Venancio Junior
Em recente artigo publicado no jornal Estadao que
originalmente foi publicado na revista inglesa The Economist, o assunto,
óbvio, é econômico, porém, na área imobiliária com enfoque na venda dos templos
de algumas religiões. Segundo a matéria, o esvaziamento dos templos tem sido
gradativamente se intensificado e não faz sentido como também o custo é muito
alto, manter os templos físicos e muitos são colocados à venda. Mesmo antes da
pandemia, este êxodo religioso era preocupante. Durante a pandemia este
processo teve um efeito vertiginoso. Os grupos que deixaram de frequentar são
diversificados, desde os preocupados com a doença numa virtual contaminação por
aglomeração, como também daqueles que já tinham em mente esta decisão pela
perda do sentido em frequentar a igreja.
De certa forma, no tocante a espiritualidade, isto
é muito preocupante. Reitero que frequentar uma igreja não significa que esteja
tudo bem. Mas, deixar de frequentar muitas vezes revela que algum tipo de
problema exista na espiritualidade. A relação com Deus nunca pode ter como
“termômetro” a frequência ou o envolvimento com as atividades no templo físico
por mais intensa que seja. A própria bíblia exorta que, neste caso, o
envolvimento e atividades em qualquer instituição de cunho religioso são
denominados como obras e não é por meios delas que se define a espiritualidade
(Efésios 2:9). De outra forma também a inatividade plena das obras invalida a
fé que será meramente nominal (Tiago 2:26). Tanto a fé como também as obras não
se devem praticar somente nos templos. Primeiro que o próprio Deus afirma que
não mais habita em templos feito por mãos humanas (Atos 17:24). Este tríplice
princípio é o fundamento da espiritualidade.
Pois bem, o esfriamento espiritual e o fechamento
literal de igrejas, principalmente nas sociedades socialmente mais evoluídas,
diria que é até previsível e, mesmo antes do mundo digital em que as
informações são extremamente rápidas, isto já vinha acontecendo. A Europa e
América do Norte são conhecidas pela raiz do cristianismo incrustada na
formação das suas sociedades. O crescimento econômico destes países gerou uma
falsa blindagem e coloca as pessoas numa encruzilhada em que devem escolher
continuar dependendo de Deus ou confiar no dinheiro. Deus e mamon, descrito
na bíblia como dinheiro, não se alinham (Mateus 6:24). Imagine uma pessoa que
vive confortavelmente sem aparente problema financeiro, saúde e a família
felizmente encaminhada nos seus propósitos profissionais e relacionais? Onde
Deus se encaixaria neste contexto? Diria que Deus já era. Infelizmente para
muitas pessoas Deus é apenas um recurso quando é algo humanamente impossível no
sentido de viabilizar seus projetos pessoais na classe média e prover as
necessidades emergentes nas classes menos favorecidas que não tem o apoio da
classe política que deveria assisti-los a contento. Deus já era quando a
autossuficiência é o principal sentimento tornando a arrogância o seu próprio
deus que faz tudo o que a pessoa deseja. Deus já era também quando a esperança
se esvai nos muitos casos perdidos e quando a frustração é companheira mais
próxima. Este termo “já era” foi muito difundido pelos hippies na década de 70.
Tem o sentido de acabou ou não existe mais.
Toda história tem perspectivas diversas e nesta não
é diferente. Atualmente existe um grupo principalmente nas Américas que se
autodenomina “evangélicos” cuja doutrina tem como principal bandeira a
“prosperidade” e Deus é o principal provedor desta doutrina. Outra crença deste
grupo é que se a pessoa passa por dificuldades é porque há algum problema
espiritual. Eles creem em Deus como um paizão que satisfaz os desejos do filho
mimado atendendo todos os seus caprichos. É uma relação com Deus muito estranha
e antibíblica. Talvez para este grupo Deus também já era. Usam o nome dele e
falam em nome dele, mas, o coração está longe (Mateus 15:8,9).
Tem aquele outro grupo de pessoas em que Deus já
era Deus mesmo antes da existência. Bem antes de sermos imersos no contexto do
mundo atual disforme e confuso, Deus já era Deus. Por incrível que pareça, Deus
já era Deus mesmo diante, da fome, das guerras, do preconceito, da
discriminação, da pobreza, das doenças, da morte e de tantos outros revezes que
a vida impõe. Reconheço que é preciso uma fé, como dizem, hard para
suportar, por exemplo, o que Jó sofreu. Os discípulos sofreram perseguições e
morte por acreditarem em Deus. Para todos estes que sofreram e ainda sofrem,
Deus já era Deus mesmo antes dos problemas existirem. Que contexto de vida é
este em que a fé vem pelo ouvir e crer na mente e no coração? Como crer em um
Deus que já era Deus desde sempre? Um Deus inexplicável porque criou a
existência (Gênesis 1:1) criou o mal (Isaias 45:7), insondável que se tornou
conhecido mesmo sendo invisível (João 14:17)!
Deus já era Deus mesmo antes de tudo existir. Criou
a existência para que ele existisse em nós (I Coríntios 3:16) e dar forma ao
amor relacional porque nos amou primeiro (I João 4:19). Não adianta buscar
veracidade nos livros de filosofia, nos templos e nem mesmo na religião. Deus
se relaciona com a pessoa na sua intimidade e inter-relaciona com os seus
escolhidos. Num mundo egoísta e profundamente carente de relacionamento a única
certeza é confiar em Deus que se torna “palpável” através da fé. Sei que para
os céticos este extremo sentimento soa meio piegas. Afirmo que Deus é
comprovado também pela lógica. Vamos nos ater aos sentidos do ser humano,
olfato, paladar, visão, audição e tato. O aroma das flores e da fragrância dos
perfumes e também dos alimentos, até mesmo o mau odor é flagrado no faro
apurado. O que seria do cheiro se não houvesse o olfato. Da mesma forma o
paladar. O que seria do alimento gostoso se não houvesse paladar? O paladar
também serve para rejeitarmos o de gosto duvidoso. A visão seria desnecessária
se não houvesse a beleza das cores, o contraste da natureza e a beleza humana.
O que seria dos diversos sons se não houvesse a audição? Como identificar a
textura e forma dos objetos sem a sensibilidade do tato? Como afirmar de que
não houve a evidente intencionalidade em criar esta inter-relação? Podemos
chamar de qualquer nome, nós chamamos de Deus. O próprio Deus se apresentou
como “Eu sou” (Êxodo 3:14). Ele não falou para o chamarem de Deus, Javé, Alá ou
qualquer outro nome da invencionice humana. O próprio Jesus enquanto Deus não
tem nome. Jesus é o nome humano para que cumprisse a missão em se tornar carne
e habitar entre nós (João 1:14). Já o nome Cristo não é um nome próprio porque
significa designação ou unção. Chegamos à conclusão de que Deus não existe,
pois, não se limita a existência que ele próprio criou e, como toda matéria, é
finita. Então, Deus simplesmente é. No passado ele é o “Eu sou”. No presente
continua sendo o “Eu sou”. No futuro continuará eternamente sendo o “Eu sou”.
Aquele Deus que se procura nas imagens e nos rituais da religião já era, na verdade, nunca foi. A venda dos templos e das propriedades das religiões poderiam e devem ser concretizadas e distribuir o dinheiro aos pobres, desenvolvendo, desta forma, a verdadeira religião. Religião é atitude e não propriedade. Um templo sem pessoas vale muito dinheiro, mas, um templo sem Deus de nada vale. Para o que serviria um templo sem Deus? Nós somos o templo (I Coríntios 3:16). O que somos sem Deus? Se respiramos e desenvolvemos todos os sentidos, pelo menos é privilégio para a maioria das pessoas é porque temos a vida em nós independentemente se cremos em Deus ou não. Não apague o Espírito da vida que está na tua vida (I Tessalonicenses 5:19).
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