Venancio Junior
“Não é bom que o homem esteja só”
Deus quando tomou esta decisão estava se referindo
ao sexo masculino e a raça humana concomitantemente. Sendo Deus onisciente,
então, de pronto já percebeu as agruras emocionais que estariam por vir. A
composição do ser humano basicamente é espírito, alma e corpo. O espírito é o
fôlego de vida, a alma é a consciência, enquanto o corpo é o repositório físico que compõe a
criação da existência.
De antemão já digo que não era para ser assim como
vivemos atualmente. Para não ser repetitivo, em diversas reflexões afirmo que
após a queda do ser humano, o mundo sofreu uma desconfiguração do estado
original da criação. Como era para ser então?
Não tem como imaginar um mundo diferente do nosso.
Geralmente sonhamos com um mundo sem carros, sem prédios, natureza preservada e
abundante e todas as pessoas felizes sem fome, sem dívidas, sem traumas
conjugais e sociais. Será que neste contexto seríamos felizes? No caso, o que é
felicidade? Será que ela se “aloja” no espírito ou na alma? Será que a alma
sorri ou somente o espírito? Independentemente se conseguimos decifrar este
sentimento, qualquer atitude revela a incessante busca por prazer que gera
felicidade. Desde o “princípio das dores” esta busca tornou-se o motopropulsor
para alçar voos, muitas vezes nunca alcançados. Infelizmente é a realidade de
muitas pessoas. Mesmo assim as pessoas não desistem de serem felizes. Por
incrível que pareça, até os suicidas buscam a felicidade, julgando que do outro
lado no pós morte exista um lugar feliz. A fuga da tristeza é uma
questão mais de morte do que de vida que, neste caso, se tornou secundária.
Chega-se a conclusão de que a ausência de tristeza seria a alegria a ser
conquistada. Numa condição onde se está imerso num lamaçal emocional, a
felicidade ou alegria é apenas um detalhe porque estar vazio denotando uma
virtual “neutralidade” é uma condição muito atraente.
Sabemos que a sociedade busca ser feliz, não
importando como vai conquistar esta felicidade. Desde os tempos remotos em que
já se buscava a felicidade, o desejo é o mesmo, a emoção da conquista ou da
esperança é a mesma, também a tristeza não mudou, nunca deixou de ser a
indesejada. A alegria também não mudou, sempre esteve com a energia adequada
para ocasiões especiais e felizes. O que mudou e tem mudado e a cada dia mais
rápido são os recursos para fazer as pessoas felizes. O consumo de bens sempre
foi uma incógnita na questão da eficácia no processo de busca da felicidade.
Parece que aquilo que adquirimos é grandes vazios, quanto mais acumulamos, mais
vazios nos tornamos. Mesmo as pessoas bem-sucedidas não podem afirmar com convicção de que são
plenamente felizes. Parece que sempre está faltando algo. Investem tempo e
dinheiro em conforto e atualmente, mais do que nunca, adquirem aparelhos com
avançada tecnologia que os mantém felizes!? Ou apenas estão distraídos e assim
esquecem-se das suas inconstâncias?
Qual a fórmula que trará justiça e paz para a
sociedade? A fórmula eu não sei, pois, quando se fala em convivência, a
situação não é tão simples quanto se deveria. Imagine uma sociedade
essencialmente plural? Os choques culturais, as personalidades em conflito e
tantos outros encontros inevitáveis, porém, necessários. Tem pessoas que não
conseguem conviver consigo mesmas. Antes era muito mais difícil conviver com
diferentes pessoas porque o reduto social era local como na família, trabalho,
igreja ou clube. A distância não permitia avançar as fronteiras visíveis. Diria
que era menos difícil conviver e mais fácil resolver as rusgas no
relacionamento porque se vivia muito próximos. Também não exigíamos tanto de
nós mesmos porque tínhamos uma vida mais básica e simples.
Enfim, chegamos ao mundo digital. Pulei algumas
etapas desta era revolucionária porque foram relativamente rápidas e agora o
que é muito mais rápido é a informação e o consumo delas que é a sua razão de
ser. Funciona como um ciclo vicioso. Não posso dizer o que seja mais rápido. A
informação chega e simultaneamente consumimos. O nosso círculo social agora
ultrapassa as fronteiras internacionais. Temos muito mais amigos agora do que
nunca em toda a vida antes da era digital. Absorvemos tanta informação que não
há mais necessidade de filtro. É menos trabalhoso aceitar que tudo seja verdade
porque, enquanto se busca a veracidade da informação outros milhares já
chegaram às suas redes sociais. As informações são como um rolo compressor que abre caminho para que
as outras também cheguem ao destino certo que é a sua rede social. É tanta
informação que não conseguimos mais respirar sem os aparelhos de celular ou
de streaming de filmes e música e os computadores. Duvido que alguém
faça dieta de redes sociais ou de celulares? Será que conseguirá
respirar sozinho sem os aparelhos? O mundo evoluiu tanto no sentido de
proporcionar facilidades as pessoas que, de tão dependentes, não sabemos mais o
que vem a ser “respirar sozinho”. Pelo que vivenciamos, o problema é muito mais
grave do que se imagina. O problema não é os aparelhos em si que bem utilizados
facilitam muito a vida, mas, como se relaciona com eles. Atualmente, para
muitos, criou-se uma excessiva dependência quase irreversível. Os
absurdos acontecem todos os dias o que tem afetado a vida emocional das pessoas
tornando-as escravas destes aparelhos, principalmente o celular. Dá-se a
entender que não se consegue respirar caso fique um tempo sem checar as
"novidades". Curtimos as práticas de bem-estar e de relacionamento saudáveis publicadas, mas, não
transferimos este sentimento das redes para a vida real, com exceção do
ódio que se intensifica a cada dia tanto nas redes sociais como também na vida
real. É a típica banalização da vida que chegou-se no limite preocupante e algo
precisa ser feito.
Reconheço que é difícil (re)adotar as velhas
práticas da desaceleração no final do dia. Sentar a mesa para a refeição, ler a
bíblia e meditar sozinho ou em família, ouvir aquelas músicas preferidas sem
pressa, praticar esporte ou fazer uma simples caminhada, readquirir o essencial
hábito da leitura ou simplesmente ter aquele momento de nada a fazer, um tempo
exclusivo para chamar de teu. Somente estas práticas já preencheriam todo o
tempo que se dispõe e não teria tempo pr’uma “zapeada”.
Os recursos tecnológicos vieram para nos servir e
não ser os “nossos deuses”. Reconheço a facilidade que a tecnologia e os
aparelhos se tornaram
essenciais no campo profissional e social. Mesmo que a pessoa querida esteja
longe e a conversa só aconteça através de videochamada, os aparelhos nunca substituirão o abraço porque não
tem calor humano. Só é possível viver a vida real por dentro respirando a vida
aqui fora.
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