quarta-feira, 13 de novembro de 2024

QUANDO A IGREJA ATRAPALHA

Venancio Junior

Gosto muito de praticar esporte, especificamente o futsal, bicicleta ou popularmente “bike” e mais recentemente a corrida. Nas pedaladas, gosto de fazer o meu caminho, apesar de que na cidade onde moro não tem muita opção de trajeto para quem gosta de pedalar, de certa forma “forçando” o deslocamento até numa região sem movimento. Ainda assim, na maioria das vezes gosto de pedalar pelos bairros e, de repente, numa destas pedaladas percebi que limparam um quarteirão inteiro para a construção de um mega condomínio. Neste quarteirão “existiam” as casas e uma igreja evangélica. Só ficou a igreja porque o pastor não quis vender para o empreendimento. Perguntei pessoalmente ao pastor que afirmou que não venderia de jeito nenhum. Óbvio que gostaria de saber o porquê. Não perguntei, mas, é evidente que o pastor está pensando na valorização do imóvel, por sinal, está bem precário por falta de manutenção, e também está pensando que alguns das centenas de futuros moradores poderão frequentar a sua igreja. Confesso que ficou bem esquisito. Um enorme conglomerado composto por três edifícios de classe média e a igreja literalmente ficou espremida destoando completamente a composição urbana e frustrando em parte os empreendedores. A igreja que já está envelhecida, ficará ainda mais diante do novo condomínio. Não conseguirá acompanhar. Nas vezes que passo por lá, não vejo movimento na igreja e parece que a frequência, tal como a falta de manutenção, está também decadente.

Porque a igreja nesta situação deixou de ser igreja? Faltou visão ao pastor para que a igreja servisse aqueles que poderiam receber o bom testemunho cristão baseado num dos pilares do evangelho que é o de servir aos empreendedores e os futuros moradores. A igreja poderia mudar o nome para “igreja evangélica espremida”. Temo pelo seu futuro, pois, o maior patrimônio da igreja não é o prédio e não se deve ter a falsa teologia de que igreja cheia é que tem valor para Deus. Não sei se a igreja sobreviverá. As poucas pessoas que a frequentam nenhuma culpa têm. O pastor é o grande responsável pelo destino da igreja. Poderia ter vendido o prédio e construído uma maior, moderna e mais confortável. Qual a impressão que ficará nas pessoas envolvidas no empreendimento e naquelas que circulam a região? Faltou a igreja servir as pessoas e deixar de atrapalhar dando mal testemunho.

Mas, há outras situações em que a igreja atrapalha. A igreja quando tem o foco em crescimento sem raiz, está atrapalhando a vida das pessoas. Perdeu-se a essência da mensagem de salvação que é amar a Deus acima de todas coisas e amar ao próximo com a mesma dedicação que a si mesmo. A igreja tem investido mais no patrimônio físico do que em missão e assistência social que são os pilares do evangelho. As igrejas se tornaram exclusivas e ninguém que seja diferente é bem-vindo. Não somente pessoas diferentes, mas, uma proposta de inovação que fará diferença na vida das pessoas está fora dos planos dos conselhos, das convenções e dos concílios. A igreja está atrapalhando porque o evangelho está ofuscado pela tradição e pela liturgia mecânica. A teologia do evangelho tem sido descaracterizada por conceitos que visam meramente atrair as pessoas sem a consciência de pecadores e sem arrependimento. Muitas pessoas frequentam a igreja com o pecado a tiracolo. O evangelho da conveniência tem atraído muitas pessoas e isto tem atrapalhado a se tornarem discípulas de Cristo. A igreja está sem manutenção e isto reflete no evangelho raso que as pessoas tem vivido. Um evangelho mofado e cheio de teias de aranha é o que vemos na maioria das igrejas. Isto é muito fácil de perceber hoje em dia, basta acessar as transmissões on-line. As músicas e as mensagens não convencem mais ninguém e isto tem atrapalhado as pessoas a conhecerem o Deus da restauração e também da diversidade e criatividade. Será que o Deus que está agindo naquela igreja que está atrapalhando o condomínio é o mesmo Deus que afirmou que não habita mais em templos feitos por mãos humanas? O único templo que deve ser considerado é o nosso corpo onde o orgulho, a vaidade e a soberba são submetidas a restauração do caráter. O templo feito por mãos humanas é a casa de oração para todos. Não é do pastor e nem do conselho, mas, de todos. 

A VIDA SEXUAL DE PAULO

Venancio Junior

Primeiramente quero desmistificar o conceito de santo dedicado aos apóstolos. Nenhum deles era santo e nem se comportavam como pessoas especiais. Todos eles sem exceção eram pessoas comuns que tinham dificuldades, limitações e suas crises.

Creio que todas as pessoas já sentiram uma pedrinha no sapato que se tornou uma metáfora de algo que incomoda muito. Ainda mais dolorido que a pedrinha no sapato é o espinho na carne ilustrado por Paulo que, não somente incomoda, mas, machuca mesmo. Eu acho que ele tinha uma perturbação na área sexual e tudo leva a crer que era uma angústia mal resolvida e que nunca houve um final feliz. O apóstolo Paulo era solteiro e viveu esta questão entre a cruz e a espada até a sua morte. A ilustração revela que havia uma “perfuração dolorida” e que o incomodava muito. Isto confrontava os seus próprios valores e os do seu caráter agora convertido.

Esta confissão de Paulo despertou a curiosidade do mundo cristão e dos que, mesmo não professando a fé cristã, são estudiosos da teologia e que ainda buscam uma vírgula que revele o que seria, de fato na prática, esta figuração utilizada por Paulo. Muitos ateus aceitam a teologia porque não há como negar os fatos da história. Eu tenho o meu palpite baseado nos próprios relatos de Paulo que, para mim, deixou algo revelador. Não tenho dúvidas sobre a minha conclusão. Esta reflexão não é somente sobre o episódio e o sofrimento de Paulo. Por mais “santo” que a pessoa se sinta, cada um de nós tem o espinho na carne. Já escrevi uma reflexão falando dos nossos pecados de estimação.

Vamos ao texto: “...foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar” 2 Coríntios 12:7. Paulo culpou o mensageiro de Satanás como sendo o espinho na sua carne, mas, qual era a tentação? É bíblico que haja alguma presença maligna na tentação? Sim, é bíblico a tentação ao pecado é somente influenciada pelo maligno. Lembro que o diabo, o nosso adversário está ao nosso redor pronto a nos devorar (I Pedro 5:8). Deus também permitiu que o diabo tentasse a Jó que, mesmo com todo o sofrimento, não pecou. O próprio Jesus foi tentado no deserto. Ele pensou em tudo no que o diabo falava, mas, não pecou. Provavelmente Paulo era tentado e não tivesse pecado? Pensava no pecado e pecava. Leia o texto de Romanos 7:15 “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio”. Ninguém morre porque pensou em suicídio. Ninguém também não fica drogado só em pensar nas drogas. Interessante é que o adultério é diferente e acontece já no pensamento. Parece que a bíblia, na maioria das vezes tratava a mulher como mera coadjuvante na história. Como o contexto da época era culturalmente masculino, então, foi utilizado a cobiça do homem em relação a mulher, mas, o inverso também é factível.

Afinal, qual era este tormento de Paulo? Ele reafirmou no verso 19 que continuava fazendo “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo”. Todos conhecem o esforço e dedicação de Paulo em proclamar o evangelho. Era uma grande missão que ele cumpria. Afinal, o que ele fazia de tão errado? Para compreender alguém é preciso conhece-lo nas suas atitudes e palavras. A maioria das doutrinas bíblicas foi exposta por Paulo. Ele é muito criticado por algumas colocações e pelas revelações. As colocações ele afirma que são opiniões pessoais. Porém enfatiza que as demais são revelações doutrinárias dadas por Deus onde não há interpretação dúbia ou descontextualizada. Paulo era solteiro e nalgumas destas revelações apresentou as principais questões do sexo dentro e fora do relacionamento conjugal. Porque Deus escolheu um cara solteiro para revelar a teologia do sexo no contexto conjugal? Paulo também fazia este questionamento o que aumentava ainda mais o seu tormento. Eu creio que Deus queria alguém neutro e sem qualquer influência pessoal de uma vida conjugal. Nenhum relacionamento é igual e os exemplos não podem ser generalizados. Um cara desprendido de qualquer natureza conjugal, a princípio, era o cara ideal. Mas, e o sexo? Provavelmente Paulo não era virgem. Foi um oficial do exército romano, uma corporação poderosa e influente e que periodicamente realizava as suas orgias regadas a bebidas e muitas mulheres. Paulo era um oficial de alta patente do exército romano e gozava de algumas regalias. Estes oficiais eram os alvos principais das mulheres, dentre eles, Saulo que era o seu antigo nome. Algumas mulheres na época, logo após o ciclo da primeira menstruação, literalmente já procuravam homens capazes de sustenta-las e se entregavam para convencê-los de que era a mulher ideal para as suas necessidades. Não, não era assim que acontecia. Boa parte delas não se expunha e se mantinha recatada e pura. Os pais da boa moça é que tinha a responsabilidade em encontrar alguém estável e de bom caráter para entregar a sua filha. Um homem com estabilidade financeira e membro do exército romano era tudo o que o pai da moça procurava e uma mulher precisava. Poderia ser até feio, segundo a história, como Paulo. Mas, Paulo não era bem visto pela sociedade por causa da sua forma violenta em defender a lei. Era alguém de má fama e por isto que nenhum pai entregou a sua filha a Paulo. Então, a sua única companheira era a excitação. Esta excitação sem se extravasar com uma companheira o acompanhou e foi com ele para o túmulo. Nos seus relatos sobre a sexualidade, há diversos pontos em que procurou ser excessivamente comedido onde deixou fortes suspeitas em como pensava em se aliviar.

Paulo refere-se a alguma parte do seu corpo como “membros”. Na bíblia há diversos contextos de membros, por exemplo, membro do corpo de Cristo se referindo a igreja. Não é do corpo da igreja que Paulo está se referindo, mas, a algumas partes do seu corpo que, por prudência classifica como membro. Ainda nos dias atuais as pessoas mais conservadoras referem-se ao órgão genital masculino como membro. Paulo era conservador, tanto é que defendia a lei até com excesso de zelo e após a conversão, o caráter mudou, porém, a sua personalidade se manteve conservadora, então, jamais iria ser explícito com algo que as pessoas consideravam imundas que são os órgãos sexuais.

Na minha opinião pessoal não tenho dúvidas de que Paulo se masturbava. O texto de Romanos 6:12 diz: “Portanto, não permitam que o pecado continue dominando o corpo mortal de vocês, fazendo que obedeçam aos seus desejos”. Façam o que eu digo, mas, não façam o que eu faço. Apenas lembrei do texto em que afirma que continua fazendo o que odeia. Este texto não está na bíblia. Observe a parte deste texto primário de Romanos 6:19 que consta na bíblia “Assim como vocês ofereceram os membros de seu corpo em escravidão à impureza e à maldade que leva à maldade...”. Agora leia o trecho deste texto secundário de Romanos 7:23: “...mas vejo outra lei nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado (mensageiro de Satanás) que atua em meus membros”. Ele está falando para as mesmas pessoas. Observe que membros está no plural, então, é mais de um membro e ele separa membro e corpo. Tudo leva a crer que membros que ele cita é o órgão genital e as suas mãos. Não poderia ser os pés? Claro que não! Ele poderia dizer: “...outra lei que atua no meu corpo”. Nem precisaria ser extenso, mas, foi específico classificando os membros do corpo. Será que se referia aos olhos? Ou à boca? Ou será que seriam os ouvidos? Nunca ouvi alguém citar os olhos, a boca ou os ouvidos como membros do corpo. O livro de Mateus cita os olhos e as mãos como sendo membros do corpo. É óbvio que são membros do corpo, porém, o contexto é completamente diferente.

Não quero ser tácito nesta questão porque todos estudaram o corpo humano na disciplina de ciência. Em nada muda a teologia ensinada por Paulo. Sendo verdade esta suposição, é uma alegria saber que as pessoas que consideramos como santos, são pessoas comuns e isto nos aproxima muito daquilo que somos, pecadores e todos eles são gente como a gente.