Venancio
Junior
Muitos dos vazios tem a sua origem nas expectativas. Já se
nasce esperando algo da vida. Quando criança, a expectativa é de apenas se
divertir. O real possível do vazio da falta da casa, comida e dos pais não
existe. A criança é vazia de preocupação. Na vida adulta, o vazio nos acompanha
e que, muitas vezes, é ignorado, pois, tem-se uma vida inteira para viver,
muita disposição para superar os obstáculos e muita emoção envolvida em cada
investidura nestas conquistas. Onde estaria o vazio, neste caso? Quem em sã
consciência irá se preocupar, sequer, lembrar do vazio? Infelizmente, o vazio
encontra-se alojado no obscuro inconsciente. Muitas vezes, nesta fase se é
surpreendido pelo excesso de confiança e se ilude julgando que se tenha o
controle de tudo. O vazio torna-se um "inimigo iminente" e ameaçador.
Naturalmente, com medo do vazio, começa-se a preencher com frivolidades o que
só aumentaria ainda mais o vazio. Porque, em alguns casos, também não se sente
preenchido, mesmo fazendo coisas saudáveis e legítimas? O problema são as
expectativas. Muito daquilo que somos é originado nas escolhas. Boas ou
más, certas ou erradas, elas definem a vida e nem nos apercebemos disto. Nesta
jornada, surgem muitos vácuos que classifico como espaços ou vazios. Alguns não
interferem, outros influenciam o bom humor, a motivação e tudo aquilo que faz
parte da estrutura como pessoa. Posso listar alguns, por exemplo, o vácuo
emocional quando a alegria nem sempre é fiel companheira, o vácuo social quando
a solidão, esta sim, é fiel companheira, o vácuo existencial quando existir é
um grande questionamento, o vácuo espiritual quando Deus é "impalpável"
e outros que não faz muita diferença. Administrar estes vácuos ocasionais não é
algo muito fácil. A perspectiva de cada situação regula a intensidade desta
árdua tarefa.
Vamos analisar a estória, “O copo está meio cheio ou
meio vazio"? Da perspectiva da satisfação, ainda está cheio. Da
perspectiva da sede, já está vazio. A primeira visão é otimista, enquanto a
segunda é pessimista. Todos, sem exceção, têm um vazio em potencial. Afinal, o
que é um vazio? A princípio, vazio é um conceito relativo e nem sempre
absoluto. O espaço fora da atmosfera, não tem gravidade, porém, ninguém pode
afirmar que esteja absolutamente vazio, mas, com certeza, tem muito espaço.
Afirmar que não tenha qualquer elemento é uma visão finita, consequentemente
limitada. Portanto, não é vazio. Nesta condição, é arriscado crer que há um
vazio intermitente. Os autores literários quando afirmam que estejam vazios, na
verdade, estão sem inspiração, que é o elemento ausente que vai preencher o
discurso, a poesia ou a música.
E agora, como explicar que algo esteja “cheio de
vazios”? Considerando que o vazio é parte da existência, então, não existe
"o vazio", mas "um vazio", pois, é parte finita e composta
por outros elementos da existência, portanto, é também um elemento da
existência. Vamos considerar o vazio como sendo uma condição interior e
relativa a estrutura emocional e o espaço existencial como sendo o lado de
fora. O vazio interior é a condição mais complexa para se preencher. O que vêm
a ser um vazio interior? Quando há um vazio, este é preenchido por algo bom ou
ruim. Não tem como nos mantermos vazios. Há um pensamento que defende que temos
um vazio do tamanho de Deus. Considerando que Deus é infinito, então, não
existimos e seriamos um "grande vazio infinito"? Esta é uma
perspectiva equivocada de analisar o nosso vazio. Para algo ser vazio precisa
preexistir o recipiente que somos nós. Veja por esta perspectiva de que
entusiasmo significa “cheio da presença de Deus”, a sua ausência, nos torna
espiritualmente sem entusiasmo, de certa forma, um recipiente vazio.
Independentemente da situação, a ação de Deus em relação ao ser humano é sempre
a de preencher este vazio.
Dentro da estrutura antropológica, o ser humano,
no que consiste o vazio motivacional a ser preenchido, é dotado de emoções
alegres ou tristes. Ganhar é uma emoção alegre, perder é uma emoção triste.
Quando se sente um vazio, geralmente é porque logicamente se está triste. Quem
está alegre, está cheio de euforia e a sensação de vazio é imperceptível. A
princípio, denota-se algo muito simplório, porém, trata-se da espinha dorsal da
existência. Será que existe meio termo, nem triste e nem alegre? Se utilizo a
preposição "e" e "ou" determinarei limites. Por exemplo,
ser triste ou alegre, seria uma coisa ou outra. Neste caso, não haverá ausência
dos dois sentimentos, mas, de um ou de outro. No caso, triste e alegre só é
aplicável quando contextualmente há diversas camadas. Por exemplo, minha vida é
feliz, porém, em alguns casos pontuais é triste o que não esvazia a felicidade
da vida. Nestas circunstâncias, não existe vazio. Há o vazio existencial quando
não se definiu o papel no cenário da vida que vá preencher os anseios
preestabelecidos. Para o pessimista, o vazio é um buraco onde pode se jogar.
Para o otimista, o vazio, é um espaço, tipo, um campo vasto e fértil a ser
preenchido com as boas oportunidades.
Nunca construa emoções com falsas expectativas. Fazer o que queira e o que precisa de forma sensata, é o pilar da boa expectativa. Geralmente quando se está sem o vazio que seria o espaço de tempo e de reflexão e também de ponderar tudo o que envolve a vida, as decisões não atendem as expectativas em preencher este vazio, tornando-o ainda maior. O melhor é dedicar-se a estratégia em utilizar este próprio vazio para se desapegar daquilo que se aprofunda na velha perspectiva desgastada. Atitudes impensadas, incertezas profissionais, decisões erradas e até mesmo maus relacionamentos são os principais fatores de aprofundamento do vazio. A solidão é um vazio, porém, na perspectiva de espaço, pode ser uma oportunidade de valorizar a si mesmo, não permitindo que pessoas e situações nocivas se aproximem e te consumam por dentro. A agenda vazia pode ser ruim, mas, uma agenda com espaço a ser preenchido é uma grande oportunidade de escolhas importantes que possam refletir de forma positiva no seu dia. A prática esportiva é uma atividade que traz benefícios físicos e emocionais e que também qualifica o sono da noite. Não descansamos quando acordamos tarde, mas, quando dormimos cedo. Um excelente dia depende fundamentalmente de um excelente sono na noite que ajusta os nossos espaços interiores. A leitura de um bom livro é excelente para preencher os espaços intelectuais. Uma boa conversa é ideal para preencher o espaço social. Em tempos de isolamento, vale muito utilizar os excelentes recursos das redes. Noutros tempos, a vida nesta condição seria extremamente difícil o que aumentaria mais ainda o vazio emocional. Temos um espaço em nós dedicado exclusivamente aos amigos, sem eles, se torna vazio. Tenha o vazio na perspectiva de espaço, como o seu aliado de interação com a vida, onde se pode ter tempo para refletir e até mesmo para tomar um fôlego, tipo, pitstop para o abastecimento e alguns ajustes, pois, a vida em si não é um vazio, mas, um grande espaço finito no tempo infinito em que somente você poderá preenchê-lo da melhor forma possível. O tempo é como "páginas em branco", vazios de história onde se pode optar a continuar sendo vítima com os acúmulos de vazios ou decidir ser o protagonista de uma excitante história aproveitando cada espaço para preencher com a tua vida.
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