Venancio
Junior
Gosto
muito de praticar esporte, especificamente o futsal, bicicleta ou popularmente “bike”
e mais recentemente a corrida. Nas pedaladas, gosto de fazer o meu caminho,
apesar de que na cidade onde moro não tem muita opção de trajeto para quem
gosta de pedalar, de certa forma “forçando” o deslocamento até numa região sem
movimento. Ainda assim, na maioria das vezes gosto de pedalar pelos bairros e,
de repente, numa destas pedaladas percebi que limparam um quarteirão inteiro para a construção de um mega
condomínio. Neste quarteirão “existiam” as casas e uma igreja evangélica. Só ficou
a igreja porque o pastor não quis vender para o empreendimento. Perguntei pessoalmente
ao pastor que afirmou que não venderia de jeito nenhum. Óbvio que gostaria de
saber o porquê. Não perguntei, mas, é evidente que o pastor está pensando na
valorização do imóvel, por sinal, está bem precário por falta de manutenção, e
também está pensando que alguns das centenas de futuros moradores poderão
frequentar a sua igreja. Confesso que ficou bem esquisito. Um enorme
conglomerado composto por três edifícios de classe média e a igreja literalmente
ficou espremida destoando completamente a composição urbana e frustrando em
parte os empreendedores. A igreja que já está envelhecida, ficará ainda mais
diante do novo condomínio. Não conseguirá acompanhar. Nas vezes que passo por
lá, não vejo movimento na igreja e parece que a frequência, tal como a falta de
manutenção, está também decadente.
Porque
a igreja nesta situação deixou de ser igreja? Faltou visão ao pastor para que a
igreja servisse aqueles que poderiam receber o bom testemunho da igreja, que
seriam os empreendedores e os moradores. A igreja poderia mudar o nome para “igreja
evangélica espremida”. Temo pelo seu futuro, pois, o maior patrimônio da igreja
não é o prédio e não se deve ter a falsa teologia de que igreja cheia é que tem
valor para Deus. Não sei se a igreja sobreviverá. As poucas pessoas que a
frequentam nenhuma culpa têm. O pastor é o grande responsável pelo destino da
igreja. Poderia ter vendido o prédio e construído uma maior, moderna e mais
confortável. Qual a impressão que ficará nas pessoas envolvidas no empreendimento e naquelas
que circulam a região? Faltou a igreja servir as pessoas e deixar de atrapalhar
dando mal testemunho.
Mas, há outras situações em que a igreja atrapalha. A igreja quando tem o foco em crescimento sem raiz, está atrapalhando a vida das pessoas. Perdeu-se a essência da mensagem de salvação que é amar a Deus acima de todas coisas e amar ao próximo com a mesma dedicação que a si mesmo. A igreja tem investido mais no patrimônio físico do que em missão e assistência social que são os pilares do evangelho. As igrejas se tornaram exclusivas e ninguém que seja diferente é bem-vindo. Não somente pessoas diferentes, mas, uma proposta de inovação que fará diferença na vida das pessoas está fora dos planos dos conselhos e dos concílios. A igreja está atrapalhando porque o evangelho está ofuscado pela tradição e pela liturgia mecânica. A teologia do evangelho tem sido descaracterizada por conceitos que visam meramente atrair as pessoas sem a consciência de pecadores e sem arrependimento. Muitas pessoas frequentam a igreja com o pecado a tiracolo. O evangelho da conveniência tem atraído muitas pessoas e isto tem atrapalhado a se tornarem discípulas de Cristo. A igreja está sem manutenção e isto reflete no evangelho raso que as pessoas tem vivido. Um evangelho mofado e cheio de teias de aranha é o que vemos na maioria das igrejas. Isto é muito fácil de perceber hoje em dia, basta acessar as transmissões on-line. As músicas e as mensagens não convencem mais ninguém e isto tem atrapalhado as pessoas conhecerem a Deus. Julgam que, se Deus está naquela igreja que está atrapalhando o condomínio, então, eu não quero este Deus.