristo Jesus. "Mas, se Cristo está em vocês, o corpo está morto por causa do pecado, mas, o espírito está vivo por causa da justiça. E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vocês". É exatamente isto e não precisa acrescentar mais nenhuma explicação. Completo com outro texto também de Paulo aos Gálatas 2:20 que diz: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou quem vive, mas, Cristo vive em mim". Todas as atitudes, comportamento e pensamentos fazem parte da nova criatura em Cristo. Tudo o que fizer, pensar ou falar deve refletir esta condição vivificada em Cristo. 

 

Tradição e mandamento Mateus 15:3

           A tradição judaica, talvez seja a mais antiga da história. Esta tradição tem raiz nos mandamentos do Senhor quando ainda não haviam atribuições organizadas e definidas. Era um povo nômade e fiel a Deus. No desenrolar da história, muitos costumes se tornaram tradições que foram sendo adotadas nas tribos que era como se identificava cada família. Neste tempo, parece que nem mesmo Deus não se importava com muitas das barbáries ocorridas entre os reinos. Era normal as conquistas através das guerras e Deus mandava destruir uma cidade inteira porque eram desobedientes. Haviam muitas guerras e prostituição principalmente, mas, o que Deus declaradamente não tolerava era a idolatria e infidelidade ao seu nome. Neste tempo não existia "estado laico". Os governos eram declaradamente religiosos onde os reis eram assessorados pelos sacerdotes e orientados pelos profetas que, antes de qualquer decisão difícil, eram consultados. Mesmo com esta característica, muitos reinos foram literalmente abandonados por Deus porque os reis, principalmente, o abandonaram primeiro se voltando para a idolatria. O contexto era muito diferente e algumas coisas ainda não haviam sido definidas. Diante de um mundo ainda em formação nas suas bases organizacionais, o povo criava seus próprios costumes que, posteriormente tornaram-se tradições da religião. Havia inúmeros mandamentos de Deus com o objetivo de orientar nas decisões e nos sentimentos também. O povo precisava sempre mostrar a quem serviam e o amor a Deus tinha de ser demonstrado claramente e se tornou estranho e confuso por causa da inserção de alguns outros deuses em formas diversas e a prática e devoção a quem criou o céu e a terra e também o ser humano estavam sendo abandonados. Somente através da obediência aos mandamentos de Deus que se fazia presente e atuante na vida do seu povo é que seria possível retornar à condição de povo escolhido.

        Jesus veio cumprir os mandamentos antigos e trazer um novo mandamento "Um novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros" (João 13:34). Contrariamente ao que os sacerdotes julgavam, Jesus não veio substituir os antigos mandamentos. No início do seu ministério viu que muitas práticas eram absurdas. Jesus conhecia a todos, inclusive os sacerdotes, os fariseus e os escribas que eram os principais representantes da religião que falava e agia em nome de Deus. O que falavam e como se comportavam era estranho para Jesus. Por isto que ele afirmou que não veio mudar, mas, cumprir a lei de Moisés, como resposta ao abandono do evangelho valorizando mais a tradição dos homens que veio desde o Antigo Testamento. 

         Alguém já observou na vestimenta das autoridades religiosas? Nada tem a ver com mandamento ou visão sobrenatural. A roupa utilizada pelas autoridades de muitos segmentos religiosos é típica dos países de origem. Apropriaram-se de um fator cultural e introduziram como doutrina. Caso não utilize, é considerado quase pecado. Muitos outros elementos culturais foram introduzidos e assimilados, inclusive nas cerimônias oficiais das religiões.

        Aconteceu um embate muito interessante exatamente sobre este problema dos costumes e da tradição entre Jesus e os fariseus e escribas. Leia o texto de Mateus 15:2-3 Questionou os fariseus e escribas: "Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos quando comem pão". Respondeu-lhes Jesus: "E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?". E na sequência no verso 6 Jesus "joga na cara" dos fariseus e escribas "Assim abandonam a palavra de Deus por causa da vossa tradição". Jesus não estava reescrevendo os mandamentos de Moisés, mas, estava dando a conotação correta. Os sacerdotes, os fariseus e os judeus que conheciam os mandamentos amavam, porém, do jeito errado conforme a justiça dos homens. Todos que não eram judeus cumpridores da lei eram considerados inferiores. Jesus entrou na história para resgatar o significado dos mandamentos. Leia o texto logo depois que falou sobre as bem-aventuranças, "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim revogar, mas cumprir" e depois complementou "Pois vos digo que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus" (Mateus 5:17 e 20).

        Devemos ter muito cuidado em viver em sintonia com o evangelho de Deus. Não basta cantar ou frequentar uma igreja. É preciso ter coerência e integridade do evangelho agradando-lhe em tudo conforme o apóstolo Paulo escreveu aso Colossenses 1:10 "...de sorte que andeis de uma maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus...". 

 

Igreja, templo, religião e adoração

O corpo é o Templo - João 2:21

O nosso corpo é o templo do Espírito Santo - I Coríntios 6:19

No Antigo Testamento a dúvida era a qual povo "pertencia" o verdadeiro Deus. Como se Deus pertencesse a alguém. O correto é seguir o que bíblia diz sobre o povo escolhido. Quem escolhe é porque tem direito adquirido. Deus se permitiu adquirir o direito de possuir o seu povo escolhido. Afinal, era sua própria criatura e Deus estava empenhado pessoalmente em resgatar corações desiludidos e que perderam a condição de adoradores. No Antigo Testamento aconteceu desta forma, Deus escolhendo o seu povo e dando a direção correta. Muitas coisas aconteceram e, na nossa visão atual, seriam consideradas absurdas. Imagine um mundo pós-pecado com todas as suas implicações e complicações tentando ser viável? Os absurdos aconteceram porque o contexto era igualmente absurdo. Violência aconteceu porque o mundo era extremamente violento. O que ainda permanece é a insistência do ser humano em adorar alguém ou alguma coisa. Forjavam ídolos de metal, de madeira ou qualquer material para se sentirem perto de Deus.

O povo de Deus era nômade em busca de sua identidade e de suas terras, mas, Deus sempre estava presente cuidando do seu povo escolhido. Este povo ansiava pela terra prometida e desejavam um lugar exclusivo onde poderiam adorar a Deus com liberdade.  

Após 480 anos da libertação do povo hebreu da escravidão do Egito, o rei Salomão construiu o mais famoso dos templos que media pouco menos de 300 m². Mesmo com toda pompa e metais preciosos aplicados no ornamento e construção, Deus exortou a Salomão dizendo: "Quanto ao templo que tu estás edificando, se andares nos meus estatutos, e executares os meus juízos, e guardares todos os meus mandamentos, andando neles; estabelecerei contigo a minha palavra que falei a Davi, teu pai. Habitarei no meio dos filhos de Israel, e não abandonarei o meu povo de Israel" (I Reis 6:12). Lendo o texto, parece que Deus frustrou a expectativa que Salomão tinha quando Deus soubesse do templo. Provavelmente ele esperava que Deus ficasse admirado. Mas, não foi isto o que aconteceu. O mais importante para Deus não era e nunca foi a imponência do edifício, mas, a obediência aos mandamentos. Deus prometeu estar presente, não no templo, mas, na promessa que fez ao seu antecessor, o seu pai e rei Davi. O templo deveria ser respeitado, mas, jamais adorado.

E assim, o povo escolhido agora tinha o seu templo de adoração. E o judaísmo tornou-se a religião oficial liderada pelos sacerdotes e sumo sacerdotes. Esta tradição se tornou muito forte e absoluta com muita influência até nos governos. Devido a isto, perdeu um pouco do sentimento genuíno de adoração. Esta situação incomodava a Deus e se manteve por milênios até a vinda do Messias prometido.

No Novo Testamento com a vinda do Messias, a igreja oficial dos sacerdotes foi questionada e desmascarada por Jesus. Então, surgiu a dúvida de qual é a igreja verdadeira ou religião? Esta dúvida é muito antiga e vem desde os tempos das "históricas batalhas bíblicas". Ainda não havia a concepção de igreja instituição e nem Igreja como povo escolhido. O povo de Deus era reconhecido pela obediência aos mandamentos e submissão aos profetas. Muitos deles foram rejeitados e suas mensagens foram desqualificadas pelo próprio povo. Nos textos do Antigo Testamento percebe-se que, quando não há um deus de fato, qualquer um serve. Daí, forjavam os seus próprios deuses porque o importante era crer numa divindade palpável, mesmo que fictícia e seguir por qualquer caminho. Israel como povo escolhido e sabido de quem era o Deus verdadeiro, muitas vezes demonstrava estar perdido nas suas idolatrias e em muitos casos o próprio Deus os abandonava deixando-os a própria sorte. Muitas batalhas foram perdidas porque Deus os abandonou. Com a advento da graça oferecida por Jesus, alguns fundamentos precisavam ser esclarecidos.

Ninguém tem mais dúvidas de quem seja o verdadeiro Deus. Então, onde devemos adorá-lo? Antigamente o adorava nas tendas no deserto e, posteriormente, nos templos dedicados exclusivamente para este fim. Jesus redefiniu o conceito de templo e com a justificação pela graça, o corpo tornou-se o templo do Espírito Santo. Agora o corpo de Cristo é a Igreja agindo com seus membros e obedecendo aos mandamentos de Atos e no nome de Jesus curarão enfermos e expulsarão demônios. Templo, corpo e Igreja se fundem nos seus significados conforme a bíblia. A única dúvida que ainda persiste é qual é a verdadeira denominação ou simplesmente igreja. Jesus foi enfático de que a verdadeira religião é atender as viúvas e os órfãos e não se corromper com o mundo (Tiago 1:27). Esta classe social é desamparada desde a muito tempo, cujo problema social de desamparo às viúvas e os órfãos é muito antigo. O rei Davi já havia levantado um clamor à Deus denunciando estas ações dos opressores: "Massacram o teu povo, Senhor, e oprimem a tua herança; matam as viúvas e os estrangeiros, assassinam os órfãos..." Salmos 94:5-6. O profeta Isaías profetizando contra Israel sobre quem decreta leis injustas e que oprimem o pobre exemplificado nas viúvas e nos órfãos "Vocês não defendem os direitos dos pobres nem as causas dos necessitados e exploram as viúvas e os órfãos". Era uma classe representativa da classe mais carente da sociedade muito desassistida na época. Jesus com muita sabedoria relembrou e desafiou novamente a Igreja demonstrando o genuíno amor ao próximo. Com estas palavras ele simplesmente desconstruiu os templos suntuosos dos homens que abrigam suas religiões estritamente orgânicas e lançou o desafio que serve para a igreja contemporânea no cumprimento da missão integral.

O corpo é a Igreja em Cristo agindo e fazendo discípulos. Lembrando que a igreja instituição é constituída de pessoas imperfeitas, machucadas, desiludidas, infelizes, mas, também há pessoas bem resolvidas emocional e socialmente e um dando suporte ao outro convergindo todas as ações para o bem comum. As diferenças são equalizadas na justificação em Cristo, sendo que ele mesmo definiu que a igreja instituição é casa de oração para todos e um lugar adequado para todas as pessoas de todos os tipos sem distinção de opções de vida. Enquanto, o templo é o corpo restaurado e justificado pela graça em Cristo Jesus onde habita o Espírito Santo. Mas, se somos o templo, então, como devemos adorar a Deus?

Primeiramente, o que é adoração? Podemos dizer que é a ação de adorar. E não é somente aquele tempo de cânticos de louvor que provocam arrepios e onde são ditas palavras bonitas e frases de efeito que, muitas vezes, são comprometedoras e que, de fato, deveriam gerar compromisso. É exatamente neste ponto que existe a controvérsia. Qual o compromisso da adoração? Como a nossa regra de fé é a Bíblia, vamos ler o que ela nos diz. O apóstolo Paulo escreveu em I Coríntios 10:31 “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus”. Acho que Paulo não deixou nenhuma opção do que seja exatamente adorar à Deus, senão, em tudo aquilo que fizermos devemos adorá-lo. Quando estamos cantando em louvor à Deus estamos na verdade afirmando a nossa adoração e declarando com a nossa boca que adoramos somente à Deus, poderíamos colocar, como algo abstrato. Paulo, no texto de Coríntios se referiu a algo concreto e Deus é por aquilo que Ele faz, desta forma Ele se torna conhecido. Quando falamos que amamos à Deus, isto é algo abstrato, mas quando o demonstramos na prática e concretizamos ou damos forma a nossa fé através do nosso amor por Ele, demonstramos isto em atitudes. Quando cantamos que adoramos à Deus estamos reafirmando algo que já aconteceu que é o estado concreto que pode ser transformação de vida, cura, libertação, salvação e tantas outras maravilhas que somente quem merece adoração pode realizar que é Deus. Uma vida consagrada à Deus converge intencionalmente todas as suas atitudes a adoração. Estas atitudes nada mais é que realizar a obra do Senhor a quem adoramos, afinal, se adoramos, então demonstramos na prática esta adoração. Adorar à Deus somente quando se vai à igreja é pura hipocrisia. Portanto, adorar à Deus deve ser em qualquer lugar e em qualquer coisa que estiver fazendo. Se demonstrarmos que adoramos à Deus não somente de palavras, mas de fato, então, seremos o sal da terra e íntegros na adoração. Na carta de Paulo aos Colossenses 01:10 aprendemos que "...para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus,...".

Digo que adoração não é um momento e muito menos tem uma "cara", mas é uma postura contínua. É o reconhecimento da soberania de Deus. Dentro da casa de oração a adoração é uma devoção intencional explícita. Fora dela é submissão implícita.

A quem devemos adorar?

"Respondeu-lhe Jesus: Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás..." Lucas 04:08.

Esta postura de adoração é um reflexo da nossa comunhão com Deus que nos oferece a misericórdia. Jonas quando ainda estava dentro do grande peixe, lembrou de quando adorava a Deus e orou perguntando a Deus se voltaria ao templo para adorar. Leia os textos de Jonas 2:4-7 "E eu disse: Lançado estou de diante dos teus olhos; como tornarei a olhar para o teu santo templo?" e o verso 7 "Eis que quando minha vida já se ia apagando, eu me lembrei de ti, Yahweh, e a minha oração subiu à tua presença, ao teu santo Templo". Não tem como chegar-se a presença de Deus sem a postura de adorador. Deus precisa saber quem está falando com ele. Jonas adorou a Deus ali naquele lugar absolutamente inusitado e clamou por misericórdia.

O Deus criador do céu, da terra e de tudo o que nela há. Somente Ele é merecedor de toda a honra, de toda a Glória e de todo o Louvor.

 Onde e quando devemos adorar a Deus?

 "Bendirei ao Senhor em todo o tempo; o seu louvor estará continuamente na minha boca". Salmos 34:01. 

Jesus estava indo em direção a Galileia e parou para descansar e beber água em Samaria. Uma mulher perguntou-lhe se era para adorar a Deus no monte que sua família costumava frequentar ou em Jerusalém conforme os judeus falavam? "Declarou Jesus a ela: Mulher, podes crer-me, está próxima a hora quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos..." João 4:21-22. Uma observação, esta mulher era samaritana e adúltera que são três condições numa pessoa que os judeus evitavam se relacionar, mulher, samaritana e adúltera. Jesus também tinha a missão de quebrar estes muros culturais e do preconceito. Todos nós, independentemente da situação, estamos em pé de igualdade.

 Na Bíblia tem relatos de adoração em circunstâncias e lugares estranhos, no entanto, foram atos genuínos e espontâneos de adoração. Quando Jesus nasceu os pastores vieram e o adoraram Mateus 02:11. No barco em alto mar os pescadores o adoraram Mateus 14:33. Imagine em meio à turbulência do mar e os pescadores ignoraram totalmente a situação e reconheceram que só o Senhor é Deus e o deveriam adorá-lo. Percebemos que em qualquer lugar e a qualquer hora do dia ou da noite devemos ser adoradores porque nós somos o Santuário de Deus "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o seu Espírito habita em vós?" I Coríntios 03:17. Sendo Santuário de Deus e o "habitat" do Espírito Santo, então, em qualquer lugar e a qualquer momento devemos adorar a Deus.

 Como reconhecer os verdadeiros adoradores?

 "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem". João 04:23

 O que Jesus quis dizer é que muitos o adoram com a boca, porém, o coração onde existe a intenção e a disposição está longe, ou seja, os objetivos das ações estão distantes do propósito. Adorar em espírito e em verdade é a mente e o coração dedicados no mesmo propósito de adoração.

 Adoração a Deus é algo sublime, porém:

 Adoração sem reconhecimento que Jesus é Salvador não é adoração. I Timóteo 01:15

 Adoração sem arrependimento de pecados não é adoração. Lucas 15:10

 Adoração sem conhecimento da Palavra de Deus não é adoração. Colossenses 03:16

 Adoração sem propósito em servir não é adoração. Lucas 04:08

 Adoração sem integridade no comportamento não é adoração. Provérbios 02:06,08

 Adoração sem meditar na palavra não é adoração. Mateus 23:25,26 II Corintios 04:16

 Adoração sem coração quebrantado não é adoração. Salmo 51:17

 Adoração sem proclamação do evangelho não é adoração Isaias 61:01

 Adoração sem frutos do espírito não é adoração Gálatas 5:22

Qualquer ação deverá ser em adoração ao Senhor Deus. Tudo o que se faz aqui na terra deve ser para adoração por isto é que o nosso alvo não deve ser pessoas ou posições, senão a Deus. Tudo o que se fizer, faça para Deus.

 "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional". Romanos 12:01. Adoração intencional reconhecendo que Deus é soberano!

 

Apóstolos

Esta é uma dúvida que persiste e alguns para alimentar suas aspirações seja por desconhecimento ou interpretação equivocada das escrituras se auto declararam apóstolos. Será que ainda existe ou foi parte do processo inicial nos fundamentos da igreja? 

Onde tudo começou? Lucas 6:13 nos trouxe a contento "Logo ao nascer do dia, Jesus convocou seus discípulos e escolheu dentre eles, doze, a quem também designou como apóstolos:...". Os apóstolos foram designados como sendo os primeiros a proclamar o evangelho e lançar os fundamentos da igreja. Paulo foi também chamado posteriormente para exercer esta missão, inclusive, sendo um dos mais influentes. Na sua primeira carta aos Romanos 1:1 ele se apresenta como sendo chamado para ser apóstolo. Jesus quem o chamou na estrada de Damasco. Conforme ele foi exercendo o seu apostolado com grande inserção dos seus escritos nas principais igrejas e outras tantas fundadas por ele mesmo em cidades influentes da época, devido a isto, as pessoas começaram a superestimá-lo. Em dois episódios envolvendo Paulo, ele cita a consideração de super apóstolos à sua pessoa. Nos textos de II Coríntios 11:5 e 12:11 eu acho que os ouvintes de Paulo o consideravam como um dos super apóstolos como ele mesmo diz, mas, ressalva que não se considera inferior a nenhum deles, frisa que isto não é relevante assumindo que, de fato, nada é. Não seria uma autocomiseração, mas, o orgulho e a vaidade são campos perigosos. Paulo não foi designado nominalmente por Jesus juntamente com os demais, mas, foi designado para lançar também os fundamentos da igreja. Este foi o último episódio sobre o chamado apostólico, não há outra citação doutrinária e nem histórica para o apostolado. A referência que Paulo faz consta no livro de Efésios 4:11 “Ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”. Este último chamado necessariamente o pastor que cuida da igreja não precisa ser mestre que ensina a igreja e nem o mestre precisa ser pastor, mas pode ser ambos, caso a pessoa tenha, além do chamado, a capacidade em exercer ambas as funções. Alguns perguntarão sobre a referência de bispo na bíblia onde se encaixa. No livro de atos, Paulo quando se despede dos companheiros antes de prosseguir viagem até Jerusalém onde queria chegar antes do pentecoste, ele coloca bispo e pastor como sendo a mesma função. O termo pastor é uma alusão a rebanho e onde os crentes são as ovelhas. Acho que uma das primeiras menções do próprio Deus se referindo a pastores que cuidam da igreja ou do seu povo foi a profecia de Jeremias que falou exatamente sobre os maus pastores "Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto, diz o Senhor" Jeremias 23:1. O nome "técnico" do responsável da igreja é o bispo que é um termo derivado do latim "episcopus" que significa literalmente "supervisor". Leia o texto: "Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os designou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue". Atos 20:28

Quanto a Matias que foi chamado para substituir Judas Iscariotes, creio que tenha sido um grande equívoco dos outros onze. Apesar de buscarem orientação de Deus através da oração a este respeito, lançaram sorte sobre José (Barsabás) e Matias. O único critério para a escolha teria de ser alguém que estava junto com os apóstolos desde o começo e que também tenha convivido com Jesus. A sorte recaiu sobre Matias que foi o escolhido. Considerando também que isto é uma atribuição direta de Deus que, talvez quisesse mesmo que fossem doze, então, o décimo segundo apóstolo foi Paulo. 

O chamado apostólico de Jesus a pessoas comuns e pecadoras, eu acho que seja o que tenha alimentado ainda mais o furor dos sacerdotes porque foram preteridos por Jesus na escolha dos doze discípulos e que, posteriormente os denominou apóstolos. Imagine a mente dos sacerdotes e anciãos quando Jesus se apresentou como o Messias e souberam que escolheria os seus discípulos para caminhar com ele? Afinal, eles se colocavam como representantes diretos de Deus. Como assim, não escolheram os sacerdotes como apóstolos? Eles eram doutores e mestres da lei e conheciam tudo sobre Deus! Até ajudariam Jesus em alguns questionamentos e nem precisaria utilizar de tantas parábolas. Seria uma escolha óbvia porque eram candidatos naturais ao apostolado. Os sacerdotes sempre perseguiam Jesus em tudo o que ele fazia. Viviam numa relação com Jesus de estratégia em desqualificá-lo, pois, não aceitavam este desaforo. Pode ser que eles até aceitariam a escolha como apóstolos como forma de estar perto de Jesus e saber o que ele faria para desconstruir o seu "evangelho fascista". Mas, como sempre, Jesus surpreendeu e decepcionou os seus desafetos. Eu acho que quando Jesus escolheu doze pessoas comuns, simples e imperfeitas, os sacerdotes sentiram o orgulho ferido o que brotou uma semente de vingança.

Um grande questionamento, mas, que passa despercebido é o fato de Jesus não ter chamado o seu próprio irmão por parte de mãe, Tiago. Seria uma escolha óbvia, não somente por ser irmão de Jesus, mas, pela capacidade de liderança. Tiago foi líder da igreja de Jerusalém e um dos grandes influentes quando se redigiu a carta do concílio de Jerusalém onde estavam presentes, dentre outros, Pedro e Paulo. Percebe-se no desenrolar daquela grande reunião que todos se submeteram as palavras finais de Tiago a qual foi baseada a carta conciliar. Alguns relatos de notoriedade de Tiago foram apresentados nas cartas aos Gálatas 2:9 quando Paulo o apresenta juntamente com João como colunas da igreja. Aliás, Paulo quando chega a Jerusalém, a primeira coisa foi se encontrar com Tiago (Atos 21:18). Para finalizar, Paulo no texto de I Coríntios 15 no verso 7 diz que Jesus apareceu para o seu irmão Tiago e aos apóstolos. Aqui claramente Paulo distingue Tiago dos apóstolos. Não há menção de que o fato de não ter sido escolhido apóstolo o incomodasse, mas, os relatos confirmam que foi um dos grandes líderes nos fundamentos da igreja que os apóstolos implantaram.

Nos dias atuais tem alguns que equivocadamente se autodenominam apóstolos e se esquecem da história de vida deles. No livro de Mateus 10:17 o próprio Jesus alertou os apóstolos: “Tenham cuidado, pois os homens entregarão vocês aos tribunais e os açoitarão nas sinagogas”. E foi exatamente o destino de 10 deles. Estes homens a quem Jesus se referiu, provavelmente sejam os sacerdotes porque o açoite seria na sinagoga que era o templo do judaísmo. Será que eles não tomaram cuidado, por isto que tiveram um fim trágico? Com exceção de João (apóstolo) que morreu idoso na ilha de Patmos e de Judas que se suicidou, os demais foram literalmente torturados e mortos por exercerem o apostolado. Uma curiosidade, João Batista, mesmo tendo batizado Jesus, não foi designado como apóstolo, mas, foi considerado por Jesus como o maior dentre os nascidos de mulher (Mateus 11:11), porém, isto foi uma alusão a hierarquia do Reino dos céus em que qualquer um é maior que todos os nascidos de mulher. João Batista teve uma morte trágica por mero capricho da filha de Herodes, sendo decapitado e a cabeça foi dada num prato como um presente de aniversário. Vamos a história que se encontra em Marcos 6:17:27. João era muito estimado pelo rei Herodes Antipas que o reconhecia como profeta de Deus e tinha uma filha com Herodias, mas, que era esposa do seu irmão Filipe. João sempre exortava o rei dizendo que não era certo conviver com a mulher do seu irmão e todos da corte sabiam disto. Herodias ficou furiosa com João. No dia do aniversário da filha, o rei Herodes falou que poderia pedir qualquer coisa que ele daria. A filha pediu a cabeça de João Batista num prato, por influência da sua mãe Herodias que o detestava por falar a verdade na frente de todos. Estes são os heróis apostólicos. Todos conviveram com Jesus e isto não os seduziram porque a missão era lançar os fundamentos da igreja e exortar aqueles que pregassem outro fundamento se não fosse Cristo. Em Efésios 2:19-20 o apóstolo Paulo já definiu a função do apostolado: "...sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra angular desse alicerce".

 

DESTINO (PROVÁVEIS) DOS APÓSTOLOS

PAULO Foi decapitado em Roma por ordem de Nero.

MATIAS, que ficou no lugar de Judas Iscariotes, foi martirizado na Etiópia.

SIMÃO, o zelote, foi crucificado.

JUDAS TADEU morreu como mártir pregando o evangelho na Síria e na Pérsia.

TIAGO (o mais jovem), pregou na Palestina e no Egito, sendo ali crucificado.

MATEUS morreu como mártir na Etiópia.

TOMÉ pregou na Pérsia e na Índia, sendo martirizado perto de Madras no monte de São Tomé.

BARTOLOMEU serviu como missionário na Armênia, sendo golpeado até a morte.

FILIPE pregou na Frígia e morreu como mártir em Hierápolis.

ANDRÉ pregou na Grécia e Ásia Menor. Foi crucificado.

TIAGO (o mais velho) pregou em Jerusalém e na Judéia. Foi decapitado por Herodes.

SIMÃO PEDRO pregou entre os judeus chegando até a Babilônia, esteve em Roma, onde foi crucificado com a cabeça para baixo.

JOÃO morreu de causas naturais com aproximadamente 100 anos.

 

Submissão da mulher e ministério pastoral feminino

        Este é um tema polêmico porque envolvem culturas milenares que regem a sociedade. No tópico anterior falei sobre tradição e costumes que ainda são muito valorizados pelos religiosos. Este é o principal problema que gerou esta barreira à inclusão e consideração do ministério feminino. Os costumes ainda favorecem a construção de barreiras.

        Vamos lá do início de tudo. Biblicamente, a mulher é ajudadora do homem. Devido a isto foi considerada equivocadamente como inferior ou subalterna. Em todo o Antigo Testamento a mulher é considerada quase como um “produto”. Leia o texto de II Crônicas 11:23 quando Roboão havia sucedido Salomão no reinado de Israel e o relato bíblico afirma que Roboão procedeu com sabedoria “Roboão também teve muita sabedoria em espalhar os seus outros filhos pelas cidades-fortaleza de Judá e de Benjamim. Deu-lhes grandes quantidades de alimentos e também arranjou muitas mulheres para eles”. Em outros relatos, muitas vezes o pai oferecia uma de suas filhas para alguém como compensação e a pessoa poderia escolher uma delas. Um caso de estupro bem famoso na bíblia aconteceu com Diná, filha de Jacó. Ela foi visitar algumas amigas e Siquém que morava na região estuprou Diná e se apaixonou por ela e foi falar com Jacó “Peçam os presentes que quiserem e digam quanto querem que eu pague pela moça, mas deixem que ela case comigo”. Como assim, estuprou e ainda a trata como objeto de compra? Estes são apenas dois dos absurdos ocorridos no mundo do Antigo Testamento no trato com as mulheres. Vamos aos textos de onde tudo começou e houve a má interpretação para esclarecer este equívoco absurdo Gênesis 2:18, 23-24.

"Disse mais Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.

Então disse o homem: Esta agora é osso dos meus ossos e carne da minha carne; ela será chamada varoa, porque do varão foi tomada.

Portanto deixa o homem a seu pai e a sua mãe, e se une à sua mulher; e são uma só carne"

        Conforme estes textos, não há homem superior ou mulher inferior. Tornaram-se uma só carne. Isto significa absolutamente iguais varão e varoa. Porém, após a queda e consequente expulsão do paraíso, tudo foi desconfigurado e não houve uma nova tratativa, mas, uma nova configuração em que tudo mudou. Dois tipos de punições foram impingidos. Agora todo o esforço era para sobrevivência. Ao homem determinou o esforço e o suor do rosto para poder comer (Gênesis 2:17 e 19):

"...em fadiga tirarás dela o sustento todos os dias da tua vida" 

"No suor do teu rosto comerás o teu pão..." 

        Para a mulher ficou a dor de parto e a submissão ao marido (Gênesis 2:16).

"...o teu desejo será para teu marido, e ele te dominará".

Tudo mudou e sofreu um revés no relacionamento. Creio que, mesmo com toda esta mudança, sem entrar no mérito porque o objetivo não é exatamente este, mas, considero que as circunstâncias devam ser avaliadas na questão da submissão sem generalizar. Deus não estendeu a sua determinação conjugal a outros níveis de relacionamento entre homem e mulher. Primeiro que precisa esclarecer é que a submissão é da mulher ao marido. De forma alguma é da mulher ao homem. Noutras palavras, houve uma generalização que favoreceu os oportunistas, no caso, o homem. Esta questão não pode ser colocada desta forma. Infelizmente, esta submissão determinada por Deus tornou-se cultural e foi considerada em todas as camadas sociais e em todos os níveis de relacionamento. No início, quando havia pouca gente, praticamente todas as mulheres eram casadas ou com compromisso conjugal firmado com o homem. Obviamente que todas as mulheres teoricamente eram submissas ao marido, mas, não ao homem. A mulher solteira, era muito mal vista, tipo, ninguém quer casar com ela como se a decisão fosse do homem em escolher. Considerando também que a mulher não é um objeto que fica exposto na prateleira para alguém interessado. Para se ter uma ideia do machismo predominante, leia esta história de Abimeleque rei de Israel e que era filho da concubina de Gideão "Depois Abimeleque foi a Tebes, cercou a cidade e a conquistou. Em Tebes havia uma forte torre. Todos os homens e mulheres e os líderes da cidade correram e entraram nela. Fecharam as portas e foram para o terraço. Abimeleque avançou, atacou a torre e chegou até a porta, para pôr fogo nela. Mas uma mulher jogou uma pedra de moinho na cabeça dele e quebrou o seu crânio. Aí ele chamou depressa o moço que carregava as suas armas e disse: — Tire a sua espada e me mate. Não quero que digam que fui morto por uma mulher. Então o rapaz tirou a espada e o matou".  Era vexatório ser morto por uma mulher. Porque? Puro machismo. Isto perdurou por milênios. Até pouco tempo, a mulher ainda tinha que se submeter ao homem independentemente se era marido ou não. A emancipação feminina na década de 60 trouxe um avanço considerável e as mulheres começaram a ocupar os seus lugares na sociedade por pleno direito iguais aos homens. Ainda existem estruturas machistas, principalmente nos países totalitários com regime fechado em que as mulheres são submetidas aos caprichos do homem. Esta cultura é milenar, por exemplo, no livro de Ester 1:10 a 22 o rei Assuero (Xerxes I - nome grego) foi desafiado pela rainha Vasti que se recusou em comparecer ao banquete oferecido a muitas autoridades. O rei ficou furioso e, sem saber o que fazer, foi aconselhado por um dos seus príncipes que baixasse um decreto de que toda mulher deveria ser submissa ao marido, caso a mulher tivesse voz ativa, "haveria muito desprezo e indignação ao homem", obviamente. O decreto terminava assim: "...que cada homem fosse senhor em sua casa e que a última palavra sempre fosse dele". O homem sempre se comportou como oportunista e, a maioria mesmo tendo boas intenções, interpretou o mandamento de forma equivocada.

E na bíblia, quais as referências de liderança da mulher? Temos diversas grandes mulheres e profetisas. Miriã, Ana, Hulda e Débora que era também juíza de Israel. Apesar de terem sido poucas vezes citadas, estas duas últimas tiveram um trabalho fundamental e direcionados pelo próprio Deus. A primeira delas é a profetisa Hulda que durante a reforma religiosa do rei Josias profetizou o declínio de Jerusalém e de Judá por causa da profanação do templo do Senhor (II Reis 22:14). Observo que o rei Josias não pediu diretamente que consultasse a profetisa. Neste tempo havia os profetas contemporâneo a Hulda, Jeremias e Sofonias e, talvez a escolha de Hilquias, que foi encarregado de procurar os profetas, se deva porque Hulda era esposa do costureiro das vestimentas do templo. Mas, sabemos que Deus usa quem ele quer e, com certeza foi direção de Deus para que Hulda profetizasse. O rei Josias sabia que a situação era muito grave e já esperava o pior como foi profetizado e não se incomodou pelo fato de ter sido uma mulher que profetizou e, mesmo sendo rei, aceitou com muita humildade.

Outro personagem do sexo feminino atuando numa área predominantemente masculina foi a juíza Débora de Israel. Inclusive foi considerada como a “mãe de Israel” "Nas cidades de Israel não havia ninguém; elas ficaram vazias até que você, Débora, veio, para ser mãe de Israel" (Juizes 5:7). Israel vivia numa época em que os juízes governavam antes da implantação da monarquia e os sacerdotes estavam espiritualmente desacreditados. Por exemplo, Sansão foi um destes juízes. Débora era também profetisa “Débora, mulher de Lapidote, era profetisa. Era também juíza dos israelitas naquele tempo”. Os dois episódios mais relevantes foram o reagrupamento das tribos de Israel e na batalha contra os cananeus. Baraque que era outro juiz falou que iria para a guerra se Débora fosse também. Débora, não somente aceitou mediante uma condição de que ele não levaria nenhum crédito na vitória “— Está bem! Eu vou com você. Mas você não ficará com as honras da vitória, pois o SENHOR Deus entregará Sísera nas mãos de uma mulher. E Débora foi com Baraque para Quedes”. Não somente Israel ganhou a batalha, como o foi de forma arrasadora. Débora foi a líder espiritual desta batalha. Mulher ir para a guerra era algo muito raro. Débora quebrou este paradigma porque Deus a usou da forma como queria. O cântico de Débora relatando esta grande vitória é uma das literaturas mais antigas do Antigo Testamento (Juízes 5:2 a 31). Deus se importa com as pessoas e usa quem ele quer (homem ou mulher) e como quer, está comprovado na bíblia.

Como sociedade, somos absolutamente iguais com plenos direitos e condições absolutamente iguais. Este avanço nas conquistas de espaço das mulheres na sociedade precisa ser trazido para a igreja atual. Vamos refletir sobre os escritos de Paulo que foi muito injustiçado por algumas posições radicais em relação a mulher. Ele tinha um ponto contra, era solteiro e recomendou quem não era casado, seria melhor permanecer solteiro caso consiga controlar suas emoções sexuais “Digo aos solteiros e às viúvas que lhes é bom se permanecerem assim como também eu” (I Coríntios 7:8). Alguns trechos são mandamentos, enquanto outros é apenas recomendação pessoal. Inclusive ele mesmo fala sobre as mulheres virgens que não tem mandamento e recomendou que se cuidassem.

         Vamos ao contexto cultural em que Paulo vivia. Era uma sociedade rígida e religiosa com costumes e tradições incrustradas a milênios. As pessoas eram tementes a Deus mesmo se perdendo em alguns procedimentos que não refletia compromisso com Deus e as confundia e permaneciam arraigadas a tradição. As mulheres ainda eram vistas como submissas ao homem. Em outras palavras, eram inferiores, tanto é que Paulo afirmou que as mulheres devem ficar caladas porque é vergonhoso e que, se tivesse dúvidas, deveriam esclarecer em casa com os seus maridos e sejam submissas conforme a lei “Como em todas as igrejas dos santos, as mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam submissas como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, perguntem em casa a seus próprios maridos; porque é indecoroso para a mulher o falar na igreja”. Isto confirma que o conceito é que cada mulher tinha o seu marido e ainda seguiam a lei determinada por Deus. Interpretaram errado a lei, como havia dito, a submissão é para com o marido e não para o homem. O contexto cultural era muito difícil e Paulo precisava ser ouvido nas questões, diria, mais importantes para aquele momento, pois, os valores daquela sociedade foram confrontados por Jesus.

Vendo por outra perspectiva, nem tudo foi “condenável” nas avaliações de Paulo. Paulo enviou carta para diversas igrejas da Ásia e cada uma tinha seus problemas locais, porém, todas viviam sob a lei que, além de condenar pelo pecado, tinha a sub judice nas mãos dos sacerdotes que eram fiéis à tradição. Paulo insistia que não se submetiam mais a lei e agora viviam sob a graça e justificados em Cristo e poderiam ser, de fato, libertos. Este é um dos novos significados que Jesus trouxe para a lei. Esta libertação atingia diretamente os costumes e as tradições, por exemplo, o conceito de que mulher é inferior estava sendo questionado, pois, em Cristo nos tornamos iguais perante Deus. Observe o que diz o texto de Paulo aos Gálatas 3:28: "Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus". Interessante é que neste texto ele utilizou o gênero homem e mulher e não marido e mulher o que pela lei seria diferente.

         Para esta época e naquela tradição cultural esta carta aos Gálatas é uma afronta e uma ousada e severa crítica aos valores daquela sociedade em que a mulher era considerada inferior. Então, tinha de ter muita sabedoria para que o evangelho não fosse mal visto. A tradição cultural judaica vigente era milenar e, muito tempo depois ainda era muito forte e ainda era considerado como mandamentos de Deus. Jesus chegou neste contexto cultural e confrontou estes valores. E este foi um dos principais motivos nas acusações a Jesus que se aproximou das mulheres sem qualquer distinção. Por sinal, Jesus foi aquele que quebrou diversos paradigmas contra as mulheres  incluindo as mulheres na sua vida. Ele já sabia como as mulheres eram preteridas, inclusive pela religião e se algumas delas fossem mal vistas no seu comportamento, eram marginalizadas. As mulheres casadas se mantinham reclusas e submissas ao lar. Talvez, por este motivo, Jesus tenha escolhido somente homens para ser discípulos e depois apóstolos por respeito a família o que evitou também complicar a missão. Imagine, o homem trabalhava fora e a mulher ficava em casa. A mulher que saísse de casa sem o seu marido para ir atrás de um homem, mesmo sendo Jesus que ninguém ainda conhecia, era difamada e poderia comprometer o propósito inicial de Jesus. 

            Jesus buscou outras mulheres menosprezadas. Vamos falar sobre dois episódios de aproximação de Jesus as mulheres.

Jesus parou para descansar próximo ao poço em Samaria vindo da Galileia. “Uma mulher da Samaria veio tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber”. A mulher se surpreendeu com o pedido “Disse-lhe, então, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? Os judeus não conversam com samaritanos!” (João 4:7 e 9). Ela poderia apenas dizer “uma samaritana”, mas, frisou “mulher samaritana” o que prediz que houve uma quebra de dois paradigmas em falar com “uma mulher” e falar com alguém de Samaria o que era proibido a um judeu. Era uma mulher com uma vida complicada, mas, com o devido valor dado por Jesus, o incrível aconteceu e ela tornou-se, mesmo não tendo a consciência daquela atitude, uma mensageira do evangelho. Em outras palavras, foi uma autêntica evangelista. Veja todo o contexto depois da conversa "A mulher deixou o cântaro, foi à cidade e disse ao povo: Vinde ver um homem que me contou tudo o que fiz. Será este, porventura, o Cristo?". Quando os discípulos chegaram e se admiraram por estar conversando com uma mulher, leia o que Jesus disse sobre o comportamento da mulher samaritana "Pois nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro o que ceifa. Eu vos enviei a colher aquilo em que não tendes trabalhado, outros trabalharam, e vós tendes entrado no seu trabalho. Muitos samaritanos daquela cidade creram nele por causa das palavras da mulher, que testificara: Ele disse-me tudo o que fiz". Quem semeou? A mulher samaritana da mesma forma que qualquer pastor ou obreiro. Quem vai colher será os discípulos. Uma mulher naquela condição e Jesus a usou como instrumento de poder para aqueles que ouviram o testemunho do evangelho.

Outro episódio que demonstra a total consideração de Jesus às mulheres foi quando foi ressuscitado e apareceu primeiramente a uma mulher que estava acompanhada por outras mulheres. Maria Madalena era aquela em que, dizem, Jesus tinha um carinho especial e havia expulso sete demônios. Vamos ao texto deste encontro muito interessante: “Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual havia expelido sete demônios” (Marcos 16:9). Como assim, primeiramente!? A ressurreição foi o evento que mudou a história da humanidade. Não bastava Jesus morrer, tinha de ser ressuscitado também para concluir o processo de salvação da humanidade e a primeira pessoa a quem se apresenta é uma mulher. Pois é, Jesus não era só mestre do sobrenatural, mas, também em valorizar pessoas discriminadas. Muitos diriam que Jesus foi crucificado e mesmo assim não aprendeu a lição de que deveria seguir as tradições. Jesus criticou as tradições e costumes dos homens e da falsa religião. Ditou um novo mandamento que não era para substituir os antigos mandamentos, mas, deu o significado correto e acrescentou outros novos mandamentos.

Estes exemplos de Jesus e a consideração de Paulo demonstram que a mulher tem direitos iguais, inclusive no exercício ministerial. Não há relatos bíblicos de mulheres exercendo algum tipo de ministério e nem sendo consagrada sacerdotisa ou pastora. Com certeza isto não aconteceu devido o contexto cultural vivido sob uma equivocada interpretação bíblica. Mas, também não há comprovação de que haja proibição. Isto não desqualifica a mulher para que exerça o ministério pastoral. Se alguém ainda reprime a mulher e proíbe o exercício ministerial é por causa do preconceito e discriminação da lei. O chamado para ser discípulos é para todos. O Ide de Jesus é para todos.

 

Pentecostes

Pentecostes significa quinquagésimo que seria cinquenta dias após a páscoa e quando haveria a comemoração (Levítico 23:16). A contagem não é tão simples, pois, alguns historiadores não afirmam que seria como a contagem atual porque no capítulo 25 do mesmo livro de Levítico no verso 8 há uma aplicação diferente que diz sete semanas de anos que corresponde a quarente e nove anos. Enfim, originalmente nada a ver com as manifestações espirituais, mas, como a polêmica é referente ao pentecostes do Novo Testamento, então, vamos direto ao assunto. O termo pentecostes, principalmente para as igrejas históricas/reformadas, popularmente chamada de tradicionais, tornou-se algo pejorativo. Na década de 70 publicaram um livro chamado: Cuidado! Aí vem os pentecostais! Ao contrário do que diz o título, a intenção do autor não era denegrir a imagem daqueles que crêem nos sinais do pentecostes, mas, demonstrar que a crença e conseqüente busca pelas evidências é algo legítimo. As manifestações do pentecostes não é privilégio de nenhum grupo evangélico. Isto é uma falácia. Adotar uma postura de que seja mais espiritual do que outro porque possui dons espirituais é pura soberba. Ser identificado como pentecostal ou como tradicional significa ater-se a superficialidade da religião. A controvérsia do pentecostes é que no entendimento dos cessasionistas os sinais aconteceram somente naqueles dias e não mais acontecem.

pentecostes pode ser considerado como uma manifestação multiforme e trinitária na pessoa do Espírito Santo. Quando somos cheios do Espírito Santo demonstramos muito entusiasmo que significa cheio da presença de Deus. A mais conhecida foi a manifestação vivenciada por uma multidão conforme lemos em Atos 2. Foi uma grande festa de poder espiritual. Reitero que estas evidências não é privilégio da doutrina pentecostal. Esta manifestação pertence ao povo de Deus como corpo de Cristo, ou seja, a Igreja. Repito que estas manifestações não são para vaidade pessoal demonstrando que uma pessoa seja mais “poderosa espiritualmente” do que outra. Na carta aos Romanos 12:3, Paulo orienta "Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um". Paulo definiu a ordem destas manifestações. O capítulo 14 discorre sobre a ordem e o objetivo das manifestações espirituais. Na conclusão do texto (verso 39) em duas das evidências ele afirma que se deve “buscar com dedicação o profetizar e não proibir o falar em línguas. Mas, tudo deve ser feito com decência e ordem”. Uma dúvida que permeia as evidências do pentecostes é, as manifestações é somente o falar em línguas dos anjos (glossolalia)? O pentecostes é muito mais abrangente e não é restrito ao falar em línguas dos anjos ou popularmente, línguas estranhas. Diga-se de passagem, no dia de pentecostes, muitos falaram em línguas estrangeiras conhecidas o que para muitos eram estranhas. Leia o texto de Atos 2 na íntegra e observe a partir do verso 14 no aparte da pregação maravilhosa de Pedro, inclusive, falou com muita propriedade porque estava cheio do Espírito Santo e discorreu sobre as manifestações espirituais e que todos deveriam saber o que estava acontecendo e que era parte de todo processo de redenção. Ele conclui falando sobre o arrependimento, batismo em Jesus para perdão dos pecados, daí, receberão o dom do Espírito Santo conforme a vontade soberana de Deus. Paulo também falou sobre a redenção, observe o texto de Efésios 1:7-9 em que Paulo escreve: "Nele, temos a redenção, o perdão dos nossos pecados pelo seu sangue, segundo as riquezas da graça de Deus, e que Ele fez derramar sobre nós com toda a sabedoria e entendimento. E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom propósito que Ele estabeleceu em Cristo...". No texto também de Paulo de I Coríntios 12 ele fala com muita propriedade sobre os dons espirituais.  Atente para o verso 7 “A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum” e o verso 11 “Todas estas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer”. Ele também afirma que as manifestações espirituais só serão legítimas se houver objetivo e compreensão. O Espírito Santo também batiza com língua estranha para exaltar a Deus numa relação muito íntima com a pessoa convertida. Isto acontece com Pedro na visita que fez ao centurião Cornélio onde circuncisos e incircuncisos receberam o poder do Espírito Santo (Atos 10:46). "E aconteceu que enquanto Pedro ainda pronunciava estas palavras, o Espírito Santo desceu de repente sobre todos os que ouviam a mensagem. Aqueles crentes judeus que vieram com Pedro ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo estivesse sendo derramado inclusive sobre os gentios, porquanto, os ouviam se expressando em línguas estranhas e exaltando a Deus". O que aconteceu foi uma quebra de paradigma espiritual porque até mesmo entre os apóstolos havia dúvida se a manifestação espiritual era somente para os judeus ou também era para os gentios que eram incircuncisos. Isto era difícil de engolir para os judeus que desde o tempo do Antigo Testamento em que Deus firmou aliança com o seu povo através da circuncisão, quem não era circuncidado não pertencia a Deus. O rei Saul, numa das batalhas contra os filisteus em que foi perseguido pelos flecheiros que o atingiram, pediu ao seu escudeiro que o matasse para estes incircuncisos não zombassem dele “Então disse Saul: Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela, para que não venham estes incircuncisos e escarneçam de mim. Mas o seu escudeiro não quis, porque temia muito; então tomou Saul a sua espada, e se lançou sobre ela” I Crônicas 10:4,5,6. Ele acabou se matando porque o escudeiro não fez o que pediu. Isto é somente para saber como eram mal considerados os incircuncisos. Jesus derrubou esta enorme barreira cultural e religiosa demonstrando que os sinais do pentecostes é para todos.

Profecia, falar em línguas, interpretação, revelação, cura divina, expulsão de demônios e outras evidências bíblicas que caracterizam o pentecostes, ainda são tabus para algumas linhas evangélicas. Uma parte dos católicos (carismáticos) aceitam e buscam estas evidências. João advertiu sobre espíritos estranhos "Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai os espíritos, se vêm eles de Deus; porque muitos falsos profetas têm aparecido no mundo" (I João 4:1). O evangelho é íntegro e jamais contraditório e não pode ser aceito de forma conveniente. Não adianta crer nas evidências da ação do Espírito Santo e se manter na tradição e costumes que agridem os princípios do evangelho. Não tem como contra argumentar uma afirmação daquele que é o principal agente do pentecostes que age como, quando, onde e em quem quiser. Receber estes sinais não é, de forma alguma para diferenciar dos demais, mas, para cumprir uma missão. Leia a exortação e recomendação de Jesus em Marcos 15:15 "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado. Estes sinais hão de acompanhar àqueles que crêem:...". Não existe um dom mais importante que outro porque todos fazem parte do mesmo corpo para o crescimento da igreja em glorificação a Deus. Ainda em I Coríntios 12:24b lemos que, "Todavia, Deus estruturou o corpo atribuindo maior honra aos membros que dele tinham necessidade, a fim de que não haja divisão no corpo, mas sim que todos os membros tenham igual dedicação uns pelos outros".

 

Ídolos e idolatria

Idolatria é um dos temas mais falados na bíblia e uma das maiores afrontas a Deus. Ele próprio afirmou que é uma abominação. Nos dez mandamentos que foi pessoalmente designado por Deus a Moisés, começa falando sobre a idolatria:

“Não terás outros deuses diante de mim.

Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.

Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso,...” (Êxodo 20:3)

Somente o verso 3 já é mais do que o suficiente para compreender que a idolatria é algo abominável a Deus. O que se entende por “Não terás outros deuses”? E Deus complementa discorrendo detalhadamente o que seria adotado como ídolos. Deus conhece a intenção do coração e não deu brechas que permitissem outra interpretação.

Mas, o que Deus quis dizer com “imagem de escultura” e “nem figura alguma” e “Não te encurvarás diante delas”?

Adorar ídolos ou qualquer outra coisa é algo muito antigo, inclusive, na libertação dos judeus da escravidão do Egito, o povo vivia fazendo imagens de esculturas e o mais famoso deles é o bezerro de ouro "...ele os recebeu de suas mãos, e com um buril deu forma ao ouro, e dele fez um bezerro de fundição”. Neste tempo, Deus já havia escrito a Moisés os dez mandamentos e o povo permaneceu desobediente e fez o bezerro de ouro. Moisés tinha recebido de Deus as tábuas do testemunho escrita pelo dedo de Deus (Êxodo 31:18) e as trouxe novamente. Mas, Deus o alertou de que o povo novamente havia feito ídolo porque Moisés estava demorando a descer do monte. Quando chegou e viu o absurdo que fizeram, ficou muito irado e quebrou as tábuas (Êxodo 32:19). Deus como sempre misericordioso, reconsiderou e novamente perdoou os pecados do povo e ordenou novos mandamentos e um deles era exatamente referente aos ídolos “Não faça ídolos de metal para você” (Êxodo 34:17).

Este foi um dos diversos desvirtuamentos da história do povo de Deus. Não há dúvidas de que imagem de escultura se tornou uma obsessão, além de um grande negócio. Têm centenas de imagens e ídolos espalhados pelo mundo, não somente no mundo cristão, mas, em quase todas as religiões e de todos os tamanhos e tipo, de madeira, metal, gesso, de todas as cores e valores. Pelo que entendo, Deus especificou que imagem é qualquer coisa esculpida e não se ajoelhar diante dela, não sendo necessariamente a figura de uma pessoa ou “divindade”. Então, curvar-se diante da cruz pode ser considerada uma idolatria? Afinal, trata-se de uma figura. A cruz é uma imagem de escultura e, geralmente, se curva diante dela. A bíblia não afirma que a cruz deva ser venerada. Não há, sequer indício de que a cruz a partir da crucificação seria um objeto acrescido na veneração. Pelo contrário, a cruz foi motivo de vergonha para Jesus. No Antigo Testamento quem cometia pecado de morte era pendurado no madeiro e morto “...pois aquele que é pendurado, é maldito de Deus” (Deuteronômio 21:32). O apóstolo Paulo ratificou este mandamento da lei "Cristo nos remiu da maldição da Lei, tornando-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que é pendurado no madeiro...". Então, o mesmo termo madeiro aplicado no Antigo e no Novo Testamento se refere a cruz. Como venerar algo que torna alguém maldito?

Há outras referências sobre a cruz e nenhuma fala positivamente. A cruz tornou-se um fardo pesado. Jesus sempre que lembrava da cruz era tomado de tristeza e temor "Agora está perturbada a minha alma, e que direi? Pai, livra-me desta hora. Mas para isto foi que vim a esta hora" (João 12:27). Que hora Jesus estava se referindo? A hora da morte na cruz. Outro texto que fala sobre a humanidade de Jesus diante da morte na cruz foi escrito por Paulo "Ele nos dias da sua carne, tendo oferecido preces e súplicas com forte clamor e lágrimas ao que podia salvá-lo da morte..." (Hebreus 5:7). O próprio Paulo quando falou sobre os religiosos que se orgulhavam com a circuncisão declarou, "Mas longe de mim esteja o gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo..." (Gálatas 6:14). Paulo foi, de certa forma, irônico submetendo todo tipo de vaidade da religião ao feito de Jesus na cruz que não era motivo algum de orgulho.

Diante do que foi exposto até agora, acho que nem precisaria acrescentar mais alguma coisa sobre a idolatria. Mas, o que a bíblia diz sobre este assunto é exatamente para ter conhecimento e amadurecimento no compromisso com Deus. Até aqui ficamos sabendo de tudo sobre a visão de Deus concernente a idolatria, ou quase tudo. O ser humano é teimoso e desobediente. Deus usou os profetas também para falar alertando o povo sobre a idolatria. Isaías, talvez, tenha sido o mais direto e claro:“...chegai-vos juntos, os que escapastes das nações; nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura, feitas de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar” (Isaias 45:20). Ele foi incisivo e menosprezou as divindades literalmente construídas artesanalmente pelos homens.

Outro personagem bíblico que teve intimidade com Deus foi Jonas. Por causa da desobediência em não cumprir o que Deus havia determinado, passou por uma situação em que chegou a desejar a morte. Jonas era uma pessoa comum e Deus o chamou para uma missão bem complicada. A sua recusa em aceitar o chamado de Deus foi bem pior que ir até Nínive e falar das maldades que aquela grande cidade para a época estava cometendo. Uma delas era a idolatria e Jonas, ainda dentro do grande peixe e após um diálogo com Deus reconheceu: "Os que se apegam aos vãos ídolos afastam de si a misericórdia". (Jonas 4:8). Jonas entendeu a situação de Nínive e desejava que esta cidade fosse subtraída do mapa e não que fosse salva das suas transgressões. Deus queria sentir misericórdia novamente por Nínive, mas, estavam distantes por causa da idolatria. O propósito de Deus é sempre reconstruir. Caso necessário, ele derruba os velhos altares de idolatria e reconstrói um novo.

Um episódio bem conhecido referente a idolatria foi quando Paulo chegou a Atenas e, enquanto aguardava Silas e Timóteo, ficou chocado com tantos ídolos espalhados pela cidade “Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito revoltava-se dentro de si mesmo, vendo a cidade cheia de ídolos” (Atos 17:16). Mesmo incomodado e perseguido por alguns judeus, Paulo continuou a dar o direcionamento correto e falou “Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro ou à prata ou à pedra, lavrada por arte e gênio do homem” (Atos 17:29).

A idolatria é uma forma de manipulação da fé. Utilizam da fé das pessoas para construírem os seus ídolos. Em alguns casos, o objetivo não era concretizar a espiritualidade, mas, foi fraqueza e insegurança mesmo. Por exemplo, Jeroboão que era filho de um servo de Salomão, foi designado por Deus para assumir o trono de Israel, pois, Deus ficou triste com Salomão por ter se tornado idólatra. Depois de um certo tempo, Jeroboão ficou com medo de perder o apoio das pessoas e foi aconselhado a forjar dois bezerros de ouro (de novo), desta forma, as pessoas não precisariam se deslocar até Jerusalém para adorar o senhor de Roboão seu adversário do trono. Jeroboão falou que aquelas imagens eram os deuses que haviam livrado Israel da escravidão do Egito e o povo acreditou. Esta história se encontra no livro de I Reis 12:26. Pessoas com este perfil frágil, covarde e idólatra como o de Jeroboão ainda existem e utilizam de outras formas para se manterem no controle das pessoas. Felizmente, a bíblia nos dá o suporte necessário para conhecer a Deus e saber que é o único a ser adorado. Concluo deixando o texto de I João 5:21 "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos".

 

Maria, mãe de Jesus e outros considerados santos não eram divinos

         Um segmento da religião cristã e, talvez também algumas outras desconhecidas, adotam Maria como sendo uma das divindades com poderes equivalentes a trindade. Mas, é preciso saber, de fato, onde se confirma esta crença. Pelo fato de alguém ter sido importante e até fundamental na religiosidade, não significa que "automaticamente" foi dotada de poderes divinos. Num ponto todas as religiões concordam sobre o fato de Maria ter sido agraciada, inclusive o anjo que anunciou que Maria foi a escolhida a saudou como agraciada "E o anjo aproximando-se dela, disse: Salve! Altamente agraciada, o Senhor é contigo". Deus encontrou nela alguma virtude de humildade e compromisso. Enfim, quando o anjo falou com Maria sobre o nascimento virginal de Jesus ela respondeu que era serva do Senhor e que faria conforme a tua palavra (Lucas 1:38). Já no verso 46 consta o famoso cântico de Maria em que ela reconhece a sua condição de pecadora e que precisa um Salvador "Disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito alegrou-se em Deus meu Salvador..." (Lucas 146-47). Ela ficou reconhecida “apenas” como bem-aventurada entre as mulheres. Não há qualquer referência em que tenha se tornado uma divindade com poderes sobrenaturais ou que interceda pelos seres humanos. A bíblia afirma em I Timóteo 2:5 que "há um só Deus e um mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem". Além de não existir outro quem interceda, a divindade de Jesus não é, em absoluto, hereditária.

        Adorar Maria é uma das centenas de equívocos movidos pela compaixão religiosa e também pela falta de conhecimento e o devido discernimento por parte de algumas linhas doutrinárias do cristianismo. Nem Maria, nem Pedro, nem Paulo, nem Agostinho e nenhum outro personagem bíblico se tornou santo e não existe qualquer referência que algum líder religioso tenha poderes para beatificar pessoas a se tornarem divindades. Maria era mãe biológica de Jesus somente, mas, não é e nunca foi mãe de Deus. Deus não tem mãe porque é espírito (João 4:24). Obviamente que precisaria ter nascido naturalmente de uma virgem sem qualquer conexão divina com a sua mãe. Jesus é Deus encarnado e veio cumprir a missão de resgate do ser humano e o próprio Jesus afirmou que "...todo poder me foi dado no céu e na terra" (Mateus 28:18). Jesus fez esta declaração logo após ser ressuscitado. Não há qualquer menção de que alguém especial teria recebido poderes. Os milagres acontecem por intervenção somente e exclusivamente pelo nome de Jesus e este poder foi concedido a qualquer um que crer. Novamente os mandamentos de Jesus após a ressurreição: "...e estes sinais seguirão aos que crerem" (Marcos 16:17). Todos eram igualmente pecadores, inclusive Maria, Pedro, Paulo, Agostinho juntamente com a humanidade decaída em pecado e todos precisam de um Salvador. Milênios O rei Salomão na oração de dedicação do templo ao Senhor onde foi colocada a arca da aliança frisou que "...não há ninguém que não peque". I Reis 8:46.

        Na bíblia constam algumas referências na relação de Jesus com a sua mãe.

João 2:3-4

“Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles não têm mais vinho”.

 “Respondeu-lhe Jesus: Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora”.

        Parece que Maria até tentou se impor como mãe, mas, Jesus sempre a colocou no lugar dela em condições de igualdade com os demais. Se um filho falasse desta forma com a sua mãe, com certeza seria repreendido e sofreria um castigo e nesta época, a relação pai-mãe-filho era muito rígido. Maria sabia muito bem o que estava acontecendo e permaneceu calada e obediente. No verso 5 ela orienta que façam tudo o que ele mandar. Alguns atribui esta postura de Maria como dando ordens a Jesus. Um grande erro de interpretação porque Jesus (não o filho de Maria, mas, o Cristo) já tinha se manifestado e disse que ainda não havia chegado a sua hora. 

        Outro episódio em que Jesus é citado com a sua mãe, desta vez também com seus irmãos, foi quando fugiu da sinagoga porque (para variar) os fariseus procuravam uma forma de matá-lo e, provavelmente entrou em alguma casa e tinha uma multidão ouvindo o que dizia e foi avisado de que sua mãe e irmãos estariam do lado de fora e gostariam de falar com ele. Leia os textos de Mateus 12:46-50: 

"Enquanto ele ainda falava à multidão, achavam-se da parte de fora sua mãe e seus irmãos, procurando falar-lhe.

Alguém lhe disse: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e procuram falar-te. 

Mas ele respondeu ao que lhe falava: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?

Estendendo a mão para seus discípulos, exclamou: Eis minha mãe e meus irmãos!

Pois aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe".

        Aparentemente, mais uma vez, Jesus demonstrou uma certa grosseria, mas, na verdade foi uma reação para demonstrar que todos são iguais perante Deus quando fazem a sua vontade. Vamos analisar o contexto e colocar o provável motivo desta reação. Jesus conhecia a intenção do coração de cada um da sua família biológica, portanto, naquela situação onde havia muita gente ele estava inacessível, então, a mãe e os irmãos de Jesus, talvez estivessem se sentindo no direito de ficar próximos de Jesus, afinal era a família dele, pelo menos foi assim que anunciaram as pessoas que o procuravam.

        Repito que não há relato ou mandamento de que Maria tornou-se uma divindade. Este é mais uma das centenas de suposições da religião que mais confunde do que instrui. No livro de Mateus 28:18 após Jesus ser ressuscitado Ele mesmo afirma que todo o poder lhe foi dado tanto no céu como também na terra.

Em relação aos denominados "santos", os mais conhecidos são os apóstolos, alguns personagens bíblicos e o pai adotivo de Jesus, José. Igualmente ao que falei sobre Maria, não há qualquer fundamento bíblico na divindade de qualquer personagem que possa ser reconhecido como detentor de poder para fazer milagres. Nem o papa, nem qualquer outro santo ou pastor, curandeiro, absolutamente ninguém possui alguma divindade herdada ou beatificada sem que o próprio Jesus o fizesse nominalmente. Não existe relato bíblico ou qualquer evidência que se confirme esta ação divina. Jesus quando designou a missão para os apóstolos repassarem a outros, era para todos os que crêem e ainda disse que fariam milagres maiores que os que ele fez sem que isto transformasse a pessoa numa divindade. O propósito não é este, pois, é um mandamento para qualquer pessoa que crê e reconhece Deus como sendo único. Há relatos de milagres feitos por alguns deles. Por exemplo, Moisés, orou a Deus e o mar vermelho literalmente se abriu (Êxodo 14:21). Não somente isto, mas, Moisés dialogou com Deus que se apresentou a ele como sendo o “Eu sou”. Um episódio muito interessante entre Deus e Moisés foi quando pediu que Moisés redigisse os novos mandamentos “Então Moisés lavrou duas tábuas de pedra, como as primeiras; e, levantando-se de madrugada, subiu ao monte Sinai, como o Senhor lhe tinha ordenado, levando na mão as duas tábuas de pedra. O Senhor desceu numa nuvem e, pondo-se ali junto a ele, proclamou o nome Jeová” (Êxodo 34:4-5). Moisés tinha muita intimidade com Deus e poderia tranquilamente ser canonizado. Quem tem poder é Deus que se aproxima e tem intimidade com quem quiser sem designar poder miraculoso a ninguém, a não ser pelo seu nome.

Tal como o “feito” de Moisés, Josué fez o mesmo quando o povo carregava a Arca da Aliança e o rio Jordão se abriu para atravessarem (Josué 3:16). Elias também praticou esta "proeza" milagrosa e bateu o manto no rio Jordão que se dividiu e atravessaram em seco junto com Eliseu e, logo depois de caminhar com Eliseu, foi arrebatado (II Reis 2:8 e 11). Elias prevendo que subiria logo, pediu a Eliseu o que gostaria e falou que quer por herança porção dobrada do espírito de Elias. Eliseu recebeu  um outro episódio que poderia ser motivo de canonização de Eliseu foi após a sua morte. Depois de sepultado quando já tinha somente ossos, os moabitas, como fazia todos os anos, invadiram a terra de Israel e, neste momento os israelitas estavam sepultando alguém e, quando viram a invasão, jogaram o morto no mesmo túmulo de Eliseu e saíram correndo e quando o morto teve contato com os ossos de Eliseu ele reviveu e se levantou. Leia o texto: "Então Eliseu morreu e foi sepultado. Todos os anos bandos de moabitas costumavam invadir a terra de Israel. Certa vez, alguns israelitas que estavam fazendo um enterro viram um desses bandos. Então os israelitas jogaram o defunto na sepultura de Eliseu e fugiram. Assim que o corpo tocou nos ossos de Eliseu, o homem ficou vivo de novo e se levantou". Algo humanamente inacreditável. Mesmo com todos estes feitos, eles não foram considerados como semideuses.

Abraão é considerado o pai da fé e da nação de Israel e poderia tornar-se também um dos santos canonizados, pois, até negociou com Deus de tanta intimidade que tinha “Disse Abraão: Não se ire o Senhor, e ainda falarei somente esta vez; porventura achar-se-ão ali dez. Respondeu o Senhor: Não a destruirei por amor dos dez. Foi-se Jeová, logo que acabou de falar com Abraão; e Abraão voltou para o seu lugar” (Gênesis 23:32).

No Novo Testamento também tem alguns relatos de milagres dos apóstolos. No livro de Atos 5:12 diz que "Faziam-se muitos milagres e prodígios entre o povo pelas mãos dos apóstolos". E no verso 16 os milagres aconteceram através dos apóstolos "Também das cidades circunvizinhas de Jerusalém afluía uma multidão, trazendo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais eram todos curados". Além dos apóstolos, não há qualquer referência de milagres feitos por qualquer outro denominado santo. Em relação aos apóstolos, com tantas evidências, porque, então, não devem ser considerados santos? Primeiro que somente Deus é absolutamente santo (I Samuel 2:2 e Apocalipse 15:4). Estes milagres foram oferecidos a qualquer um que cresse e se tornasse discípulo de Jesus e ele mesmo quem designou "Estes sinais hão de acompanhar àqueles que crêem..." (João 14:12) e complementou dizendo "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, esse fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores, porque eu vou para o Pai;" (Marcos 16:17). Em momento algum Jesus especificou nominalmente alguém ou grupo de pessoas. Ele foi muito claro quando disse "aquele que crê" e "àqueles que crêem". Jesus não "beatificou" ou "canonizou" ninguém e determinou o Ide e fazei discípulos para qualquer um que cresse. O contexto de santo na bíblia é de separado do mundo e somos santificados em Cristo que vive em nós através do teu Santo Espírito o que é privilégio para todos os que crerem.

        Diante disto, concluímos que o chamado para servir e fazer a obra de Deus é para todos. Isto não pode ser considerado como um motivo de orgulho ou vaidade se julgando melhor que outros. Deus escolhe quem ele quer e deseja. Todos são igualmente pecadores perante Deus. 

 

Predestinação

Deus predestinou os escolhidos porque são fiéis ou são fiéis porque Deus os predestinou?

O apóstolo Paulo é o autor de um dos principais textos utilizados na defesa doutrinária da predestinação. Efésios 1:11 “Nele fomos também escolhidos e predestinados conforme o plano e a sua vontade”. Isto é coerente com o que ele escreveu aos Efésios 1:4 "Porquanto, Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. E, em seu amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos, por intermédio de Jesus Cristo,". Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança e não foi para a perdição, mas, para a sua honra e glória. Na seqüência do texto no verso 12 Paulo conclui "...com o objetivo de que nós, os que primeiro esperamos em Cristo, sejamos para o louvor da sua glória". Então, conforme o texto de Efésios no verso 4, o ser humano já fazia parte dos planos de Deus na criação? Sim! Será que no plano de Deus continha o pecado, ou o pecado foi um acidente de percurso? Será que Deus já tinha um plano B? Estas duas últimas indagações não têm base bíblica para fazer uma avaliação exata. 

Vamos tranquilamente analisar os textos dentro do contexto que foi colocado. Com a queda do homem, os planos foram rearranjados e a configuração original da criação foi totalmente desfigurada. O projeto "operação resgate" entrou em ação e definiu-se alguns critérios para gerar esperança de salvação. Por exemplo, o caminho já existia e precisou apenas fazer o "marketing" de que bastaria crer para que se tornasse predestinado novamente. Conforme o texto de Paulo acima citado, antes do pecado, a predestinação já existia, porém, tinha o sentido de participante. No contexto pós-queda do ser humano, o termo predestinado tomou outra conotação sendo algo que ainda não chegou ao seu destino porque o projeto original foi violado pelo pecado. Mais um item foi acrescentado à condição de predestinado, fé e perseverança. Como o ser humano foi expulso do jardim, então, agora tem uma jornada de retorno que precisa ser trilhada e tem alguns processos que foram implantados e agora precisam ser aplicados os termos deste processo. Neste novo conceito, o prefixo “pre” diz que nada está definido ainda, mas, está em vias. Quem escolher o caminho das drogas, ainda não está viciado, mas, estará predestinado ao vício. Quem se enveredar pelo caminho da glutonaria, ainda não estará obeso, mas, estará predestinado à obesidade. Quem optar pelo caminho das contas sem controle, ainda não está falido, mas, estará predestinado à falência. Predestinação na bíblia não é referente a pessoas, mas, ao caminho com destino certo. Quem for pelo caminho predestinado chegará ao céu e Tomé questionou de qual era o caminho e Jesus respondeu: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida!". Este é o caminho predestinado, mas, precisa estar para ser pre e permanecer para ser destinado. Jesus falando exclusivamente aos discípulos como últimos mandamentos explicou "Aquele que permanece em mim, e no qual eu permaneço, dá muito fruto,... Se alguém não permanecer em mim, é lançado fora como a vara, e seca-se;..." (João 15:5-6). Permanecer nEle é estar no caminho. Alguns utilizam o texto no verso 16 deste mesmo capítulo em que Jesus afirma que Ele não foi escolhido por nós, mas, Ele quem nos escolheu. Se observarmos o contexto, será que não está se referindo ao chamado apostólico aos que estavam ali presente? "Vós (apóstolos) não me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós (apóstolos), e vos designei (apóstolos) para que vades e deis fruto...". (o grifo é meu). Compare com o texto de Lucas 6:13 na escolha dos doze apóstolos: "...convocou seus discípulos e escolheu dentre eles, doze, a quem também designou como apóstolos:" É importante ler a partir do capítulo 13:19 em que Jesus discorre sobre os principais fundamentos do discipulado e que os apóstolos precisavam saber. Isto foi na última ceia e alguns trechos a fala é bem pessoal e objetiva. Por exemplo, quando ele falou que um dos discípulos o trairia capítulo 13:21, foi bem direto e objetivo. Foi numa reunião onde Jesus estava dando as coordenadas aos discípulos e o discurso foi uma mescla de exortação pessoal e mandamento a se cumprir justificando o porquê foram chamados e designados como apóstolos.

O segundo passo é a perseverança conforme o texto de Jesus no Monte das Oliveiras em que fala aos seus discípulos, “...quem perseverar até o fim será salvo”, Mateus 24:13. Os escolhidos são os que perseveram. É possível perder a condição de escolhidos? Mateus 22:14 Jesus fala sobre a parábola das bodas de casamento e finaliza que “...muitos são chamados, mas poucos os escolhidos” uma referência aos que ouviram, creram, mas, o amor esfriou conforme o texto de Mateus 24:12 "...e por se multiplicar a iniquidade, o amor esfriará da maior parte dos homens". Todos são chamados e os escolhidos são os que creram. Os que não serão escolhidos, mesmo tendo sido chamados perderam a condição de serem salvos. Uma dúvida, será que todos os escolhidos que já morreram estão no céu? Talvez ninguém ainda esteja no céu. Com exceção de Enoque (Hebreus 11:5) e Elias (II Reis 2:11) que foram arrebatados e do ladrão na cruz em que Jesus confirmou que estaria com ele no paraíso naquele mesmo dia, não há qualquer relato de que alguém que morreu em Cristo já esteja no céu. Pelo menos é o que lemos em João 3:13 "Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser Aquele que veio do céu: o Filho do homem que está no céu". Estevão pouco antes de ser apedrejado e morto teve uma previsão de como é o céu, mas, ainda em vida. Deus recebeu o seu espírito como de tantos outros que já morreram firmados na fé em Jesus e ressuscitarão com Cristo na sua vinda. Em I Tessalonicenses 4:16 diz que "...os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro". No livro de Daniel 12:2 lemos “...que todos os que foram sepultados acordarão, uns para a vida eterna e outros para a vergonha da morte eterna”. Se os mortos em Cristo já estivessem na glória, então, por qual motivo ressuscitariam no último dia?

Paulo também foi abordado sobre os predestinados porque estavam no caminho e declinaram do caminho perdendo, assim, a condição de predestinados. Observe sua resposta no texto aos Hebreus 6:4 "Ora, para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santoexperimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, mas caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento...". Perceba (grifado meu) o nível daqueles que se perderam. Paulo está se referindo a pessoas (qualquer pessoa, não citando nome) que creram e estavam no caminho e, nesta condição, são também predestinadas porque estavam no caminho da salvação e que é quase impossível de uma pessoa que se perdeu retornar a vida com Cristo. No contexto bíblico, a única predestinação não é somente para a salvação, mas, para a perdição também. Deus condenou (predestinou) o gênero humano ao fogo eterno porque todos pecaram e foram destituídos da glória de Deus (Romanos 3:23). Para isto, nada precisa ser feito para ser predestinado ao fogo eterno. Contrariamente ao que muitos julgam que Deus não é amoroso porque envia pessoas ao inferno, digo que, esta não é a sua vontade porque o inferno foi feito para o diabo e seus anjos (Mateus 25:41). O inferno não foi feito para o ser humano. O problema é que, se não vai para o céu, deve-se ir para algum lugar. Da mesma forma que o céu, ninguém ainda está no inferno. Em I Timóteo 2:4 lemos que o desejo de Deus é que todos sejam salvos. O inferno é uma das opções. No livro de Marcos 16:16 o próprio Jesus deu a opção afirmando: “...quem crer será salvo e quem não crer será condenado”. O verbo ou advérbio “será” define que estamos em vias no processo e existe a opção de salvação ou condenação. O processo de salvação está concluído com a morte e ressurreição de Jesus e permanece até a consumação dos séculos como o próprio Jesus afirmou logo após a ressurreição que estaria conosco até o fim. Se inconseqüentemente fomos predestinados, porque Jesus ficaria conosco? Estes textos demonstram que Deus nunca fez predileção nominal. Chamou a todos porque a salvação é para todos. Será salvo quem permanecer fiel até o fim. Obviamente que nem todos os que são chamados serão escolhidos, porque depende do critério de aprovação de Deus. O caminho é predestinado (Jesus) e quem seguir por Ele estará predestinado à glória eterna. A predestinação é condição para quem crer e a certeza de que vamos para o céu. No mesmo capítulo 16 de Mateus que já lemos, no verso 24, o próprio Jesus deu a opção, “...quem quiser, toma a sua cruz e siga-me”. A escolha dentre aqueles que foram chamados por Deus acontece após a escolha por parte de qualquer pessoa por Ele. Deus não vai escolher quem nada quer com Ele mesmo sendo chamados para servir. Será que conhecemos pessoas nesta condição? Paulo na carta de II Timóteo 2:17-18 falou de dois personagens que se desviaram do caminho “Deste número são Himeneu e Fileto, os quais se desviaram da verdade,...”. um claro exemplo de quem estava envolvido com a obra de Deus, mas, suas atitudes não revelam conversão falando inverdades que pervertem a fé de outros. Eles escolheram prosseguir por outro caminho mesmo continuando a freqüentar a igreja local. Caso não houvesse escolha, o processo de salvação contido na bíblia seria nulo. Obviamente que esbarramos na questão do crer e efetuar das quais não se tem qualquer controle. A ação do Espírito Santo e o seu potencial efeito em nós acontece (Romanos 8:11) somente após a nossa decisão por Deus em que Ele assume o controle da nossa vida. Muitos se esquecem da pré-condição para se manterem predestinados. A velha criatura morre e o corpo é vivificado em Cristo (Romanos 8:10).

 

Livre arbítrio

 O que seria o livre arbítrio? Conforme os dicionários é a liberdade em decidir quando há duas ou mais opções. Na bíblia, o livre arbítrio é muito questionado da sua existência por causa da soberana vontade de Deus que rege sobre tudo e sobre todos quando e como conforme o seu desejo. A vida é repleta de escolhas. Quem quiser ser bem-sucedido deve escolher estudar e se atualizar. Quem quiser ter boa saúde deve escolher alimentar-se bem e praticar exercícios físicos. São critérios de escolhas que definem os rumos da vida para o bem ou para o mal. Será que o livre arbítrio não existe mesmo?

 Agora, trazendo para o contexto da salvação, quem efetivamente pode mudar a concepção da história é somente quem definiu os critérios desta história que é o próprio Deus. Então, considerando que "...para Deus nada é impossível" (Lucas 1:37), somente Ele pode mudar os desígnios preconcebidos. Na criação do ser humano, Deus definiu tudo o que compõe a sua estrutura, suas escolhas, suas vontades e os seus desejos. Logo no segundo capítulo de Genesis 2:16 Deus expôs algo bem parecido com o livre arbítrio: "Ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.". O texto de Gênesis mostra duas opções, comer livremente e não comerás. Observe que isto aconteceu literalmente bem no princípio da criação do ser humano quando ainda no contexto da vida não havia o pecado. O que Deus quis definir ao dizer “livremente”? Livre arbítrio, como já disse anteriormente, só é aplicado quando há duas ou mais opções. Quando não se tem escolha, como dizem, é o que tem para hoje, então, neste caso, a liberdade de escolha é nula. Mas, não é este o caso, pois, Deus mostrou literalmente duas opções de livre escolha, comer livremente e não comer. Isto aconteceu antes mesmo do próprio pecado fazer parte da história da existência quando provocou a expulsão do ser humano do paraíso. O pecado já existia desde a manifestação do mal na pessoa do diabo "...porque o Diabo peca desde o princípio" (I João 3:8). É um assunto amplo, porém, neste episódio específico, não se aplica uma livre interpretação porque o texto é bem claro. Este é só o começo da jornada do livre arbítrio.

 E sobre a salvação, será que Deus é quem nos escolhe ou nós é que escolhemos Deus? Vamos por esta ordem. Em Efésios 1:4 o apóstolo Paulo já escreveu: "...assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo para sermos santos e sem defeito perante ele,...". Escolheu quem? A quem Paulo está se referindo? Paulo está se referindo ao ser humano no contexto do paraíso sem pecado. "Santos" (separado do pecado) e "sem defeito" (sem pecado). Deus já tinha planos para a criação. Quanto à escolha em si, claramente não foi uma escolha nominal, então, subentende-se que esta escolha foi para todos, pois, a vontade de Deus é que todos sejam salvos "...que deseja que todos os homens sejam salvos" (I Timóteo 2:3). Se o desejo é que absolutamente todos sejam salvos, isto não há o que discutir. Se Deus escolhe um e o outro não, então, estaria fazendo acepção de pessoas. Deus nos escolheu para sermos santos e, por causa do pecado, perdemos a santidade e nos tornamos defeituosos e o desejo de salvar a todos é porque "Deus não faz acepção de pessoas" (Romanos 2:11) e sejamos resgatados para sermos novamente santos e sem defeito em Cristo. 

Agora é preciso esclarecer que, mesmo Deus escolhendo a todos não significa que está tudo certo com a salvação. Então, precisamos escolher Deus? Salvação e perdição significam que existem dois caminhos. Jesus no sermão da montanha, dentre dezenas de mandamentos, inclusive ensinando a orar, falou sobre os dois caminhos, um difícil e outro fácil. Leia o texto de Mateus 7:13-14 "Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela), e apertada a estrada que conduz à vida, e poucos são os que acertam com ela". O próprio Jesus quando foi reconhecido como sendo o Cristo, o filho do Deus vivo avisou que "Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me." (Lucas 9:23). Uma clara opção de escolha. Jesus demonstrou em palavras que há duas opções, o caminho da salvação ou o caminho da perdição. Dois caminhos, sendo duas opções a critério de escolha. Quem não acredita que haja livre arbítrio alega que tanto o querer como o efetuar é ação do Espírito Santo em nós. Mas, se atentarmos para o texto de Romanos onde Paulo fala que após a conversão a nossa vida ressuscita em Cristo que passa a viver em nós, percebemos que nos tornamos integralmente dependentes de Deus em relação ao pecado "Se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da justiça" (Romanos 8:10). Em Efésios há outra confirmação desta condição "Ele vos deu a vida quando estáveis mortos pelos vossos delitos e pecados..." (Efésios 2:1). Nesta condição, não temos poder sobre o querer e o efetuar relatado em Filipenses 2:13 “...pois é Deus o que opera eficazmente em vós tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade" porque, como estávamos mortos no pecado, a tendência era somente pecar sem a justificação em Cristo, só que o livre arbítrio em si foi definido por Deus antes do pecado no jardim do Éden antes da queda do ser humano como mencionado no começo desta reflexão, ou seja, nada tem a ver com o pecado.

 

Batismo Aspersão ou Imersão 

Na bíblia há relato de três batismos contidos no mesmo texto de Mateus 3:11, com água que é de arrependimento, com o Espírito Santo que é o batismo da promessa, tipo, selo de salvação e com fogo que é o dom do Espírito Santo. João Batista foi o que recebeu a incumbência de iniciar o batismo de arrependimento. Jesus, mesmo sendo judeu, demonstrou humildade ao ser batizado nas águas do rio Jordão dando um claro exemplo de submissão, pois não tinha do que arrepender-se. O judaísmo nunca aceitou o batismo de arrependimento. Julgavam que não tinham do que arrepender-se porque seguiam as leis a rigor e preferiram manter-se na linha legalista conforme as tradições da circuncisão da lei de Moisés (Gênesis 17:10). Do judaísmo surgiram outras 16 ramificações ou mais, inclusive o judaísmo cristão e cada qual com os seus costumes e dogmas. O batismo com água não é uma mera tradição, mas, um mandamento. O batismo em si é algo aceito por todas as linhas religiosas com formas diversas em praticá-lo. A tradição cristã tem duas formas de fazê-lo. Imersão e Aspersão. Os relatos do batismo de João Batista indicam que o procedimento usual era somente nos rios. Suspeita-se que o batismo praticado no tempo de Cristo era por imersão porque tem o sentido figurado de sepultamento da velha criatura. A forma de batismo é uma opção? Esta pergunta vem de encontro à antiga polêmica se o batismo deve ser por imersão ou aspersão. Não justificaria se deslocar até um rio, que era algo muito difícil na época, para batizar por aspersão considerando que havia poços espalhados pela cidade e se podia muito bem encher uma vasilha com água e batizar por aspersão em qualquer lugar até dentro de casa. Por outro lado, nas regiões áridas onde os rios são distantes, a dificuldade para o batismo por imersão seria extremamente difícil, por exemplo, a uma pessoa doente e como iria se locomover? Porque se ater a este detalhe se o mais importante é o propósito do batismo e não a forma de praticá-lo? Então, de onde surgiu o batismo por aspersão? Não há qualquer relato bíblico sobre a forma de batismo correta, se é que exista. O batismo de Paulo há fortes indícios de que tenha sido por aspersão dentro de uma casa onde ele estava temporariamente cego e sem forças “Logo que as escamas lhe caíram dos olhos, levantou-se e foi batizado”. Atos 9:18. Citamos também uma suspeita de batismo, agora por imersão, quando o eunuco disse a Filipe que encontraram água (Atos 8:38) e nada impedia de que fosse batizado. Com certeza tinham água para beber que era o suficiente para o batismo por aspersão. Lembramos também do carcereiro que mantinha Paulo e Silas preso quando milagrosamente foram soltos e machucados, o próprio carcereiro lavou as feridas e, logo em seguida, foi batizado, provavelmente por aspersão. Atos 16:33. O batismo por imersão é uma suspeita porque a maioria dos batismos relatados acontecia sempre nos rios e significa, como já disse anteriormente, “sepultamento” no sentido figurado em que morremos com Cristo e a velha criatura é sepultada pelo batismo (Romanos 6:4), por isto a imersão. Em minha opinião, o batismo por aspersão seria uma conveniência sem perder a legitimidade.

 

Batismo de criança 

Jesus foi circuncidado aos oito dias de nascido como regia a lei de Moisés na aliança firmada com Deus "Esta é a aliança, que guardareis, entre mim e vós e a tua semente depois de ti: todo o macho dentre vós será circuncidado" (Gênesis 17:10) e batizado como mandamento, aos 30 anos por João Batista no início do seu ministério "Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; eis que se abriram os céus, e veio o Espírito de Deus descer como pomba e vir sobre ele..." (Mateus 3:16). Jesus não foi batizado quando criança, mas, apresentado no templo por Simeão, homem justo, temente a Deus e cheio do Espírito Santo que ouviu do próprio Deus que não morreria antes de ver o Cristo do Senhor e o apresentou no templo louvando a Deus "Quando se completaram os dias da purificação segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor..." (Lucas 2:22). Esta prática é mandamento do Senhor conforme o texto de Êxodo 13:2 "Consagre a mim todos os primogênitos entre os filhos de Israel...". O costume era somente com o filho mais velho. Outro episódio na apresentação de criança ao Senhor como um costume da tradição judaica está no Antigo Testamento quando o sacerdote Samuel filho de Ana logo que desmamou foi apresentado ao Senhor e faziam esta prática nos eventos anuais de adoração ao Senhor no templo (Samuel 1:22). Tanto no Novo Testamento como no Antigo Testamento se manteve o mandamento do Senhor. Um detalhe, mesmo a doutrina do batismo ter sido iniciada com João Batista e após a vinda do Messias, Jesus não foi o primeiro a ser batizado conforme o texto de Lucas 3:21. Quando ele chegou para ser batizado, João já estava batizando uma multidão. Então, se não há referência bíblica e havendo somente suposições, porque se batiza criança? Algumas linhas teológicas afirmam que o batismo veio substituir a circuncisão. Porém, a circuncisão foi um mandamento de Deus como forma de preservar a aliança e identificar o povo judeu. Quem não era circuncidado não pertencia ao judaísmo, conseqüentemente, não era reconhecido como sendo de Deus. Havia também o preconceito a quem não era circuncidado e tem vários relatos bíblicos em que o termo incircunciso foi aplicado pelos judeus de forma pejorativa. A questão é que a circuncisão era somente nos homens por causa da herança e da linha étnica das tribos. Com a salvação pela graça através de Jesus, a circuncisão ou incircuncisão de nada valem mais (I Coríntios 7:19). Já o batismo apresentado por João era de arrependimento. Vou analisar dentro dos termos de suspeita quando há indícios e de suposição quando não há indícios.

O objetivo é elucidar a doutrina à luz da bíblia e jamais confrontar os valores da tradição. Porém, a tradição não deve substituir a doutrina bíblica. Como Jesus reagiu as crianças que eram circuncidadas e não eram batizadas? No episódio em que Jesus estava em meio à multidão que levavam as crianças para impor as mãos e orar por elas (Mateus 19:13,14) afirmou que deveriam permitir a aproximação dos pequeninos porque delas era o Reino dos céus sem fazer qualquer menção ao batismo ou a circuncisão. Caso fosse um mandamento conhecido e declarado como a circuncisão e a apresentação ao Senhor no templo, a multidão não pediria somente que Jesus orasse por elas. Se Jesus disse que as crianças já pertenciam ao Reino de Deus, então, não faria qualquer sentido, porque o batismo, não importando a forma, é de arrependimento para se tornar co-herdeiros com Cristo do Reino de Deus. A principal alegação de legitimidade do batismo infantil é porque há muitas declarações de que todos os da casa foram batizados, por exemplo, a vendedora de tecidos de Tiatira, Lídia, depois que ela compreendeu a mensagem "Ela e as pessoas da sua casa foram batizadas". A família de Estéfanas onde se supunha que houvesse criança porque não é explícito para que haja confirmação (I Coríntios 1:16) "É certo que batizei também os da casa de Estéfanas;...". Será que não seria o batismo do selo da promessa por ouvirem e crerem? "...tendo ouvido a Palavra da verdade, o Evangelho da vossa salvação, e nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da Promessa..." (Efésios 1:13). Dizem que também a família do centurião Cornélio também tenha sido batizada (Atos 10:44-48). Nesta referência na casa de Cornélio, aconteceram algumas coisas a mais. Pedro, nesta afirmação do batismo, referiu-se aos gentios que haviam recebido o dom do Espírito Santo e falavam línguas estranhas e, como cumprimento ao mandamento, batizou-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas, não há referência se os da sua casa foram também batizados. No caso do carcereiro (Atos 16:33) quando Paulo e Silas estavam presos, dá-se a entender que a referência "os da sua casa foram batizados" considerando que ainda estavam na prisão e depois que há a referência ao batismo é que eles vão para casa do carcereiro. Este episódio do carcereiro reforça a tese da referência de Efésios 1:13 porque ouviram o evangelho através do carcereiro.

Alguns relatos bíblicos, o contexto do batismo não é exatamente com água, mas, na crença da promessa de salvação após crer. O que não se pode é forçar uma interpretação apenas para ratificar uma tradição. Deve-se tomar muito cuidado para não incorrer no que Jesus falou em Marcos 7:13 sobre a tradição vigente na época, o judaísmo, quando exortou que "anulam a palavra de Deus, por meio da tradição que os próprios homens transmitiram".

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